FALTANDO DINHEIRO

 

“O dinheiro é um amante sem sexo,

mas  de que se enamoram  homens

e  mulheres.”

Paulo Mantegazza

 

Capítulo 220

 

A manhã, recebendo os raios tênues do tímido sol, traz às pessoas uma temperatura agradável.   O pedaço de céu que se pode descortinar entre as dezenas de altos edifícios, faz bem aos olhos e ao coração.

O imenso parque arborizado, com seu verde intenso, traz a cada pessoa o desejo de respirar com prazer o ar puro e limpo do local.

Poucas pessoas, no momento, transitam no caminho ladeado por altíssimos eucaliptos. Pode-se ali escutar, com agradável prazer, o canto mavioso de dezenas de aves em meio às folhagens.

Mulder e Dana, sentados num grande tronco abatido que, no chão, serve para descanso dos que ali passam, desfrutam desse aprazível lugar.

-         Vamos explorar mais isso aqui, Scully! – ele a puxa pela mão, para que se levante.

-         Ah, Mulder, acho até que já estou com fome e você ainda quer andar mais?

-         Claro! – exclama, sem titubear.

Ela o acompanha, sem muito entusiasmo.

Logo encontram-se num local de muita arborização e pouco canto de pássaros.

-         Puxa, esse lugar aqui neste ponto parece mais abandonado, não acha, Scully?

-         Na certa os visitantes pouco chegam até aqui, Mulder. Lá, naquele ponto em que estávamos é mais agradável.

-         Acha? – ele pergunta, observando o local.

-         Sim.

Ele continua examinando o lugar. Muitas grandes pedras acinzentadas estão espalhadas por todos  os cantos. Poucas situam-se entre as centenas de arbustos. A maioria encontra-se no chão úmido.

Mulder, com sua curiosidade aguçada, logo entusiasma-se ao ver algo como se fosse uma pequena gruta formada das pedras acinzentadas.

-         Olhe isso, Scully! – fala alto.

-         Estou vendo, Mulder... mas não vai me dizer que quer entrar aí...!

-         Exploração, Scully! O homem nasceu pra ser um desbravador, seja em que circunstância for!

Dana coloca as mãos nos quadris. Revira os olhos para o alto.

-         Ah, não dá pra entender, Mulder! Você quer escarafunchar tudo que vê!

-         Ah, lindinha, vem cá comigo...! – abraça-a contra seu lado do corpo e a faz segui-lo.

Os dois penetram na pequena e baixa gruta.

-         Ora, se pra mim essa altura já incômoda porque é muito baixa, imagina pra você – queixa-se ela, abaixando-se para poder caminhar sem bater com a cabeça no teto de pedra.

Mulder, cada vez mais curioso, prossegue, segurando Dana pela mão.

O chão, coberto de pedras roliças sobre a branca areia, obriga o casal a deslizar os solados dos sapatos.

-         Eu tenho medo de escorregar. Não vou prosseguir com essa idéia, Mulder!

-         Eu não a deixo cair, tenha certeza, Scully...

Subitamente, ele pára de falar. O local escuro havia se tornado bem claro.

-         Olha, Scully, repara só isso! Tem uma saída pro outro lado!

Dana levanta as sobrancelhas, surpresa.

-         É verdade! Que interessante!

-         Viu como é bom sempre procurar novidades? – fala, com o seu melhor sorriso de menino que acabou de ganhar um presente.

Agora, mas entusiasmada, Dana caminha com pressa.

A paisagem diante de suas vistas deixa-os alegres.

-         Nunca eu imaginaria que do bosque atravessaríamos para outro lugar da cidade. – ele comenta.

-         E é encantador! Gostei.

-         Viu como o seu homem aqui é extravagante, mas desbravador de...

-         ... buracos estranhos! – ela concluiu, sarcástica.

-         Nem tanto! Não gostou de sair deste  outro lado?

-         Está bem, Mulder. Você me convenceu... – dá um rápido beijo nos lábios dele - ... apesar de me induzir a experiências novas.

  O pedaço de céu que se pode descortinar entre as dezenas de altos edifícios, faz bem aos olhos e ao coração.

O casal, com olhos deslumbrados,  entra em um shopping, observando os artigos luxuosamente exibidos, nas bem decoradas vitrines.

-         Scully, vamos tomar algum lanche?

-         Apenas um yogurte, pode ser.

-         Está sem fome?

-         Completamente.

-         Mas você me havia dito antes que estava sentindo fome!

-         Diante de tanta aventura, a fome passou, Mulder.

Dirigem-se à uma praça de alimentação. Pedem as iguarias. Comem, calmamente.

Mulder, após isso, retira do bolso um talão de cheques. Folheia-o, detendo-se em examinar os canhotos.

-         Que é, Mulder? – ela nota a atenção dele nos canhotos dos cheques já retirados do talão.

-         Tsc, tsc, tsc ...  estou começando a ficar preocupado.

-         Por que fala assim?

-         Eu até possuía uma boa soma no banco, mas com tanto gasto...

Dana o  fita, atenta.

-         Será que vai nos faltar dinheiro?

-         A sorte é que ainda tenho a casa que era do meu pai.

-         Pretende vende-la?

-         Logo que puder. Não se preocupe com isso. Logo daremos um jeito em tudo.

-         Eu creio nisso, Mulder.

-         Eu sei.

Ela passa um guardanapo nos lábios. Ele chama o garçom, a fim de trazer a conta.

*   *   *

-         Pelo amor de Deus, eu não acredito!

-         O que aconteceu, cara?

Os dois homens estão numa mesa próxima de onde se encontram Mulder e Dana.

-         Depois daquela mesa... lá onde tem dois senhores de cabelos brancos, olha a mesa ao lado deles! Aquele casal lá! 

O outro dirige o olhar para aquela direção.

-         Nossa! O que que é aquilo?!

-         O que você acha?

-         Aqueles doidos do David e a Gillian?

-         Claro que não! Olhe com atenção! Você sabe que eles não estão na cidade!

-         Sósias do David e da Gillian, então? Incrível, cara!

-         Não é o máximo? E agora, que idéia você tem na cabeça?

-         Nem me atrevo a falar!

-         Ah, cara, não vem não! É só dar uma ligada pro Carter.

-         Ta doido?! Não me atrevo a isso, não!

-         Está certo disso? Então acompanhe o meu gesto.

Diz isso e levanta-se. Vai em direção do casal.

-         Boa tarde, senhores! – ele  cumprimenta Mulder e Dana.

O casal responde.

-         Podem me dar um momento de sua atenção?

-         Nós já estamos de saída – explica Mulder.

-         Mas, por favor! Peço sua atenção por alguns instantes, somente!

-         Se é sobre venda de algum produto, não estamos interessados. – fala Dana.

-         Não...

-         Alguma pesquisa? – quer saber Mulder.

-         Nada disso, senhores. É algo que eu e o meu amigo ali achamos  incrível! – aponta o amigo na outra mesa.

Mulder abre o talão de cheques, a fim de pagar a despesa, vendo o garçom que chegara.

O desconhecido apressa-se e toma a iniciativa do pagamento. Mete a mão no bolso e dirige-se ao garçom; sem mais delongas, faz o pagamento das despesas.

-         Por favor, pago a minha e a do casal de amigos aqui. – diz ele, decidido.

Mulder, tomado de surpresa com essa atitude do homem, reclama:

-         Nada disso! Desculpe, mas o que está acontecendo? Não o conheço!

O garçom já se havia afastado da mesa.

Mulder toma a mão de Dana. Preparam-se para sair do local.

-         Olha, por favor! É algo importante, acredite! Precisamos falar-lhes! – pede o desconhecido.

O casal entreolha-se. Resolvem concordar em aceitar a conversa do desconhecido.

Este retira um documento do bolso, mostrando-o ao casal.

-         Olhem, meu nome é Beck... Mat Beck. Faço parte da equipe de produção de uma Serie de TV e... – faz uma pausa - ... os senhores conhecem os atores David Duchovny e Gillian Anderson?

-         Quem?! – o casal exclama ao mesmo tempo.

O homem fica com um ar surpreso.

-         Não é possível isso! Não os conhecem?

-         Por que fala assim?! – Mulder admira-se.

-         Ah, porque eu não acredito que ninguém, em qualquer lugar desta cidade, não tenha notado que vocês têm a cara dos atores do seriado conhecido em todo lugar, que foi sucesso mundial, sobre dois agentes do FBI!

-         É...? – Mulder passa a mão na própria face, de boca aberta.

Dana olha para seu próprio corpo, passando as mãos pela cintura.

-         Bom, - fala ela –  e afinal o que o senhor pretende? Que lhe demos um autógrafo?

O sujeito dá uma risada. Volta-se para o seu amigo que encontra-se na mesa ã distância; faz um gesto, para que este se aproxime.

-         Vamos embora. – chama Mulder, segurando o braço de Dana, para que ela o acompanhe.

Ela dá os primeiros passos para segui-lo.

-         Ei! Esperem! Vocês não podem fazer isso! Não estão entendendo o fato extraordinário da coisa!

-         Que coisa, cara? – Mulder irrita-se.

O amigo de Beck já está junto aos três.

-         É simplesmente extraordinário! – exclama o recém-chegado, de olhos abertos, fitando Mulder e Dana.

-         Por favor! Por favor! Sentem-se! Precisamos conversar!

-         Não, Beck. Aqui não! Temos que leva-los a um lugar mais apropriado! – comenta o outro.

-         Ao escritório?

-         Claro!

Mulder, de lábios apertados e polegares na cintura, afastando para trás o casaco em sua atitude característica, observa os desconhecidos.

-         Por que acham que os seguiremos até seu escritório? – pergunta ele.

Beck toma uma posição importante.

-         Porque queremos conversar com vocês... bem... – desliza os dedos indicador e polegar em sua direção - ... financeiramente falando.

-         O quê?! Dinheiro?! Quer comprar nossa discrição em quê? Com que intuito?

-         Calma! Não é comprar vocês! Quero oferecer-lhes uma oportunidade!

-         Não, obrigado. – fala Mulder, tocando Dana num braço, para avisa-la que devem sair dali.

-         Eu não acredito que vocês, meus amigos, não queiram aproveitar uma oportunidade dessas!

-         Mas que oportunidade vocês estão falando?

-         Vocês não podem recusar! É imperdível! – comenta agora o outro que chegara depois.

-         Gente,  creiam na seriedade do que estamos falando! Vocês não fazem idéia do que o plano lhes pode trazer.

-         Não faço parte de planos. – reitera Mulder.

-         Veja bem ... não é um plano... nós queremos lhes fazer uma proposta significativa, que tenho certeza lhes trará benefícios.

-         Não compreendo que tipo de benefícios!

-         Ora, a não ser que vocês sejam grandemente agraciados financeiramente, é impossível recusarem nossa proposta!

Mulder e Dana novamente trocam olhares de cumplicidade.

Ela abre os lábios para falar algo.

Mulder a impede, recomeçando a conversa com os dois homens.

-         Vamos falar francamente. O que vocês pretendem de nós? E por que nos acham tão ... fantásticos?

 

O homem que dera o nome de Beck abaixa a voz, falando bem perto de Mulder e Dana:

-         Queremos lhes propor desempenhar o casal dos personagens da série.

-         O que você disse? – Mulder está surpreso.

Dana está calada, tão chocada ficara.

Permanecem estáticos, parecendo não entender bem o significado das palavras jogadas em seus ouvidos tão subitamente.

Mulder medita por segundos, mordendo os maxilares, fazendo com que suas mandíbulas pulsem dentro da carne.

-         Sinto muito, mas não nos interessa.

-         Não interessa?! Ah, ah! – olha para o amigo – Olha se pode! Ele recusa a proposta! Mas tenho certeza de que a senhora pensa diferente! – diz ele para Dana.

-         Esqueça! – Mulder fica bem ao lado dela  e a enlaça pela cintura – Ela é minha mulher.

-         Bem, desculpem a gente; mas conversemos com calma ... não dá pra repensarem o assunto?

Mulder, mais uma vez, aperta os lábios. Passa as mãos nos cabelos. Olha para Dana ao seu lado.

Um dos homens recomeça:

-         Estou certo de que, se entrarmos em entendimentos, dá para fazer negócio.

-         Eu não sou homem de negócios. Meu trabalho sempre foi ...

-         Por que se empenham tanto em nos convencer a isso? – interrompe Dana – Nunca fomos artistas, nem fizemos teatro amador, nem ...

-         Não, não, não! Esqueçam esses problemas! O que conta é a semelhança de vocês com os protagonistas. É muito grande! É de arrepiar de tão autêntica! Parece sobrenatural!

Mulder emite um leve sorriso.

Dana cruza os braços, com seu ar de pouco caso.

-         Por favor, senhor, aceite nosso convite a ir até ã nossa equipe. Por favor! – pede um dos homens.

Mulder pensa por alguns minutos. Olha para Dana.

Ela o fita, também.

-         O que resolve?  - ele pergunta, com simplicidade.

Ela dá de ombros.

 

“A simplicidade é a companheira da

verdade, como a modéstia é do saber.”

De Sanctis