PERDENDO A CONSCIÊNCIA

 

“O homem tem um farol: a consciência.”

Victor Hugo

 

Capítulo 224

 

O ator continua caído no solo.

Mulder já estava retirando-se do local de gravação das filmagens, quando uma exclamação mais alta chega até seus ouvidos.

-         Ele está morto!!

Ao ouvir essa frase Mulder retorna os passos, quase a correr.

Três pessoas já estão junto do ator caído.

-         Mas o que é isso? – exclama Mulder.

-         É verdade! O Croft está morto!

-         Tem certeza?

-         Absoluta. – diz um dos homens, pegando o pulso do ator – Ele não tem mais batimentos cardíacos!

Quase duas dezenas de pessoas da produção e equipe, aproximam-se para ver mais de perto.

-         É melhor chamar uma ambulância. Rápido!! – berra o diretor.

 

 

Mulder, Scully e toda a equipe de produção estão reunidos numa das salas do estúdio.

-         Bem, quero avisar a todos vocês aqui presentes que o ator Ric Croft faleceu diante de nós, infelizmente, mas devido a, segundo exame cadavérico, um veneno injetado em suas veias. Não dá pra nos fazer entender em como um envenenamento é possível ter reação após tantas horas, pois ele passou todo o dia bastante bem e satisfeito.

-         Certos tipos de substâncias tóxicas – começa Dana a explicar – tem seu efeito somente após algum tempo inoculado num organismo.

Os olhares de todos os presentes voltam-se para ela, que está falando com bastante segurança.

-         Logo que o vi cair desacordado, julguei ser ele uma vítima de epilepsia, porém ele não teve convulsões antes de ... – ela pára, ao notar que Mulder, com um dedo na boca, discretamente está lhe pedindo para calar-se.

-         Engraçado, Gillian – diz um dos homens da equipe – você anda tão diferente... e agora dizendo essas coisas, a gente acha até que está absorvendo a personalidade da sua personagem.

-         Minha ... o quê? – após fazer esta pergunta, ela se detém – Ahn... é... acho que é isso.

Três pessoas dão risadas dentro da sala.

Mulder aproxima-se dela, que aconchega-se a ele, num gesto de quem procura segurança.

Fitam-se, mutuamente, num mudo diálogo de amor. Após isso, ficam abraçados, esquecidos do mundo.

Um abafado murmúrio se ouve pelo recinto.

-         Então agora os dois estão de caso abertamente, não se importando que outros saibam, é? – pergunta uma mulher à outra em tom muito discreto.

-         Pelo que a gente pode ver, a mulher dele está jogada fora!  - murmura a outra.

-         E o noivo, aquele jornalista, como é que fica?

-         Eu sei lá...! Eles que são enrolados que se entendam! – conclui a outra.

Mulder e Dana afastam-se. Deixam o estúdio.

 

 

 

Horas depois, novamente em cena, estão em um diálogo.

-         Mulder, eu digo e repito: não faça isso! Não dê chance de que aquele sujeito o prejudique numa cilada traiçoeira! – tenta impedi-lo.

Fitam-se, intensamente, cada um ansiando seu próprio objetivo.

-         Scully, mas eu tenho que fazer isso, não vê? Faz parte do meu “eu” não ficar aguardando que as coisas aconteçam!

-         Mas tem que ser ponderado, Mulder! – cruza os braços e faz uma pausa – Sabe de uma coisa? Não darei mais palpites no que deve ou não fazer...

Ao vê-la irritada, ele aproxima-se mais. Terno. Suave. Fitando-a com o olhar perscrutador.

-         Calma, Scully. Não precisa ficar aborrecida. Você sabe que eu sou assim. Não quero aborrece-la, mas a minha intuição me domina...

-         Eu sei... – concorda, quase sem voz.

Ele toma-a nos braços e encosta-a contra o peito. Afaga-a nos cabelos. Segura-a pelo queixo e cola os lábios na boca ávida que está aguardando a sua.

Vários segundos permanecem assim.

-         Corta!!

O diretor da cena, quase aflito, encaminha-se para os dois.

-         Ei! A cena não tinha nenhum beijo! E a cena não precisava ser tão... tão... – adverte-os o diretor.

Mulder dá um sorriso espontâneo.

-         Ora, foi sem querer... desculpa. A gente poder rodar a cena novamente.

-         É isso. – concorda o diretor – Tem que ser!

-         Não! – interrompe Carter – Vamos deixar. É isso que os fãs querem mesmo!

-         Ok, então. – diz o outro, um tanto contrafeito.

Súbito, um vozerio que vem de outro salão aumenta, pouco a pouco, chegando até onde estão todos.

-         O que está havendo?

Neste momento todos vêem a nuvem branca e espessa da fumaça, penetrando, imediatamente, no ambiente.

-         Incêndio!! Fogo!! – alguém grita, desesperado.

O pânico toma conta do estúdio.

Mulder, segurando a mão de Scully, tenta leva-la para fora do local, mas a espessa fumaça penetra-lhes nos olhos e nariz, impedindo-o de quase respirar.

Ele toma sua Dana nos braços e, cambaleando, anda com ela em direção à uma das portas.

-         Por aqui! – alguém grita, ajudando vários que estão querendo sair dali.

Mulder, com os olhos semicerrados, ardidos, olha para Dana em seus braços. Ela está desmaiada.

-         Scully, Scully!

Uma pessoa os ajuda a, finalmente, conseguir passar na porta, mas a fumaça ainda invade, abundantemente, o local.

O ruído intenso das sirenes dos bombeiros já pode ser ouvido ao longe, lá fora.

Mulder não consegue quase respirar. Com as poucas forças que lhe restam, deixa que seus joelhos se dobrem. Está perdendo a consciência. Mas mantém sua amada, ainda, em seus braços.

 

Chris Carter e Kim Manners estáo a  lhe observar, quando Mulder abre os olhos.

Ele pisca pesadamente, várias vezes, meio entorpecido. Súbito senta-se na cama e sua primeira reação é perguntar, agitado.

-         E Scully? Onde está ela?

Uma enfermeira simpática o atende.

-         Calma, senhor Duchovny. A senhorita Anderson está ali... – aponta com o olhar - ... está tudo bem com ela, felizmente.

-         Duchovny...? Quem...? – mas olha para a direção que a enfermeira lhe aponta – Scully! – ele exclama, vendo que ela está num leito ao lado do seu.

Ele tenta levantar-se.

Os dois homens o impedem.

-         Não. Fique deitado. Ela está bem.

-         Está ainda desacordada? – ele pergunta.

-         Sim, mas é porque lhe aplicaram um sedativo.

Mulder dirige-se à enfermeira, que está  junto da cama de Dana.

-         Por favor, cuide bem dela! Ela está grávida.

-         O quê?! – exclamam Carter e Manners, ao mesmo tempo.

A enfermeira  perto do leito de Mulder sorri, comentando para a outra.

-         A Piper vai ganhar um irmãozinho?

Mulder franze o cenho, sem entender. Logo, porém, percebe que a todo momento pessoas confundem a ele e à Dana com os verdadeiros atores da Série.

Carter está de cabeça baixa. Mão segurando o queixo. Nem sabe o que pensar. Mulder e Scully, os personagens criados com carinho, saídos de dentro de sua mente, têm vida própria. Eles são os pais de William, que agora terá um irmão. Interessante! Intrigante! Inédito! Fantástico!

-         Tem certeza de que irá guardar até o fim de sua vida esse tão maravilhoso acontecimento. Mas... até quando estará acontecendo isso? Até quando...?

 

“A arte da vida consiste em fazer

da vida uma obra de arte.”

Voltaire

Nota da Autora – Só para informar aos leitores

que qualquer discrepância que for notada neste

Capítulo, a mesma é proveniente da data em que

o mesmo foi escrito: 18.10.04.

wanshipper@yahoo.com.br