UMA LINDA MULHER
“Se a mulher
atrai os homens, tem beleza
física; se atrai
as mulheres, tem estilo; se
atrai a toda
gente, tem encanto.”
Baltasar Gracián
Capítulo 230
Mulder segura,
firmemente Dana pelo braço, protegendo-a, para que não se machuque contra certas
rochas pontiagudas que existem na gruta.
Por alguns minutos
prosseguem sua caminhada. Em dado momento, uma réstia de luz aparece,
refletindo-se numa das paredes.
-
Por ali! Venha!
– ele fala, levando-a consigo.
Logo, seus pés
encontram-se em solo firme, arenoso.
-
UFA!! – exclama
Mulder; respira fundo.
Dana retira logo
sua mão, desprendendo-a da dele, que ainda a segurava.
-
Obrigada,
Mulder. – agradece, passando a mão pela roupa, como se quisesse tirar dela
qualquer vestígio daquela cansativa aventura – Finalmente livres! – conclui
ela.
-
É verdade,
Scully! – dá uma risadinha discreta – Eu não sei como pudemos entrar nessa
tosca gruta! – fala, examinando a entrada repleta de escuras rochas.
-
Bom, Mulder,
como sempre você se mete em aventuras incríveis e consegue me levar nesse
roldão! – comenta, sem sorrir.
-
Desculpe,
Scully.
-
Mas, afinal,
qual foi o objetivo de entrarmos aí, Mulder?
-
Objetivo...?
É... bem, na verdade não sei explicar.
-
Está bom. Não
se fala mais nisso, já que você não tem uma resposta plausível para me dar.
-
Já pedi
desculpas, Scully. Vamos, vamos. Olha, o carro está ali adiante.
Encaminham-se para
o veículo.
Ambos abrem as
portas do carro para entrar. Acomodam-se.
Dana começa a
colocar o cinto de segurança, quando percebe o olhar de Mulder sobre ela.
-
O que foi? –
quer saber.
Ele dá um breve
sorriso.
-
É que até com
teia de aranha nos cabelos, você está bonita...
Dana aperta o
queixo contra o pescoço, enquanto o olha de soslaio; na verdade não gosta
quando o olhar esquadrinhador de seu parceiro está a lhe observar. Nada
responde, então. Apenas passa a mão sobre os cabelos, se olhando no espelhinho
do pára-sol.
Mulder faz um bico
com os lábios. Põe o carro em movimento, prestando atenção na pista.
-
Você vai até o
Bureau, Mulder?
-
Não... acho que
não. Não temos nenhum relatório para o Skinner hoje e já é tarde.
-
Engraçado... –
ela coloca a mão no queixo, pensativa - ... não consigo lembrar dos fatos dessa
nossa última investigação! Me deu “um branco”de repente em minha mente, que não
consigo concatenar as idéias! – diz, preocupada – Mulder, me ajuda! Não sei o
que está acontecendo comigo. Será que estou com algum problema?
Ele a olha,
enquanto no seu semblante há também uma certa preocupação. Rugas delineiam-se
em sua testa.
-
Não há como
ajuda-la, Scully...
Ela é tomada por
surpresa.
-
Não?! Por que não?
-
Estou na mesma
situação que você.
-
O quê?! Mulder
e então...?
-
Calma. Deixa
estar que, por certo, isso que está acontecendo é por apenas um curto espaço de
tempo. Talvez algo tenha acontecido dentro daquela gruta, influenciando nossa
mente. Logo vamos melhorar .
-
Como pode dizer
isso com tanta frieza? Estou perplexa e amedrontada!
* * *
Ele pára o carro.
Ela retira o cinto
de segurança e prepara-se para sair.
-
Tchau, Mulder.
Até amanhã.
-
Até lá, Scully.
– dá um sorriso ao vê-la afastar-se - Ei, Scully!
Dana volta-se para
olha-lo.
-
Durma bem!
Ela aperta os
lábios, sem sorrir.
Mulder fica
observando-a ir à distância para entrar no prédio onde mora.
Dana sobe os
poucos degraus quase correndo, sem olhar para trás.
Mulder permanece
ali, com o veículo parado, por alguns minutos . Em seguida, gira a chave na
ignição e prossegue a viagem para seu apartamento na Virginia.
Enquanto dirige
sente que o cansaço está tomando conta de seus sentidos. Por diversas vezes
surpreende-se fechando as pálpebras e toma pequenos sustos. E torce para logo
chegar ao seu destino.
Finalmente
estaciona o carro. Sai dele e dirige-se para o prédio.
O porteiro o
cumprimenta. Mulder faz apenas um movimento de cabeça. Espera, quase
impacientemente, o elevador, o qual demora um pouco. Saindo em seu andar,
Mulder olha o número de metal em sua porta.
42. Sente-se até um pouco
infeliz. Abre a porta e entra.
Arranca fora o
casaco e atira-se sobre o sofá de couro negro. Ao fazer este gesto, porém, vê
que um dos bolsos externos do seu casaco está completamente descosturado; o
Agente pega novamente o casaco para verificar que qualquer objeto ou documento
que ali estivera, teria, na certa caído, sem que ele o visse. Apalpa os outros
bolsos e vê, com alívio, que outros objetos permanecem nos lugares, inclusive
sua identidade e o crachá do FBI.
Dirige-se ao
banheiro; toma o seu banho e, enquanto ali está, sob a ducha, seu corpo se
excita ao ter alguns pensamentos que o levam à Dana.
“Scully é linda,
excitante... gosto dela. Nessa solidão aqui dentro deste apartamento, sinto
desmoronar minhas forças. Eu poderia ter uma linda mulher como aquela ao meu
lado. Sei que me sentiria bem... e feliz.”
- divaga, nos seus pensamentos.
* * *
Dana, ao entrar no
apartamento, joga as chaves sobre a mesa.
Vai ouvir os
recados na secretária eletrônica do telefone. Faz um muxoxo, chateada. Ali
contém alguns recados, que inclui o de Ethan, o namorado que ela já decidira
descartar, sem mais delongas.
-
Dana, por
favor, me liga. Precisamos conversar. Não dá pra aceitar um fim numa relação
tão importante que tivemos. Me liga, sim? – fala a voz no gravador.
Dana toca na tecla
para apagar a mensagem.
Retira o casaco,
dirigindo-se ao quarto. Retira a saia. Somente vestida de sutiã e calcinha, joga-se
na cama, procurando relaxar. Por alguns minutos fica deitada, olhando para o
teto. Logo muda de posição, virando para o lado.
Sente-se cansada.
A caminhada sem nenhum objetivo palpável, até àquela mata, indo dar naquela
gruta a deixara extenuada.
“E por que não
consigo lembrar o que fui fazer naquele lugar? O que estávamos procurando? O
interessante é que também meu parceiro de nada lembra!”
Ela sente um pouco
de calor. Passa os dedos sobre o corpo quase desnudo, com a pele umedecida pelo
suor. Logo, vem à sua lembrança um fato acontecido há dias.
“Nossa! – pensa –
Até agora não sei o porquê da minha coragem em tirar a roupa diante dele...!
Mas era o medo... eu estava apavorada com o que estava acontecendo! Aquelas
simples picadas de insetos me deixaram apavorada e fiz aquilo...! E o que será
que ele pensa de mim por esse tão fútil procedimento? De calcinhas e sutiã,
ali, junto de um quase desconhecido! É incrível como não consegui conter os
meus temores...! Mas Mulder é maravilhoso! Respeitador, como sempre!”
E ela deixa-se
divagar. De sua retina não saem os olhos verdes perscrutantes de seu colega de
trabalho. Lembra que seu olhar profundo parece querer penetrar até sua almab,
como que desejando saber os seus mais íntimos segredos.
E isso quase a
incomoda. Ou a atemoriza, na verdade.
“É incrível a
força que a alma
pode infundir no
corpo.”
W. Von Humboldt