INALCANÇAVEIS SONHOS

 

“Quisera, ah, como eu quisera poder, ao entregar

 a alma ao Criador, levar através da eternidade os

sonhos realizados, as esperanças alcançadas, sem

o amargor de nenhuma tristeza a toldar-me os meus

ingênuos, mas inalcançáveis sonhos de mulher...!”

Wanilda – 1971

 

Capítulo 234

 

Mulder, abatido ainda, está no seu escritório, remexendo nos arquivos da gaveta. Ouve chaves girando na fechadura da porta de entrada. Pára e fica observando quem vai entrar.

Dana entra, com ar surpreso.

-         Mulder! Quando teve alta?

-         Hoje! – responde e volta a remexer as inúmeras pastas.

-         Ei! Não acredito! E já veio pra cá?

-         É a minha sina, Scully... e a sua também.

Ela concorda com um meneio. Senta-se na cadeira, diante do computador. Liga-o e fica aguardando, enquanto ele inicializa o boot. Olha para o lado da sala onde Mulder está. Calado, impaciente, continua abrindo e fechando pastas, apressadamente.

Dana sente que os pensamentos que estão se apossando de sua mente nos últimos dias, começam a delinear-se, pouco a pouco, deixando-a perturbada, mas sem ter forças para desviar o olhar de onde está Mulder.

“O porte dele, o seu jeito de estar ali, diante dos arquivos, me dão a impressão de que ele não é apenas um conhecido, um colega, um amigo... que estranho! As mãos dele, de longos dedos me fazem tremer, parecendo já ter eu tido contato com eles, no mais íntimo do meu corpo; o seu perfil, a boca... meu Deus! Pareço sentir seu beijo, sem nunca ter sequer estado junto demais dele...!”

-         Scully, finalmente!

Imediatamente os pensamentos de Dana dispersam-se na névoa de sua imaginação.

-         O que estava procurando, Mulder? – pergunta, voltando-se para a tela do monitor.

Mulder aproxima-se com uma pasta nas mãos.

-         Desde as seis da manhã que tento achar estes dados, Scully!

-         Às seis horas você já estava aqui?

-         Sem dúvida, colega. – faz um bico com os lábios apertados, virando as folhas da pasta; aproxima-se dela – Este caso aqui acontecido em Minnesota nos anos setenta, é que repetiu-se no final do ano aqui, veja só! – aponta o escrito para que sua parceira o leia.

Dana, porém, não consegue concentrar-se nas letras diante dos seus olhos. A única coisa que lhe chama a atenção é o perfume gostoso que emana dele, ali, bem junto a ela e embriaga-a, quase a deixando atordoada.

“Terrível, alarmante é essa sensação que eu sinto quando estou junto a ele! – pensa – Mas acho que entendo essas fantasias da minha mente. Talvez porque a minha vida sentimental não seja das melhores e eu não tenha, ainda, alcançado meus sonhos de mulher...!”

Batidas na porta, neste instante, fazem com que os dois voltem-se para a entrada do escritório.

Mulder, em passos rápidos, vai abrir a porta.

-         Bom dia, Agente Mulder! – o rapaz o cumprimenta.

Mulder apenas faz um gesto com a cabeça. Não sorri.

O homem estica o pescoço para olhar para o interior da sala.

-         Oi, Dana!

O Agente, meio a contragosto, lhe dá passagem.

O recém-chegado já vai dando passos para entrar, quando a Agente levanta-se de onde está.

-         Ethan!? – diz surpresa – Não! Por favor, pode deixar que vou até aí! – e dirige-se para onde está o rapaz – Por que veio até aqui?

-         Cansei de esperar seu telefonema.

-         Ora, pára com isso! – volta-se ela para Mulder – Com licença; não vou demorar. – sai com o rapaz e bate a porta.

Os dois sobem os degraus, para alcançar a porta do elevador.

-         Eu não tive tempo de lhe telefonar, Ethan.

-         Pensa que acredito nisso?

-         Ora, então fica a seu critério o que pensar. Não preciso pedir a sua opinião sobre o que pensa do que faço ou deixo de fazer!

-         Você está cada vez mais geniosa! – fala, com um falso sorriso.

-         Ando muito cansada, Ethan. E sobre o que penso do nosso relacionamento, você já sabe.

-         Mas não aceito.

-         Bem... – ela dá de ombros - ... fazer o quê?

O casal entra no elevador.

-         Pra conversarmos um instante é preciso ir lá pra rua? – ele pergunta.

Dana lança um olhar  de admoestação para o rapaz, ao notar que as outras pessoas ali dentro os olham com ar crítico.

Alcançam o hall e vão para a rua.

-         Antes de mais nada, devo dizer-lhe que nunca mais me procure em horário de trabalho. Tenho responsabilidades e seriedade no meu serviço! – ela fala em tom severo.

-         Parece até uma tia chamando a atenção do sobrinho! – dá uma risada – Dana, até quando você vai agir desse modo, fazendo essa palhaçada comigo?

-         Ora, por favor, Ethan! Não está vendo que eu estou querendo terminar esse namoro? Não dá pra notar que a minha vida está muito tumultuada pra pensar em namoro sério agora?

-         Tumultuada?! Uma jovem de sua idade com a vida tumultuada? Ora, Dana, você tem é que curtir a vida e o amor desestressa mais que tudo!

-         Pelo amor de Deus! Eu não quero magoá-lo mais, sendo obrigada a falar o que você está cansado de ouvir... por favor, vamos dar um tempo... será benéfico pra nós dois...

Ele, nervoso, dá um passo para trás e outro para a frente, demonstrando raiva.

-         Eu quero você! – diz, convicto.

-         Pára com isso! – afasta-se mais dele – Desculpe, tenho que voltar ao trabalho.

-         Não agora. Vamos conversar! – segura-a por um braço.

-         Por favor, Ethan; é serio! Tenho que ir agora!

Ele, num gesto brusco, toma-a de encontro ao seu peito, tentando beija-la à força.

-         Não! Pára! – ela pede.

Ele insiste.

-         Você não vai me deixar, Dana! Não vai! E segura-a, ainda.

Súbito, enquanto a Agente é arrancada de seus braços, o rapaz é atirado à distância, o que o obriga a equilibrar-se em suas pernas, para não cair em cheio na calçada.

O acontecimento foi tão rápido que Ethan e Dana ficam atônitos da surpresa desse ato insólito.

Mulder ali está; pernas afastadas, respiração afogueada, lábios apertados, mostrando ira. Os punhos fechados indicam o desejo de socar o rapaz que está diante de seus olhos agora acinzentados.

-         Meu Deus! – é só o que Dana consegue murmurar.

Ethan caminha na direção do Agente para falar:

-         Com que direito você fez isso?

-         A Agente Scully é uma profissional do FBI e merece todo respeito de qualquer pessoa que queira lhe perturbar.

-         Perturbar... eu...? Sou o namorado dela!

Dana pigarreia, nervosa, aproximando-se dos dois.

-         Olhem, por favor, chega disso! – volta-se para o o rapaz – Ethan, vá embora, por favor. Eu procuro ligar pra você.. por favor! – pede, sentindo-se desconfortável.

Mulder enfia as mãos nos bolsos do paletó, ainda irritado.

Ethan, por fim, após fitar por segundos os dois Agentes diante de si, afasta-se caminhando apressadamente. Logo chega até um carro adiante estacionado, entra nele e após ligar o motor, sai dali, cantando pneus.

Dana suspira profundamente. Caminha para entrar no prédio do Bureau.

O parceiro a segue.

-         Desculpe, Mulder... mas não lhe dou o direito de agir assim, envolvendo-se nos meus assuntos particulares.

Ele nada retruca. Apenas levanta as sobrancelhas, mas não a olha.

A Agente está surpresa com a atitude inesperada de seu parceiro. Apesar de pensar que conhece bem esse seu temperamento explosivo, na verdade nada sabe do seu real modo de ser.

 

“Quem conhece os outros  é   sábio,

mas aquele que conhece a si mesmo é iluminado”.