UMA PESSOA DIFERENTE

 

“As pessoas que fazem diferença na sua vida

não são as que têm mais credenciais, dinheiro

ou prêmios. São as que se importam com você.”

 

Capítulo 237

 

Dana dirige-se aos degraus da escada do prédio onde mora. Quase nem consegue enxergar o que está à sua volta por causa das lágrimas que afloram, teimosas.

Entra em seu apartamento. Tranca a porta por dentro. Vai para o quarto. No banheiro lava as mãos. Joga água no rosto, desejando, dessa forma, retirar o fogo da ira tomando conta de seu ser. Veste um quimono.
“Ai, que droga de sensação ruim! Mas por quê?? Por quê? Por que fico louca de ciúmes do Mulder... se ele é apenas um colega...?”- pensa ela.
De olhos fechados, diante do armário na parede da cozinha, martiriza-se, tentando tirar conclusões do que se passa na sua mente.
 
Abre os olhos. Retira uma xícara e um prato do armário. Agarra, com mãos crispadas os objetos de louça, apertando-os contra o peito.
-         Não posso deixar que isso aconteça! -  fala, consigo mesma, perturbada.
Coloca, com força, as louças sobre a mesa e, com passos apressados, vai para o quarto. Retira o quimono. Veste um de seus habituais terninhos escuros. Sente as carnes tremerem, enquanto se veste. Sabe que está nervosa ao extremo.
“Mas tenho que fazer isso!”- pensa.
Rapidamente calça os sapatos, pega as chaves do carro e sai.
 
*   *   *
Nos corredores do Bureau Dana busca de sala em sala encontrar Mulder.
-         Oi, Agente Scully!
Dana olha na direção do cumprimento.
-         Oi.  - responde, sem entusiasmo.
-         Pensei que estivesse na reunião com o Agente Mulder.
-         Que reunião?
-         A que já terminou e o Diretor Skinner até já saiu.
-         Ah, é? E o Agente Mulder?
-         Ficou lá com os representantes da Scotland Yard.
-         Os representantes?!
-         Falo assim porque tinha duas pessoas lá com ele; uma delas saiu.
-         Sei... – fala, afastando-se.
-         Tchau! – diz a colega.
Dana nem a responde. Já se encontra a metros de distância. Desce as escadas que leva à sala do porão.
Mete a chave na fechadura, girando-a  Sente-se inquieta. Tensa. Abre a porta, de supetão. Escuro total. Silêncio.
-         Não tem ninguém! – fala para si mesma.
Suas narinas detectam um perfume estranho.
“E é feminino! “ – pensa, rangendo os dentes, enraivecida.
Acende o abajur na mesa de Mulder para ver melhor o ambiente. Já vai  preparando-se para desligar o abajur,  quando vê, sobre a mesa, algo brilhando. Aproxima-se. Olha de perto o objeto. 
A indignação é menor do que o  terrível ciúme que lhe penetra a alma, nesse instante.
“Um brinco de strass!”-  pega o objeto, dirigindo a mão para a lixeira ao lado da mesa. E nela atura o brinco. Aperta os lábios.
“É apenas um brinco! E por que ela o tirou? Será que a jóia estava atrapalhando a cena amorosa dos dois? Será isso?”
Ela sente uma sensação ruim, de que a vida que leva é de amarguras. Há em seu interior um vazio intenso. Mas não vai deixar de lado a sua fortaleza de mulher, embora frágil e pequena, diante dos momentos desagradáveis de sua vida. Tem que ser forte. Sempre.
Ela deixa o escritório silencioso e escuro. Ao chegar à rua não vai logo direto para o carro. Permanece estática, aguardando nem sabe o quê.
-         Dana, tudo bem?
Ela volta-se rápida. À sua frente um sorridente colega de trabalho.
-         Oi! – cumprimenta-o
-         Que oportunidade jóia!
-         O que quer dizer?
-         Ora, não adivinha?
Dana cruza os braços, em sua habitual atitude.
-         Pode traduzir o que quer me dizer?
-         Bem,  - ele passa a mão nos cabelos – Até que enfim você está desgrudada do seu spooky parceiro!
-         Ah, é isso...!
-         Espera... – ele coloca os dedos sobre o braço dela - ... estou brincando. A oportunidade é que, vendo-a sozinha, quero lhe chamar para jantar.
-         Obrigada. – ela responde séria.
-         Esse agradecimento corresponde a um sim ou não?
Ela sorri, levemente.
-         Fica pra outra vez, Frank.
-         Ah, não brinca! É a terceira vez que lhe convido!
-         Ta bom, mas, na verdade hoje não posso.
-         Por acaso, vai pra alguma investigação agora?
-         Não! – ela sorri – Vou é pra minha casa.
-         Dana, – ele fala baixo – é só um convite pra jantar comigo...!
A Agente, neste momento, percebe que necessita fazer algo para seu próprio benefício. Sabe que sofre algo que a faz ter  desejo de descobrir o que existe em sua mente ou espírito. Mas o que tem mesmo que fazer para poder viver melhor? Só sabe que há algo diferente na convivência que tem com Mulder, uma pessoa diferente, algo mesmo espiritual.
“Mas... onde estará ele agora? Junto àquela mulherzinha insossa e eu aqui sentindo falta da companhia dele!”- queixa-se, no íntimo.
-         E então o que me diz? – o colega insiste.
Dana desperta de seus devaneios.
-         Hãn... digo... sim!
-         Sim?! – o outro entusiasma-se.
-         Sim.
-         Ora, Dana querida! Que prazer você me dá! Vamos lá, então!
Ele encaminha-a para faze-la entrar em seu carro, estacionado próximo dali.
*   *   *
Com um suspiro, Dana caminha, vagarosamente, pelo corredor, para alcançar a porta de seu apartamento. Até havia jantado bem e Frank lhe fora uma agradável companhia.
Abre a bolsa e rebusca as chaves dentro dela. Em seguida coloca a chave na fechadura. Um ruído a faz parar o movimento. Uma pessoa saira do apartamento vizinho.
Ela retorna o seu gesto para entrar em casa. Entra e fecha a porta.
Tudo na penumbra. Pára. Subitamente. Nota que havia deixado o jornal dobrado sob uma mesinha e, no entanto, ele está com suas páginas abertas, espalhadas, no sofá.
Ela pisca duas vezes, achando estranho. Levanta as sobrancelhas.  Procura sentir alguma presença no ambiente. Tudo tranqüilo, porém.
Vai em direção da copa. Abre a geladeira. Pega um copo na mesa e coloca um pouco d’água. Está com sede e um grande cansaço... mental.
Precisa parar de pensar. 
Está indo para o quarto, agora; olha, de longe, o relógio digital na mesinha de cabeceira, silencioso, mas continua movimentando seus pontinhos de segundos; o livro junto ao telefone. Tudo parece estar no lugar.
Uma leve pancadinha a faz parar seus passos.
Num gesto rápido, acende a luz do abajur.
-         Aaaaaaaaaaaaaaaah!! – assusta-se.
 
“O livro é o alimento do espírito.”