EXPERIÊNCIAS PSCOLÓGICAS
 
“A experiência é um médico
 que chega sempre tarde.”
Madame de La Tour
 
Capítulo 241
 
Dana continua observando o seu amigo, através da fumaça que se desprende das xícaras e que fazem voltas pelo ar.
-         Senhora, como deseja o seu chá? Com muito ou pouco açúcar? – ele fala, empinando o peito, que realça a camisa de malha cinza na qual está vestido.
-         Pouco, obrigada. – reflete por alguns segundos -  Mulder... ahn... você já teve uma camisa igual a essa em outras épocas?
Ele olha para seu próprio peito.
-         Igual a essa? Não que eu me lembre...
-         Ah...! – ela murmura; na sua imaginação cheia de fantasias, pensa já conhecer esse traje do seu parceiro, que inclusive, a atrai por ficar muito bem no Agente, segundo a sua própria idéia.
-         Por que pergunta, Scully?
-         Nada. Bobagem.
-         Você nunca me fala as coisas por completo. Já notou isso?
-         Desculpe.
Ele senta-se. Segura a xícara de chá fumegante. Levanta-a a altura de seus olhos.
-         Um brinde.
-         Brinde?! Ao quê?!
-         À minha tolerância.
-         O quê?!
-         Sim! Um brinde à minha tolerância por tomar este chá que você me oferece, já que só gosto mesmo é de chá gelado.
Ela tem que sorrir pelas palavras tão espontâneas de Mulder. Levanta também a xícara:
-         Tim Tim!
-         Tim Tim. – ele responde.
Ambos provam pequenos goles da bebida. 
Os olhos dele fixam-se nos dela. Perscrutadores.
Os dela infinitamente indagadores.
-         Scully...
-         S... sim?
-         Eu gostaria muito de saber o que está acontecendo com você, ultimamente.
-         O quê...? Comigo?! Por que diz isso?
-         E por que você não assume que está sofrendo problemas psicológicos, Scully?
Ela levanta-se, impaciente:
-         Ah, Mulder, pára! Você e suas idéias!
Ele levanta-se também. Segura-a pelo braço.
-         Por que não tenta desabafar comigo, Scully? Sou seu amigo!
Dana sorri, levemente.
-         Não fala assim, Mulder. Não estou sofrendo nenhum problema mental, se é o que você imagina. Não queira colocar sobre mim as suas experiências em psicologia!
Ele levanta as mãos, fazendo assim um gesto de dizer que vai se afastar do problema.
-         Desculpe. – coloca as mãos sobre os ombros dela – Prefere que eu vá embora?
-         Não! – responde rápido – Por favor, Mulder. Fique!É bom conversar aqui assim, em paz!
Ele balança a cabeça, concordando.
Os dois sorriem.
-         Venha aqui. – ele puxa-a pela mão – Quer ver um filme?
-         O que você quiser.
Colocam-se diante da TV.
-         Vamos procurar ficar bem confortáveis, certo? Estamos convalescendo, ainda.
*   *   *
Dana olha para seu parceiro, carinhosamente. Fica olhando cada detalhe dele, que está adormecido há cerca de meia hora.
Ela contempla as feições atraentes do Agente.
O nariz avantajado dele que, em conjunto com o resto do rosto, torna-o extraordinariamente belo. Não uma beleza comum, palpável. E sim uma beleza insinuada. Ela não existe, certamente, diante dos olhos normais, mas sim diante dos que enxergam mais profundamente, usando a sensibilidade.
Mulder tem uma beleza diferente. Seu modo de falar, usando frases sarcásticas, enquanto  vasculha sua mente e até sua alma. A boca de lábios bem desenhados, que se movimentam em gestos sensuais. O sorriso de menino, que fascina e encanta qualquer mulher. A voz que sussurra. O corpo atlético que dá a sensação de um escudo protetor.
“Eu estou sentindo as pulsações do coração dele...! Gostoso sentir isso. Deitar-me assim, todas as noites, com a cabeça sobre seu peito quente, me faz repousar o corpo e a mente, me deixando sentir a segurança que vem...”
-         Hãn...?? – ela assusta-se – Meu Deus, o que houve? – levanta-se e afasta-se do sofá – Ele está dormindo ali, a quase um metro de distância de mim e, no entanto, me vi, por instantes, como se estivesse compartilhando com ele de uma mesma cama...! – murmura para si mesma, atrapalhada em seus sentimentos.
Vai até a cozinha. Fecha os olhos. Suspira profundamente. Não sabe nem o que pensar.
“Oh, meu Deus! Será que estou apaixonada por esse homem?”
-         Scully...?
Dana volta-se, ao ouvir o chamado.
Mulder havia despertado e viera até onde ela se encontra.
-         Está sentindo alguma coisa? – ele quer saber.
-         Eu vim tomar um pouco d’água. Você quer?
Ele desvia o olhar, e com um leve sorriso, murmura:
-         Água, não;  só quero mesmo é sentir o molhado da sua boca.
Dana sorri um pouco, meio sem jeito.
-         Sempre espirituoso,  Mulder...! – rapidamente movimenta-se em direção da mesa, onde estão algumas frutas dentro de um recipiente  – Come uma fruta, que lhe fará bem.
Mulder faz um bico com os lábios. Pega uma maçã vermelha e brilhante. Segurando-a entre os dedos, gira-a e observa sua superfície, aproximando-a de seus olhos apertados.
-         Prefiro esta... a fruta do pecado.
Dana lhe lança um breve e discreto sorriso. A todo instante as palavras que vem do parceiro a deixam envolvida em tremenda confusão emocional..
 
“É mau  o   pecado,  mas
é muito pior a hipocrisia.”
Campoamor