OUTRA DIMENSÃO DE VIDA
 
“A vida é curta demais para ser pequena.”
Benjamim Disraelli
 
Capítulo 242
 
Mulder abre os olhos. Pisca várias vezes. Espreguiça-se longamente. Após minutos, senta-se na sua habitual cama, o sofá de couro negro. Leva a mão a coçar as partes íntimas entre as pernas. Cara de mal humorado. Boceja. Joga o corpo no sofá, novamente.
-         Scully... – murmura, passando a mão , querendo achar o morno da pele dela no espaço vazio do sofá, sem olhar.
Súbito, surpreende-se, ao fazer esse gesto.
-         O quê...? – fica pasmo consigo mesmo, vendo o que fizera.  
“Nossa! Que idéia! Tive a nítida impressão de que a Scully estava comigo aqui, dormindo ao meu lado...! Acho que estou começando a gostar da presença dela em todos os momentos da minha vida... acho que estou começando a gostar dela mesmo...!”- pensa, perturbado.
Levanta-se. Aperta os lábios. Distende-os, depois, num leve sorriso, lembrando a doçura de cena de sua imaginação. Dirige-se ao banheiro.
*   *   *
-         Te amo muito, lindinha...! – ele diz, enfiando os dedos nos cabelos longos de Dana.
-         Mulder... não sei mesmo o que seria minha vida sem você... apesar de tudo que passamos, me sinto feliz... tenho você, nosso filho e agora mais um fruto do nosso amor vai chegar...
-         Ele vai sentir ciúmes, Scully?
-         Quem, Mulder?
-         Nosso filho, com a chegada da irmãzinha...?
Ela sorri.
Mulder aproxima os lábios de seu rosto. Desliza-os sobre sua testa, nariz, queixo, pescoço e retorna alcançando-lhe a boca.
Dana entreabre s lábios e permite que ele aí coloque todo o seu calor e desejo.
-         Huuum... te amo, Mulder!
O ruído estridente a faz abrir os olhos.
-         Hãn...? – ela tateia a superfície da mesinha de cabeceira, procurando o stop do relógio. Concentra-se e aperta o botão. 
O ruído continua.
-         O que é que...? – abre os olhos e nota que é o telefone sobre a mesinha – Oh, não! – fecha os olhos, chateada.
“Depois de um sonho daqueles, enfrentar a rotina chata do dia, é demais!”- pensa.
Estende a mão e atende o telefone.
-         Alô! – fala, quase sem voz.
-         Oi, Scully! É o Mulder! Ainda estava dormindo?
-         É... por quê?
-         Esqueceu? O Skinner mandou irmos cedo hoje, não lembra?
-         Skinner... cedo...? Ai, desculpe, Mulder! Vou já me arrumar.
-         Ok. Passo aí pra te pegar. Tchau.
Dana nem responde. E nem é preciso. Ele já havia desligado. 
Ela esfrega um pouco a testa, ainda chateada.
“Que sonho gostoso! Mas novamente com o meu parceiro...! Meu Deus, que desconforto no coração...! O que eu faço? Não é possível isso continuar em minha mente! Eu não estou agüentando mais!”
*   *   *
Mulder sente-se irado. Como o assassino conseguira ter acesso a seu apartamento e arranjar aquelas provas contra si?
Chama a parceira.
-         Venha, Scully.
-         O que vai fazer, Mulder?
-         Entrar aí.
-         O quê? – ela olha o vão da escada rolante atrativo aos olhos de Mulder, cobiçosos por pegar o homem comedor de fígados humanos – Pára com essa idéia, Mulder! Não entra aí!
Ele, como sempre, nem responde. Logo vai preparando-se para descer no buraco ali aberto.
Dana o puxa pelo braço.
-         Não, Mulder! Não faça isso! Você vai correr risco!
Ele lhe sorri por segundos e começa a entrar no vão da escada.
-         Mulder, pára! Deixa ! O homem vai ser esmagado! – ela lança a frase com ar convicto. 
O colega a olha, intrigado.
-         Outra das suas... adivinhações, Dana Scully? – pergunta, balançando a cabeça e olhando-a  com ar divertido.
-         Não estou brincando, Mulder! Ele vai tentar puxa-lo! Por favor, Mulder, não vá!
Ele lança o olhar ao derredor. Com os braços faz força para sair. Reflete um pouco, no entanto. Logo decide pelo que lhe atrai a vontade de ir à cata do assassino. E joga o corpo para dentro do vão.
-         Não, Mulder! – ela pede aos gritos, desarvorada; toma o celular e digita um número – Preciso de ajuda! Um Agente está em perigo!
*   *   *
Dana, ao lado de seu colega, olha-o vestindo o paletó.
Ele veste as mangas do vestuário.
Dana aproxima-se e ajuda-o a vestir-se.
-         Tenho a sensação de ter tido por muitas vezes a sua ajuda nisso. – ele comenta e sorri.
-         Sei... – diz, sem fitá-lo, enquanto continua a ajeitar-lhe o paletó.
Mulder pega a mão esquerda de Dana. Examina-a; desliza os dedos sobre os dela, mansamente; olha para a sua própria mão.
-         O que foi? – ela quer saber.
-         Não sei...
-         Ah...! – ela o fita, cm olhar indagador.
-         Scully...
-         Sim, Mulder, o que quer dizer?
-         Que gostaria de entender o que está se passando com você.
-         Comigo... o quê?
-         Bem queria eu saber!
Ele solta-lhe a mão e dá uns passos para trás.
-         Esse seu dom de prever as coisas não é comum em você, Scully... parece que eu... nós... 
-         Nós o quê, Mulder?
-         Já vivemos tudo o que estamos passando agora.
-         Aah...! – ela exclama com semblante incrédulo – Era só o que faltava você dizer, Mulder!
Ele aproxima-se mais dela.
-         Qual o pior, Scully? Ver cenas de passagens que já existiram em nossa existência, como faz um vidente ou pensar como eu, que acho que podemos estar noutra dimensão de nossas vidas? O que explica a sua sabedoria científica sobre isso?
Dana cruza os braços. Contempla seu parceiro.
-         Mulder, até contrariando mesmo a ciência, mas existindo, na realidade, pessoas que tem esse dom de premonição – dá um suspiro – o que não acredito seja eu uma afortunada criatura possuidora desse mesmo dom, essa sua idéia de estarmos vivendo numa... outra dimensão, nada tem de crível, nem de aceitável... desculpe.
Mulder faz um bico com os lábios. Suas mandíbulas pulsam dentro da face. Chega-se à parede por detrás de sua mesa de trabalho e aponta. Fala, apertando os olhos.
-         Saiba, minha bela parceira, que isso tudo que está preso aqui nesta parede decorando nosso escritório, cada uma delas teve um significado pra mim. É a minha experiência, Scully, de uma vida inteira, desde que entrei no FBI.
Em atitude decidida, volta-se para a porta de saída. E com passos pesados para lá se dirige.
-         Até amanhã. – ele despede-se.
Dana fica parada, sem ação. Não encontra argumentos para debater mais esse assunto com seu colega de trabalho.
 
“A experiência é a soma 
de nossos desenganos.”
Anguez