A MÃE  NATUREZA
 
“O estudo, a contemplação da natureza,
é o alimento natural da inteligência e do 
coração.” 
Cícero
 
Capítulo 244
 
Dana, surpresa com a decisão de seu parceiro, comenta, abrindo os grandes olhos azuis ao ver descortinando-se diante de si a paisagem bucólica.
O aviso na estrada indica o caminho a seguir.
-         Estamos indo para Rhode Island, Mulder?
-         Precisamente Quonochontaug.
-         Mulder, mas por quê este lugar?
-         Nós sempre vínhamos para cá. – suspira, baixando um pouco a cabeça – Eu vinha para cá com meus pais... e minha irmã, quando eu ainda tinha uma família.
Ela o olha penalizada. Sempre que Mulder fala sobre Samantha, tem um toque de angústia.  Dana procura extinguir a tristeza dele, reiniciando a conversa em tom alegre.
-         E o lugar é incrível, Mulder! Lindo!
Prosseguem em sua viagem e ela procura estar sempre a distrair os pensamentos dele em uma conversação alegre e informal.
Enfim ele estaciona o carro.
-         Venha, Scully! – puxa-a pela mão para entrarem na casa.
Os móveis cobertos denunciam a solidão do ambiente.
Os Agentes param, a fim de observar esse cenário.
-         Desculpe, Scully, pelo aspecto tão constrangedor.
-         Não se preocupe com isso... mas Mulder quero saber porque me trouxe aqui!
Ele dirige-se rápido para a cozinha, enquanto fala:
-         É que gosto de estar em contato, contemplando a mãe natureza; você não? 
-         Claro que gosto!
Mulder aproxima-se do fogão; observa-o. 
-         O que tenciona fazer?  - ela quer saber.
Ele volta-se para ela:
-         Scully, vamos até o carro. – segura-a pelo braço – Temos que pegar algumas coisas lá.
-         Ora, ora! – ela põe as mãos na cintura – Você veio prevenido!
Ele chega bem próximo ao ouvido de Dana, para falar sorrindo:
-         Estamos num final de semana, Scully. E longe do trabalho...!
Ela distende os lábios num sorriso fechado. Com o olhar matreiro.
Caminham até o lado de fora, onde está o carro.
Mulder abre o porta-malas. Retira dele alguns pacotes.
Dana ajuda-o  a carregar alguns.
-         Não me diga que lembrou de trazer também os cobertores! – comenta, admirada, notando as mantas de lã nos pacotes.
-         Lembrei disso porque esta casa não contém mais o conforto de outrora...!
Ele detém as palavras e seu semblante denota saudade. Tristeza.
Dana percebe isso.
Retornam à casa.
Mulder bate a porta por dentro com a ponta do tênis, devido a estar com as mãos ocupadas. Começam os dois a desfazer os embrulhos.
Dana diverte-se, ao abrir um pacote.
-         Até comida, Mulder?!
-         Era preciso, Scully. Aqui fica longe de tudo! Naturalmente nada iríamos pedir às casas vizinhas, não acha?
-         Com certeza... mas Mulder, se não temos como acender o fogão...!! Cadê o gás?
Ele, desfazendo um pacote, responde sem olhar para ela.
-         Ponha sua cabeça pra funcionar, Agente Scully!
Dana levanta a cabeça, olhando para o teto. Franze os lábios.
-         É bem um Arquivo X, Agente Scully! – ele completa.
Após falar isso, Mulder encaminha-se para a porta dos fundos.
Dana o acompanha.
Pela porta aberta ela estende o olhar até o vasto local.
Uma parte do grande terreno que fica junto à casa é coberto de areia no solo. Pequenos arbustos mostrando que outrora haviam sido podados e tratados, agora se encontram com seus galhos irregulares voltados para o alto e para os lados.
Pequenas e multicores flores em plantas baixas espalham-se por largos canteiros laterais, como sobreviventes,  misturadas ao nocivo capim. 
Desde a porta até um tanque redondo, que demonstra ter sido uma espécie de fonte, pode-se caminhar por sobre pedras de granito intercaladas por verde grama, que ali cresce desordenadamente, necessitando ser podada.
Uma mesa de pedra, com bancos laterais, está abaixo de uma grande árvore frutífera.
Dana contempla o lugar. Penalizada por todo abandono que sabe existir no local. Ela acompanha os gestos de Mulder, pegando galhos e pedaços de tronco e madeiras, os quais vai arrumando num dos locais em que ainda verdeja a grama que sobrevive apenas com as águas da chuva que recebe. Ela vai até onde ele está. Ajuda-o a carregar os pedaços de madeira que vão se amontoando, formando uma fogueira.
*   *   *
O sol, já caindo no horizonte, torna irreal o cenário avermelhado do céu. A fogueira acesa, no crepitar contínuo de suas chamas, convida a se aproximar dela para aquecer os corpos necessitados de calor e assim fugir do rigoroso frio do crepúsculo.
Mulder havia arrumado a fogueira próxima a um grande tronco que está apoiado no chão.
Dana senta-se nesse tronco. Dentro de seus olhos tremula o  reflexo das chamas vermelhas que vão respingando em saltitantes pontinhos luminosos em direção ao estrelado céu escuro. 
Mulder acompanha o gesto dela, sentando-se também.
-         Está sentindo, Scully?
-         O quê...?
-         A energia que emana do fogo...
Ela fecha os olhos. Suspira profundamente.
-         Sim, eu sinto essa energia. – ele prossegue, balançando a cabeça  – As trêmulas chamas em direção ao céu, parecem querer infundir em nós a sua força! 
A leve brisa gelada logo morre ao aproximar-se do casal.
Dana continua apreciando, embevecida, o interminável  manto do céu, onde as estrelas piscam, sem parar. Ela sente-se diante de algo que a magnetiza com seu poder.
-         Eu queria estar assim, sempre... – murmura Mulder, lentamente.
-         Sentindo o calor que vem do fogo?
-         Ele nos incita a divagar coisas irreais.
Dana o fita. Em seu interior vê-se diante de uma coisa que faz renascer-lhe um desejo ardente de ali estar em sintonia com a força do Universo e do sentimento poderoso do amor.
-         Escuta... ouve essa música? Vem de algum lugar próximo daqui... – ela fala.
-         Talvez de uma dessas casas vizinhas, através desses altos muros que nos cercam.
Mulder abre os olhos. Olha para Dana e lança-lhe o seu sorriso de menino.
-         Não acha que estamos um tanto  poéticos? 
-         No entanto, a vida só nos tem permitido usar a razão, nunca a emoção.
Ele levanta-se. Com a mão estendida, convida-a a levantar e deixar-se levar por ele nos passos de uma dança, acompanhando o ritmo dolente da música que vem de fora.
Ao ver Mulder com a mão estendida em sua direção, ela levanta-se.
Ele a enlaça em seus braços.
Sentem-se na quentura de suas carnes, no roçar de seus corpos, causando-lhes o entorpecimento pela emoção de sentir seus corações em pulsações iguais. 
Há a doçura do enlevo transformado em paixão neste momento.
 
“Diante da paixão não há leis nem conselhos.”
Alfred de Musset
 
Nota – À amiga Elaine agradeço ter me
            oferecido o tema para a elaboração 

            deste capítulo e outros que se seguem.