SENSAÇÃO DE SOLIDÃO
 
“A solidão é  um regime que cura
a alma das orgias sociais.”
Paolo Mantegazza
 
Capítulo 247
 
Mulder, sentado à sua mesa de trabalho, segura com as mãos a cabeça perturbada. O telefone toca, estridentemente, repetidas vezes.
Não vai atender, está decidido. Sua mente o acusa, a cada momento, impedindo-o de estressar-se ainda mais.
“Por que eu não dei ouvidos ao que Scully me falou naquele dia? E por que não segui minha intuição?”
Tenta por de lado essas idéias. Suspira, profundamente. Sente-se esgotado. Precisa ir para casa. Lá não é, de modo algum o conforto
do qual ele necessita, mas, pelo menos, é o seu lugar de descanso nas horas em que pode fazer isso.
“Interessante o que está acontecendo comigo, ultimamente – pensa ele – Meu apartamento não me está trazendo o bem estar que eu 
sentia anteriormente. Falta nele algo que não sei explicar... algo, alguma coisa... alguém...! Por que sinto essa sensação de solidão agora?
Há algum tempo atrás isso não me faria diferença alguma...!”
Pensando assim, de súbito pega as chaves do carro sobre a mesa, arrastando com ela alguns papéis que estavam junto e estes  caem no chão.
Sem nem notar isso, ele levanta-se. Toma o paletó com o dedo, deixando nele pendurado e sai do escritório, trancando a porta.
*   *   *
O ar um tanto pesado e quente que vem da rua fustiga-lhe o rosto, enquanto dirige.
Nesses dias todos,  vários lances absurdos tinha-o feito pensar até que  a vida é uma droga! Difícil de ser vivida. Mas,  por outro lado, tem
que se contentar com isso. Afinal é o seu trabalho. A escolha dessa profissão atribulada foi sua!
Estivera meses antes naquele local na louca aventura de estar frente a frente com os homenzinhos verdes e tantas doidices mais. Nesta
semana sente a mente castigada pelos problemas, envolvido com o caso de Duanne Barry, ex-agente  do FBI, que parece não estar em seu 
stado normal.
Mas... na verdade, bem que acredita no que ele lhe tem contado sobre sua abdução. 
*   *   *
Mulder coloca o copo com suco de frutas na mesinha baixa, em frente à TV. Liga o aparelho. Olha a tela, sem prestar atenção no que está 
sendo exibido. Deita-se no sofá. Fecha os olhos. Tenta relaxar.
Súbito, seu corpo estremece. É o ruído do telefone tocando. 
“Chato isso!  – pensa -  Quem poderá ser?”
-         Mulder! Me ajuda! 
É a voz de sua parceira, Dana Scully.
Ele levanta-se, num pulo.
-         Mulder! Mulder!
A voz dela ressoa no ambiente, vindo da secretária eletrônica.
-         Scully!!- ele grita, respondendo no fone.
Mas um ruído de que foi desligado, sai do aparelho.
E o Agente, atordoado, mas decidido, veste, novamente o paletó e sai correndo de seu apartamento.
 *   *   *
-         Oh, Fox! Minha filha tem que ser encontrada! Por favor, ajude!
-         Claro, senhora Scully. – ele responde à chorosa Maggie.
E após consola-la e faze-la ir para casa num táxi, ele retorna ao apartamento de Scully. Não sabe mais por onde começar.
Para onde Duanne Barry a teria levado?
*   *   *
Dias e dias à procura de sua colega Dana Scully.
Mulder, barbado, pensativo, jogado na cadeira em frente à mesa de trabalho, tenta recompor a sua débil vontade de viver. Sente-se até um 
fracassado.
Por todo esse período o sofrimento tem feito parte de sua vida.  Ele levanta-se e dá passos incertos no ambiente.
*   *   *
Mulder olha o manto escuro do céu, pontilhado de milhões de estrelas.
-         Num brilhante ponto desses sei que você está, Scully...! – ele murmura - ... eu quisera poder te alcançar... poder traze-la de 
      volta... – a voz começa a quebrar-se - ...Scully, eu sinto tanta falta de você... oh, Deus! O que eu posso fazer? 
Ele ajoelha-se na relva.
No alto dessa montanha pode avistar grande parte do céu, nessa noite quieta.
-         Ela foi levada daqui...! Ela foi levada...! Nunca mais poderei vê-la... toca-la, mesmo que respeitosamente... eu preciso ter ainda
 uma chance de lhe dizer que a amo...
Ele deixa cair a cabeça sobre o peito e chora. As lágrimas descem soltas sobre sua face abatida. Os soluços libertam-se de seu peito.
“Espero que não a maltratem demais com os testes.” – esse pensamento relembrando as palavras do homem que trouxera Scully até 
esse local maltrata ainda mais o coração do Agente.
*   *   *
-         Lembrou-se de sua velha mãe, hoje, Fox?
-         Sim, mãe...
Teena acaricia os cabelos do filho.
-         Tenho certeza de que está angustiado por alguma coisa.
Mulder suspira.
-         Tem razão.
-         O que houve? Problemas no trabalho?
-         Sim.
-         Ah, filho, eu não lembro ter havido alguma ocasião em que você não os tenha nessa sua profissão!
Ele aperta os lábios. O semblante anuviado. Olha para o espaço no ambiente.
Teena observa-o, atentamente.
-         Acho que agora é algo mais grave que as simples complicações de casos que investiga.
De olhos baixos, ele confirma com a cabeça.
-         Minha colega Dana.
-         O que tem ela?
-         Após tempos desaparecida, foi encontrada quase sem vida e não se sabe se sobreviverá.
-         Está hospitalizada?
-         Sim.
Teena aproxima-se mais do filho, passando, novamente,  a mão nos seus cabelos revoltos.
-         E esse abatimento tão grande assim, por qual motivo?
-         Por que não? Ela é minha colega e além disso, somos amigos! – fala, passando a mão sobre os olhos.
-         Talvez nem seja somente esses sentimentos de entendimento e amizade.
O filho olha para a mãe com o pescoço erguido. Em seguida baixa o olhar, pensativo.
-         Você a quer de volta, filho. Não se conforma se ela partir pra sempre...
-         Tenho certeza que não! – confirma apertando os lábios; levanta-se, num repente.
-         Já está saindo, Fox?
Ele nem responde. Beija a mãe na face. Afasta-se, rapidamente. 
Em seus pensamentos só está a figura de Dana. Sofrida. Maltratada. Sem saber como e nem onde. Como sua irmã Samantha poderia 
estar. Mas Dana, pelo menos teve mais sorte. Reapareceu. 
*   *   *
Mulder toma o cafezinho oferecido por Maggie aos goles, enquanto observa Dana tão quieta.
-         Desculpe, Scully.  - fala, levantando-se.
-         Do quê? – ela o olha.
-         É que vou embora; vejo-a tão quieta que acho que está desejando descansar.
-         Não, não! – ela estende a mão – Por favor, fique! Preciso conversar! Preciso esquecer!
Mulder, concentradamente, aproxima-se da cama onde sua colega se encontra.
-         Esquecer... o quê, Scully? – ele a instiga, interessado.
-         Esquecer de que... não me lembro de nada...! – murmura quase para si.
O Agente senta-se novamente, enquanto a fita.
-         Tente, Scully, lembrar...
Ela coloca as mãos na cabeça.
-         Eu não consigo! Não sei o que aconteceu! O que fizeram comigo! – tem a voz chorosa.
-         Filha, não se martirize! Você está aqui com a gente e isso é o que conta! – pede Maggie, preocupada.
Preocupada sim, porém sentindo-se compensada por ter de volta sua amada filha, a sua felicidade.
 
“A felicidade  raras vezes está ausente.
Nós é que não damos pela sua presença.”
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