TEMOR
¨Quem muito deseja, muito teme.¨
M. de Cervantes
Capítulo 254
Frohike deixara o apartamento de Dana entristecido pela falta do amigo, o seu grande amigo, Agente Fox Mulder e pela tristeza e dor que vira estampada nos olhos da Agente Dana Scully.
Em sua mente permanecera a cena.
***
Dana, vestida num quimono branco, sentada à mesa diante dele, mantivera os olhos voltados para o conteúdo da
xícara de chá.
- Agente Scully, sabe que não tem que se preocupar tanto. O Mulder logo estará aqui, de volta. Eu creio nisso. –
disse.
Dana apenas dera-lhe uma rápida olhada, enquanto permanecera estática, voltando a fitar o líquido escurecido na xícara.
- Tome seu chá, senão esfria. – ele voltou a falar.
- Tá, Frohike; pode deixar.
O amigo de Mulder, após tomar um gole da quente bebida, observou a parceira do Agente.
- Quero lhe fazer uma pergunta, Agente Scully.
- Pode falar. – disse, ainda com os olhos baixos, as mãos largadas no regaço.
- A sua tristeza é apenas pela falta do colega... ou...?
- ... ou...? – ela o interrompeu.
- Bem... – pigarreou e mexeu o chá com a colherinha - ... quero dizer... você gosta dele? Você o ama, não é?
Ela levantou o olhar nadando em lágrimas:
- Fica a seu critério a resposta a essa pergunta. – respondeu, fitando-o, firmemente.
Frohike pôde perceber que Dana tinha os olhos rasos d’água.
- Desculpe, Agente Scully. – disse, levantando-se – Eu não quis lhe aborrecer.
Ele saiu da mesa.
- Obrigado pelo chá. Tenha uma boa noite. Durma bem.
Dana levantou-se, também.
- Boa noite. – falou, levando-o até a porta.
***
Agora, Frohike, caminhando pelo corredor do prédio de Dana relembra toda a passada cena.
¨Scully ama Mulder, de verdade! Será que ele percebe isso?¨
***
Dana tranca a porta; pára por alguns segundos; suspira profundamente. Retorna à cama, de onde havia saído há meia
hora atrás. Sente que precisa relaxar. Deixa-se vencer pela descontração e não pelos temores de uma suposta morte de
seu parceiro. Deita-se, cobre-se com o cobertor. Uma temperatura enregelante toma conta de seu corpo. Sente-se tiritar
de frio.
- Oh, meu Deus, tenho que me conter! Não posso me deixar vencer pelo pânico! Mulder não pode estar morto!
Ele está bem e logo o verei. Ele está bem... e eu poderei abraçá-lo, deixá-lo apertar-me ao seu peito quente...!
– murmura, consigo mesma.
Súbito, percebe que está dizendo coisas sem nexo para seus sentidos. Cobre o rosto com o cobertor. Deixa que sua
própria voz ali, abafada, a console, gritando:
- Ele vai voltar!!
***
Mulder tivera momentos de transtorno ao retornar ao seu apartamento. Mas, pelo menos agora sente-se melhor. Mais seguro, mais em paz.
Caminhando ao lado de sua parceira, percebe que a presença dela em sua vida é algo imprescindível. Havia, durante
muitos dias, ficado nas mãos de Albert Hosteen; sob seus cuidados conseguira sobreviver. Mulder pára, diante da porta
do elevador.
***
Dana o olha, compadecida, para falar ternamente:
- Eu disse à sua mãe que você estava bem...
- Como sabia? – ele tem um olhar extasiado, fitando-a.
- Eu sabia...
- Scully... – segura-lhe a mão - ... queria te falar...
- O quê, Mulder?
- Onde eu me encontrava... depois, é lógico, de ter capacidade pra refletir sobre a minha vida quase perdida...
- Sim...?
- Eu percebi que sem você não dá mais...!
Dana, numa súbita reação, sente a respiração tensa, aguardando as palavras dele.
- ... pra viver, Scully...! Me sinto como um trapo, um ser sem valor, vegetando nesse mundo frio de emoções.
- Mulder...! – ela consegue, com sacrifício, murmurar.
Ele toma-lhe as mãos, levando-as até os lábios e as beija, fitando-a com carinho.
Ela sente que todo o seu ser está voltado para essas palavras que são declaração de um verdadeiro amor. Seu cérebro
logo joga dúvidas, causando, assim, reação de alerta às palavras dele.
¨Ele não está bem... voltou bastante abalado depois de tudo que passou... e eu não posso... não devo acreditar no que ele está falando...¨ - pensa, um tanto atordoada.
Ela resguarda-se, assim, de sentimentalismo nas frases que acabara de ouvir.
- Eu também já estou me acostumando a ficar ao seu lado, Mulder, acredite!
- Verdade? – ele sorri.
- Sim. – responde de modo natural, mas tendo em seu interior um turbilhão de
emoções.
O Agente percebe que verdadeiras emoções não haviam causado na mulher que ama sentimentos iguais aos seus. Sente-se
um pouco frustrado. Decide deixar de lado o sentimentalismo. Suspira fundo. Logo seus pensamentos voltam-se para outros
lances de sua vida:
O silêncio toma conta nesse momento. Mulder passa a mão nos cabelos por várias vezes, parecendo querer retirar da mente
tudo o que está ali guardado.
- Tão interessante...! - ele comenta baixinho.
- O quê, Mulder?
- Agora foi a minha vez, Scully... que coisa! – fala, com ar absorto.
- Sua vez de quë? Fala...!
- Eu tive a nítida impressão de que isso tudo já aconteceu na minha vida... como se já tivesse estado antes sendo
tratado por Alberto Hosteen. Tenho quase certeza de que não é a primeira vez que isso acontece.
- Mulder! – coloca a mão na boca, surpresa – Você acha isso? Os mesmos sintomas que sinto em certas ocasiões?
- Muito estranho...! – ele volta a falar, com a mão no queixo.
Dana está atenta a reação dele:
- Você está vendo agora, Mulder, como me sinto às vezes...? É uma sensação péssima!
Mulder está parado, mão no queixo, ainda, meditativo:
- Scully... acho que já lhe falei de uma coisa...
- ... o quê? – pergunta, ansiosa.
- Nós estamos em uma outra dimensão .
Os dois fitam-se, profundamente.
Ele segura a mão dela, carinhosamente.
- Não sabemos como isso aconteceu.
- É isso. – ela confirma; titubeante. Passa a mão na testa, com ar angustiado.
- O que está acontecendo, Scully? Sente alguma coisa?
- Não, meu Deus! – exclama.
- Mas o que houve? – ele quer saber.
- Minha irmã...!
- O que tem ela?
- Ela vai morrer, Mulder! – diz, em pânico.
Mulder aproxima-se mais e toma-lhe, novamente as mãos.
- Vamos, se acalme, Scully...
- Melissa vai ser morta! Eu sei!
Ele a segura pelos ombros.
- Por que está falando isso? Intuição?
***
O casal de agentes deixa o
hospital nesse instante.
Mulder,
ainda amparando sua parceira, a conduz segura pelo
braço, ternamente.
-
Vou levá-la pra casa, Scully.
-
Obrigada, Mulder, mas se tiver alguma coisa pra fazer,
pode deixar que eu pego um táxi. Eu vou ficar com minha mãe.
-
Mesmo que eu tivesse alguma coisa importante pra resolver, eu a levaria pra
casa.
Ela lhe lança um olhar
agradecido.
Entram no carro.
Enquanto Mulder
dirige, Dana entrega-se a seus pensamentos. Parece ainda ver Melissa na sala de
jantar, conversando:
***
Maggie,
com uma travessa cheia de umas iguarias que levava para a mesa, olhou, sorridente, para as duas filhas.
-
Que assunto tão confidencial é esse que vocês estão conversando, hein?
Melissa sorriu.
-
Ah, mãe, conversa de filhas problemáticas! – disse ela.
-
Eu não me considero assim, Melissa! – protestou Dana.
-
Eu não quero que minhas filhas tenham esse tipo de
preocupações...! – a mãe falou, saindo da sala.
- Dana, agora me
fala, - pediu a irmã – não acertei sobre o seu colega?
-
Acertou no quê...?
-
Não se faça de ingênua; você já notou que ele
gosta de você!
Dana ajeitou-se na cadeira e
pegou um guardanapo.
-
Olha minha irmã, todas as pessoas devem gostar umas das outras, principalmente
se compartilham do mesmo trabalho.
-
Pára com isso, Dana! Ele ama você!! Deu pra entender? Só
cego não vê!
-
É mesmo? Mulder é um cara legal. Muito respeitador, discreto... por isso
você está confundindo os sentimentos dele...
- ... confundindo coisa nenhuma!
Ele ama você e você... o ama!
- De onde tirou essa idéia, Melissa?
A irmã a fitou com um meio sorriso.
***
E nessa lembrança Dana percebe que tem ao seu lado uma pessoa com quem pode contar para continuar sua dura
lida de trabalho e amenizar –lhe as vicissitudes da vida: seu parceiro, Fox William Mulder.
¨Quem não trabalha, não
descansa.¨
Carlyle