UMA FORÇA PODEROSA
 
¨O poder sem moral converte-se em tirania.¨
Balmes
 
Capítulo 256
 
Mulder, agitado, nervosamente continua a caminhar diante da infinidade de aquários existentes na extensa
 e escurecida galeria.
Dana acompanha-o, sem entender nada de tanta ansiedade da parte dele, que, segundo ela imagina,  não se
encontra em seu estado normal.
Súbito, ele permanece parado diante de um dos aquários. Mantém o olhar fixo num certo ponto do grande
vidro transparente onde os peixes se entrelaçam numa variedade intensa de cores e  movimento. 
Dana sente-se inibida para entrar em conversa com seu parceiro. Os últimos minutos passados, com a 
conversa fora de propósito que tivera,  a haviam deixado desassossegada interiormente. Não sabe o que está
acontecendo com Mulder; gostaria muito de poder decifrar essa estranha charada.
Ele continua observando atentamente o interior do aquário; no minuto imediato ele sai da frente de um e passa
a observar o que está mais adiante. Tudo num ar de tremenda curiosidade, misturada à aflição e entusiasmo.
Ela, que estacara os passos a fim de observá-lo, nota-o, naquele modo estranho de proceder. Sente-se, então,
quase em pânico. Há alguns instantes atrás ele parecia dominado por idéias surreais e agora o pode ver
postando-se como um louco, de olhar fixo num e noutro daqueles grandes tanques iluminados diante de si,
denotando tremenda e inusitada ansiedade. Dispõe-se a ajudar seu colega. Aproxima-se dele, com voz suave:
               - Mulder, vamos embora daqui... vamos! Você precisa descansar...!
Ele não responde. Nem se move. Continua curvado diante de um dos enormes tanques transparentes.
               - Vem, Mulder! – insiste, com paciência.
               - Scully, veja! – fala ele, enfim.
               - Sim, estou vendo; são muito bonitos... mas vem comigo!
- O que são bonitos...? – ele quer saber, sem desviar o olhar do interior do aquário.
- Os peixes...
- ... peixes...? – interrompe-a, virando a cabeça para olhá-la – Preste atenção... estou falando desses
 cenários.
- Cenários...? – ao fazer a pergunta ela já nota que cada aquário traz como parede de fundo um cenário,
 como que uma pintura, porém parecendo muito real, como se fossem fotos tiradas de algum lugar da 
cidade.
- Está notando o que há neles?
- O que há...?! 
- Preste atenção e verá, Scully. Olhe! – diz, com brilho no olhar.
Ela põe-se a atentamente observar que em cada um dos tanques de águas incrivelmente translúcidas, uma parede 
colorida mostra cenas.
               . O que tem isso, Mulder? – ela indaga, enquanto examina  com mais atenção  o que se encontra à sua
				 frente – É muito comum usarem um fundo para enfeitar os aquários, como uma paisagem, flores...
Mulder sorri, com a impassividade de sua parceira ante a realidade bizarra da situação. Coloca a mão,
 sobraçando os ombros dela, aconchegando-a bem ao lado de sua cabeça, fazendo-a ver o cenário, cujo 
movimento das águas provocado pelos peixinhos, faz ondular pessoas, árvores, construções nele mostrados.
    - Repare, Scully, com atenção e veja as duas pessoas junto àquelas outras... as que estão vestidas com
 roupas de cor escura.
- Ahn...? – é então que ela percebe, atônita, que as figuras representam eles próprios entre outros
 personagens -  Mas... mas o que significa isso? 
Ele não responde. Segura-a, fortemente, pela mão e, em passos rápidos caminha para a lateral do aquário que faz
parte daquele ambiente em penumbra. Levanta a grande e pesada tampa de madeira do aquário e na água introduz
a mão que está livre.
Ela, arrastada por ele, que a segura ainda, grita confusa: 
               - Oh, meu Deus,  o que é isso? Mulder!!
Sente que já não mais pode nada falar, pois mergulhara como se nas profundezas de um oceano límpido e que os
está levando a algum lugar.
Ambos sentem-se envolvidos pela estranha força e logo, em segundos seguintes, percebem que podem sentirem-se
com os pés no chão. E realmente estão em uma grande praça ou local amplo.
               - Mulder!! Onde estamos? O que é isso?!
    - Vê agora? Estamos numa outra dimensão, Scully! – ele explica sorridente e completamente entusiasmado.
- Mas por que as fantasias? Festa do quê?
- Nada disso! Repare que são reais. Gente como a gente. Apenas a diferença que estão no tempo medieval.
- O quê?! – ela arregala os olhos.
- Você está linda com esse traje. – ele fala, fitando-a, sorridente.
Dana, que estivera com o olhar ocupado somente a notar os que estavam à sua volta, detém-se a examinar seu 
parceiro.
               - Mulder! Você também está vestido como essa gente...!
Nesse instante uma turba, com grande barulho, movimenta-se num dos lados do amplo local de chão batido.
Correria, gritaria, os agentes vêem se aproximando.
               - Vem, Scully! – chama ele.
Dana o acompanha em passos rápidos.
    - Nossa! – pára, esbaforida – O pessoal deve achar como é difícil locomover-se com esses trajes!
Os dois continuam a andar rápido, pretendendo afastar-se do local. Logo começam a avistar habitações típicas 
do lugar.
Ainda caminhando lado a lado, os dois agentes entram numa das casas.
               - Os invasores!!! – gritam uns a correr lá fora.
Dana e Mulder, dentro daquele abrigo, pela rústica e diminuta janela, observam o povo a correr, desesperado.
               - O que será que está acontecendo, Mulder? 
Este está completamente deslumbrado com a situação.
    - Mas isso é fantástico! Repare só, Scully, o povo está correndo pra se refugiar naquela fortaleza lá
 adiante, sabe?          
- Mas pra que isso? O que querem os invasores? As terras?
- Tudo, Scully. O que puderem roubar, vão levar, com certeza;  devem ser tropas de países longínquos.
- Mas que absurdo!
- Eles levarão a colheita, os animais e ainda incendiarão as casas.
- Oh, meu Deus, Mulder! Como vamos conseguir sair daqui?
- Não sei ao certo, Sculy...!
Ela levanta a cabeça e olha para o alto, num gesto de impaciência.  Abaixa a vista e vê a roupa em que está
vestida. Uma pesada túnica de lã lhe cobre o corpo; nos pés pode ver grosseiros sapatos de couro. 
Mulder continua fascinado com a inédita situação em que se encontra. Nada daquilo à sua volta chama-lhe
mais a atenção do que estar num local jamais imaginado.
    - Scully, repare! Estamos numa era de há mais de mil anos! Pode acreditar nisso?
               - Eu só quero acreditar na possibilidade de podermos sair daqui, Mulder!
    - Claro! Mas não podemos desperdiçar esta oportunidade de ver com nossos próprios olhos essa
 coisa fantástica! Veja lá! Olhe bem aquele castelo; ele não tem um fosso ao seu redor; não precisa.
Mas por que, Mulder? Toda fortaleza tem um fosso, não? É assim que sempre li nos livros.
- Não, exatamente. Castelos como aquele lá já tem sua própria proteção por ser edificado em uma
 grande e alta montanha; é isso.
E ambos põem-se a observar de longe: sob o céu resplandecente, com suas nuvens de algodão, o verde das
matas dá uma nota de vida ao sopé da montanha avermelhada. Lá no alto dela os cones das torres do castelo 
se recortam contra a claridade do espaço.
Neste momento Dana fixa o olhar em uma mulher que, vestida em sua grosseira túnica de lã azul, tem o cabelo
coberto por um manto branco; carrega nos braços uma criança, cuja cabeça também está coberta. E a mulher
segura a criança como se estivesse carregando um fado precioso. Ao lado dela um adolescente. A vestimenta 
deste é de tecido avermelhado. Uma túnica inteira com mangas e amarrada á cintura. Um cão de bom tamanho,
de pelos cor de tijolo os acompanha.                                                                                                                                                                                                                                                                                    - Não. Hoje vou ficar em casa. 
               - Meu Deus, Mulder!!  - ela leva as mãos à cabeça.
E ele, que estava distraído vendo o que se passava pela rua, assusta-se com o apelo ouvido de sua parceira.
               - O que aconteceu?
Dana está com as mãos agora tapando o rosto e soluça, desesperada.
Ele, rápido, achega-se a ela.
               - O que houve,  Scully? Está sentindo alguma coisa?
               - Mulder,  oh, meu Deus, oh, meu Deus! Mulder!! Me perdoa, Mulder!
               - O que está havendo com você? Me fala, Scully! 
               - Me perdoa por contestar você o tempo todo!
               - Mas me diz o que está acontecendo! O que é?
    - Eu não acreditei em você, Mulder... você que é ... Mulder... Wiliam, o meu filho! O nosso filho! 
– ela desaba em prantos no peito dele.
- Ah, que bom, Scully...  sei... agora você conseguiu lembrar de tudo... a memória retornou... é isso?
 
¨Um rosto formoso é um traidor que se
 torna temível e se olha com prazer.¨ 
Plutarco