APARÊNCIA EXTREMAMENTE IGUAL
¨Há aparências de dureza que ocultam
tesouros de sensibilidade e de afeto.¨
Julio Diniz
Capítulo 258
Já com o despontar do dia, pessoas movimentam-se pelas ruas, dando vida ao local ermo
na madrugada.
Em certo momento o casal de agentes, mesmo usando roupas características usadas pelas
demais pessoas, sentem-se terrivelmente embaraçados; seus gestos diferem dos demais.
Isso, de vez em quando leva o olhar das pessoas em sua direção.
Dana, com Mulder segurando-lhe o braço, estaca os passos, fazendo-o parar.
- Mulder. já notou que estamos chamando a atenção dessas pessoas?
- Claro, Scully, mas deixa pra lá; isso não nos causará problemas.
Caminham mais um pouco. Logo avistam alguns homens carregando barro que apanham num riacho.
Outros, já com o barro, fazendo um monte no chão, misturam-no com palha.
O casal pára e observa.
- Fantástico se podemos comparar com a tecnologia avançada que podemos viver hoje.
Mulder aponta uma outra direção.
- E o importante é o que na era moderna, já quase não podemos ver: cada casa dessas
tem ao lado um pomar e horta.
Dana aperta os lábios.
- É verdade. Tudo muito natural; nem se compara com aquela enxurrada de alimentos
industrializados que se ingere nos dias atuais.
- Aposto que você nunca viu uma árvore daquelas que têm ali.
- Qual?
- Repare só, ali à direita, cheia de frutos.
Ele sorri, atencioso:
- Agora mesmo vamos pedir umas frutas.
Ela concorda.
Caminham até a casa.
Mulder chama por alguém.
Uma garotinha aparece à porta da casa não ampla, porém parecendo do tipo mais confortável
do que as que tinham visto anteriormente.
A menina os olha, sem nada perguntar.
Mulder aproxima-se, gentil.
- Eu queria saber se... – ele cessa de falar nesse instante, com a aparição diante de seus olhos.
Dana, por sua vez, está completamente assustada. Segura fortemente a mão de Mulder.
A figura que se aproximara da porta, com um semblante sério, os interroga:
- O que é que vocês querem?
O casal se entreolha, sem crer no que vê.
- Scully... dá pra acreditar? – murmura ele.
- Você está vendo o que eu estou vendo, Mulder?
Ambos estão boquiabertos.
A mulher que ali surgira, encaminha a menina para dentro da casa.
- Por favor, eu... nós... estamos simplesmente surpresos com a sua semelhança com ela...!
- aponta Dana, que tenta sorrir, mas nem consegue; está quase assustada.
A mulher que aparecera diante de seus olhos é de pequena estatura; de dentro do pano que usa
cobrindo-lhe a cabeça, escapa-lhe parte dos cabelos ruivos, pele muito clara, olhos azuis e as
feições exatamente iguais às de Dana Scully.
- Perfeito...! – balbucia Mulder, falando à mulher; depois volta-se para Dana – até o seu
perfil de deusa grega ela tem...! Fascinante!
- O que vocês querem? – volta a perguntar a mulher cruzando os braços, sem
demonstrar espanto com a semelhança, parecendo nem estar notando o fato.
- Desculpe... – reinicia Mulder - ... é que quero lhe pedir algumas frutas... nós não nos
alimentamos e minha mulher está grávida.
A dona da casa arqueia uma das sobrancelhas, olha-o, fazendo um sutil franzir nos lábios.
- O que aconteceu com vocês?
- Bem... – Dana apressa-se a explicar - ... na confusão que está nas ruas, nossa
casa foi saqueada e queimada...
Mulder dá uma olhada compreensiva, apoiando as espertas explicações de Dana.
- Ah, entendo, entrem aqui. – ela os faz penetrar na casa.
O casal entra, vagarosamente, reparando em tudo que vêem no ambiente único da casa.
Penumbra incomodativa ali dentro obriga Dana a piscar várias vezes.
- Vocês moram aonde? – pergunta a mulher, andando ao lado de Dana, fazendo
assim, com que Mulder repare a incrível semelhança das duas mulheres.
Ele senta-se numa espécie de banqueta de madeira.
- Esperem! – diz a mulher, enquanto se afasta um pouco.
Ela dirige-se a um lado da parede da casa, onde, no chão de terra batida há lenha queimando
sob um caldeirão suspenso por uma armação.
Dana, vendo isso, não se contém:
- Não há outra maneira de cozinhar? – quer saber. – Essa fumaça dentro de casa faz
mal a todos.
A dona da casa ri.
- Conhece outra melhor que essa? Onde?
Mulder pigarreia e nota que Dana não tem como responder.
- Se hoje fosse um dia ensolarado, eu teria feito um fogo do lado de fora. – diz a
mulher.
- Claro! – confirma Dana, meio sem jeito.
Uma mulher idosa está fazendo uma refeição sentada à mesa, comendo com a mão, em modo
muito rude.
Dana passa o olhar sobre a mesa e vê que nela só pratos de barro e colheres estão colocados.
Ela e Mulder se entreolham em recíproco entendimento.
- Aaaaah, então venha comer! – diz a idosa, chamando-a com interesse.
- Não vai faltar pra vocês? – Dana pergunta.
A mulher cuja aparência é exatamente igual à da agente, fala, animada:
- Por que pergunta isso, se sabe que estamos na época da colheita farta?
Mulder se interpõe à conversa:
- É que ela... anda um pouco esquecida.
A mulher levanta as sobrancelhas:
- É mesmo? Isso é por causa de alguma doença?
Dana franze os lábios, fazendo um bico; olha Mulder de soslaio; sente-se incomodada com as
palavras dele.
- Não... – ela apressa-se a explicar - ... é somente uma fase!
- Fase?! – a outra parece estranhar.
- Esqueça. – resmunga Dana, intimamente aborrecida.
A mulher pega pratos de barro e neles coloca um pouco do alimento que cozinha dentro
do caldeirão. Entrega o primeiro à Dana, que segura o prato com a fumegante refeição.
Em seguida a dona da casa entrega um prato à Mulder. Dá aos dois colheres. Estes começam a
comer.
A mulher, após servir seu próprio prato, começa sua refeição comendo com a mão.
Dana pára de comer, a fim de observá-la, com ar de surpresa. Dá para perceber que o uso de
talheres é algo raro.
Mulder apenas esboça um leve sorriso ao ver o semblante surpreso de Dana.
Um som de vozes pode-se ouvir.
- Vem alguém chegando? – Mulder pergunta.
- É o pai de meus filhos. – a mulher responde, dirigindo-se para a entrada da casa, com
sua estreita porta.
O primeiro a ter acesso ao interior da casa é um cão, que abanando a cauda, entra e estaca por
alguns instantes, para observar o par de estranhos ali dentro.
Uma voz masculina soa, aproximando-se da casa; em seguida o homem penetra no enfumaçado
e escuro ambiente.
Ele pára, ao ver Mulder e Dana.
E estes, tendo visto entrar ali aquele homem, realmente não conseguem entender o que está se
passando.
- Eu acabei de chegar, Scully...? - pergunta Mulder sussurrando, por sua vez.
O homem que acabara de entrar na casa, vestido com uma túnica sem mangas, amarrada na cintura,
que lhe cobre todo o tórax até a metade das coxas, traz sobre os ombros um grande feixe
de trigo e uma foice amarrada ao lado do corpo.
Dana examina o recém-chegado detidamente. Corpo esbelto, braços fortes e musculosos, de boa
altura, o caminhar balançado, jogando os pés.... o rosto... igual, idêntico ao de Mulder.
- Nossa! Como pode?! – ela volta a sussurrar para Mulder ao seu lado.
- Somos nós dois, nesta era, Scully, talvez nossos antepassados ou apenas...
- ... apenas...? – ela interrompe.
- ... fruto de nossa imaginação.
¨A imaginação tem sobre nós maior
força que a realidade.¨
La Fontaine.