APARÊNCIA EXTREMAMENTE IGUAL
 
¨Há aparências de dureza que ocultam 
tesouros de sensibilidade e de afeto.¨
Julio Diniz
 
Capítulo 258
 
Já com o despontar do dia, pessoas movimentam-se pelas ruas, dando vida ao local ermo 
na madrugada.
Em certo momento o casal de agentes, mesmo usando roupas características usadas pelas
demais pessoas, sentem-se terrivelmente embaraçados; seus gestos diferem dos demais. 
Isso, de vez em quando leva o olhar das pessoas em sua direção.
Dana, com Mulder segurando-lhe o braço, estaca os passos, fazendo-o parar.
               - Mulder.  notou que estamos chamando a atenção dessas pessoas?
               - Claro, Scully, mas deixa pra lá; isso não nos causará problemas.
Caminham mais um pouco. Logo avistam alguns homens carregando barro que apanham num riacho.
Outros, já com o barro, fazendo um monte no chão, misturam-no com palha.
O casal pára e observa.

         - Genial, Scully, veja!  Fazem as paredes de suas casas dessa maneira! E olhe só, fazem

 uma armação com traves de madeira e o teto com ramos e galhos.

- Fantástico se podemos comparar com a tecnologia avançada que podemos viver hoje.

Mulder aponta uma outra direção.
    - E o importante é o que na era moderna, já quase não podemos ver: cada casa dessas 
tem ao lado um pomar e horta.
Dana aperta os lábios.
    - É verdade. Tudo muito natural; nem se compara com aquela enxurrada de alimentos
 industrializados que se ingere nos dias atuais.
               - Aposto que você nunca viu  uma árvore daquelas que têm ali.
               - Qual?
               - Repare só, ali à direita, cheia de frutos.

   - Oh, meu Deus! Pereiras e macieiras! Que encanto. Mulder! Estou simplesmente

deslumbrada e... – ela o olha com ar carente - ... extremamente faminta...!

Ele sorri, atencioso:

            - Agora mesmo vamos pedir umas frutas.

Ela concorda.

Caminham até a casa.

Mulder chama por alguém.

Uma garotinha aparece à porta da casa não ampla, porém parecendo do tipo mais confortável

do que as que tinham visto anteriormente.

A menina os olha, sem nada perguntar.

Mulder aproxima-se,  gentil.

- Eu queria saber se... – ele cessa de falar nesse instante, com a aparição diante de seus olhos.

Dana, por sua vez, está completamente assustada. Segura fortemente a mão de Mulder.
A figura que se aproximara da porta, com um semblante sério, os interroga:
               - O que é que vocês querem?
O casal se entreolha, sem crer no que vê.
               - Scully...  pra acreditar? – murmura ele.
               - Você está vendo o que eu estou vendo, Mulder? 
Ambos estão boquiabertos.
A mulher que ali surgira, encaminha a menina para dentro da casa.
    - Por favor, eu... nós... estamos simplesmente surpresos com a sua semelhança com ela...! 
-  aponta Dana, que tenta sorrir, mas nem consegue; está quase assustada.
A mulher que aparecera diante de seus olhos é de pequena estatura; de dentro do pano que usa 
cobrindo-lhe a cabeça, escapa-lhe parte dos cabelos ruivos, pele muito clara, olhos azuis e as 
feições exatamente iguais às de Dana Scully.
    - Perfeito...! – balbucia Mulder, falando à mulher; depois volta-se para Dana – até o seu
 perfil de deusa grega ela tem...! Fascinante!
-  O que vocês querem? – volta a perguntar a mulher cruzando os braços, sem
 demonstrar espanto com a semelhança,   parecendo nem estar notando o fato.
    - Desculpe... – reinicia Mulder - ... é que quero lhe pedir algumas frutas... nós não nos 
alimentamos e minha mulher está grávida.
A dona da casa arqueia uma das sobrancelhas, olha-o, fazendo um sutil franzir nos lábios.
               - O que aconteceu com vocês?
    - Bem... – Dana apressa-se a explicar - ... na confusão que está nas ruas, nossa
 casa foi saqueada e queimada...
Mulder dá uma olhada compreensiva, apoiando as espertas explicações de Dana.
               - Ah, entendo, entrem aqui. – ela os faz penetrar na casa.
O casal  entra, vagarosamente, reparando em tudo que vêem no ambiente único da casa.
Penumbra incomodativa ali dentro obriga Dana a piscar várias vezes.
    - Vocês moram aonde? – pergunta a mulher, andando ao lado de Dana,         fazendo
 assim, com que Mulder repare a incrível semelhança das duas mulheres.
Ele senta-se numa espécie de banqueta de madeira.
               - Esperem! – diz a mulher, enquanto se afasta um pouco.
Ela dirige-se a um lado da parede da casa, onde, no chão de terra batida há lenha queimando
sob um caldeirão suspenso por uma armação.
Dana, vendo isso, não se contém:
    - Não há outra maneira de cozinhar? – quer saber. – Essa fumaça dentro de casa faz
 mal a todos.
A dona da casa ri.
               - Conhece outra melhor que essa? Onde? 
Mulder pigarreia e nota que Dana não tem como responder.
    - Se hoje fosse um dia ensolarado, eu teria feito um  fogo do lado de fora. – diz a
 mulher.
    - Claro! – confirma Dana, meio sem jeito.
Uma mulher idosa está fazendo uma refeição sentada à mesa, comendo com a mão, em modo
muito rude.
Dana passa o olhar sobre a mesa e vê que nela só pratos de barro e colheres estão colocados.

         - Vamos comer! – convida a mulher que está à mesa, com ar maternal -  Você me parece

bem cansada! – fala, dirigindo-se à Dana.

Ela  e Mulder se entreolham em recíproco entendimento.

       - Ela está esperando uma criança!  – anuncia a mais jovem.

            - Aaaaah, então venha comer! – diz a idosa, chamando-a com interesse.

            - Não vai faltar pra vocês? – Dana pergunta.

A mulher  cuja aparência é exatamente igual à da agente, fala, animada:

            - Por que pergunta isso, se sabe que estamos na época da colheita farta?

Mulder se interpõe à conversa:

            - É que ela... anda um pouco esquecida.

A mulher levanta as sobrancelhas:

            - É mesmo? Isso é por causa de  alguma doença?

Dana franze os lábios, fazendo um bico; olha Mulder de soslaio; sente-se incomodada com as

palavras dele.

            - Não... – ela apressa-se a explicar - ... é somente uma fase!

            - Fase?! – a outra parece estranhar.

            - Esqueça. – resmunga Dana, intimamente aborrecida.

A mulher pega pratos de barro e neles coloca um pouco  do alimento que cozinha dentro

do caldeirão. Entrega o primeiro à Dana, que segura o prato com a fumegante refeição.

Em seguida a dona da casa entrega um prato à Mulder. Dá aos dois colheres. Estes começam a

 comer.

A mulher, após servir seu próprio prato, começa sua refeição comendo com a mão.

Dana pára de comer, a fim de observá-la, com ar de surpresa. Dá para perceber que o uso de

talheres é algo raro.

Mulder apenas esboça um leve sorriso ao ver o semblante surpreso de Dana.

Um som de vozes pode-se ouvir.

            - Vem alguém chegando? – Mulder pergunta.

            - É o pai de meus filhos. – a mulher responde, dirigindo-se para a entrada da casa, com

 sua estreita porta.

O primeiro a ter acesso ao interior da casa é um cão, que abanando a cauda, entra e estaca por

alguns instantes, para observar o par de estranhos ali dentro.

Uma voz masculina soa, aproximando-se da casa; em seguida o homem penetra no enfumaçado

e escuro ambiente.

Ele pára, ao ver Mulder e Dana.

E estes, tendo visto entrar ali aquele homem, realmente não conseguem entender o que está se

 passando.

         - Estou ficando louca... =- Dana  murmura, abobada pela aparição inédita.

            - Eu acabei de chegar, Scully...? -  pergunta  Mulder sussurrando, por sua vez.

O homem que acabara de entrar na casa, vestido com uma túnica sem mangas, amarrada na cintura,

que lhe cobre todo o tórax até a metade das coxas, traz sobre os ombros um grande feixe

de trigo e uma foice amarrada ao lado do corpo.

Dana examina o recém-chegado detidamente. Corpo esbelto, braços fortes e musculosos, de boa

altura, o caminhar balançado, jogando os pés.... o rosto... igual, idêntico ao de Mulder.

            - Nossa! Como pode?! – ela volta a sussurrar para Mulder ao seu lado.

            - Somos nós dois, nesta era, Scully, talvez nossos antepassados ou apenas...

            - ... apenas...?   – ela interrompe.

            - ... fruto de nossa imaginação.

 

¨A imaginação tem sobre nós maior

força que a realidade.¨

La Fontaine.