VOLTA-SE PARA O CRIADOR

 

¨Deus é o invisível evidente.¨

Vitctor Hugo

 

Capítulo 260

 

Willard  prossegue sua caminhada em direção à estrada sinuosa que se delineia

como uma enorme serpente ondulante, sem se poder ver seu fim.

Mulder e Scully acompanham-no. Seu objetivo é conseguir, através desse homem,

um meio de sair da dimensão em que se encontram.

Dana, cansada e um tanto aborrecida, volta-se para Mulder,  enquanto continua a caminhada.

- Mulder, como você quer conseguir achar solução pra nós, seguindo esse homem? Mulder,

 por que não procuramos por outros meios?

            - Você sabe, Scully, que temos que ir até onde possamos encontrar peixes.

Ela pára,  irritada:

- Você não está vendo que isso não nos levará a nada, Mulder? Além do mais...    - leva a

 Mão  até o coração.

- O que foi, Scully?

            - Eu não estou bem.

            - Não...? – achega-se rápido – O que está sentindo?

- Desconfio que estou com um problema na minha gravidez.

- Que tipo de problema, Scully? – segura-lhe as mãos.

- Eu não sei bem, mas... – levanta a bainha da longa roupa que veste – Meus

 pés estão inchados... e as mãos. – mostra-as a ele.

- E o que pode acontecer? O que significa?

- Eu posso estar com uma toxemia gravídica.

- Scully, me fala!  O que é isso?

- É o líquido retido e a presença de albumina na urina.

Mulder aperta os lábios, enquanto se curva diante dela, para diminuir a distância de

sua altura com a pequenez da amada.

            - Isso pode complicar o bebê?

            - Sim, porque posso ter um parto prematuro.

Ele fecha os olhos, angustiado, levantando a cabeça e passando a mão na testa.

            - E sem os recursos necessários, Scully...! Tenho que me apressar!

Ela lhe sorri leve e tristemente:

            - Não vejo saída; será aqui o nosso fim, Mulder?

Ele a abraça, impetuosamente:

            - Não fala isso, lindinha! Havemos de sair disso!

Willard já havia avançado muitos metros à frente, quando então estaca e volta-se para observar

O  casal. Faz um gesto para que o acompanhem.

O casal de agentes o alcança rápidamente.

Mulder, com ar preocupado, dirige-se ao homem.

- A minha mulher não está bem e eu necessito tomar certas providências com muita

 rapidez.

O outro o fita com seu olhar apertado, mãos com os polegares presos à cinta amarrada

à cintura. Sorri levemente.

            - Eu sei quais as providências.

            - Sabe...? – indaga Mulder,  suspeitando de suas palavras.

            - Sei, sim... vocês precisam voltar.

            - Voltar...? Pra onde?

Willard aperta os lábios, tal qual seu sósia que encontra-se à sua frente costuma

fazer.

Dana observa tudo, sem pronunciar palavras.

            - Eu os ajudarei. – o homem conclui.

            - Nos ajudará em quê?

            - A menina que vai nascer precisa de chegar até seu tempo rapidamente.

            - O que quer dizer com isso? – agora Dana desperta de seu torpor.

            - Quero dizer que sei que vocês estão numa dimensão errada de vida.

            - O quê?! – o casal exclama ao mesmo tempo.

Willard dá alguns passos. Pára e fala:

            - Nós, eu e minha mulher somos os seus antepassados.

Os olhos de Mulder brilham de surpresa e contentamento.

- Vocês são...? – ele faz um gesto com a mão, dando a entender que a

explicação deve continuar.

            - É isso; e vou ajudá-los a ir para sua vida real e normal. – afirma Willard;

Dana leva as mãos à boca, com um sorriso:

            - Oh, meu Deus! Que seja verdade! – murmura, numa prece.

Seus dedos deslizam pelo pescoço e detectam o cordão de ouro que traz sempre preso ali.

Segura,  com fervor a cruz de ouro. Seus pensamentos voltam-se para o Criador.

¨Oh, senhor meu Deus, por favor, nos ajuda! Eu sei que o Senhor não está

 morto, preso à uma  cruz e pode ver nosso sofrimento e saber que precisamos voltar à

 nossa era, nossa vida normal, nosso tempo, Senhor. Ajuda, por favor!¨

- Venham comigo! – chama Willard, voltando a caminhar.

A mulher de Willard afasta-se agora, acenando uma despedida para o casal.

Mulder e Dana, de mãos dadas,  acompanham o homem.

Um longo, sinuoso e estreito caminho  serpenteia entre o verde da mata a seu redor.

            - Será que teremos que caminhar ainda por muito tempo? – ela pergunta.

            - Veremos, Scully. – ele a olha por instantes – Está se sentindo cansada?

- Sim, bastante. Além disso, a má alimentação se junta ao meu insuportável

 sono permanente e daí...

A face de Mulder demonstra toda a sua preocupação.

            - Quero tanto resolver tudo isso, Scully...!

- Chega desse sofrimento; daqui a mais algum tempo não vou  poder aguentar mais...!

            - Entendo perfeitamente.

Os três chegam a um local onde um grande e caudaloso rio passa, lambendo as rochas em

sua lateral.

Nas águas límpidas , homens deixando que elas lhes cubram até os joelhos, munidos

de caçambas e redes, seguem o curso d’água para capturar os salmões, enguias e trutas que

pululam  por ali.

Outros homens usam um tridente para capturar os peixes.

Um barril à beira do rio,  aguarda serem colocados em seu interior a infinidade de peixes,

que após  salgados e defumados, bem apertados, seguirão para mercados.

Willard aponta adiante.

            - Vêem aquele cardume lá distante, saltando aos montões?

            - Sim, estamos vendo.

            - Ali deve estar a solução.

            - A solução...? – indaga Mulder.

            - Entre esse cardume costuma misturar-se uma espécie rara de peixe.

            - E aí...? – Dana quer saber.

Mulder exibe um sorriso de deslumbramento.

            - Entendi! Através dele é que seremos levados ... é isso?

Willard meneia a cabeça, confirmando.

- Quer que eu acredite nisso? – Dana pergunta, cruzando os braços – Logo

os pescadores os  pegam em suas redes.

Willard faz um gesto negativo com a cabeça:

            - Tsc, tsc, tsc. Não aqueles, que não se deixarão capturar.

Mulder volta-se para Dana, abraçando-a com força:

            - Tem que crer, Dana! Nós fomos trazidos pra cá através da água!

Ela olha para Willard, que os observa com olhar de respeito e carinho.

Este em seguida chama um dos homens que se encontram ali.

Vai até ele; retorna em seguida.

            - O barco já está à espera. – diz Willard.

            - Temos que ir de barco? – Dana quer saber.

- Também pode ir nadando, se preferir! – ele fala, num tom de sarcasmo,

como o próprio Mulder o faria.

Dana aperta os lábios, chateada. Olha para o local onde o grande cardume continua saltando

na água.

Willard dirige-se a Mulder:

            - Sejam felizes no restante de sua existência no seu mundo.

Mulder lhe dá um sorriso agradecido. Puxa Dana pela mão, encaminhando-se para tomar o

barco.

- Mulder, ele não deu maiores detalhes pra gente!  Como podemos acreditar

 que será tudo resolvido assim?

- Calma,  Scully! Eu creio no que ele falou.

Mulder ajuda Dana a entrar no barco.

Ele começa, com certa dificuldade,  a fazer a pequena embarcação deslizar sobre a

água turbulenta.

A pequena e frágil embarcação é como um joguete na água ondulante; sem ondas, porém

muito agitada.

 

¨A dificuldade é o aguilhão do amor.¨

Malharbe