MISSÃO DE SER MÃE

 

¨Um coração de mãe é

a obra prima da natureza.¨

Gertry

 

Capítulo 264

 

Dana acabara de receber a anestesia, a fim de preparar-se para a cirurgia.

Seus membros inferiores estão completamente amortecidos, assim como a região

da cintura para baixo.

Seu olhar corre pelo ambiente azul dentro da sala de cirurgia.

O anestesista conversa, amavelmente, com ela, preparando-a, psicologicamente para a

missão de ser mãe, mais uma vez.

Ela sente, com certo desconforto,   que o outro médico que está fazendo a cesárea,

movimenta suas entranhas, retirando o bebê do interior de seu ventre.

Logo em seguida o choro ressoa no ambiente.

            - É uma mocinha! – anuncia o médico.

Dana sorri, embora cheia de apreensões. Mesmo sendo uma médica, estar ali, entre

essas pessoas, não a deixa à vontade. Pensa no novo ser que vai conhecer a crueldade

deste mundo conturbado. A irmãzinha de William.

¨Seu nome será Vivien.¨ - pensa ela.

Vê o bebê sendo suspenso pelas mãos do médico; o pequenino e rosado rosto quase

totalmente encoberto pela massa da placenta. Os olhinhos bem abertos, como se

quisesse logo conhecer o mundo que o cerca.

            - Minha filha... -  ela murmura.

O médico faz os procedimentos de praxe, desobstruindo as narinas da criança,

fazendo-lhe o devido asseio, retirando de sua pele todos os resíduos da placenta.

            - Já, já, traremos seu bebê para seus braços. – fala o outro médico.

Dana sente o entorpecimento causado pela leve anestesia que lhe haviam aplicado ao

prepará-la para o parto.  Sabe que, durante algumas horas, deve manter-se sem

movimentos bruscos por causa da cirurgia.

            - Sono... – ela consegue murmurar, antes de fechar os olhos.

*   *   *

 

            - Dana Scully... – uma voz a chama.

Ela abre os olhos.

            - Aaaah, finalmente! – um homem desconhecido está diante dela.

- O que quer? – ela pergunta, notando que não é um médico, nem enfermeiro,

pois ele usa um terno comum, não um jaleco sobre a roupa.

            - O que quero...?! Mas que pergunta, ora!

            - Quem é você?

            - Não finja ingenuidade, Dana Scully!

            - Doutor Max!! – ela chama pelo seu médico.

- Calma, não se atormente! Apenas dê uma olhada lá para aquele canto da parede.

E ela, sem poder movimentar-se normalmente, alonga a vista para onde está sendo dirigida

a mão do estranho; os dois médicos e as três enfermeiras estão jogados ao chão,

manietados; têm a boca tapada por mordaças negras.

            - Não!! – ela grita em desespero _ Mulder!! Vem aqui!! Mulder!!

O estranho lança um sorriso de escárnio

            - Aaah... o Fox Mulder já foi levado.

- Pra onde.? – tenta mover-se, mas sente dor  e novamente grita – Mulder!!

- Vamos, Dana Scully, não é bom ficar agitada! Procure acalmar-se.

- Quem é você?  O que quer?:

Agora uma mulher, que Dana ainda nem tinha visto por estar do lado bem distante de sua

cabeceira do leito do hospital, aproxima-se e a toca. Tem uma fisionomia tão dura, que lembra

uma estátua de cera.

            - Vou ser obrigada a fazê-la adormecer. – diz ela.

- O quê?! – protesta, alarmada, tentando mover-se, ainda,  mas percebe que

está totalmente impossibilitada de fazê-lo.

Ela percorre com o olhar a sala de cirurgia com suas paredes azuis, limpissimas, que sugerem um

ambiente de tranqüilidade. Começa a sentir-se ainda mais desesperada.

            - Onde está minha filha filha? – indaga, apreensiva.

A mulher aproxima o rosto do leito e responde, quase sussurrando:

            - O que você imagina, han...?

            - O que eu imagino? – agita-se – O que fizeram com ela? Onde está?

A mulher ri e afasta-se.

O homem, que estivera afastado até então, retorna à sua posição anterior, postando-se ao lado

do leito.

            - Dana Scully... da vez anterior não nos foi possível levar o seu filho...

            - ... o meu filho! William! Sim! Mas por que me fala isso?

            - Porque agora levaremos esta que acaba de nascer.

- Não!! Não podem fazer isso! Não podem! Deixem o meu bebê!! – tenta, novamente

movimentar-se.

- Dana Scully... você é médica e sabe que se começar a fazer movimentos bruscos, todos

os pontos

de sua cirurgia se romperão...

- ... e será um problema pra você... – completa, sussurrando,  a mulher de semblante frio.

Dana começa a chorar, agitada.

            - Não!! Por favor, não!! Deixem minha filha comigo! Por favor!!

            - Você sabe que temos que fazer isso...!

            - Mulder!! Mulder!!

- Não adianta chamá-lo, Dana Scully. Já lhe disse que ele foi levado.

- Não!! Não!! – bate com os pulsos nas grades de ferro do leito – Alguém me ajude!!  

O homem sorri, cinicamente, olhando-a.

A mulher fala, com ar prepotente, usando uma pose desafiadora:

- O outro bebê não pôde ir conosco. Mas esse agora nós temos que levá-lo.

- Por que fazem isso comigo? Por quê? – pergunta ela, com horror no olhar.

- Você já recebeu todas as devidas explicações, Dana Scully.

- Não!! Não façam isso! Eu lhes peço, me deixem em paz! – grita, chorando.

Um ruído diferente  a faz desviar o olhar para a porta.

Um estranho ser, de feições praticamente invisíveis, entra na sala de cirurgia.Tem nos braços longos

e finos algo que Dana só pode divisar quando o ser aproxima-se do seu leito. E ela pode ver, atormentada,

que é a sua filha recém-nascida.

            - Minha filha!! O que vão fazer com ela?! Não a tirem de mim!

            - Está aqui a menina pra que você dê uma última olhada, Dana Scully.

            -Não!! Não façam isso! É minha filha!

O estranho ser coloca a criança, que está embrulhada em panos, nos braços da mulher ao lado do leito

onde se encontra Dana.

Esta estende os braços na direção de sua criança.

- Dê-me a minha filha! Por favor, não a levem de mim! Não podem fazer isso! Não podem!

A mulher afasta a recém-nascida da proximidade dos braços da mãe.

- Deixe-me segurá-la! É minha filha! É minha filha! Olha, ela ainda nem sentiu o calor do seio de

sua mãe! Preciso alimentá-la!

Mas a fria mulher apenas olha Dana como se fosse uma estátua de pedra.

Dana estende mais os braços.

Agora, então, a mulher afasta-se, dando as costas para sair do ambiente.

Dana, reunindo todas as suas forças, senta-se no leito.

Imediatamente violenta dor surge justamente no local da incisão onde fora feita a cesárea.

A insuportável dor faz Dana gemer. Mas ela continua no seu propósito de levantar-se dali e impedir,

a qualquer custo, que sua filha lhe seja arrancada.

            - Não façam isso comigo! – implora.

Mas seu pedido não faz efeito.

A mulher continua afastando-se com o bebê.

Gemendo de dor, Dana joga para fora do leito suas pernas. Em seguida põe-se de pé, com dificuldade.

Uma violenta hemorragia faz aflorar, através do corte em sua pele, fazendo manchar de vermelho a

camisola

azul na qual está vestida.

Ao tentar dar um passo, suas forças esvaem-se e ela cai no chão.

            - Nãaaaaaooo!! – ainda consegue gritar.

Dois vultos disformes estão junto dela e lhe falam, parecendo querer conformá-la da terrível situação.

 

¨Não existe dor maior do que a

gente lembrar, no infortúnio,

dos tempos felizes. ¨

Dante