MORRER DE AMOR

 

 Não é a morte que impressiona; é o morrer.¨

Coelho Neto

 

Capítulo 265

 

E as vozes, junto aos ouvidos de Dana continuam, deixando-a ainda em total desespero.

E o corpo se lhe explode num pranto doído.

- Filha! Filha! – a mãe a chama, com ternura, percebendo o seu estado de agonia.

Mulder, lhe segurando a mão, beija-a, comovido, sem saber ao certo o que está se passando

com sua mulher.

            - Já chamou o médico, senhora Scully?

            - Sim; logo estará aqui. Precisamos saber o que estã acontecendo com Dana.

Mulder acaricia,  levemente, a face da amada, que, a esse toque abre os olhos,

esgazeadamente e logo vê Mulder e sua mãe diante do leito.

         - Vocês...?! Ah, meu Deus,  por favor, façam alguma coisa!

            - Por que diz isso, filha? – quer saber a mãe.

            - O que aconteceu aqui, Scully? – pergunta Mulder, preocupado.

            - Eles levaram a minha filha! – ela quase grita, mas sem forças para tanto.

- Mas o que está falando, Dana? – e faz um gesto para a enfermeira, que está

 próximo ao leito, com a recém-nascida nos braços.

O olhar sofrido de Dana detecta a mulher com o seu bebê.

Estende as mãos, deslumbrada.

            - Meu bebê...! – murmura – Mulder... eu tive um sonho tão real...!

            - Pelo jeito foi um pesadelo, Scully!

A enfermeira ajeita a pequenina junto ao seio da mãe.

Dana, logo ao segurar  seu bebê, pega sua diminuta mão, examinando-lhe os dedinhos,

contando-os um a um, como querendo examinar se estão todos perfeitos. Na sua mente

quer comprovar como é bela a natureza. Um novo ser criado, trazendo todos os mínimos

detalhes de seu frágil corpo.

Ela sorri, levemente e agradece a Deus por todo o horror vivido minutos antes ter sido

apenas fruto de sua mente.

                                                                  *   *   *    

Já em casa Dana sente-se segura e tranqüila.

William, no colo do pai, lança seu melhor sorriso ao ver a mãe de volta à casa.

            - Mamãe dodói? – pergunta, vendo-a deitada.

            - Não filho, mamãe estã segurando sua irmãzinha que acabou de chegar.

            - É...?

            - Hum, hum. – confirma o pai.

            - Eu qué vê ela!

            - Calma, o papai vai mostrar.

Mulder chega perto da cama onde Dana mantém a recém-nascida ao seu lado, adormecida.

            - Qué vê ela! – repete o pequeno.

A mãe afasta um pouco os leves panos de junto da criancinha.

            - Veja sua irmãzinha, filho! – fala ela.

William desata a rir, divertido.

            - O que é, filho? – pergunta o pai.

O menino aponta com o dedo a cabecinha da irmã.

            - Ela não tem cabelo. Eu tem!

Os pais acham engraçada a observação do menino.

- É assim mesmo, filhinho! – afirma a mãe – Algumas crianças nascem sem cabelos.

            - É....? – o garoto admira-se, pondo a mão na própria cabeça.

Mulder arrebata o filho da beira da cama e coloca-o sobre os joelhos.

            - Você nasceu igualzinho  a sua irmãzinha.

            - Eu...? – o garoto levanta as sobrancelhas – Eu não!

Mulder aperta-o contra si, sorrindo.

*   *   *

Os dias e noites passando vão deixando, aos poucos a vida da família entrar em situação

normal, seguindo seu cotidiano.

Mulder contempla o escuro céu estrelado, junto à varanda na parte superior da casa.

As folhas das árvores fazem o seu farfalhar ao serem movimentadas pela brisa que corre.

O brilho de muitas estrelas entrelaçam-se entre as folhas em rápidos raios fosforescentes.

Dana aproxima-se.

Ele volta-se, sentindo sua aproximação. Enlaça-a, com carinho.

            - Você está com um ar bem mais tranqüilo, agora.

            - Mas eu não estava perturbada!

            - Sim, estava. Teve até um pesadelo lá na maternidade.

            - Oh, Deus! Aquilo foi horrível!

            - Sei bem o porquê disso tudo. Fica no inconsciente, Scully, tudo o que você 

             passou quando do nascimento do nosso primeiro filho.

- Bem que você me entende, Mulder e sabe qual o temor que apossou-se de mim.

- Sim; nós dois já passamos por momentos inacreditáveis em nossa vida. Não

queremos reviver  tormentos novamente, mas também não tenho certeza do que

está, ainda, por vir.

            - Por favor, não fala isso!

Ele a aperta contra si, mais fortemente.

- Vamos deixar esses pensamentos pra lá... – beija-a nos cabelos - ... Scully...?

- Sim, Mulder.

- Nossa Vivien nasceu há...? – ele pára, esperando-a falar.

- Ahn... precisamente... ahn... um mês e dez dias.

- Nesse intervalo nós... bem... – ele leva o olhar a deslizar pelo corpo inteiro da sua

 bela amada -  nós ... vamos dizer... apenas brincamos...

Ela dá uma gostosa risada, jogando-se toda para trás, ainda nos braços dele.

- Estou... ahn... entendendo o que quer dizer... – fica séria  - ... sua mulher está aqui

toda entregue a você...!

            - Sem problemas...?

            - Nenhum. – murmura.

            - Tem certeza?         

            - Absoluta – sussurra, ainda, fitando-o, ardentemente.

            - As crianças já dormiram...?

            - Sim, já.

            - O meu corpo pede o seu...

            - E o meu, só de sentir seu toque, encontra-se numa explosão de sensações...

            - Como são essas sensações?

            - De desejo...

            - O que mais?

            - De calor...

            - Hum, hum... continua.

            - Ahn... muito ardor...!

            - Siiiiiim...?

            - Ansiedade...

            - Certo. – segura-lhe o rosto para fitá-la nos olhos – O que mais?

            - Frisson...

Ele sacode a cabeça, posisitivamente para prosseguir, com voz sussurrante:

            - Quero ouvir mais...!

            - Loucura...

            - Sim, sim! Prossegue! – continua sussurrando nos ouvidos dela, quase

            levantando-a do chão para fazê-la alcançar sua altura.

            - Prazer... devassidão...!

            - Está melhorando...! – continua, enquanto toma-a nos braços.

            - Quero morrer de amor...!

            - Então morramos juntos! – fala, encaminhando-a para o quarto,

              carregando-a nos braços, enquanto a cobre de beijos.

Dana percebe  a quentura e o desejo do seu amado que a faz  sentir seus lábios sedentos

por provar as delícias da intimidade de suas carnes frementes por uma tempestuosa,

porém doce noite de amor.

 

¨O amor move o sol

e as demais estrelas¨.

Dante Alighieri