PRECISANDO DE MÉDICO

 

¨Entre dois, entre três, entre muitos médicos

bons, escolhei sempre o que tiver mais coração.¨

Paolo mantegazza

 

CAPÍTULO 267

 

Carinhosa e jeitosamente Mulder, com a pequenina Vivien nos braços, permanece

na varanda da casa, de onde pode ver as árvores, cujas folhas, por vezes, roçam nas

grades que lhe estão próximas.

O pai, cheio de cuidados, dá alguns passos. Olha a pequenina em seus braços.

O rostinho angelical da criança o emociona.

Sua filhinha tem a pele alva  e os olhos acinzentados, mas que poderão tornar-se de

um azul transparente como os da mãe.

Passos são ouvidos, neste momento. Dana vem chegando ao quarto onde ele se

encontra.

            - Que bom que chegou, Scully!

            - Sentiram minha alta, é?

- Sem dúvida! - olha para a filha – Vamos lá, Vivien, diga à sua mamãe que

 ela está atrasada pra servir o seu almoço!

Dana se aproxima, acaricia a cabecinha da filha.

- Docinho da mamãe...  – olha pra ele - ... Mulder... você acha que William

 está com ciúmes?

            - Veremos depois.

- É, mas eu penso que está sim; tem momentos em que fica tão irritado, só de

 nos ver acarinhando a Vivien...!

- Sabe, Scully, toda família em que existem irmãos há esse problema.

- Todos sabemos disso, Mulder.

Novamente Dana observa a filha.

            - Não é linda?

            - Tão linda quanto a mãe.

Dana o fita com o amoroso olhar agradecido.

            - Mulder, eu te amo.

Ele aproxima o rosto do dela e a beija nos lábios.

Ela suspira.

            - Agora mesmo me veio à memória o dia do nascimento de William.

            - Por quê? – ele quer saber.

            - Porque você o estava segurando desse mesmo jeito e nos beijamos.

Ele sorri  e a beija, novamente. Afasta-a um pouco e a olha em seguida, para dizer:

            -Dana Katherine ... – murmura.

Ela levanta as sobrancelhas e junta os lábios.

            - O que está havendo?  O que está querendo me dizer?

            - Seu nome... Katherine... tem um significado especial.

            - É mesmo?

            - Significa  pura... boa...!    

            - Nossa!! Legal!!

            - William também tem significado importante.

            - É...? E qual?

            - Significa protetor.

            - Ora veja, que interessante! Como você sabe disso?

            - Só posso lhe dizer que não foi inventado por mim.

            - Acredito.

            - Dana!!

Os dois ouvem o chamado e logo em seguida Maggie aparece.

- Filha, daqui a uma hora é a consulta ao pediatra! Evocê ainda não está

 pronta? E as crianças?

- Oh, meu Deus! Eu havia esquecido e ainda tenho que amamentar a

 Vivien!

Mulder passa o bebê para os braços dela.

- Não sei se vou poder agüentar por muito tempo essa vida insípida e

parada, Scully...! – ele comenta, suspirando.

            - Sei como você se sente.

            - Não, não sabe.

- Lógico que sei, Mulder! Olha, o homem é bem diferente da mulher. Ele

 dedica-se a certo tipo de trabalho, dá o melhor de si, porém se parar o que

 está acostumado a fazer sente um enorme vazio, nada o satisfaz. A mulher

 pode dedicar-se à casa, aos filhos, mil afazeres diferentes, tudo preenche

sua vida.

            - Talvez você tenha razão. – murmura ele.

Por  momentos, Dana dedica-se a alimentar sua criança. Em seguida afasta-se, para

entregá-la à mãe.

Mulder está fitando o azul do céu, quando ela retorna.

            - Mulder, estou saindo, ? Vou levar as crianças ao médico.

            - Preciso também de um médico, lindinha! – puxa-a para si.

Ela ri e se deixa levar pela euforia dele.

            - Por que está precisando de médico, Mulder? Só pode ser piada!

            - Não é piada; é sério!

            - Huuum... fala, então!

Ele a aperta contra si, afogueado, deslizando os lábios por sobre a pele do pescoço

da amada, sua face e orelha.

- Preciso de um remédio pra aprender a me conter diante de você...! – diz,

 com sua voz sussurrante.

- Ai... assim não dá, Mulder! Não agora! Espera eu voltar!

- Lógico que sei que agora não dá... mas é que você me tira o controle....!

Ela lhe entrega a boca, que ele beija com voluptuosidade.

*   *   *

O crepúsculo havia tornado o céu acinzentado. O sol, antes de se por,  deixara

por sobre as montanhas a sua aura rosada.

Mulder olha o relógio de pulso. Está sentado no meio fio do gramado, sustentando

a face sobre a mão que tem o cotovelo apoiado na perna.

            - Você me faz lembrar a célebre estátua de O Pensador!

            - Ahn...?  - ele ouve e  volta-se para ver quem falara.

            - Oi, sou eu!  

            - Oi! – saúda, vendo que a recém-chegada é sua vizinha.

            - Estava tão pensativo aí...!

            - É... eu... bem, a Scully saiu com a mãe dela.

            - Eu sei. – diz ela, simplesmente, com um sorriso.

             - Ah, sabe é...?

            - Eu não vim procurá-las não, Fox. Vim só conversar um pouco com você.

            - Aaah... sei.

Ela balança os braços e dá alguns passos.

Mulder nota que a moça está vestida em um minúsculo e apertado short.

            - Tudo bem? – ela, repentinamente, pergunta, parando bem diante dele.

            - Tudo ótimo.

Frente a ele, a moça coloca ois dois braços apoiados nos joelhos flexionados.

Mulder nota que, nesta posição, o profundo decote da blusa dela faz parecer

fazer saltar de dentro dela os seios fartos.

            - Você é demais, sabia...? – ela murmura.

Ele pigarreia, ajeita-se ali no seu assento.

            - Por que está falando isso?O que houve?

            - É que a Dana é uma mulher de sorte!  - ela confessa.

Ele nada responde.

- Eu vi vocês dois aqui, antes das duas saírem com as crianças. E você...

 posso falar...?

Mulder levanta-se. Já havia deduzido o conteúdo das palavras de Louse.  

            - O que está acontecendo com você, garota?

Ela sai da posição em que estava e dá uma estridente risada.

            - Não adivinha, é...? – ri, novamente.

Ele dá alguns passos.

- Não fique agitado, Fox! Não vou atacá-lo, não... pelo menos... por

 enquanto!

Ele a fita:

- Olha Louise, deixa eu te dizer uma coisa. Eu amo a minha mulher e

 adoro meus   filhos.

- Ora, ora, ora!! Isso qualquer um vê! Dá pra notar! – dá risadas

 novamente.

            - Então por que não se contém?

- Porque... bem... – pára e põe as mãos na cintura - ... porque acho que

 você é um homem... 

Uma buzina estridente a faz parar a frase sem a concluir.

            - Tchau! – despede-se, saindo dali, rapidamente.

 

¨Nada há de mais tolo que um tolo rindo¨.

Teóphile Gautier