SEU CORPO E SUA ALMA

 

¨O corpo humano é só aparência.

A realidade é a alma.¨

Victor Hugo

 

Capítulo 269

 

Dana, de corpo refrescado pelo banho que acabara de tomar, passa a escova nos

longos cabelos ruivos, diante do grande espelho.

Maggie aparece na porta do quarto:

- Dana, me faz um favor, filha? Dá uma olhada no William porque agora

 vou levar a Vivien pra tomar sol.

            - Ele está onde, mamãe?

            - No quarto dele, com os brinquedos.

Maggie sai, levando Vivien nos braços.

A porta do banheiro é aberta e Mulder sai dali, enxugando-se com a toalha. Esfrega

os cabelos  castanhos, que ficam eriçados e em completo desalinho. A seguir joga-se

na cama, com um gemido de prazer.

            - Huuum... vai agora tirar uma soneca? – Dana faz a pergunta.

Ele não responde. Apenas dá pancadinhas com a mão no colchão, chamando-a, em

seguida:

            - Scully!

Ela vê o gesto e, por segundos, lembra algo e em seguida desata numa risada.

            - O que houve...? – ele quer saber.

- Ai, meu Deus! – continua rindo – É que esse seu gesto me fez lembrar

 daquela cidade onde fomos fazer uma investigação e...

- Arcádia! – ele a interrompe, com um sorriso.

- Isso mesmo! – volta a escovar os cabelos.

- E você, durona, não queria vir pra cama comigo! Mas no fundo estava

 doidinha por isso...! Ah! Ah! Ah!

- Engraçadinho! – ela murmura e o olha de soslaio.

Ele rola na cama.

Ela chega perto dele e observa, de olhos arregalados:

- Mas Mulder! Como é possível isso?! Você não se enxugou direito! O lençol

é que secou seu corpo!

            - Aaah...! – é só o que ele faz, estirando os músculos.

Dana senta-se na beira da cama:

- Você é tão teimoso, Mulder! Sai todo dia do banho com as costas molhadas!

- Mas você bem vê que tenho o cuidado de me enxugar no lençol.

- Ai, não! – ela choraminga, desanimada.

Ele levanta-se e,  rápido, agarra-a, com força:

            - Vem cá!

            - Pára, Mulder! – pede, rindo-se, divertida.

Ele lhe procura a boca, sequiosamente.

Beijam-se, sôfrega e longamente.

Afogueados, separam os lábios.

Ela, de olhos fechados, degusta o sabor que ficou em sua boca da saliva do amado,

a quem já entregar seu corpo e sua alma, até.

            - Te amo demais...! – ele sussurra, junto aos ouvidos dela.

À porta do quarto surge a pequena figura de William.

- Pai, eu qué que você vê isso! – coloca  na mão do pai um carrinho de metal.

            - Soltou a roda, ?

            - É! Você conséta.

Pacientemente, Mulder faz o menino sentar-se ao seu lado na beira da cama. Com jeito,

vai colocando a roda no lugar certo, de onde havia se soltado do eixo. E consegue, por fim.

William bate palmas, satisfeito:

            - Papai é legal!

Dana fica a olhar pai e filho. Sente uma grande ternura a lhe inundar a alma. Tão bela a

cena que vê...! E como se sente agradecida a esse homem maravilhoso, que

conseguiu arrebatar de mãos estranhas esse pequeno ser, que é fruto do seu amor: seu

amado filhinho.

Ela caminha a passos lentos em direção de ambos, que continuam sentados.

E ela abre os braços e, arrebatadamente, os aperta contra si. Os olhos azuis dançam nas

lágrimas de emoção.

* * *

Mulder dirige o carro; de vez em quando lançando um rápido olhar nas laterais da longa

estrada ensolarada.

De sobre o painel à sua frente pega uma semente de girassol do envelope plástico. Esboça

um leve sorriso. Nota, então, que sua amada Scully havia lhe comprado um pacote com

sementes de girassol já descascadas e salgadas. Pega o invólucro e derrama uma grande

porção na boca, para se deliciar com a gostosa iguaria.

* * *

Dana está amassando bananas para uma merenda a ser dada a seu filho.

William, ajoelhado numa cadeira, cotovelos apoiados à mesa e mãos segurando o queixo,

enquanto observa, com olhos gulosos, faz inúmeras perguntas à mãe ocupada em seu

alimento.

E Dana vai respondendo bem humoradamente, às perguntas do filho.

Um barulho às suas costas a faz voltar-se.

            - Mulder... ...?! – achando que é ele voltando da rua.

Um estranho aparece à porta da sala de jantar. Semblante duro e frio.

            - Q... quem é você... ? O que quer aqui? – ela pergunta, assustada.

            - Olha moça, não precisa fazer escândalo. Vou levar você e o menino.

- O quê...?! Está louco? Mulder!! – ela chama – Meu marido está lá dentro!

 Mulder!! – mente, para enganar o intruso.

- Cala a boca, moça! – abaixa a voz – Eu vi quando seu marido saiu de carro.

Dana agarra-se a seu filho:

            - Sai daqui! O que está querendo?

            - Já lhe disse que vou levar você e seu filho.

            - Levar...?! Pra onde?! Por quê?!

            - Olha, nada de explicações, ok? Vamos lá.

            - O que está pensando?Não vou!

            - Vamos ver senão vai mesmo. – fala e retira do bolso da capa um revólver.

            - Pelo amor de Deus, o que quer?

            - Pára com isso, moça! Já lhe disse! Vamos!

 

Ele tenta segurar o braço de Dana, que, num gesto rápido, desvencilha-se de sua

mão e, deixando no chão seu filho, joga uma cadeira na direção do homem, que

recebe uma pancada no rosto, perde o equilíbrio e desaba no chão.

Dana corre, carregando William; vai em direção do jardim. Tenta chegar ao portão.

No entanto o homem havia se levantado e a persegue agora. E consegue segurá-la.

A criança chora, desesperada, tendo medo e a surpresa tomado conta  de seu ser.

Um carro encostado ao meio-fio é o abrigo para onde o homem leva Dana

e o menino. Logo ele põe em movimento o veículo.

Dana, agarrada a William, olha para trás, através do para brisas; em sua mente

a esperança de que algum vizinho ou pedestre passando pela rua fosse vê-los,

a fim de denunciar o seqüestro.

* * *

Mulder estaciona o carro. Retira as sacolas de seu interior. Pega, com cuidado,

um pacote extremamente bem embalado, embora muito leve. Para seu filho ele

traz esse presente. Algodão doce.

Porém mal trancara a porta do carro, sua sogra aparece, com semblante apreensivo:

            - Fox!! Fox!!

            - O que houve, senhora Scully?

            - Algo aconteceu aqui!!

            - O que está dizendo?! – em passos rápidos ele entra na casa.

- Fox, minha filha não está em casa! Houve alguma coisa! – fala, em voz chorosa.

- Por que fala isso?

Maggie o faz acompanhá-la até à sala de jantar.

            - Veja, Fox. Essa cadeira virada, objetos caídos no chão...!!

            - Sim. - ele observa – Alguma coisa aconteceu aqui. E William...?

- Já olhei na casa toda. Ele também não está aqui. – Maggie chora

 – Oh, meu Deus, o que será que aconteceu?

- Vou tentar ligar pra ela. – ele pega seu celular.

- Não adianta, Fox. O dela está ali – mostra o aparelho sobre um móvel.

Ele joga os braços ao longo do corpo, cheio de ira:

            - Droga!! Mas o que fizeram com minha mulher e meu filho??!! Miseráveis!!

 – dá um murro no tampo da mesa.

 

¨Irar-se é vingar as falhas

alheias em nós mesmos.¨

Alexander Pope