NÃO É O DINHEIRO
Hoje
cada qual
precisa de uma virtude apenas: dinheiro:
tendo-a,
possuem-se todas as outras ¨
E.
Wertheimer
O vento que vem de fora do veículo
fustiga a face de Dana, pois o
carro está sendo dirigido em alta velocidade pelo sequestrador. De
olhos vendados,
ela nada identifica nos lugares por onde passam.
Está no banco traseiro, agarrada a seu
filho, que continua
com ar de medo.
Resolve entabular conversa com o homem.
-
Afinal de contas, qual é o seu objetivo nos seqüestrando?
–
pergunta.
O sujeito dá uma risada:
-
O que você acha, moça? Pra que finalidade uma pessoa é
seqüestrada?
Dana aperta os lábios:
-
Olha, por que não podemos negociar?
Ele levanta as sobrancelhas:
-
Que tipo de negócio?
-
Não é dinheiro que você quer arrancar de mim?
-
Bem, é claro, mas...
- ... mas o quê...?
-
Não é só pelo
dinheiro; não posso lhe soltar após o resgate.
-
Por que não?
- Olha
moça, a conversa tá indo muito longe...
- Pra
onde está nos levando?
- Pra
nenhum lugar específico.
- Olha... eu
lhe peço, por favor, estou com uma criança. Você
não vai querer
fazer mal a uma criança, vai?
- Naturalmente que você é que vai toamr conta de seu próprio
filho.
Dana está impaciente:
- Pelo amor de Deus, escuta! O que o levou a nos
seqüestrar?
Estava vigiando a minha casa? Desde quando?
- Ei!! Que monte de perguntas é essa? Não tenho que lhe dar
satisfação alguma!
Ela sacode a cabeça; está com ganas de jogar alguma coisa
na cabeça
do bandido, que continua dirigindo em alta
velocidade.
Neste momento o veículo alcança uma estrada de barro,
a qual o faz
sacolejar.
- Pra
onde está nos levando??
- Ah,
fala sério! Não vai acreditar que vou lhe dizer! – solta uma
debochada risada.
* *
*
Mulder, a passos rápidos, está retornando da
Delegacia, onde fora dar
parte do seqüestro. Entra em casa batendo
portas, enraivecido:
- Como
pôde acontecer uma coisa dessas? Como pôde...?!
Maggie, tendo ao lado sua jovem vizinha Louise,
chora muito,
mantendo em seus braços a netinha Vivien.
-
Senhora Scully, acalme-se...! Tudo vai ser resolvido!
– consola-a
a jovem.
- Como pode me pedir pra ficar calma?
Estou desesperada! – olha
para o genro que
acabara de entrar – Veja! O Fox também!
Ninguém agüenta uma situação dessas! É
desesperador!
- Sim, senhora Scully,
concordo... desesperador!
- Oh, Fox e
então? Conseguiu alguma coisa?
- Eu fui apenas fazer a denúncia, mas já
estou saindo, porque
eu mesmo vou investigar.
- Ah, meu Deus! – Maggie
aconchega o corpinho da neta junto
a seu rosto –
Espero que você pegue logo esses seqüestradores.
Louise acarinha-lhe o ombro, dando-lhe alento:
- Calma, senhora Scully... logo, logo esse bandido vai ser preso!
E quero
que achem logo minha filha e meu neto!! – brada Maggie.
Mulder aproxima-se, atento:
- Por
que você menciona o bandido...?
-
O quê...? – a jovem surpreende-se.
- Como
sabe que é um bandido? E não uma
quadrilha?
- Por quê? – irrita-se – Pelo amor de
Deus, Fox! O que disse eu?
Apenas foi um comentáriio,
por acaso!
Mulder aproxima-se um pouco:
-
Louise, diga a verdade, não tenha receio... alguém da
vizinhança
viu quem fez isso?
- Eu
juro que não sei, Fox!
Ninguém me falou nada! Juro!!
Ele lhe volta as costas; dirige-se a Maggie:
- Senhora
Scully, pode chegar até aqui? – chama-a para
afastar-se
um pouco:
- Fox, por favor, ache logo a minha filha! Eu sei que você é
capaz!
- Vou fazer todo o possível e até o
impossível, senhora Scully... não
posso viver sem sua filha – beija, com suavidade a cabecinha
do
bebê no colo
dela – Já ligou para o pediatra?
- Sim, ele já me instruiu em como cuidar
da alimentação da Vivien.
–
responde chorando.
Louise aproxima-se:
- Ah, meu Deus, como é possível uma
pessoa como essa tão
insensível, que separa uma bebezinho de sua mãe? É
miseravelmente safada, uma criatura dessas! – afaga a
cabecinha da criança.
Mulder encaminha-se para outro ambiente da
casa. Vai até seu quarto.
Abre uma gaveta da cômoda, vasculha algumas roupas
dobradas;
retira de sob elas a pistola que Dana havia
trazido consigo ao deixarem
o FBI. Observa o tambor das balas e vê que
está vazio. Introduz nele as
balas que tira de uma caixa; faz girar o
tambor para o lugar correto,
travando-o em seguida. Mete a arma no bolso;
pega mais um punhado
dos projéteis e coloca-o também no bolso.
Sai do quarto.
Maggie e Louise ainda estão juntas na sala.
- Fox, não é
preciso dizer porque sei que você tem competência
pra isso, mas
espero que não demore a encontrar Dana...! – fala
Maggie.
-
Senhora Scully... – ele tem um ar de que deseja que
ela guarde
as palavras.
Maggie entende, por fim, que não deve
estender-se em explicações
sobre o que ele sabe ou não fazer, pois ele continua sendo
um foragido.
Tanto ele quanto sua filha, Dana.
Mulder sai, em passos rápidos e pesados.
Louise o observa sair, com ar condoído no semblante:
- Senhora Scully,
por que você diz que o seu genro tem
capacidade,
competência...?Pelo que sei, ele é professor de
psicologia. Ou é um
detetive, um policial... ou o
quê...?
‘- N... não, não!
É que ele é um homem muito afoito e tudo ele
procura descobrir.
Faz uma verdadeira investigação! Ainda mais
num caso
desses... dentro de sua própria família!
Neste momento o telefone avisa uma chamada.
A mãe de Dana vai atender, mas no exato momento uma
fralda de
pano cai de suas mãos; ela faz menção de
pegá-la, mas Louise pega
rápido a peça, entregando-a e corre ao
telefone:
- Alô! –
atende – Quem...? George Hale...? Não...
Maggie, que ouvira suas palavras, grita de
onde está:
- É
aqui, sim! Eu vou atender!!
A moça, atônita abre bem os olhos, com ar incrédulo.
-Há alguma notícia, Delegado? – Maggie fa a pergunta no
telefone – Dana Scully é minha
filha! – ouve, em seguida,
com ar um tanto
desanimado a notícia que vem da Delegacia
–
Obrigada, mas, por favor, façam algumacoisa! Estamos
desesperados aqui!
Em seguida repõe o telefone na base. Senta-se, com ar
de sofrimento
numa poltrona e não consegue deter o pranto.
A vizinha solícita corre a acalmá-la, com doçura:
-
Senhora Scully, tenha a certeza de que tudo está bem
com a
Dana e seu filho.
Maggie não responde.
A vizinha continua:
-
Desculpe, mas eu quase desliguei o telefone, porque não sabia
que o nome do seu genro é George Hales.
- diz Louise.
A mãe de Dana a olha, desconcertada:
- Sim, o
nome dele é esse mesmo. Por que a dúvida?
- Ora,
porque só a ouço tratá-lo por Fox ou Mulder.
- É
que... esses são apelidos que damos a ele.
Louise dispara numa risada:
-
Combina bem o nome Fox, já que ele é tão esperto...!
Mas... será mesmo?
Maggie franze o cenho, perturbada. Quase
cometera uma besteira;
tem ciência de que não deve estar citando o
nome verdadeiro de seu
genro assim, de qualquer maneira, pra gente
ainda um pouco
desconhecida, como pessoas dessa vizinhança. Ao
mesmo tempo a
tristeza do momento a deixa desanimada.
¨Como é possível
essa mulher ver a situação tão desesperadora
que a família está e ainda tem ânimo para dar gargalhadas...?!
Jovens são tão desmiolados e
desligados...!¨ - pensa.
Louise está junto dela:
- Dê-me
a Vivien e vá descansar um pouco.
- Nãaao!! –
ela retruca, agitada – Não!! – abaixa um pouco a
voz – Pode deixar, obrigada, mas não é preciso; estou
controlada.
Louise leva um dedo à boca, mordendo-lhe a ponta, parecendo
contrariada.
- Oh, meu Deus! –queixa-se Maggie – É muita maldade! É muita
insensibilidade! O mundo está cheio de gente canalha,
perversa!
-
fala em voz alta e em seguida vai murmurando, com os olhos
fechados – Ajuda-nos, Senhor, eu tenho plena confiança
em Ti,
que tudo estará
bem com minha filha e meu neto. Cuida deles,
meu Pai! Amém!
A jovem vizinha, a observa,
meditativa. Em seguida estende os braços:
- Lembre-se, Senhora Scully,
que vai ter que fazer o mingauzinho
de sua neta, porque você me falou que não quer que eu o
faça;
então eu seguro a
menina.
Maggie afita, com
terror na fisionomia:
- Pára com isso, garota! Jáfalei que EU
sou responsável por todas
as coisas para minha neta! E, por favor, eu preciso ficar
só!
- Mas...
- Por
favor...! – pede, chorando.
- Mas
você precisa da companhia de alguém...!
- Não me faça repetir, Louise! – fala,
categórica, controlando o
desespero que toma conta do seu ser.
¨Uma esperança frustrada
pode gerar o desespero.¨
William Cowper