NÃO É O DINHEIRO

 

Hoje cada  qual precisa de uma virtude apenas: dinheiro:

tendo-a, possuem-se todas as outras ¨

E. Wertheimer

Capítulo 270

 

O vento que vem de fora do veículo fustiga a face de Dana, pois o

carro está sendo  dirigido em alta velocidade pelo sequestrador. De

olhos vendados, ela nada identifica nos lugares por onde passam.

Está no banco traseiro, agarrada a seu filho, que continua

com ar de medo. Resolve entabular conversa com o homem.

         - Afinal de contas, qual é o seu objetivo nos seqüestrando?

 – pergunta.

O sujeito dá uma risada:

         - O que você acha, moça? Pra que finalidade uma pessoa é

seqüestrada?

Dana aperta os lábios:

         - Olha, por que não podemos negociar?

Ele levanta as sobrancelhas:

         - Que tipo de negócio?

         - Não é dinheiro que você quer arrancar de mim?

         - Bem, é claro, mas...

         - ... mas o quê...?

         - Não  é só pelo dinheiro; não posso lhe soltar após o resgate.

         - Por que não?

         - Olha moça, a conversa indo muito longe...

         - Pra onde está nos levando?

         - Pra nenhum lugar específico.

- Olha... eu lhe peço, por favor, estou com uma criança. Você

não vai querer fazer mal a uma criança, vai?

- Naturalmente que você é que vai toamr conta de seu próprio

 filho.

Dana está impaciente:

- Pelo amor de Deus,  escuta! O que o levou a nos seqüestrar?

 Estava vigiando a minha casa? Desde quando?

         - Ei!! Que monte de perguntas é essa? Não tenho que lhe dar

 satisfação alguma!

Ela sacode a cabeça; está com ganas de jogar alguma coisa na cabeça

do bandido, que continua dirigindo em alta velocidade.

Neste momento o veículo alcança uma estrada de barro, a qual o faz

sacolejar.

         - Pra onde está nos levando??

         - Ah, fala sério! Não vai acreditar que vou lhe dizer! – solta uma

debochada risada.

 

*   *   *

 

Mulder,  a passos rápidos, está retornando da Delegacia, onde fora dar

parte do seqüestro. Entra em casa batendo portas, enraivecido:

         - Como pôde acontecer uma coisa dessas? Como pôde...?!

Maggie, tendo ao lado sua jovem vizinha Louise, chora muito,

mantendo em seus braços a netinha Vivien.

         - Senhora Scully, acalme-se...! Tudo vai ser resolvido! – consola-a

 a jovem.

- Como pode me pedir pra ficar calma? Estou desesperada! – olha

para o genro que acabara de entrar – Veja! O Fox também!

Ninguém agüenta uma situação dessas! É desesperador!

- Sim, senhora Scully, concordo... desesperador!

- Oh, Fox e então? Conseguiu alguma coisa?

- Eu fui apenas fazer a denúncia, mas já estou saindo, porque

 eu mesmo vou investigar.

- Ah, meu Deus! – Maggie aconchega o corpinho da neta junto

a seu rosto – Espero que você pegue logo esses seqüestradores.

Louise acarinha-lhe o ombro, dando-lhe alento:

         - Calma, senhora Scully... logo, logo esse bandido vai ser preso!

         E quero que achem logo minha filha e meu neto!! – brada Maggie.

Mulder aproxima-se, atento:

         - Por que você menciona o bandido...?

         - O quê...? – a jovem surpreende-se.

         - Como sabe que é um bandido? E não uma quadrilha?

- Por quê? – irrita-se – Pelo amor de Deus, Fox! O que disse eu?

 Apenas foi um comentáriio, por acaso!

Mulder aproxima-se um pouco:

         - Louise, diga a verdade, não tenha receio... alguém da vizinhança

 viu quem fez isso?

         - Eu juro que não sei, Fox! Ninguém me falou nada! Juro!!

Ele lhe volta as costas;  dirige-se a Maggie:

         - Senhora Scully, pode chegar até aqui? – chama-a para afastar-se

 um pouco:

         - Fox, por favor, ache logo a minha filha! Eu sei que você é capaz!

- Vou fazer todo o possível e até o impossível, senhora Scully... não

 posso viver sem sua filha – beija, com suavidade a cabecinha do

bebê no colo dela – Já ligou para o pediatra?

- Sim, ele já me instruiu em como cuidar da alimentação da Vivien.

 – responde chorando.

Louise aproxima-se:

- Ah, meu Deus, como é possível uma pessoa como essa tão

 insensível, que separa uma bebezinho de sua mãe? É

 miseravelmente safada, uma criatura dessas! – afaga a

cabecinha da criança.

Mulder encaminha-se para outro ambiente da casa. Vai até seu quarto.

Abre uma gaveta da cômoda, vasculha algumas roupas dobradas;

retira de sob elas a pistola que Dana havia trazido consigo ao deixarem

o FBI. Observa o tambor das balas e vê que está vazio. Introduz nele as

balas que tira de uma caixa; faz girar o tambor para o lugar correto,

travando-o em seguida. Mete a arma no bolso; pega mais um punhado

dos projéteis e coloca-o também no bolso. Sai do quarto.

Maggie e Louise ainda estão juntas na sala.

- Fox, não é preciso dizer porque sei que você tem competência

pra isso, mas espero que não demore a encontrar Dana...! – fala

 Maggie.

         - Senhora Scully... – ele tem um ar de que deseja que ela guarde

 as palavras.

Maggie entende, por fim, que não deve estender-se em explicações

 sobre o que ele sabe ou não fazer, pois ele continua sendo um foragido.

Tanto ele quanto sua filha, Dana.

Mulder sai, em passos rápidos e pesados.

Louise o observa sair, com ar condoído no semblante:

- Senhora Scully, por que você diz que o seu genro tem capacidade,

 competência...?Pelo  que sei, ele é professor de psicologia. Ou é um

 detetive, um policial... ou o quê...?

‘- N... não, não! É que ele é um homem muito afoito e tudo ele

procura descobrir. Faz uma verdadeira investigação! Ainda mais

num caso desses... dentro de sua própria família!

Neste momento o telefone avisa uma chamada.

A mãe de Dana vai atender, mas no exato momento uma fralda de

pano cai de suas mãos; ela faz menção de pegá-la, mas Louise  pega

rápido a peça, entregando-a e corre ao telefone:

         - Alô! – atende – Quem...? George Hale...? Não...

Maggie, que ouvira suas palavras, grita de onde está:

         - É aqui, sim! Eu vou atender!!

A moça, atônita abre bem os olhos, com ar incrédulo.

-Há alguma notícia, Delegado? – Maggie fa a pergunta no

 telefone – Dana Scully é minha filha! – ouve, em seguida,

com ar um tanto desanimado a notícia que vem da Delegacia

 – Obrigada, mas, por favor, façam algumacoisa! Estamos

 desesperados aqui!

Em seguida repõe o telefone na base. Senta-se, com ar de sofrimento

numa poltrona e não consegue deter o pranto.

A vizinha solícita corre a acalmá-la, com doçura:

         - Senhora Scully, tenha a certeza de que tudo está bem com a

 Dana e seu filho.

Maggie não responde.

A vizinha continua:

         - Desculpe, mas eu quase desliguei o telefone, porque não sabia

 que o nome do seu genro é George Hales. -  diz Louise.

A mãe de Dana a olha, desconcertada:

         - Sim, o nome dele é esse mesmo. Por que a dúvida?

         - Ora, porque só a ouço tratá-lo por Fox ou Mulder.

         - É que... esses são apelidos que damos a ele.

Louise dispara numa risada:

         - Combina bem o nome Fox, já que ele é tão esperto...!

 Mas... será mesmo?

Maggie franze o cenho, perturbada. Quase cometera uma besteira;

tem ciência de que não deve estar citando o nome verdadeiro de seu

genro assim, de qualquer maneira, pra gente ainda um pouco

desconhecida, como pessoas dessa vizinhança. Ao mesmo tempo a

tristeza do momento a deixa desanimada.

¨Como é possível essa mulher ver a situação tão desesperadora

 que a família está e ainda tem ânimo para dar gargalhadas...?!

Jovens são tão desmiolados e desligados...!¨ - pensa.

Louise está junto dela:

         - Dê-me a Vivien e vá descansar um pouco.

- Nãaao!! – ela retruca, agitada – Não!! – abaixa um pouco a

 voz – Pode deixar, obrigada, mas não é preciso; estou controlada.

Louise leva um dedo à boca, mordendo-lhe a ponta, parecendo

contrariada.

- Oh, meu Deus! –queixa-se Maggie – É muita maldade! É muita

 insensibilidade! O mundo está cheio de gente canalha, perversa!

 - fala em voz alta e em seguida vai murmurando, com os olhos

fechados  – Ajuda-nos, Senhor, eu tenho plena confiança em Ti,

que tudo estará bem com minha filha e meu neto. Cuida deles,

 meu Pai! Amém!

A jovem vizinha, a observa, meditativa. Em seguida estende os braços:

- Lembre-se, Senhora Scully, que vai ter que fazer o mingauzinho

 de sua neta, porque você me falou que não quer que eu o faça;

então eu seguro a menina.

Maggie afita, com terror na fisionomia:

- Pára com isso, garota! Jáfalei que EU sou responsável por todas

 as coisas para minha neta! E, por favor, eu preciso ficar só!

         - Mas...

         - Por favor...! – pede, chorando.

         - Mas você precisa da companhia de alguém...! 

- Não me faça repetir, Louise! – fala, categórica, controlando o

 desespero que toma conta do seu ser.

 

¨Uma esperança frustrada

pode gerar o desespero.¨

William Cowper