UMA ETERNIDADE

 

¨Eternidade é uma palavra escolhida

 para significar uma troca.¨

Victor Hugo

 

Capítulo 272

 

Maggie, assustada, olha o relógio. Para ela essa espera é uma eternidade.

¨Duas da madrugada! – pensa – E Fox nem apareceu de volta pra me

 falar se encontrou alguma pista. Deus! O que será que está acontecendo?

Onde estão  minha filha, meu genro, oh, meu Deus e meu netinho...?

– chora – William...  meu queridinho, vovõ está aqui te esperando...!¨

– fala, com voz sofrida.

 

*   *   *

Mulder encontra-se num estranho local mal freqüentado; ali pode ver desde

os moradores de rua, até as prostitutas, imiscuídos naquele ambiente lúgubre,

sujo e hostil.

Ele caminha, atento, procurando ver se algum daqueles tem semblante maléfico,

capaz de se tornar cúmplice de alguma atrocidade, como um sequestro.

         - Aí, amigo! Dá pra arranjar uma grana? – um homem pede.

Mulder pára. Aperta os lábios.  Fita o desconhecido maltrapilho.

         - Sabe o que é? Ainda não vi a cor da comida no dia de hoje. – continua

o homem.

Mulder continua fitando-o.

         - Que tal pesquisar algo pra mim? – ele diz, então.

         - Levo algum trocado?

         - Sem dúvida. – responde o ex-Agente, metendo a mão no bolso; retira

 dele uma foto.

         - Esta pessoa desapareceu. Você a viu com alguém por aqui?

         - Ah, não, amigo! Neste lugar aqui não se vê uma mulher como essa!

 Pode crer! Que olhos! – solta um assobio, mostrando sua admiração.

         - Dispenso os elogios. – diz Mulder, recomeçando seu caminhar em

passos largos.

         - Ei! Cadê a grana?Não vai me ajudar?

Mulder nem se volta para trás. Caminha até o carro. Faz deslizar as rodas

do veículo,

sem o destino certo a tomar.

Após rodar por quase uma hora, estaciona em frente à Delegacia. Entra. O

Delegado o fita.

         - Ah, boa noite, senhor. Não tenho nada de bom pra lhe comunicar.

‘’       – explica.

         - Como não?! Por que ainda não? O que estão vocês fazendo esse

 tempo todo?!

O Delegado levanta-se, enquanto outro aproxima-se um pouco do

recém-chegado.

         - Calma, vamos lá, tenha paciência!

         - Paciência...?! – o ex-Agente escorrega a mão sobre a face; caminha

 de um lado para outro, em passos rápidos – Sabe o que isso significa?

 Minha mulher e meu filho seqüestrados e um bebê em casa

necessitando dela!! – brada, nervoso.

         - Sente-se, por favor. – pede o homem, que havia se aproximado da

 mesa do Delegado, tentando acalmá-lo.

Mulder aperta os lábios.  Dá um murro na superfície da mesa. Suas

Mandíbulas pulsam dentro da carne da face. – Vocês todos são uns...

         - Epa, amigo!! Cuidado, que você pode ser autuado por desacato

 à autoridade.

Mulder fita o homem com os olhos semi-cerrados. A ignorância desse

homem , em não saber quem ele foi em épocas passadas como um

Agente Federal, o deixa extremamente nervoso.

Sente-se um inútil. Fracassado. Impotente.

Volta-se e sai do local.

Após horas andando pelas ruas, retorna ao carro. Está cansado.

Olha ao redor. O dia está amanhecendo. Precisa fazer algo. Não dá

para tudo permanecer na tragédia que está. Resolve ir em casa. Precisa,

pelo menos, fazer

uma higiene e trocar a roupa.

*   *   *

         - Fox!! Ai meu Deus! Você me deixou desesperada! Não consegui

me comunicar com você. Não consegui nada!!

         - Aconteceu algo mais, senhora Scully?

         - Não com Vivien, nem comigo. Está tudo bem. Mas... Fox... –

 levanta o rosto para fitá-lo – e...?

         - Dana... meu filho...? – ele joga-se no sofá e cobre o rosto com

 mãos aflitas.

Maggie entende que ele também está sem notícias do paradeiro dos dois.

Senta-se, também, no sofá.

         - Não agüento mais, senhora Scully...! – ele queixa-se, num lamento.

Ela apenas deixa que as lágrimas rolem lentas sobre suas faces. Em silêncio.

Na porta surge a figura da jovem vizinha.

Maggie a olha, com ar insatisfeito.

         - Desculpe, senhora Scully, sei que é muito cedo, mas não resisti;

 tinha que vir.

         - Sei... – é o que responde a mãe de Dana.

Mulder continua com os cotovelos apoiados nos joelhos e rosto coberto

com as mãos.

Louise aproxima-se. Passa a mão levemente sobre o ombro de Mulder,

consolando-o.

         - Terrrível, terrível tudo isso! – ela muirmura, com olhos lacrimejantes.

Maggie sai da sala, dirigindo-se para outra parte da casa.

         - Fox... – reinicia a moça - ... estou aqui para ajudá-los... em qualquer

 coisa!

Ele retira as mãos do rosto e joga as costas no encosto do sofá, com os olhos

fechados.

Louise o fita. Seu ar de cobiça transparece no olhar. Fita atentamente todas

As linhas e curvas dos contornos do rosto do homem por quem se apaixonara.

Num segundo, como cenas de um filme, se vê beijada pela boca sensual dele.

Se vê agarrada com desejo pelos braços fortes desse homem de aspecto viril e

sedutor.  Ela dá uma olhada em direção onde estava a mãe de Dana e não a

vendo mais ali presente,  aproxima os lábios dos cabelos desalinhados de

Mulder e os beija com carinho.

Ele abre os olhos, rapidamente.

         - O que está querendo, garota...? – pergunta.

Louise dá o seu melhor sorriso.

         - Quero lhe consolar... apenas!

Mulder levanta-se, com ar ríspido:

         - Nada, nem ninguém, vai poder me consolar pela falta da minha mulher

 e meu filho!

- Eu sei, eu sei... – sussurra ela, levantando-se e se colocando ao lado

dele e olha-o fixamente nos olhos – Faço qualquer coisa por você!

Meu Deus, é muito triste o que está acontecendo... todo mundo está

sofrendo... – ela segura as mãos dele, colocando-as junto aos seus

seios no peito arfante - ... é muito ruim perder alguém que se ama...!

Mulder retira as mãos.

         - Eu não perdi minha mulher, nem meu filho. Eu os encontrarei, pode

 acreditar!

A jovem faz um ar de pouco crédito no semblante, mas recomeça, com voz

terna:

- Olha, as coisas hoje em dia são tão terríveis, que devemos estar

preparados para todo tipo de surpresa desagradável...

- Não quero crer assim! – ela a interrompe, com voz irritada.

- Espera, você não me deixou terminar...! Nesse seu caso não;

 logo tudo estará resolvido... e você voltará a ser feliz!

- Tenho certeza.

- Só lhe peço uma coisa...

- O quê? – ele aperta os olhos ao fitá-la.

- Que você saiba e entenda que eu só quero o melhor pra você. Só isso.

- É mesmo? E por que essa deferência?

- Porque o amo. – explica, sem rodeios.

Mulder passa a mão nos cabelos:

         - Eu bem queria entender você, menina...

         - Não me chame de menina! Sou muito mulher! Mas... por que não

 me pode entender?

Ele faz um gesto de pouco caso. Dá apenas alguns passos.

         - Como você vê uma família numa trágica situação assim como está

a minha e só cuida de insinuar-se pra mim? – É  somente visando

sexo? Não sou rico; portanto...

         - Pára, pára!! – ela se irrita – O que sinto é puramente amor! Só isso!

Ele morde o lábio inferior. Dá mais alguns passos pelo ambiente. Fita um

ponto na parede por quase um minuto. Sente-se vazio.

Inseguro. Um homem profundamente infeliz.

         - Com licença... – ele fala, de súbito, deixando a sala.

 

¨O homem não morre quando fecha os olhos,

mas quando deixa de lutar por seus ideais. ¨