SEM SUCESSO
¨O
único lugar onde o sucesso vem
antes do trabalho é o
dicionário.¨
Albert
Einstein
Capítulo 273
Carinhosamente debruçada sobre sua
netinha, Maggie retira-lhe a fralda
suja; com um
chumaço de algodão, o vai deslizando, embebido em líquido
antiséptico para a
limpeza da pele do bebê. Levanta o atribulado olhar
ao ver Mulder aproximando-se do berço.
- Senhora Scully!
- Sim,Fox...?
- É sobre um caso sério que preciso lhe
falar. Pegue de volta a chave
que está em
poder dessa nossa vizinha.
- A Louise?
Sim, ela mesma. Não tem porque ficar
entrando e saindo em nossa
casa, já que... já que... – a voz lhe embarga na garganta.
- William não está aqui...! – murmura Maggie, completando a frase
dele e cai num
pranto dorido.
Mulder a abraça triste e, embora tente ser
forte, as lágrimas afluem rápidas
em
seus olhos.
*
* *
Dana,
com esforço, havia usado toda sua energia e equilíbrio para aproximar-se
de uma pequena abertura na parede do
escurecido ambiente , a qual nem se pode
chamar de janela por ser tão pequena, porém
está completamente vedada, e a
Agente tenta, fazendo força
com as mãos, puxar uma das madeiras que foram
pregadas pelo lado de dentro, a fim de reforçar
a vedação e evitar que a
seqüestrada fuja do local.
- Arre!! Que droga!! – xinga, irritada.
Tenta,
novamente, enfiando os dedos entre a madeira e a pequena abertura.
- Ai! – solta um gemido; a unha
quebrada na carne começa a sangrar
– Malditos
sejam! – grita, nervosa.
De
repente olha para seu pequeno filho dormindo no catre que fora posto à
disposição deles. Fita-o, por alguns instantes, sentindo doer o
coração. Mas não
se intimida com os pensamentos de dor e
tristeza, nem a unha sangrando. Continua
a forçar a madeira cujos pregos poderiam
ceder, não fossem tão bem presos.
Num
dado momento, um ruído lhe chama a atenção.
- Há alguém aí...?? Socorro!! – ela
bate na janela, para chamar a atenção
de quem se encontra
lá fora.
Logo
o latido de um cachorro se faz ouvir.
- Ótimo! – ela fala, achando que o
animal latindo assim pode chamar a
atenção de
alguém - Ei!!
Chega aqui! Estou presa!
Mas
somente o latido do cão é ouvido.
Ela
nota que ele corre de um lado para o outro, no capim do terreno em volta do
casebre.
Chama
mais e mais vezes por alguém, sem sucesso. Logo percebe que somente o
animal está junto da casa, sem alguém a seu
lado que possa ajudar. Dana solta os
braços ao longo do corpo, desanimada.
- Não é possível, não é possível! Oh,
meu Deus!
Aproxima-se
de seu filho, que, inocentemente, está adormecido. Ela o acaricia,
enquanto as lágrimas correm-lhe pelo rosto aflito.
Escuta,
em seguida, ruído de algo que se move junto a porta do
casebre. Permanece
calada, aguardando. Um movimento na fechadura
mostra que alguém chega, neste
instante.
A
silhueta da mulher que viera antes, aparece diante do quadrado da porta contra
a claridade que vem de fora, trazendo ao ambiente
escuro certa iluminação que a faz
contrair as pálpebras.
- Você...?! Ah, por favor, dá um jeito
de nos tirar daqui! – pede, sem
rodeios,
levantando-se – Olha, eu posso ajudá-la a não ser condenada junto
com esse homem que me
trouxe pra cá!
Nada
a mulher responde. Continua colocando sobre um caixote um pacote de
biscoitos e uma garrafa de refrigerante, bem junto de onde
estão os seqüestrados.
- Ouviu o que eu falei? – quer saber
Dana.
A
mulher apenas meneia a cabeça, positivamente.
- E então...?- insiste a agente.
- Eu não posso... ele
me mata!
Dana
sente-se extremamente nervosa:
-Aaah, ele
pode lhe matar...?! – consegue aproximar-se da mulher e a
segura pelos ombros –
tem medo de morrer? E o que acha que eu sinto?-
fala, com voz
chorosa – Estou aqui com meu filho à mercê de vocês, posso
ser morta a
qualquer momento, tenho uma criança recém-nascida
precisando de mim em
casa! Estou sentindo dores!! – explica, mostrando
a blusa um
tanto molhada.
- Por que as dores?- pergunta a mulher,
olhando-a de soslaio.
- Porque os meus seios estão
transbordando de leite! – ela soluça – E
minha filha
precisando tanto dele...!!
- Ah, moça, eu não posso fazer nada.
- Não pode, é? Você não tem
consciência, não vê que três seres
humanos estão
subjugados a vocês...? Não sente remorso?
A
mulher fica em silêncio, sem olhar para Dana.
- Você sabe qual o fim que a espera?-
prossegue a Agente – Se a polícia
a pegar com
vida, vai sofrer dentro de uma cadeia. Você quer isso?
- Pára com isso, moça! Eu não posso
fazer nada!
- Por que não pode?! O que lhe custa me
ajudar?
- Custa a minha vida.
- E essa criança...? – aponta seu filho
ainda dormindo – Não sente dó
de ver uma criança
assim, sofrendo nas garras de um bandido?
- Meu irmão não é um bandido.
-Não é...?- força a perna até onde pode
alcançar, já que tem um pé
fortemente preso a uma
corda – Como pode defendê-lo? – aponta para ela
– Até você já pode tornar-se uma assassina, já
que está em
conluio com o
procedimento dele! Não vê?! Não percebe?!
A
mulher coloca as mãos tapando os ouvidos:
- Chega, tá? Pára com isso! – e vai dirigindo-se para a porta.
Dana, mesmo limitada em seus passos, avança
até ela, agarrando-a pelos braços.
- Ei!! O que
quer? Me larga!!
- Vamos sair juntas daqui.
-Não pode! Não pode! Vai ter que ficar
aqui, sua burra!! – grita a mulher.
Nesse
instante Dana não resiste. Um tapa bem estalante vai na
face da comparsa do
seqüestrador.
- Safada!! Safada!! – esbraveja a
mulher – Você não vai sair daqui!!
A
Agente a segura com mais força, ainda.
- Me larga!! – continua protestando.
De
súbito, William desperta, assustado:
- Mãe! Mãe! – grita, chorando.
Isso
faz com que Dana se distraia um pouco, olhando para seu filho.
A
mulher aproveita-se da situação e, conseguindo soltar-se dos punhos de Dana,
alcança um pedaço de madeira encostado à
parede, batendo com ele num de
seus braços, fazendo, assim,
com que ela, soltando um gemido de dor,
caia no chão.
- Mãe! – grita o menino, amedrontado.
A
fria mulher, com gestos rápidos, sai, trancando a porta por fora.
- Sua desgraçada! Volta aqui! – grita
Dana.
- Mãe! Mãe! – continua gritando o
menino.
A
Agente volta-se para abraçar seu filho. Acarinha-o, acalmando-o.
- Pronto, filhinho, essa mulher não vai
mais nos fazer mal. Já foi embora.
- Ela é mavada!
Fez dodói em você!
- Sim, é, mas sua mãe está aqui,
filhinho...! Está tudo bem...!
A
dor no braço agora a perturba. Olha para o lugar onde foi dada a pancada.
A
mancha roxa na pele muito branca tornara a carne dura e dolorida.
- Dodói, mãe!
– ele aponta.
- Sim, sim, mas tudo bem, viu? A mamãe
está bem.
Ela
o agarra, encostando-o a si, com ternura.
A noite, que já caira
nesse lugar, parece mais sufocante. O medo, a insegurança,
a fazem perturbada e amedrontada.
- Oh, meu Deus, me ajuda! Me dá uma direção! O que eu faço,
meu Deus?
William
afasta a cabeça do peito da mãe, para fitá-la:
- Mãe, Deus ajuda a gente?
- Sim, filhinho, ajuda sempre! É só ter
fé.
- E você tem isso?
Dana
tenta sorrir diante da pergunta:
- Tenho, sim.
- É...? – expressa surpresa – E quem
deu isso pa você?
- Foi Ele mesmo. Deus.
- E onde é que tá
guadado?
Dana
segura a cabecinha de seu filho, encosta-a em seu peito, novamente, para
dizer:
- No meu coração.
¨Pelo coração é que se principia a vida
e pelo coração é que ela termina.¨
Julio Diniz