SEM NENHUMA PIEDADE
“Nada se encontra tão próximo
do amor como a piedade.”
Madame Valmore
Capítulo 276
Mulder prende uma das argolas das algemas na grade de ferro
trabalhada que decora a sala de jantar e a outra no pulso
da jovem.
- Não faz isso!! Ta pensando que sou o
quê?! – ela continua
reclamando em alta voz.
Ele nada
argumenta.
-
Fox... – começa Maggie - ... você tem certeza do que está
fazendo...?
-
Tem alguma dúvida, senhora Scully? Não eu! – é só o
que ele responde.
- Me solta!! – berra a moça.
Ele puxa com
força uma cadeira por seu espaldar e apoiando-se neste,
coloca-se sentado
diante da sua prisioneira.
- O que você quer,
hein? Que eu confesse o quê?! Não sou uma
assassina!! –
protesta ela.
- Sua família vai ficar furiosa comigo,
não é? – ele pergunta
e em
seguida aperta os
lábios demonstrando raiva.
- Sim! Vai, sim! Espera só um pouco, Fox! Você vai ver o que é
Problema!
- Sei... – ele levanta-se, passa o dedo
indicador acima dos lábios, como
é seu hábito - ... estive em sua
casa Louise...
- ... em minha casa...? – interrompe-o - Fazendo o quê?
- Investigando.
- O que você pensa que é, seu imbecil? Anda vigiando a casa dos
outros, é? Me solta logo, anda!
- Você, Louise, não tem família... somente viveu desde sua adolescência
numa casa de recuperação...
- Mentira! Pára com isso!! - volta-se para Maggie
- Senhora Scully, não
acredite no que ele diz!!
A mãe de Dana a fita, sem demonstrar pena.
Mulder dá alguns passos:
- Você mora sozinha com um parente seu,
que não está sua
casa
nesses dias. – ele chega até ela – Foi ele que levou Dana e
meu filho,
não foi?
- Você ta loooooouco!!
– berra, novamente.
Agora Mulder aproxima-se,
novamente e, com os dedos apertando-lhe a
garganta, fala com tom de ódio na voz:
- Você vai me levar até o local onde mandou
o cara deixar meu filho
e minha
mulher... agora! – ordena, em voz baixa, mas austera.
Maggie, com as mãos na boca, como que para
impedir de soltar um grito,
de olhos arregalados, observa a cena.
- Não
vou a lugar nenhum com você! Não sei do que está falando!!
– grita a moça.
Ele lhe aperta a garganta:
-
Prefere morrer assim...?- aperta mais um pouco.
Louise faz um ruído de sufocação.
Mulder aperta mais ainda os dedos contra sua
garganta.
A jovem está quase a ponto de desmaiar.
- Fox! Pelo
amor de Deus! Chega! A tragédia que estamos
enfrentando já é muito
grande, Fox! Pára!! – pede Maggie,
aflita.
Ele diminui a pressão dos dedos na garganta de Louise.
- Vai
falar?- pergunta.
Louise sacode a cabeça, positivamente, então.
Mulder a solta.
- Fui eu, sim... mas...
pára com isso! – fala quase sem poder, com
a mão na garganta, tossindo, quase sufocada.
Mulder dá uma volta, girando nos calcanhares e
passa as mãos aflitas
nos cabelos.
-
Miserável!! – fala em voz baixa.
- Meu Deus! – exclama Maggie, horrorizada –Não dá pra
acreditar!! Você?! – olha a jovem com horror – Mas por quê
isso...? Pra quê?
Mulder solta da grade de ferro a algema e a
prende no pulso solto
de Louise.
- Vamos.
– ele fala com voz de comando.
- Eu não
sei onde estão! – ela protesta.
Mulder dá um leve empurrão em Louise, cujo
corpo é projetado para
a frente e ela cái,
estatelada, no chão. Tenta levantar-se,
rapidamente,
porém não consegue, de imediato. Sente-se
enfraquecida pelos momentos
de quase asfixia que sentira. Estende as
mãos algemadas para Maggie.
- Me ajuda, senhora Scully...!
Mulder, ao vê-la tão frágil e castigada, exibe
no semblante um misto de
dor e euforia por vê-la sofrer.
Maggie, por sua vez, com um brilho de ódio no
olhar, aproxima-se de
Louise com um estojo pesado de madeira trabalhada que
pegara de sobre
um móvel e, num gesto de fúria, atira-o em
direção de suas pernas. O objeto
lhe atinge o quadril.
Novamente Louise desaba no chão. Quando consegue
sentar novamente,
deixar ver em seu semblante a indignação que
se formara com a pancada
recebida.
Mulder, rapidamente, chega até ela e em gesto
sem nenhuma piedade ou
respeito, levanta-a do chão, puxando-a por um
braço.
- Chega de fricotes! – fala – Vamos
logo!
- Mas eu não sei...!! – protesta com
veemência.
- Vamos! – empurra-a, para que caminhe
mais depressa, segurando-a,
firmemente, pelo
ombro.
*
* *
- Esse telefone miserável tá descarregado! – queixa-se o homem –
Como é que
vou falar com aquele criatura idiota?
- E o que tu vai fazer? – pergunta a
irmã.
- Pegar o carregador.
- E tá aonde?
-No carro... lá
em baixo. – bufa com raiva – e só volto depois de
carregado. Droga!
- Ah...! – exclama a mulher.
O
homem sai, batendo a porta com força.
Dana,
agarrada a seu filho, implora à comparsa do seqüestrador:
- Por favor, pelo amor de Deus, nos
deixa sair daqui! Meu filho
está com febre...!
- Ah, sei, mas eu não posso.
- O quê não pode?
- Deixar vocês saírem!
- Escuta... – procura falar com voz
calma, a fim de convencê-la
- ... você não é uma assassina... tenho
certeza disso.
- E não sou mesmo! – pôe
as mãos na face – Ai, meu Deus, eu
tenho que sair dessa!
–dirige-se a Dana – Olha, eu vou
embora daqui. Você
se arranja por aí com seu filho.
- Não! –fala Dana – Não faz isso! Por favor!
- Você só fica pedindo: por favor! Por
favor! Por favor!
Não tá vendo a minha
situação? Estou metida numa
encrenca do tamanho
do mundo!!
Dana
aconchega mais a seu peito William, que choraminga.
- Olha, meu filho está com quase trinta
e oito graus de febre!
É preciso dar-lhe um analgésico, senão ele
pode ter uma convulsão!
A
mulher caminha de um lado para outro.
- Está bem! Está bem! Chega! Eu não posso
fazer nada! – fala,
irritada.
Aproxima-se
de Dana e desamarra-lhe o pulso.
Ela
respira fundo, falando em voz baixa:
- Obrigada.
- Não, não! Não posso fazer isso! Não
posso! –
exclama, aflita,
mostrando arrependimento pelo que havia feito.
- Olha, presta atenção: você está
quebrando de você uma
tendência para o mal.
Se você tem dúvidas em cometer um
erro é,
exatamente, porque a sua índole não é voltada para o mal.
– explica a Agente.
- Eu... – pisca várias vezes, nervosa - ... na verdade não
quero isso. Fui
forçada, entende?
- Sim, eu entendo. – afirma Dana – Foi
forçada pelo seu irmão,
não é?
- Sim, por ele, mas a idéia mesmo
partiu de outra pessoa.
- Quem...? – surpreende-se – Quem está
interessado no nosso
seqüestro, a não ser
o seu irmão bandido?
- Meu irmão não é um bandido! E eu não
sou também!!
–
exaspera-se.
- Tá, tá, tá!! – a Agente faz um gesto
com as mãos espalmadas,
desculpando-se.
A
mulher se cala e começa a recolher objetos que estão a um canto
do escuro ambiente da cabana.
“ O bem custa muito a conquistar,
mas o mal está ao alcance de todos.”
Demócrito