VINGANÇA

"O homem sensato não procura vingar-se

de seus inimigos; deixa à vida essa tarefa."

Courty

Capítulo 28

As horas haviam-se arrastado nesse dia. Apesar disso, Dana Scully revolvera, de uma vez por todas, tomar uma decisão.

Não mais poderia ficar parada, chorando, sofrendo, enquanto as coisas terríveis sobre o desaparecimento de Mulder continuavam a piorar.

Dentro do seu coração um impulso de luta e perseverança sobrepujava qualquer outro sentimento..

Está ali na sala do Bureau, há algumas horas já neste dia.

A porta abre-se, repentinamente.

Ela dá um salto, levantando da cadeira:

Dana leva as mãos à cabeça:

- Meu Deus! Não acredito! - apressa-se - Vamos, senhor!

Ele faz um gesto com as mãos, para impedí-la:

Skinner dá uma olhada por cima do aro dos óculos; há uma sombra de dúvida pairando sobre seu semblante, porem nada comenta. Pega o celular para ligar.

Seu coração aperta-se numa violenta e fechada dor, imaginando o que Mulder deve ter passado.

* * *

O coração de Dana dispara quando ouve um ruído na porta. Logo tocam a campainha.

Ela vai ansiosamente abrí-la.

À sua frente está aquele que corresponde à metade de sua vida: Mulder.

Está abatido, magro, olhos com profundas olheiras fazem mais realçar o verde agora esmaecido de seus olhos.

Não trocam palavras.

Scully estende os braços para a frente. Os olhos brilham de lágrimas que estão neles a flutuar.

A figura pequena e fragil de Dana parece querer amparar o corpo alto e viril de Mulder.

E o abraço é tão dramaticamente intenso, que enternece aos quatro homens que o estão assistindo e à Margareth, que também se encontra presente.

Os soluços que saem de seus peitos ecoam pela sala do apartamento.

Os dois sabem que não podem exceder a maiores demonstrações de carinho, a não ser este caloroso abraço. Então controlam-se para manter as aparências de uma profunda amizade entre dois grandes

amigos.

Mas há o choro incontido que os leva a soluçarem desesperadamente, enquanto afagam-se, sentem-se, olham-se.

Skinner dirige-se a Byers, que está junto a Frohike e Langly.

Com um olhar dirigido aos dois companheiros, decidem deixar o casal e Margareth a sós. E saem.

Maggie, por sua vez, resolve afastar-se para outro aposento.

Ela sabe, com toda certeza, o quanto Mulder e Dana tem para falar e se acariciar.

* * * * * *

Walter Skinner, sentado diante do acusado, interrogando-o, está remoendo-se de raiva, porém aparentemente um semblante frio aparece em sua face.

Silêncio. Ele continua de olhar abaixado. Fisionomia estática. Semblante frio.

Skiiner levanta-se, arrasta a cadeira, fazendo menção de que vai retirar-se.

O acusado levanta a cabeça, olha cinicamente para Skinner:

Franklin não responde. Somente continua com o olhar fixo sobre Skinner.

Franklin novamente fica calado. Sempre faz uma longa pausa para responder.

Mais uma vez ele tarda a dar a resposta.

- Olhe, dou - tor Franklin... - fala pausadamente - o Agente Mulder será submetido a uma bateria

de exames e se algo vir a prejudicá-lo, simplesmente você está acabado, dou - tor...!

O homem apenas sorri, cinicamente.

Skinner levanta-se, ajeita os óculos e afasta-se, deixando Jack Franklin.

Este permanece calado, olhos frios na direção de Skinner, acompanhando até o último passo dele dentro da sala.

Byers, que aguardava a saída de Skinner, aproxima-se:

Frohike está com a mão no queixo, pensativo.

Byers o olha e adivinha o que ele está pensando e ri. Sabe que o amigo bem gostaria de poder ter uma aparência melhor.

- Infelizmente na época, Franklin conseguiu escapar do FBI. - conclui Skinner.

* * * * * *

Por alguns minutos Mulder e Scully permanecem abraçados. Os soluços abafados de Scully contra o peito de Mulder abrandam-se pouco a pouco.

Depois disso, somente os suspiros entrecortados são lançados para fora de seu peito cheio de comoção pelo reencontro.

- Mulder...! - ela murmura.

Ele toma o rosto dela entre suas mãos ansiosas por afagar o rosto amado.

Ela afasta a cabeça do peito dele para fitá-lo ardentemente nos olhos. Examinar cada detalhe do seu rosto. Passa a mão carinhosamente sobre o rosto de olhar abatido e a barba por fazer.

Beija-o ternamente na testa... olhos... e vai descendo pelo nariz.

Ela quase nem acredita no que vê. Parece-lhe um sonho, do qual tem medo de despertar.

Abraçam-se fortemente mais uma vez.

Não falam nada. Para que? Para dizer com palavras coisas banais, quando o seu coração está gritando:

MEU AMOR! TE AMO! TE QUERO! TE ADORO!?

O barulho de algo causado no outro ambiente os faz despertar desse torpor amoroso.

Afastam-se um do outro.

Lembram-se da presença de Maggie ainda no apartamento.

Scully o segura pela mão e encaminha-o para sentar-se.

Maggie entra neste momento. Caminha imediatamente na sua direção para abraçá-lo com afeto.

Ela também chora de emoção:

Scully, com as mãos nas faces, chora e ri ao mesmo tempo, maravilhada com a realidade da cena que pode desfrutar neste instante.

O seu Mulder havia voltado. Agora se lhe retorna a razão plena de viver. E viver para ser feliz com Mulder, o seu amor.

* * * * * *

O macio e quente colchão sob suas costas dá-lhe uma inensurável sensação de conforto e prazer.

Com os olhos voltados para o teto, a mente em um turbilhão de pensamentos, Mulder sente-se bem.

Ouve as vozes que vem de Dana e Maggie no outro ambiente do apartamento.

Logo em seguida os passos de Dana aproximando-se. Ela entra no quarto.

Dana senta-se à beira da cama, encostando a cabeça em seu peito.

Num dado momento avista manchas roxas em sua pele.

Ela coloca agora as pernas sobre a cama, deitando ao seu lado.

Mulder continua deitado de costas, olhando para o teto.

No semblante o sofrimento. Na testa as linhas horizontais demonstrando preocupação. Nos olhos a intensa transparência verde esmaecera-se, dando lugar à profunda cor cinzenta.

Scully afaga-lhe os cabelos, ternamente.

Scully consegue sorrir com sua frase engraçada.

Dana volta a sorrir, mas sofrendo, achando engraçado e triste ao mesmo tempo.

Mulder agora a faz deitar sobre seu peito dolorido. Fecha os olhos. Coloca a boca sobre os cabelos perfumados de Dana e mantém-se assim. Quieto. Sereno.

Durante alguns minutos ela cantarola baixinho e amorosamente a canção, lembrando-se do dia em que estavam lá na floresta, à noite, perdidos...

Pára de cantar, agora para observar se ele está quieto.

Mulder está ressonando levemente, ela percebe.

Depõe os lábios sobre a morna carne do seu peito. Sente que pode afastar-se vagarosa e levemente para deixá-lo dormir. Com o máximo cuidado, vai retirando o seu corpo de junto do dele.

Sente, subitamente, o braço de Mulder envolvendo sua cintura, firmemente, obrigando-a a ficar.

Scully sorri, mais uma vez. Ele é como uma criança. Um criança grande. Carente. Precisa dela, do seu carinho, dos seus cuidados.

Deita novamente a cabeça sobre o peito dele.

* * * * * *

Dana deixara Mulder na cama, em sono profundo.

Está com o telefone à mão, conversando com o Diretor Assistente.

Dana desliga o telefone.

* * * * * *

Quarenta e oito horas de cuidados e atenções de Dana haviam deixado Mulder em total recuperação.

Ele está na cama, retesando todos os músculos, procurando assim relaxar e ganhar novas energias para caminhar e cuidar das coisas pertinentes ao seu dia a dia.

Ela aparece solícita à porta.

Ele a olha, sorridente. Voltara à sua face o sorriso ingênuo de menino.

Dana proferira tais palavras, não por acaso, mas realmente pelo mal-estar que desde muito cedo da manhã sentia. Mas isso ela não iria deixá-lo saber, para não empanar sua felicidade de estarem juntos e em paz.

Ele puxa-a pela mão. Senta-se.

Ela achega-se, carinhosa.

Mulder a examina em todos os detalhes do seu corpo.

Desliza as mãos sobre seus braços e logo, suavemente, toca em seus seios.

Encosta os lábios em seu pescoço, aspirando-lhe o perfume e o calor que lhe emana da pele.

A respiração dele está afogueada, ela sente.

- Mulder, - fala ternamente - você está se sentindo recuperado mesmo?

- Tem certeza? - ela sorri.

Dana sussurra, enquanto deixa-se acariciar:

Dana toma o rosto dele entre as mãos e o beija intensamente na boca, cheia de desejo.

Sente no corpo a sensibilidade do prazer que lhe envolve todos os sentidos.

Essa boca sequiosa dele, em busca de saborear todo o seu corpo a deixa repleta de satisfação pela realização dos desejos reprimidos por tantos dias.

Entrega-se a ele, totalmente.

Agora os dois corpos formam um só. Unidos. Colados. Ligados pelo amor.

* * *

Quietos, continuam unidos, sentindo a quentura de suas carnes, imóveis, parados, respiração acelerada aos poucos normalizando de intensidade, deliciando-se com esse momento em que seus corpos estão ligados, ainda, esperando normalizar e acalmar a sensação do frenesi, esse arrebatamento de amor, correndo entre suas veias, músculos, nervos.

Por vários segundos permanecem assim, até que Mulder afasta-se dela.

Joga-se para o lado na cama e agarra-a, para que permaneça grudada a ele, cabeça pousada sobre o seu peito.

E acaricia os macios cabelos ruivos dela, sem nada falar. Somente sentir. Sentir o amor. Sentir a paixão. A doçura de estar ali, com sua amada.

Amam-se. Adoram-se.

Scully, de olhos fechados, com o corpo achegado ao de Mulder, sente a sensação de prazer transformar-se em imenso carinho, dedicação e amor em tão grande intensidade, que imagina jamais ter uma palavra que possa expressar tudo o que sente pelo homem que tanto ama.

"A palavra é o veículo

do pensamento."

Benjamin Constant