TÉDIO

 

“Se o tédio fosse fatal, já o gênero

 humano teria deixado de existir.”

 

Capítulo 281

 

A suavidade da luz no ambiente traz o desejo imensurável de poder ser

Expressado na forma de carinho e ternura.

Dana volta o rosto para o lado no qual está o seu amado.

Ele, de olhos fechados, respira somente, sem estar adormecido.

Dana aproxima o rosto, vagarosamente. Suas narinas aspiram o odor gostoso

e excitante que vem da pele de Mulder. Ela detém-se a observá-lo, silenciosa.

Detalhe por detalhe das feições do rosto amado: os cabelos lisos e castanhos que

começam a rarar no início da testa larga; os olhos pequenos, apertados,

cujo verde transparente está escondido sob as pálpebras fechadas; o nariz grande,

mas bem desenhado; a boca de lábios perfeitamente demarcados nas feições.

Ela fecha os olhos e imagina-se sentindo sua pele e partes do seu corpo entre

aqueles  lábios famintos. Sente-se, neste momento em que isso pensa, perder as

forças e os seios pedindo pelo afago daquela boca sedenta de paixão.

         - Ai...! – ela geme baixinho, de prazer, tendo ampla certeza de que tédio

é que nunca poderá existir no seu  relacionamento amoroso, mesmo com acontecimentos estranhos quase sempre surgindo em suas vidas;  volta-se

e deita-se no seu lado na cama.

- Dana...?

Ela retorna a olhar na direção dele.

         - Huum... não estava dormindo...?

Ele, de súbito, põe-se de bruços a fitá-la.

         - Como se sente?

Ela lhe sorri, docemente.

         - Junto de você estou ótima.

         - Tem certeza?

         - Esses dias de paz e conforto espiritual me fizeram esquecer tudo aquilo,

         Mulder.

         - Um pesadelo...!

         - Com certeza, sim!

Ele afaga ,levemente, com os lábios, a pele alva do braço dela.

         - Eu sofri muito, Scully.

         - Da mesma forma que eu... eu sei disso, Mulder!

Ela agarra-se a ele, carinhosa.

         -Mamãe disse que você simplesmente deixou de se alimentar, de dormir...!

         - Eu não conseguia, Scully! – queixa-se em tom baixo, na voz sussurrante.

As lágrimas afluem aos olhos azuis de Dana.

         - Mulder, eu me senti perdida naquele local e só pedia a Deus que livrasse

nosso filho das garras daqueles perversos. – ela afaga, docemente, a face

do amado.

- Scully, temos que esquecer todos esses dias de desgraça... estamos juntos...

 nossas crianças junto de nós...  - fita-a com olhar profundamente

acariciador - ... te amo Dana, não sei como seria minha vida sem você...!

- Te amo, Mulder! – ela murmura.

Ela vira o corpo na cama e deita-se olhando para o teto.

         - Mulder...?

         - Que é?

         - Eu estou bem... e você?

         - Também. – ele acaricia-lhe os cabelos ruivos.

Dana fecha os olhos, feliz. Deixa-se ficar sentindo o prazer do toque dele.

         - Dana...?

         - Huum...?

         - Quero sentir o seu cheiro...

         - Hum...

         - ... sentir o gosto de sua boca... – toca, levemente, os lábios sobre os

         dela - ... sei que ambos estamos bem...!

         - Sem dúvida...! – ela sussurra no ouvido dele.

Mulder cola os lábios sobre os dela, sorvendo-lhe o gosto. E enquanto esse

gesto permanece, suas mãos vasculham o corpo dela, pousando, ávidas, sobre

os túmidos seios, que estão à espera dessas carícias.

E a brisa que corre na noite enluarada movimenta, discretamente, a leve e

clara cortina, como que permitindo à lua dar uma espiada na doce e quente

cena de amor.

* * *

Os olhos de Dana se abrem, movimentando várias vezes as pálpebras; percebe

que está com a cabeça pousada sobre o peito de Mulder, quente, deixando-a

ouvir o leve ruído da respiração.

Vagarosamente ela retira a cabeça, afastando-se da pele acariciante do corpo

amado.

Súbito sente o braço dele envolvendo-lhe o corpo.

         - Oh, meu Deus, você está acordado!

         -Hum, hum.

Ela sorri.

         - Que horas são?

         - Quatro horas e alguns minutos.

         - Um pouco cedo pra levantar.

         - Já sei que você fica lembrando que a essa hora já levantava para o

         trabalho.

         - Errado! A essa hora eu, geralmente, estava ainda nos escritórios

do FBI.

- Exagerado!

Ele apenas sorri.

Ela o observa.

         - Sabe, Mulder, um ator que tem a sua cara está fazendo uma Série

         na TV, e está se tornando um sucesso!

         - Ah, é?

         - E eu morro de raiva!

         - Morre de raiva?! Por quê?! Não entendi!

         - Porque o sujeito é um tremendo conquistador! Pega todas as mulheres

que aparecem no seu caminho!

- E daí...?

- Daí que o ator é tão, mas tão parecido com você, que me dá a impressão

de estar lhe vendo ali! Incrível! Então fico enraivecida ao ver as cenas de

sexo. Ele é demais!

- Então você o acha ruim nesse desempenho?

- Não! Ruim, nada! Ele é ótimo em seu personagem! Só que sinto ciúmes,

pois me dá a impressão de que é você.

Mulder dá uma risada.

         - Jamais eu seria um ator!

         - Quem sabe um ator sofrível?

         - Escuta... e como ele age, sendo tão cercado pelas mulheres?

         - Um verdadeiro imbecil!

         -Nossa! Se sua opinião é essa, pra que assiste a Série?

Ela emudece, diante da correta pergunta dele.

         - E daí, Scully? Descreve aí como é esse personagem.

         - Ah... ele é assim... fascinante...!

         - Fascinante...?

         - É sensível aos problemas da ex-mulher e da filha...

         - Sensível...?

         - E eu me transporto àquelas cenas em que ele fita, com aquele

olhar arrasador as mulheres e ...

- ... e ... ?

- ... eu o sinto como sendo você, Mulder! Não tem jeito, Mulder!

- reclama, com ar choroso.

- Verdade? Por quê?

- Pelos mesmos gestos doces, mas decididos que você tem.

- Sei...

- Somente o ... – ela o observa mais, vasculhando-lhe docemente,

a cabeça - ... cabelo é bem diferente.

- Como é?

- Tem os fios mais longos e...

Ele a interrompe, tapando-lhe os lábios com os dedos.

         - Chega de falar nesse cara! – cerca-a com os braços ansiosos.

         - Não me interessa falar em ninguém, Mulder! Eu só quero você!

         - Verdade?

         - Duvida?

         -Ahn, ahn!

         - Ciumento! – ela se joga nos braços dele, que a agarra, com sofreguidão.

Lá no alto a lua, a sorrir no estojo de veludo escuro do céu cintilante de estrelas,

Assiste, ainda,  a doçura da terna cena de amor.

 

“O ciúme é o sentimento

da propriedade.”

Gerfaut