SONHOS AMOROSOS
“O que
realizamos nunca é tão
belo quanto o que sonhamos.”
Olavo Bilac
Capítulo 283
Ela suspira, aliviada. Até que enfim está livre da
lida do estafante dia. Fecha
os olhos ante o espelho do camarim.
Uma grande calmaria toma conta de seu ser. Poder descansar
é algo mais que
necessário neste momento. E às vezes até fica
pensando em como,
escolhendo
os caminhos a seguir na vida, fora
deparar-se com esse de atriz.
Mas não se sente arrependida, não. O único desconsolo que lhe invade a alma
é a frustração de seus sonhos amorosos. Como toda mulher
deseja tê-los e
poder
realizar.
Com os olhos fechados desliza ambas as mãos sobre os braços, parecendo
estar
a sentir em sua pele as quentes e
sensuais mãos dele... dele... aquele
a quem ama,
ainda, embora ela tenha decidido tomar novos
rumos, nova vida com alguém
que, na realidade... nem
ama!
Ela passa a escova nos longos cabelos. Mais uma vez
suspira. Profundamente.
Vem lá do fundo de sua alma sequiosa pelo desejo de um
pouquinho, um pouco
só, de felicidade.
Levanta-se. Pega a bolsa. Dá uma última olhada no
ambiente e sai.
Nos corredores muita gente caminhando ou conversando,
a maioria indo em
direção da saída. Ela segue o fluxo do pessoal, enquanto dá um
“tchau“ para
aqueles que lhe lançam um alô de despedida até
o dia de amanhã.
— Ei! Até amanhã! Descansa bem pra vir com tudo, hein? — ela ouve
e
volta-se para
atender quem a chama.
É o diretor, sorridente.
Ela acena com a mão. E ao voltar-se vê alguém que está
retornando ao interior
do local.
— “Ele”
— seu íntimo detecta — “Mesmo após essas horas todas
passadas
junto dele, ai...
tenho desejo de ficar mais tempo... horas...
dias... sentindo-o
ao meu lado!”
Repentinamente sua mente acusa o esquecimento de um
objeto de seu uso pessoal.
”Nossa!
O meu celular ficou lá dentro!” — rapidamente retorna a passos
apressados em direção ao camarim.
— Oi! —
ouve perto dela.
— Oi! —
responde, com um sorriso.
— E aí? Tá muito cansada?
—
Esgotada! E você?
— Mais ou menos.
— É... você tem
um pique, hein?
— Dá pro gasto.
Ela dá uma risada sonora.
— Estou vendo a sua disposição! Você
está com toda a forma! Muito bom
isso! Eu estou
cansadíssima e pra completar esqueci o celular lá dentro.
— Vamos lá, então. — diz, seguindo os
passos dela.
— Tá.
Encaminham-se para o camarim. Entram.
— Que
cabeça a minha! Já podia estar no carro!
— Está
com muita pressa?
— Sim! –
uma outra risada — Você não?
— Um
pouco, só.
Ela guarda o aparelho na bolsa.
Ele observa-lhe os gestos.
— Que
foi? — ela quer saber, dirigindo um lindo sorriso para ele.
— Estou
doido pra ir ... — ele começa a dizer .
— Ah, eu
também. — prende num apanhado os cabelos e os solta,
Novamente, deixando que os fios ruivos
se espalhem sobre seus
ombros.
— ... você não esperou eu terminar ...! — ele queixa-se.
— Terminar o quê? — abre bem os olhos.
— doido pra ir com você...!
Os olhos azuis transparentes dela fixam-se no olhar
verde tentador dele.
As lágrimas volteiam dentro
de seus olhos, molhando-os, aglomerando-se
nos cílios.
—
Saudade do nosso tempo? — ele nota o seu olhar molhado.
Ela apenas confirma com um gesto de cabeça.
— Sabe ... esses ensaios, esses
toques de amor não resolvidos entre
nós durante o
trabalho, me deixa completamente excitado, sem
poder, sequer,
extravasar meus ímpetos, meus desejos de te amar
sem
reservas...!
— Ai ... não fala assim...! Não me castiga... senão
não dá pra
agüentar...!
— Vê como é difícil controlar os nossos
impulsos?
Agora ela olha para o chão. Fecha os olhos, após.
— Quer
ir comigo hoje?
Ainda com os olhos fechados, ela afirma num gesto de cabeça.
— Olha,
cada um pega seu carro e a gente vai pra aquele hotel
que conhecemos.
O que acha?
— Combinado. — fala,
num sopro de voz.
Saem dali em passos rápidos.
Lá fora ambos pegam seus respectivos carros.
* * *
Ele bate, discretamente, com os nós dos dedos na porta
da suíte.
Ela ouve as pancadinhas suaves. Suspira fundo. Sente o
coração
descompassado por segundos. Joga o quimono sobre o
pijama de
cetim. Apressa-se a abrir a porta.
Ele, com as mãos apoiadas sobre o umbral da porta,
sorri, do
modo encantador que sempre a atraira desde...
— Oi. —
ele a saúda simples e discretamente.
Ela nem responde ao cumprimento. Bate,
com rapidez a porta. Num
segundo já está entre os braços dele.
— Ai,
meu Deus, eu nem acredito!
Ele nada diz. Também é impossível falar, pois ela, num
impulso
ganancioso, já lhe havia fechado a boca à procura
de sentir o gosto
dele.
Por minutos deliciam-se, mutuamente.
Ela encosta a cabeça sobre o peito dele:
— Eu
estava doida, louca, alucinada pra ficar a sós com você!
— Eu não
vou falar nada porque você vai me chamar de tarado.
Ela dá uma risada, divertida;
— É
mesmo? — puxa-o pela mão para um sofá no ambiente
requintado — Conta pra mim aí... quais?
—
Quais... o quê?
— As
taras...!
Agora é ele quem abre um sorriso, achando engraçado a curiosidade
dela.
— Claro
que não vou dizer. Apenas quero pra ti cá- las!
— UAU!!
— ela murmura, num ar de encantamento, querendo
levantar-se.
— O que
você quer?— pergunta ele.
— Vou
pegar um drink pra nós dois.
— Não!
— Por
que não?!
— Não
quero perder tempo.
Novamente ela dá uma divertida risada e joga-se por
inteiro nos braços
dele, que ainda sentado, a puxa pelo braço.
Ao deixar-se jogada nos braços dele, este lhe retira o
quimono.
— Hum, estou vendo que está demasiadamente vestida!
— Eu não
trouxe camisola.
— Pra
quê, não é mesmo? Nada disso é necessário... — sussurra
— ... só atrapalha!
— Claro!
— ela sussurra também, no ouvido dele.
— Esse
teu cheiro me mata!
— Aaaah... — ela joga um lindo sorriso, com os olhos brilhantes
de paixão
sobre ele — ... não morre agora não! Não antes de nos
entregarmos a essa
loucura! — ela pede, com os lábios
entreabertos à procura
dos dele.
E colam as bocas. Língua sorvendo língua. Emoção.
Prazer. Desejo.
Paixão.
As mãos dele, rebuscando os botões da blusa do pijama dela, vão
atrevendo-se a cada segundo, a desnudá-la diante
de seus olhos.
Levanta-se, de repente, e, com rapidez retira a calça
jeans e o folgado
blusão que vestira, no propósito único de ter
que atravessar o corredor
do hotel decentemente vestido.
Ele a toma nos braços, com facilidade.
Sempre foi assim, fácil de carregar, como a uma
boneca.
Ela ri, jogando a cabeça para trás, o que faz sua
vasta cabeleira longa e
sedosa ficar balançando no ar.
— Te
amo! Te amo! Te amo! – ela
quase grita.
Ele encaminha-se para o aposento contíguo e a coloca
na cama.
— Minha
gostosa boneca...! — ele murmura.
Ela geme, fingindo um ar de criança mimada e puxa-o
para si com
ansiedade, parecendo ser esta a última vez que o
tem a seu lado.
— Vem...
sou toda tua!
— E pra
sempre!
— Tenha
certeza disso. Eu vivo seguindo a minha vida insípida...
— ... da mesma forma que eu...
— Até
quando ficaremos assim...?
Ele dá de ombros. Toca com os lábios o pescoço alvo do
corpo que se
oferece agora, descendo-os pelo peito, à
procura dos seios, que tremem
a seu toque.
A ampla janela envidraçada deixa refletir o brilho
prateado da lua no
alto do escuro céu.
Somente o maravilhoso astro está ali, presenciando a
cena de um amor
tão belo, tão ardente, tão vibrante, tão
profundo e imortal!
Podem passar segundos, minutos, horas, dias, semanas,
meses, anos,
séculos... este amor sobreviverá.
“O prazer e a
ação abreviam
a duração das horas.”
Shakespeare