O TEMPO DIRÁ

 

"O tempo resolve. Mas, se o problema é seu,

 não deixe toda a responsabilidade com ele."
Moisés Braga

 

 

E em sua mente continua o pensamento:

Podem passar segundos... minutos... horas... dias... semanas... meses...

anos... séculos... ele sobreviverá.

O tempo dirá. Ele é quem comanda tudo.

Dana abre os olhos.

Mulder, ainda deitado em seu colo, ressona levemente, mas desperta

ao sentir o movimento dela.

         — Nossa!! – ela resmunga.

         — O que foi, Scully?

         — Eu estava sonhando, Mulder! Ufa!!

         — E por que você está tão agitada?

         — Agitada?!

         — Sim.

         — Ah, é porque era um sonho quente!

         — Não me diga que era esse cara da TV!

Ela faz deslizar os dedos na face dele:

         — Não, Mulder... não era!

         — Ah, bem... mas Scully...

         — O quê?

         — Você está excitada!

         — Excitada... eu?!

         — Confessa.

         Mulder, eu já falei que era um sonho bastante... como dizer...

         me deixou um tanto...

         — Ah, é por isso, então! E foi com o cara da TV!

         — Exato, foi com ele, mas havia uma mulher muito parecida comigo!

         — Adivinhei, viu? Você e o cara da TV!

         — Negativo! A mulher do sonho não era eu! Era outra pessoa

com aquele ator!

Ela leva as mãos à face, sentindo-a quente.

— Sei...  — ele a olha com ar maroto, coçando o queixo — Te

conheço, Scully, mais do que você pensa!

Mulder, mas é que ... — ela ri — ... não posso provar pra você,

mas era uma atriz, pode acreditar! Não era eu!

Passam-se alguns segundos de silêncio.

         Scully...

— O quê?

         — ... quanto tempo nosso lema é esse e a ocasião é bem oportuna....

         — ... para o quê? De que lema está falando?

         — Eu quero acreditar.

         — Nossa!

         — Me fala logo, Scully a verdade!

         — Mas que verdade, Mulder?!

         A que sempre estivemos procurando! — ele fala com convicção,

         apertando-a contra si, a sorrir.

         — Bem, foi um sonho, Mulder, bem rápido, como já te disse.

         Sei ... mas...?

         — Parecia estar vendo um filme!

         — Mesmo? De terror?

Ela ri, agitando  a cabeça, fazendo assim os longos fios balançarem

sobre seus ombros.

Ele os segura, num gesto acariciante.

         — Não, Mulder! Não era! — continua a explicação — Era como se

eu  fosse a protagonista de uma história muito sensual.

Ele dá uma volta na cabeça:

         — Ah, já sei. Você e o cara da série!

         — O da série...? Ahn... bem... não, Mulder! Era você!

         — Eu...?

         — Não! Não era bem assim! Também não era você! Oh, Deus!

         — Mas quem era então, Scully! Fala!

         Ahn... não era eu! Não era eu... ou era...?

         vendo? Você e o cara da série!

Ela ri, jogando a cabeça para trás e deixando o corpo atirar-se contra o

encosto do sofá.

         — Ai, Mulder, tudo muito interessante, pois éramos nós dois e ao

         mesmo tempo não! Era um casal bem diferente de nós, mas só nos

         nomes.

         — Nomes...?! E como eram?

         — Ah, isso não lembro de jeito nenhum!

         — Vem cá, lindinha, deixa isso pra lá.

         Huum... — ela geme, aconchegando-se nos braços fortes e

         quentes do amado.

         — Quero você...! — ele murmura, agarrando  inteiramente o

         corpo dela — Há muito tempo escutei uma música brasileira que

         traduziram a letra pra mim... era assim:

 

         ’Eu quero me enrolar nos teus cabelos

         Abraçar teu corpo inteiro

         Morrer de amor

         De amor me perder...”

 

         — Linda e sugestiva para o momento...! — ela sussurra — Aaahn...!

         — geme de prazer.

         Scully... de repente me veio uma idéia.

         — Qual?

         — Se fizéssemos uma viagem até à Europa...

         — Pra quê, Mulder?

         — Mas que pergunta! Não vê que todos nós precisamos espairecer

um pouco?

Ela o olha surpresa

         Mulder e nosso trabalho?

         — Eu tiro uma licença.

Dana fita o espaço do ambiente por algum tempo.

         — Mas eu não posso.

         — Não...?

         — Com certeza não, Mulder!

         — O que a impede?

         Minhas obrigações e minha consciência, é claro!

         Scully, todos estarão aprovando sua ausência por um tempo. E

todos sabem dos dias sofridos pelos quais você passou.

— Sim, sim, dá pra entender, mas a minha responsabilidade é

maior que tudo.

Ele apenas dá de ombros. Franze os lábios em forma de bico.

Ela encosta-se nele  com ar tranqüilo, para explicar:

         Mulder, além de nossas crianças lindas e saudáveis,

eu lido diariamente com outras  que sofrem os mais variados

problemas de saúde...

         — Eu sei, Scully.

         — ... e isso dói tanto dentro de mim, vê-las presas às camas

         daquele hospital...!

         — Entendo. — ele confirma.

Mulder levanta-se.

         Scully, voltando ao assunto anterior...

         — Que assunto?

         — Os atores.

         — Nossa! Vai falar sobre isso de novo, Mulder?

         —Não! Só quero comentar uma coisa.

Ela levanta-se, por sua vez.

Ele aproxima-se.

         — Como é que ele faz?

         — Ele...? Ele quem?

         — O cara da série, Scully!

         — Como faz o quê?

Ele a segura, aconchegando-a ao seu corpo.

         — Ele beija... assim? — cola os lábios nos dela; acaricia-a com ternura.

         — É assim mesmo, Mulder! — balbucia entre beijos.

         — E aí?

         — Aí... o quê?

         — Prefere ficar vendo o cara do que me sentir?

         — Hum... quem sabe? — ela joga a cabeça para trás, segura pelos braços

              dele e fica com o olhar perdido por alguns instantes.

         Scully... — ele a solta, cismado — o que houve agora?

         — Lembrei de uma coisa, Mulder!

         — Uma coisa...?

         — Sim! — levanta as sobrancelhas e põe um dedo sob os lábios — É isso!

              Eram eles!

         — Não estou te entendendo! Eles quem?

         — Escuta, Mulder, há algum tempo atrás, nós ultrapassamos uma

              dimensão do tempo, na qual encontramos um casal idêntico a nós,

              lembra disso?

         — É, estou lembrando.

         — Então é isso. No meu sonho vieram aqueles dois. São verdadeiramente

nossos clones!

— O sujeito que comandava a equipe para as gravações dos atores nos

confundiu com eles.

— Isso mesmo! Lembra quando, enfim, tudo foi esclarecido, nós

percebemos que os dois atores...

— ... se amavam, Scully!

— Justamente. Amavam-se de verdade!

— Como será que estão agora?

— Ah, Mulder, espero que estejam felizes.

— Qual a fórmula de felicidade pra você?

Ela contrái os lábios e fita, pensativamente, o vazio:

         — A fórmula...? Paz, saúde, prosperidade, harmonia, consciência

         limpa e muito amor ao lado de quem se ama.

Ele a aperta em seus braços, com carinho.

 

´A paz é a maior de todas

as felicidades humanas.´

               Vilante do Ceo