EM SEU TRABALHO
“O pão mais
saboroso, a comodidade
mais grata é a que se ganha com o
próprio suor.”
Cesare Cantú
Capítulo 285
Dana dirige seu carro no trânsito lento. Pára. Anda.
Pára. Anda.
Os outros veículos ao lado levam pessoas estressadas,
inconformadas, com
a lentidão do tráfego, que, para amenizar
seu nervosismo, esmurram o
volante, demonstrando irritação.
Dana sente-se um tanto nervosa, também. Passar horas
com grande
responsabilidade em seu trabalho a deixa em grande
fadiga, correndo
contra o tempo, ansiosa por rever sua família,
chegar em casa e poder
acariciar e estar junto de seus filhos,
aconchegar-se nos braços de Mulder,
conversar com sua mãe, ouvi-la contar as
peripécias das crianças em sua
ausência.
Ela dá um longo suspiro.
* * *
Mulder já havia chegado em
casa. O seu dia-a-dia também é fatigante. É
obrigado a amoldar-se pela força do trabalho que
exerce, aos lances
desgastantes de seus clientes prejudicados
mentalmente por problemas
em suas vidas.
E ele anseia por logo chegar à
casa. É o seu ninho de descanso. Ali pode
readquirir as forças perdidas durante a semana.
* * *
— E então, Scully? Já está
livre?— dá uma risada.
— Sim, Mulder. Tudo já em
seus devidos lugares; inclusive as crianças
já estão na cama.
— William me fez contar a mesma história três vezes,
acredita?
— Qual?
—Aquela da mulher pequenininha, que morava numa casa
pequenininha...
— Ah, já sei. Ele adora essa historinha. – fala rindo— Quando ele
gosta
de uma história é assim. — continua, retirando a colcha de
sobre a cama
e dobrando-a a seguir.
Mulder joga-se na cama; coloca os braços
dobrados sob a nuca, olhando
para o teto:
— É doutora em medicina, leciona na Academia e fez o
bacharelado em
Física... hum... O Paradoxo
dos Gêmeos de Einstein, Uma Nova
Interpretação por Dana Scully,
Tese Final.
Ela, que estivera ocupada em arrumar objetos no armário,
volta-se para
ele:
— Mulder...?
— Oi!
— O que está acontecendo?
— Rememorando.
— Aqueles tempos?
— Não exatamente.
— Como não?
— Estou rememorando a
primeira vez que nos encontramos.
—Ah, sim! Isso eu sei! Mas por quê?
— Não sei bem. Uma crise de nostalgia.
Ela sorri e continua na sua arrumação:
— É, aquelas mordidas de
mosquitos deram o que fazer.
— Sabe, Scully, aí lembro
daquela ocasião em que segurei
o cordão qu
estava no seu pescoço...
— ... e...
— ... sabe, né? Eu quase nem podia tocar em você.
— Ah, que bobagem! E daí?
— Daí, que eu, sutilmente, usava meus dedos para tocar
somente no que me era permitido.
Ela dá uma divertida risada:
— Mas continuando...?
— O que eu falei pra você? É capaz de lembrar?
— Ah não, Mulder!
— Claro que em nossas investigações você sempre
concorda
comigo, Scully.
—Nossa! Como consegue lembrar?
— Memória fotográfica, Scully.
— Hum...
Mulder vira para o lado. A mão sob a face,
contra o colchão:
— E aquele telefonema odioso?
— O quê? Do que está falando?
—Quem era no telefone? — ele começa a falar,
relembrando:
Um cara... — faz voz esganiçada e continua em forma de
monólogo.
Hum... um cara! — fala com
sua própria voz — O mesmo
que jantou ontem com você?
Ele mesmo. — novamente a voz de falsete.
Vai jantar com ele de novo? – repete a sua própria
voz.
Acho que não. —novamente a voz gasguita.
Não interessa?
Por enquanto não. — repete a falsa voz de mulher.
Dana posiciona-se de braços cruzados, um sorriso de ironia
nos lábios.
— Mas era só o que faltava! Agora você anda relembrando
coisas de dez anos atrás?
— Muito divertido! – ele dá uma risada. — E você ficou
Irritada, mas quando perguntei o que ia fazer você...
— ... falei que ia
com você na tal investigação.
— E depois? Lembra?
— Depois... não sei...
—Ah! Ah!Você disse que se eu continuasse com aquelas
palavras você ia me machucar, que nem a mulher
fera que
tinha nos bosques de Atlantic
City.
— Bobo que você é! — ela atira-se sobre ele, que a agarra
com sofreguidão.
— Olha, não fica lembrando coisas não, porque
você
ambém teve suas
bobeiras amorosas.
— Eu?
— Eu? — ela o imita com falsa voz.
—O que foi que eu fiz?
— Aquela babaca que ficou
agarrada que nem um
carrapato a você e o beijou só pra que eu pudesse
ver a
tocante cena!!
— Você está falando de...?
— Phoebe Green,
aquela bobona!
Ele a agarra com mais força, rindo-se, divertido. Morde-lhe
a ponta da orelha.
— Ai, pára! – ela queixa-se rindo, mas deixando que
ele a
acaricie no seu modo brincalhão.
“O riso é o melhor tônico do mundo”
Lady Maud Warrander