SENTIMENTOS E EXPERIÊNCIA

 

Nossa experiência é feita mais de ilusões

perdidas, que de sabedoria adquirida.

J. Roux

 

Capítulo 287

 

Dana, absorvida pela fase propícia do momento, queda-se pensativa

olhando o mar. De longe ela pode ouvir o barulho das águas. O

silêncio lhe favorece esses minutos de descontração quando pode deixar

os pensamentos atravessaram as terras, os mares e irem até onde está

seu coração.

Súbito sente um calafrio que lhe percorre o corpo, deixando-a entregue

ao medo. Volta-se rápida.

— Jesus, Mulder!

— Assustou-se, Scully?

— Não esperava você voltar neste exato momento!

— Você estava tão pensativa! Já sei porquê.

— Sabe...?

— Saudade das crianças.

Ela faz um gesto de aquiescência:

—É verdade. Estava pensando nelas.

— Elas estão bem, Scully.

— Claro que sei disso Além da ótima babá que têm minha mãe

monitora tudo que se passa.

— E isso é importante.

Mulder coloca sobre a mesa os pacotes que tem em mãos.

Dana chega-se a ele:

— E então? O que trouxe de bom aí pra nós?

— Dá uma espiada.

Ela mexe nos pacotes:

— Hum... barrinhas de cereais, yogurte...!

— Para amenizar nossa vida e abrandar um pouco os ânimos...

- diz, suspirando.

Dana o olha, indagativamente, à espera de que ele se explique

melhor.

— Por que foi aquilo? – ele lança a pergunta, de chofre.

— Aquilo o quê? Do que está falando, Mulder?

— Aquela sua reação... – fita-a, com doçura - ... me fazendo

entender que queria uma separação?!

Mulder...! Por que não esquece isso?

— Porque você começou, Scully!

Ela caminha um pouco irritada, ajeitando com mãos nervosas

a gola do robe de cetim com que está vestida:

— Não sei porque você faz questão de lembrar isso...! Eu estava

apavorada!

— Apavorada...?! Pelo contrário! Você deveria entender que

tinha me jogado naquela enrascada.

— Eu sei, eu sei disso! Mas eu me redimi, confessando o meu erro!

Mulder  fecha os olhos e morde os lábios:           

Scully, eu entendo... “quando se está amando, todos os

sentimentos parecem mais aguçados. O apaixonado vê e sente

tudo que o cerca com maior intensidade; o amado é maravilhoso

e único; com o tempo descobre que aquele seu ídolo tem pés de

barro. Quando então começa a ver não só as qualidades do

amante, mas também as imperfeições, reconhecendo-as e aceitando-

as como faz com as suas próprias; isso significa que está superando

a fase puramente romântica para deixar que o amor se transforme

em algo mais duradouro, um relacionament6o com base na

compreensão mútua e troca de sentimentos e experiência.”

Dana, que levantara as sobrancelhas, fazendo ressaltar o olhar

até o final  das palavras dele, solta um profundo suspiro:

— Que lição! Aindabem que a aprendi...!

— Eu estava fazendo uma descrição de mim próprio, Scully.

Mulder, então você acha que eu...?

— ... não, não se preocupe;  eu não acho nada.

— Você não quer me entender!

— Sim, quero! E como, Scully! Mas a vida ocasiona transtornos:

quem espera manter para sempre o estado de êxtase no amor

acaba vendo-se obrigado a criar uma série de circunstâncias

que, com o passar do tempo e o convívio, vão se tornando

artificiais. O casal passa a “provocar” freqüentes separações,

consciente ou inconscientemente, afim de conhecer, mais uma

vez, as emoções fortes das reconciliações.”

— Bem decorada sua análise... mas Mulder, não quero que

 continue.

— Lhe fez mal ouvir isso?A verdade dói?

Mulder, pára! — os olhos se enchem de lágrimas — Eu me

apaixonei por você naquela época, mas ainda continuo

apaixonada! São quinze anos de puro amor. Embora eu não

o demonstre muitas vezes os meus verdadeiros sentimentos,

no meu íntimo todo o meu ser só deseja e precisa de você,

Mulder...!

Ele aproxima-se e a aperta contra si:

Sei, Scully, sinto isso... me perdoa... estou a fim de fazer

análises de nossos sentimentos, mas podemos esquecer isso,

porque na verdade nós  nos amamos. É isso que importa. O

resto não conta.

Agora ela está chorando:

—Eu te amo, Mulder! Não posso viver sem você! Creia em

mim!

— Vamos ficar fora dessa escuridão que está querendo nos

envolver e viver nossa vida em plena luz... a luz desse amor

duradouro.

— Para sempre, enquanto Deus nos permitir viver.

 

O homem crê com facilidade

no que teme e no que deseja.”

Bacon