TENTANDO EQUILIBRAR SUAS EMOÇÕES

 

“Somente as pessoas superficiais

necessitam anos para livrarem-se

de uma emoção.”

Oscar Wilde

 

Capítulo 288

 

Os raios de prata da lua ondulam sobre as águas calmas do mar.

Vez em quando um pássaro noturno cruza o céu, soltando no ar o

seu grito, que é como um lamento. As estrelas no céu piscam

continuamente, sem ter nuvens que lhe tolham a beleza cintilante.

Mulder, deitado na espreguiçadeira, deixa-se enlevar pela beleza do

lugar. Suspira profundamente, enchendo os pulmões com o ar

puro da noite. Seus pensamentos divaguem pelos dias passados

recentemente.

Caso complicado...!— pensa — afinal de contas eu tinha mesmo

que me envolver e segundo minhas crenças ajudar a desvendar

aquela trama infeliz... e a Scully não sabia bem o que queria ...

talvez estivesse cansada de me ver frustrado, sem um objetivo na

vida. Minha mulher me pareceu um tanto intolerante comigo.

Estávamos vivendo em paz há seis anos! De repente pode

acontecer mesmo uma coisa assim: ela pode cansar-se de viver ao

meu lado...!  — passa a mão no rosto — Ah, não estou delirando

.... estou mesmo ´sentindo falta dos trabalhos arriscados no FBI,

isso sim! Aliás isso sempre foi o que eu senti durante todo esse tempo.

E o FBI me perdoou e me aceitaria de volta... e será que daria certo?

E Scully...?Eu iria contrariá-la? O velho amigo Skinner... depois

de tanto tempo encontrá-lo foi ótimo!

Essa cadeia de pensamentos transborda no cérebro de Mulder,

fazendo-o sentir-se agitado e ansioso.

* * * 

Dana prepara coisas na cozinha. O telefone celular toca. Ela o pega

em cima de uma mesa. Fala por minutos e resolve sentar-se para

atender mais confortavelmente, tendo no seu semblante tranqüilo

um leve sorriso.

Mulder voltara da varanda onde estivera.

Repara que sua mulher está feliz.  É o que demonstra suas feições.

E ela continua conversando no celular.

Mulder coloca café numa caneca de louça. Beberica aos poucos a

fumegante bebida.

Por fim Dana desliga o aparelho. Volta-se para Mulder.

— Você está feliz, Scully.

— E como, Mulder!

— O que houve de bom?

— As crianças, Mulder. Charles as levou para a casa dele.

Mulder coloca os braços para trás, forçando as costas no encosto

da cadeira.

Dana, ao ver a caneca ainda nas mãos dele, apressa-se em retirá-la

dali, com um jeito de desaprovação no olhar.

— Isso até nos deixa feliz, hein Scully?

— É claro!

— E quanto tempo eles vão ficar lá?

— Durante todo o período das férias.

Ótimo.Assim eles não sentirão tanta saudade da mamãe...! — ri.

— E do papai também. — ela aproxima-se e abraça-o mesmo

ainda sentado.

Ele levanta-se.

Ela o puxa pela mão.

— Vem, vamos jantar agora.

 

  * **

Dana assiste a tv. A tela mostra um programa sobre notícia de gente

famosa. Ela presta atenção no que está sendo mostrado.

Mulder está deitado no sofá com a cabeça apoiada no colo dela.

Dana continua acompanhando o que se passa na tela. Sente então

que Mulder mexe a cabeça, pois estivera dormindo até então.

Mulder, não acredito!

Ahn... — exclama, meio sonolento.

— Acabei de ver uma notícia incrível!

Ele continua deitado:

— Sei, os alienígenas vão retornar e nos levar com eles.

Pára, Mulder! Olha, é sério!

— E o que é?

— Sabe o ator daquela série que eu gosto de ver ? Aquele que

parece muito com você?

Mulder coloca a mão nos olhos:

— Ah, o cara galinhão! Olha, não tem nada a ver comigo!

— Fala sério, Mulder! Independente do que ele seja na tela ou

o que for, sabe o que aconteceu?

— Quando você me disser...!

— Ele está internado.

— É mesmo? Muito mal?

— Compulsão sexual.

— O quê?!— tira a mão dos olhos — O que você falou?

— O que você ouviu. Nossa! Mas que situação estranha!

— Estranha por quê? Qualquer ser humano pode ter isso.

—Não brinca! Até você poderia sofrer disso?

— Com certeza. E você também.

— Mas Mulder, isso é uma loucura! Que situação triste a

dele! Tem que sair por aí pegando tudo quanto é mulher?!

— E pode ocorrer diferente, Scully.

— Por que fala isso?

— Porque ele pode estar sofrendo mesmo é uma grande

frustração.

— Você está querendo dizer que isso é um mal psicológico?

— Sim, pode ser.

— Como assim?

— O sujeito pode estar sofrendo uma tremenda decepção

amorosa.

— Mas ele é casado! Tem família!

— Isso não o impede de estar passando por um caso de

amor não resolvido.

— Ah, é?Ama outra pessoa, no caso.

— Exato.

—Hum, sei...

— Ele pode estar tentando equilibrar suas emoções

internando-se  na clínica. Pode amar verdadeiramente

alguém que também o ama ou não e luta contra esse

sentimento. E procura saciar-se transando com várias

mulheres para dar vazão às suas ansiedades amorosas.

E na certa tem casos com mulheres, mas com elas não

encontra satisfação sexual.

— E isso o deixa frustrado. E depressivo.

— É isso aí.

—Não tem nada a ver com o físico?

— Na verdade não.

— Muito estranho...!

— Estranho não. Porque ele usa o o físico para satisfazer

seu mal psíquico.

Dana suspira profundamente, com ar penalizado.

— Nossa! Quem será essa mulher...?

— Você.

Ela voltar o olhar para ele, rapidamente:

— O que você disse?

— Brincadeirinha, Scully! Imagine você se eu sei do tal

sujeito enamorado pelos seus cabelos, seus olhos... — ele

a acaricia, segurando, mansamente, sua ruiva e vasta

cabeleira — E aí aconteceria uma tragédia se eu soubesse

disso.

— Por que diz isso? — ela ri.

— Eu o mataria!

Dana joga a cabeça para trás, dando uma risada:

— Ah, Agente Mulder agora pensa em matar inocentes!

E pensa que eu o deixaria fazer isso? — ela cruza os braços

desafiadora.

Mulder afasta-se dela:

— Esquece que você está vidrada naquele cara, desde que

começou a ver a série? — fala convicto.

— Eu...? Vidrada...? Imagine se vou perder tempo...

— ... sendo vidrada por alguém, não é... ?Até por mim

mesmo...!

— O que está querendo insinuar?

Ele a fita intensamente.

Mulder, eu não quero acreditar! Outra vez?! — afasta-se,

exasperada.

Ele corre na direção dela:

Desculpa, Scully. Perdão.

—Sinceramente, Mulder, como pode ser tão implicante

comigo?

— Perdão, Scully. — ele lhe beija as duas mãos — Perdão.

É que isso ficou gravado no meu cérebro.

Ela o abraça com todo ardor.

Mulder, por favor, nunca mais fale sobre esse assunto.

Por favor... por favor! Não lembra mais aquelas minhas

palavras impensadas.

Ele a segura pelos ombros e a fita demoradamente. Sem

nada falar.

O azul-céu dos olhos dela parece nadar no mar das lágrimas

que brotam  instantâneamente.

Mulder a aperta contra si. No abraço dele o carinho e a

ternura que são transmitidos para Dana, que nele se aninha.

 

“As lágrimas são a palavra da

alma, a voz do sentimento.”

Pananti