IMPEDIDA DE FALAR
“Para dizer a
palavra certa no momento
oportuno, fale o menos possível.”
John W. Raper
Capítulo 289
— Scully...?
Nenhuma resposta ele ouve.
— Vem cá! — insiste.
— Já vou! Espera só um pouco!
— Tá.
Alguns minutos depois:
— Sculleeeeey,..?
— Ahn...?
— E aí ...?
— Aí o quê ...?
— Estou te esperando!
— Só mais dois segundos.
— Scully!
— Fala!
— Preciso de você aqui.
— Já vou!
— Não dá pra vir agora?
— Só um minuto.
— Puxa, Scully...
vem logo!
— Ta com pressa?
— E como!
— Huuuum...!
Mais minutos se passam.
— Mulder!
Não obtém resposta.
— Mulder!!
— O quê?
— Tá acordado?
— O que você acha?
— Não precisa ser grosso!
— Ah! Ah! Bem que você gosta; confessa.
Ela nada responde. Apenas sorri levemente.
— Ei! Não fala nada? — pausa — Ah, é? Então tá.
— Tá o quê?
— Combinado.
— Combinado...?!
— É.
— Mas do que está falando?
— Do que combinamos.
— Eu não combinei nada!
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Então faz uma coisa.
— Pode falar.
— Amanhã a gente se fala.
— O quê...?! Mulder...?
Não ouve resposta.
Dana mais rapidamente faz a limpeza da pele do rosto.
Com movimentos
leves e ascendentes ela passa o creme de
limpeza na pele clara.
— Mulder!!
— O queeeeê?
— Está tão sonolento assim?
— Estou cansado, Scully!
— Quem mandou correr tanto na praia?
— Há muito tempo eu não fazia isso.
— Tá; entendo.
Dana agora lava o rosto. Seca-o na toalha, sem
esfregá-lo. Pega o frasco da
loção tônica para dar o acabamento à limpeza
da pele do rosto.
Repentinamente vê o rosto de Mulder
refletido no espelho.
— Ah, é isso que você está fazendo. Agora entendo. —
ele fala.
— Pois é, Mulder, eu sempre
cuido da minha pele longe de você. Lembra
quando lá naquela cidade onde estivemos, ao me ver com o
rosto cheio
de creme, você quase teve um troço?
— Pensei que fosse um fantasma.
Ela dá um tapinha no peito
dele.
— Eu estava tão feia assim?
— Não. Apenas amedrontante.
— Pára, Mulder!
Ele a prende nos braços:
— Vamos lá, Scully. Acaba
logo com esse seu ritual diário.
— Tã, se você soltar meus
braços, eu garanto.
Ele a solta.
Ela volta a se mirar no espelho e continua a passar a
loção na pele.
Ele a observa, também olhando-se
no espelho, passando a mão no
queixo.
— Vou deixar a barba crescer novamente.
— O quê?! Não vai mesmo!
— Ta querendo dizer o que devo fazer?
— Claro!
— Não era isso que você diria naquele tempo.
— Que tempo?
— Não lembra?
— Se você me disser, até prometo pensar.
— Quando eu fugi pra me defender dos super soldados.
— Sim... e daí? — desliza os
dedos com o creme nutritivo na pele.
— Daí que você falava que gostava da barba que eu
estava usando.
Ela revira os olhos, sentindo-se desconfortável. Nada
fala.
Mulde aproxima mais o rosto do dela.
Dana sente a respiração dele em seu pescoço.
— Você gostava da minha barba. Agora diz que ela
arranha...!
— Mulder...
Ele a impede de falar, colocando os dedos em sua boca.
— Sim, é isso. Agora tudo é diferente. Você já não
sente o mesmo por
mim, Scully. O
tempo passou, o vento levou aquele sentimento.
Ela arranca a mão dele que lhe tapa a boca. E num
gesto rápido
apodera-se daqueles lábios que lhe dizem coisas
não verdadeiras.
Cola sua boca na dele, impedindo-o de pronunciar mais alguma
palavra.
Pega-lhe a mão fazendo com que ela toque em seus
seios. Precisa
senti-lo. Precisa sentir todo o ardor que
emana de seu corpo
másculo. Precisa fazê-lo sentir que também ela
o deseja. A todo
momento. Como algo que é imprescindível para o
seu viver.
Precisa fazê-lo parar de citar as palavras negativas
que ela lhe
dissera naquele dia, antes de chegarem a essa
ilha, na qual podem
gozar toda a felicidade de que dispõe neste
momento.
Pelo menos alguns dias de felicidade e paz.
“Viver é
saber rir quando
a fatalidade nos ataca.”
La Fontaine