ANÁLISE NUA E CRUA
“Analisa bem quem é o teu amigo,
porque
se
o consideras como tal e ele não é,
pode
ser o teu maior inimigo.”
Diógenes
Capítulo 294
Mulder sai do banheiro se sentindo
grandemente restabelecido. Afinal,
após uma corrida pela orla da praia, o
cansaço e a vontade de relaxar
o deixam pronto a um grande descanso.
— Scully!
— ele chama.
Não ouve resposta.
— Ei!
Estou te esperando! — ele chama novamente, jogando-se com
toda força sobre a cama.
Alguns minutos se
passam enquanto aguarda.
— Sculleeey!!
— repete o chamado.
Levanta-se
rapidamente. Num segundo segue na direção da porta do
quarto. Um semblante de apreensão aparece
em seu rosto. E, num
repente, o impacto de um encontro o tira de
sua preocupação.
O ruído de cacos de vidro
tamborilando no piso despertam-no de sua
cisma.
— Oh, meu Deus! Mulder!!
Dana reclama, vendo o
copo alto esfarelar-se no chão.
— Nossa! Desculpa, Scully.
— Mas que encontrão! E
que desastre. O que aconteceu, Mulder? O
que deu em você?
— Ahn...
não sei...!
— Parece que estava
angustiado! — ela abaixa-se para apanhar os
cacos de vidro no piso, enquanto
equilibra a bandeja que tem na
outra mão.
Mulder segura os utensílios,tirando
as vasilhas da mão dela.
— Eu realmente fiquei
assustado, Scully.
— Com o quê?
— Eu a chamei várias vezes e você não respondeu. Então eu...
— ... achou que
eu tinha sido seqüestrada! — diz, com ar de ironia.
Mulder morde os lábios, chateado. Coloca a
bandeja numa
mesinha próxima. Dirige-se até a cama e
deita-se novamente.
Dana vai até o
interior da pousada e retorna.
— Passou a cisma, Mulder? Pode relaxar um pouco agora?
— Acho que sim. —
confirma, acionando o controle remoto da tv,
ligando-a.
Dana serve num copo o
suco que trouxe na bandeja.
— Agora vou te cobrar
o que começou e não concluiu.
— Aaah...
— ele movimenta o dedo indicador no ar — ... a análise
do seu corpo
— Isso.
Ele lança um demorado
e concentrado olhar sobre sua amada.
Ela sorri:
— Credo, Mulder! Estou sendo completamente despida por esse
seu olhar guloso! — faz uma pausa — Mulder... ahn...
no que
se baseia esse estudo sobre as
características do corpo como
você já me falou?
— Bem, a linguagem
corporal é uma técnica que analisa de que
forma sua mente projeta na silhueta
características de como você
encara o mundo à sua volta. São
conhecimentos da medicina
oriental, que acredita na força das emoções,
na medicina
psicossomática, que mostra como a mente
desencadeia
algumas doenças e neurolinguística,
técnica que pesquisa
a influência da linguagem sobre o
cérebro e o comportamento.
— Tá,
tá explicado. Agora começa, então.
Os olhos miúdos e
apertados de Mulder a fitam:
—O seu nariz, assim
curvo, apontado para baixo, revela que
você é uma pessoa egocêntrica e
prepotente, que deseja e age
para ser o centro das atenções.
Ela passa a mão sobre
o nariz, com ar surpreso:
— Eu... sou isso...? Ah, Mulder...!
— Vai me deixar
continuar?
Dana forma os lábios num bico e franze o
cenho; cala-se.
— Dentes... seus dentes são — ele lhe segura o queixo, puxando
o lábio inferior, para poder ver
melhor — certinhos, alinhados,
significa que você tem uma meta na vida.
— Taí,
gostei! — se senta na cama para acompanhar a
descrição.
— Chega aqui mais
perto... — diz ele — ... seu
queixo... hum...
vejamos... projetado
para a frente mostra que você é destemida,
impulsiva e às vezes até violenta. — ela abre
os lábios para falar
e ele a impede com a mão — Fala tudo
o que lhe vem à cabeça,
não leva desaforo pra casa...
— ... certo!
Certíssimo! Gostei, Mulder.
— passa a vista por seu
próprio corpo — Agora o que mais?
— Seus ombros. São
largos e de pessoas que têm coragem
para enfrentar as adversidades da vida.
— E como tenho, você sabe!
— Não me desconcentre!
— ele pede, com ar sério.
Ela anui com um sinal
de cabeça.
— Certo, lindinha,
deixa ver... você é uma mulher yang.
— Sim...?
— Você é muitas vezes
autoritária e egoísta com dificuldade de
aceitar o poder ou comando de outro e
repudia a idéia de ficar
presa a alguém ou a alguma situação...
— ...
ei!! — interrompe.
Mulder fecha os olhos:
— Se não quiser,
lindinha, eu não continuo.
— Mas é que...
— Se estou analisando
assim é porque você tem mamas
pequenas. É isso. É o que demonstra o seu
corpo.
— Mas por que tem que
me falar isso, Mulder? Eu não...
— Não prossiga com sua
questão. Quer a
análise nua e crua
ou não?
Dana levanta as
sobrancelhas e prende os lábios. Suspira fundo.
— Continuando... posso...? — ele pergunta.
— Claro.
Ele a vasculha com o olhar
— Sua cintura é fina, sinal
de que você tem flexibilidade e
facilidade para enfrentar e
lidar com diferentes situações.
— Correto. — confirma
baixinho.
— Tudo legal com você,
Scully. Não carrega sentimentos
mal resolvidos, frustrações,
descontentamento, críticas ou
revoltas, porque sua barriga não tem
gordurinhas. — diz ele,
deslizando a mão na cintura dela.
— Muito bom! Sou assim
mesmo! — exclama — Vamos; o que
mais?
— Ah, interessou-se não é? Ok. Seus quadris revelam que
você é segura de si, ousada e não teme
lutar por seus objetivos.
— Completa verdade.
Mas por que eles demonstram isso?
— Porque são
estreitos.
— Aaaah...!
Mulder achega-se a ela e passa a mão sobre
os músculos dos
glúteos.
— Você vai me analisar
ou ...?
— Calma,
lindinha... é pra dizer que você tem um bumbum
arrumadinho. Estes músculos
representam o poder de tomar
decisões e de ter coragem e determinação
para caminhar
sobre as próprias pernas, sem depender
emocional ou
financeiramente de ninguém.
— Oooooh,
chocante! Mas sou assim.
Agora ele passa os
dedos por sobre as pernas dela:
— Scully,
você não tem hesitação e medo de errar em nada.
Suas pernas mostram
uma panturrilha que revela que
você é ativa, auto competente,
batalhadora e esforçada; faz o
que for preciso para atingir seus ideais.
Nesse ponto Mulder joga-se de costas na cama:
— Aaaaah!
Cansei!
— Já acabou? É só
isso?
—Tem muito mais! Muito
mais, Scully! Sabe aquela famosa
frase: “ Um gesto diz mais que mil palavras”? Esse estudo
também é muito importante.
— Qual a importância
dele?
— É que a linguagem
não verbal é um poderoso
instrumento que pode atuar contra ou a seu
favor.
— Hum... legal. Então vamos lá.
— Não, agora não.
Quero descansar.
— Ah, é? Então não me
quer nem aqui perto?
Ele dá uma risada e a
puxa para si:
— É claro que isso eu
não dispenso.
— Espera um instante.
Vamos tomar um suco natural de uva.
Faz muito bem.
— Com certeza; antes e...
depois.
Mulder observa enquanto Dana prepara os
copos altos com
o suco.
Ela aproxima-se de
volta com os copos. Senta-se na beira
da cama enquanto ele, de joelhos chega
para perto dela.
Dana lhe entrega o
copo.
Ele beberica o conteúdo, provando seu sabor:
— Delícia...!
— Tá
bom?
— Acho que sim.
— Como... acha...?!
— Porque de um minuto
pra outro pode mudar de gosto.
— Ora, não entendi...!
Ele a segura pelo
queixo:
— Você não está
entendendo o meu apelo...!
Ela dá uma risada,
jogando a cabeça para trás:
— Eu te entendo, Mulder, só que...
— ... fica
fazendo que não sabe o que quero...!
Ela, de lábios
entreabertos e olhar fixo no dele prova o suco
de uva.
— Huuum...
delícia...! Tanto quanto...
— ... meu beijo.
— É...! — ela
sussurra, colocando o copo que segura no
chão e joga-se sobre o seu amado, que a
prende em seus
braços e sorve com avidez o gosto da boca
da mulher que ama.
E o beijo trocado
entre ambos faz
com que a mão dele seja
esquecida, deixando cair sobre a colcha da
cama o líquido
vermelho arroxeado do puro suco de uva.
“É mais necessário estudar
os
homens que os livros.”
Sêneca