OS PENSAMENTOS O ATACAM

 

“Como o pensamento é  grande

pela sua natureza! Como  ele

é  vil pelos seus defeitos!

Pascal

 

Capítulo 296

 

Dana olha o relógio de pulso.

0.25h

“Meu Deus! Já está passando da meia-noite! Mulder não veio

até agora. E eu preciso dele! Eu o quero! Ele é a minha própria vida!”

 

* * *

Mulder. Sentado na areia da praia, observa o movimento ritmado das

ondas e seu rumor incansável.

`Por que Scully está agindo assim? O que aconteceu? E qual o motivo

de não me contar o que aconteceu com ela?”

Ele passa a mão nervosa pelos cabelos que a brisa do mar teima

em  torná-los revoltos.

“Devo voltar agora... ou não? Qual será a reação dela? Qual...?”

Novamente os pensamentos o atacam, desejando resolver o que

fazer. Levanta-se. Sacode um pouco a roupa repleta de grãos da branca

areia.

Scully é o meu amor; a única mulher que realmente me fez ver o lado

bom que pode trazer o amor e o relacionamento de homem e mulher...

a minha Dana...!”

Suspira. Olha para distante; as diminutas luzes das casas e pequenos

 prédios que estão no entorno da ilha.

Lá ao longe certamente estará sua amada numa daquelas pousadas

confortáveis e discretas.

Mulder aperta os lábios. Sacode raivosamente um dos braços; está

resolvido a retornar, seja qual for a reação da mulher que ama.

* * *

Dana em pé junto às vidraças da janela, olha para fora, buscando

enxergar algo que a faça identificar Mulder.

“Ah, meu Deus, ele tem  que voltar! Eu não vou agüentar ficar sem

ele!! — as lágrimas rolam grossas por sobre a face sofrida — E os

nossos filhos? Eles precisam do pai! E eu preciso dele! Mais do que

nunca! Por que ele teve que sair? Quer me deixar? E o nosso amor?

Será que pra ele não tem valor nenhum?“

Com a visão nadando nas quentes lágrimas que teimam em sair, ela

divisa o carro que se aproxima da pousada. Minutos depois a porta é

aberta.

Mulder entra. Lentamente puxa o fechecler do casaco que veste. Logo

seu olhar volta-se para Dana.

Ela está, ainda, junto à janela.

Scully... — chama docemente.

Ela movimenta o corpo, voltando-se para o lado contrário, de modo

que Mulder não possa vê-la com os olhos molhados de pranto.

— Está melhor? — ele pergunta.

— Melhor...?! — ela repete, numa voz irônica — Eu não estava

doente! — responde, sem olhá-lo.

Ele faz um bico com os lábios; coloca a mão cobrindo os olhos,

descendo-a até o queixo.

Dana, em passos apressados, caminha em direção do quarto de dormir.

Scully, espera! Chega aqui!

— O que quer? — fala sem voltar-se.

— Exijo uma explicação!

Dana fecha os olhos. No seu semblante um rubor de irritação invade

sua pele alva.

— Ai, Mulder! Você voltou pra me  martirizar?

— O quê?! Te martirizar? — ele a alcança e a segura pelos ombros com

força.

— Pára com isso, Scully! Não agüento mais isso! O que está havendo?

— ele a faz voltar-se para ele —  Olha pra mim! Olha pra mim!

Enfim, diante da teimosia dele, os olhos dela dirigem-se para os dele

por questão de segundos. Logo distancia o olhar para longe dele.

— Por favor, me solta, Mulder!

— O seu olhar, Scully... pede ajuda...! Não! Não te deixo, sem antes

ter uma explicação! Chega dessa coisa idiota!

Ei!! Está me chamando de quê?! — movimenta o corpo e se solta das

mãos dele.

Mulder desiste. Não vai insistir mais. Larga-a.

Scully, eu vou embora... — anuncia, com voz torturada pela emoção

— ... se é isso que você quer.

— Você é quem sabe.

Scully!! Não estou acreditando no que estou ouvindo!! — reclama,

ainda com voz torturada.

— É... isso tinha que acontecer qualquer dia. — ela diz em voz decidida,

enquanto apanha uma peça de roupa caída no chão.

— E nossas crianças, Scully? Esqueceu? O que vão pensar?

Mulder, metade da raça humana passa por problemas semelhantes.

Ele anda de um lado para o outro:

Fiquei distante várias horas pra te dar tempo de pensar nas coisas

absurdas que me falou... imaginei que esse espaço de tempo te fizesse

pensar que as duras palavras que me disse não tinham o menor sentido!

Mas não! Você está firme no seu propósito, desde meses atrás! Eu, é

que como um imbecil, imaginei que seria um problema de estresse,

pelo seu intenso trabalho no hospital! — aproxima-se dela — Scully,

nós nos amamos! Nossa amizade transformou-se em amor incondicional,

Scully! Não pode ser verdade o que estou vendo diante de mim essa

sua frieza e decisão! Nós lutamos contra tudo e todos, Scully!

Conseguimos ultrapassar muitas barreiras...!

Dana colocara as mãos tapando os ouvidos e fechara os olhos, num ar

de extrema impaciência.

Mulder insiste mais uma vez, aproximando-se da amada. Toma-a

nos braços. Rosto quase colado ao dela.

— Me fala agora, Scully! Você não me quer mais? É isso?

Por alguns segundos ela nada fala. Está de olhos fechados; lábios

contraídos; respirando rápido.

— Olha pra mim, Scully! Olha pra mim!

— Me deixa, Mulder! Me solta!

— Então deixa que eu veja teus olhos! Eu vejo apelo neles! Um pedido

de socorro! Eu sei! Deixa,  Scully!!

Ela não atende o pedido dele.

Mulder a solta, então, enraivecido.

— Muito bem. Já respondeu o que quero saber.

Num gesto brusco, pega novamente o fechecler do casaco que havia

aberto e puxa-o com pressa.

— Talvez nos encontremos algum dia. — fala em voz baixa.

Com passos rápidos sai dali.

 

“Os olhos não  enganam nunca,

mesmo quando  procuram enganar.”

Madame de Gomery