POR QUÊ, MEU DEUS?
“Deus
deu a vida para
cada um cuidar da sua.”
Capítulo 297
“Nãaaaaaaaaao!!
Não vai embora!! Não me deixa!!Você é o meu
amor!! Que vou fazer da minha vida sem você, Mulder?
Oh, meu
Deus! Me ajuda, Senhor!!”!
Em prantos Dana deixa-se cair sobre
uma poltrona. Sofrida.
Angustiada.
“Por que ele teve que
me deixar? Por que? Por que? O que
eu fiz pra esse sofrimento, meu Deus?
Nós estávamos muito
bem com nosso amor...! Então por
quê...??” — continuando os
lamentos em sua
mente, Dana deixa-se ficar inerte, de olhar
fixo no espaço. Mesmo
angustiada nos pensamentos, percebe
que se desejar
pronunciar palavras, essas não sairão de sua boca.
E não entende o porquê.
Dirige-se para o
quarto. Joga-se na cama, sentindo-se
completamente desolada. Ali deitada vê que as
horas passam,
demoradas. Sente que o coração está acelerado. Ela
sente-se mal.
Em sua mente vem o sofrimento dos filhos que
irão sentir a falta
do pai amado na
família.
“Por
que? Por que ele foi embora? Por que não pude impedi-lo?
— ela soluça — Mulder...
eu te amo! Não me deixa...! Mulder...!”
* * *
Mulder caminha. Seus passos pesados tocam
a pista asfaltada
que, aos poucos, vai
recebendo os primeiros raios do sol que
timidamente vai
surgindo no horizonte onde o movimento das
águas num som
murmurante mostra o poder grandioso da natureza.
O ex-agente mostra no
semblante um ar de decisão.
“Por que não? Por que não procurar descobrir o
que está
acontecendo com Scully?
— ele reflete em seus pensamentos
— Preciso tirar a limpo o que, na verdade está
se passando com ela.
— olha fixo o chão e pára de caminhar,
refletindo sobre seu drama
íntimo — Nós tivemos um lindo tempo de
grande amor e agora...!
— seus olhos enchem-se
de lágrimas.
E com passos decididos
resolver ir, nesse começo de um novo
dia, tentar entrar em
entendimento com a mulher que ama e a mãe
de seus filhos.
* * *
O ar abatido na
fisionomia de Dana a torna uma mulher de pouco
desejo de se
movimentar, de sair do marasmo no qual se encontra.
Deixa-se ficar jogada na cama; deitada de
lado, a face contra o
travesseiro; a mente trabalhando sem cessar.
Passara a noite
inteira divagando, os olhos abertos na escuridão
do quarto. Em pranto. Em sua
devastadora tristeza. Tudo está
destroçado à sua
volta. Na sua vida. O sonho acabou.
Só lhe resta a
sobrevivência fria de emoções e a do trabalho.
Resta-lhe apenas o amor dos filhos. Só isso.
Nada mais.
O súbito som da
campainha da porta a tira de seu estado de
concentração.
“Meu Deus, ele voltou!
O meu amado Mulder!” — pensa, com o
coração pulsando mais forte.
Rapidamente
levanta-se. Passa as mãos pelo corpo, ajeitando
a roupa que não
tirara desde a noite anterior; arruma com os
dedos os longos e ruivos cabelos.
Dirige-se para a porta.
— Bom dia!
A voz, em tom animado,
a saúda alegremente.
Dana, atônita,
tentando acreditar no que está diante de si, arregala
os olhos:
— Você?!
— Pois é, doutora Scully, desculpe vir
aqui tão cedo, mas é
que tenho uma
tremenda necessidade de lhe falar.
— Me falar... o quê?
Ele faz um gesto com a
mão, mostrando que deseja entrar:
— Desculpe-me... posso...?
Dana, um tanto indecisa, concorda,
dando-lhe espaço para passar.
— Doutora Scully, eu preciso que me diga como obter o remédio
que preciso.
— Remédio...? Que
precisa...?
— É
... eu preciso lhe explicar uma coisa.
— Ahn...
explicar uma coisa ... — ela repete sempre, como um
autômato.
— Isso! — ele dá uma
volta no ambiente — Não vai me convidar
para sentar um pouco?
— Ah, sim... sente-se.
O homem senta-se no
sofá, acomodando-se, relaxadamente.
— Bem, é assim... eu tenho continuado com os sintomas de
fraqueza muscular.
— O senhor tem que
fazer exames para detectar se há um tumor
no seu timo.
— Meu... o quê?!
— É uma glândula
situada na parte superior do peito, senhor
Burton.
— Aaah...
entendi! E essa glândula se localiza precisamente
onde? Junto do meu estômago? É isso?
— Ela está localizada
entre os dois pulmões, atrás do esterno,
à frente do coração e
grandes vasos. Caso haja o que imagino,
isto é, um tumor, terá que fazer uso da prostigmina injetável ou via oral.
— Bem, doutora Scully, você tem que me dar uma receita para isso.
— Não posso, Senhor Burton.
— Como não pode?!
— Não estou no meu
local de trabalho. E além do mais...
— Além do
mais...? — quer saber.
— Minha especialidade
é a pediatria.
O homem dá alguns
passos para trás. E retorna, falando com
firmeza na voz:
— Você é minha médica!
Ela nada responde.
Apenas o olha, fixamente.
Ele a fita, com
insistência:
— Doutora Scully, tudo certo, não é?
—S... sim... tudo certo.
— Então vou indo. Nos encontraremos noutra hora, certo? —
estende a mão.
— Sim... certo. — ela o cumprimenta apertando-lhe a mão.
Burton caminha para a
porta.
—Tchau, doutora Scully.
—Tchau, senhor Burton.
Ele retorna alguns
passos e dá um beijo na face de Dana.
Dana permanece sentada
no sofá. Olhar absorto, como
se nada estranho estivesse
acontecendo.
Repentinamente seus
olhos vêem o corpo de Burton caindo ao
pé da porta, que
ainda se encontra aberta. E logo vê em
seguida a figura de Mulder
por trás do homem caído no chão,
de modo que tal queda
causara o ruído como de um saco de batatas.
— Mulder!!
— ela grita.
— Louco!! — grita o
homem caído — O que aconteceu com você?
Mulder está de pé, pernas afastadas, peito
arfante, olhos fulminando
o adversário.
— Mulder,
que estupidez! O que é isso?! — diz Dana, denotando
mais ódio que
aflição.
Burton vai
levantando-se aos poucos.
— Seu pilantra!! — murmura Mulder.
— Ora cara, o que é
isso? — reclama o outro — O que deu em você?
Por que essa agressão? Sabe que posso
denunciá-lo?
— Faça isso, seu
ordinário!
O homem louro
levanta-se; ajeita a roupa. Enfrenta o olhar irado
de Mulder, para em seguida falar rancorosamente, com o dedo
em riste na sua
direção:
— Olha aqui ó cara,
pode dar-se por vencido, porque nem tudo
que você pensa lhe
pertencer é exatamente seu, ok?
E falando isso
rispidamente, aproxima-se de Dana apertando-lhe a
mão com força e sai
em passos rápidos.
Dana permanece
estática em seu lugar, como se não conseguisse
atinar com a cena que
havia presenciado.
Mulder inicia um movimento que denuncia
seu desejo de seguir
o homem e encher-lhe
de tapas. Mas se contém. Algo lhe chamara
a atenção.
— Scully...
— aproxima-se dela — ... será
o que estou pensando...?
Dana não inicia
nenhuma conversa. Sai do aposento: entra no banheiro.
Mulder a segue a passos largos.
— Espera!! Estou
falando com você!! — segura-a pelo braço.
— Será que agora não
tenho mais liberdade de ir ao banheiro? Ora, vá...!
— puxa o braço que ele está segurando.
Mas ele não a solta.
Exige resposta.
“A liberdade é um bem
que não se deve perder.”
José Bonifácio