TRABALHANDO COMO
AGENTE FEDERAL?
“O trabalho é o melhor
antídoto para a dor.”
Paolo Mantegazza
Capítulo 298
— Me solta, Mulder! Nada temos a conversar!
— Nada...?! — ele dá
uns passos e passa a mão nervosa sobre a
boca de lábios cerrados — Fala Scully...!! Diz pra mim o que está
se passando! Seja sincera! — abranda a
voz — Olha, eu só preciso
que você fale comigo a verdade!
— Que verdade?
— É aquele sujeito,
não é? — ele aguarda ansioso
a resposta.
— Mulder
eu...
— Fala Scully... por favor! Eu não quero discutir... olha,
estou tentando me
acalmar!
— O que você quer? —
ela pergunta sem nenhuma reação de
emoção.
— Scully,
olha pra mim, Scully!! Você não me olha já há dias!
O que está se passando com você? Fala!!
Ela nada responde.
Continua sem sequer voltar a vista para
ele.
Num gesto decidido, Mulder a toma nos braços, forçando-a,
assim a olhar para ele, pois segura-a pelo
queixo.
— Scully...
os seus olhos! Eles me falam,
Scully! Pedem socorro!
Estou sentindo isso! Fala o que você está
sentindo! Fala!!
Ela, num surpreendente
movimento de força e destreza
desprende-se dos braços dele.
— Chega!! Me solta!!
Nada temos a discutir, Mulder! Chega!
Mulder finalmente se dá por vencido. Havia
entendido a
linguagem muda de sua amada. Num ímpeto ele
entra no
quarto; pega uma maleta; joga nela várias
de suas roupas.
Puxa o fecho. Sai
rapidamente da pousada. Sem nada mais falar.
* * *
Maggie condoída
com o ar preocupado de
sua filha, olha para ela,
perguntando:
— Filha, mas que semblante triste! Você
não está bem! O que
significa isso?
— Isso...? Isso o quê?
— O que estou vendo acontecer!
Dana começa a dobrar
várias peças de roupa. Nada fala.
— Você voltou sozinha
do lugar onde estava. E o Fox?
— Fox...?
— Sim! O seu marido, Dana! O pai de seus filhos! —
levanta-se impaciente
— Nossa! Você ultimamente parece
que está noutro
mundo!
— Desculpe,
mãe. Às vezes penso mesmo que estou
perdida no tempo e no
espaço... — suspira profundamente
— talvez fosse até
melhor pra mim... mas é porque...
— ... o quê?
Dana dá um sorriso:
— Mãe, não se preocupe
comigo. Está tudo bem.
Maggie compreende que a filha não quer dar
explicações e
retira-se dali.
William entra em
passos rápidos.
— Mãe! Mãe! Quando meu
pai vai chegar?
Dana afaga-lhe os
cabelos:
— Logo, logo, filho.
Não se preocupe. Ele está resolvendo umas
coisas.
— Ele tã trabalhando como Agente Federal novamente? Ele me
disse que ia fazer
isso.
A mãe sorri um pouco:
— Ainda não, filho.
Mas acho que muito breve seu pai vai voltar
para o FBI.
O menino pula com os
joelhos dobrados sobre o sofá:
— Olha, tirei uma nota
boa na prova! Eu e mais um colega tiramos
a maior nota da
turma!
— Muito bem meu filho!
— ela o abraça ternamente.
William a fita
ansioso:
— Mãe, eu quero falar
isso pro meu pai! — pede.
Dana o acarinha,
abraçando-o:
— Liga pra ele,
William. É só o que você pode fazer.
* * *
Dana acabara de deixar
William e Vivian no colégio. Agora está
dentro do carro. As mãos agarradas ao
volante. Olhos fixos
adiante. Pensamento
bem distante. As lágrimas deslizam
livremente em sua face, quentes e lentas.
“ Eu vivo ultimamente uma vida
completamente vazia. Insípida...
oh, meu Deus! Queria
tanto que o tempo retornasse...! Estou
sofrendo muito...! E ele? Como estará? Por
que foi acontecer essa
tragédia com a gente?
O nosso amor foi tão lindo... tantos anos
de felicidade e hoje... hoje cada um segue sua vida como lhe
impôs o destino...!
Por que? Por que? Meu Deus, estou sofrendo
muito...! “
Na verdade, no seu
pensamento vive sempre o desejo de desistir
dessa vida que leva. Sem o verdadeiro
amor ao seu lado... sem sentir
a emoção de dias
felizes na sua rotina... não ouvir a voz do homem
amado... seu
toque... seu olhar perscrutante.
“Ai, não estou
agüentando! O que faço?”
Dana suspira
profundamente. Passa as costas da mão trêmula
sob os olhos, limpando a pele úmida. E
com um suspira de alívio
nota que havia
chegado à sua casa. Guarda o carro.
Na sala vai apanhando do chão vários
brinquedos que os filhos
haviam deixado espalhados.
Dana tem suas
divagações interrompidas.
— Oi! E aí? Tudo bem?
Ela volta-se para
olhar o recém-chegado.
— Tudo. — responde,
continuando o que está fazendo.
— Nossa! Que dia! Um
saco! — o homem retira o
paletó, jogando-o displiscentemente
sobre a mesa.
Dana logo sente o odor
de bebida alcoólica que exala dele.
— Escuta, Dana. Você
resolveu o problema do Banco que te pedi?
— Não tive tempo.
Muito trabalho.
Ele a fita, irritado:
— Ei!
Não fez o que te pedi? Mas que droga! Você não é fácil, hein?
Dana o encara:
— Escuta aqui, Burton,
se pensa que sou sua escrava, está
enganado! O meu trabalho no hospital é
desgastante. Não tenho
tempo disponível para
fazer o que você bem pode resolver!
— Olha aqui, não me
fala desse jeito! Não admito.— ele retruca—
Você tem que fazer o que eu quiser!
Ela dá de ombros e sai
da sala.
Burton sacode uma
cadeira, batendo com os pés dela no chão,
enraivecido.
* * *
Dana entra no quarto e
vê William jogando videogame no computador.
— Oi mãe... — ele
começa ao vê-la entrar.
— Sim, filho. Tudo
bem?
— Não.—
continua de olhar fixo na tela.
— Não...?! O que
houve? — pergunta, com um leve sorriso.
Agora William pára de
movimentar o joystick e olha para a mãe:
— A gente não tã agüentando o nojento desse homem! — reclama.
— Shiiii!!
— ela faz sinal para que se cala e corre a fechar a
porta
— Meu filho, por
favor, fala baixo! — murmura.
— Ah, mãe, esse cara
enche o saco da gente! Hoje de manhã sabe
o que ele fez?
Dana agacha-se junto
ao filho para ouvir. Tem o ar preocupado.
— Pois ele tomou o
picolé que a Vivien tava chupando e jogou na
lata de lixo! — fala
o menino.
— E por
que? Por que ele fez isso? Me conta!
— Só porque ela falou
alto pra mim que ia contar a você que
ele tava me mandando
comprar cigarro pra ele!
— E ele lhe pediu
isso?
— Se pediu? Pede
sempre!
— E você tem feito
isso, William?
— É... tenho mãe, porque ele olha pra mim com uma cara tão
ruim, que tenho medo!
Dana levanta-se e
aperta o filho entre seus braços
— É por isso que sinto
falta do meu pai! — choraminga o menino.
Dana chora junto com
ele.
— Mãe, eu não gosto
dele! — queixa-se.
— Eu sei, querido, eu sei.
— E olha, eu sinto que
esse sujeito carrega com ele alguma coisa
estranha.
— Como assim? O que
quer dizer?
— Sei lá, mãe. Quando
estou no mesmo lugar que ele, assim na
sala, na varanda, um negócio diferente
acontece comigo.
Dana o segura pelos ombros:
— Meu filho, pelo amor
de Deus, o que está querendo me dizer?
Que tem algum... dom? É isso?
Ele responde,
abaixando o olhar:
— É isso, mãe.
Ela o aperta contra si,
envolta em seus pensamentos.
“Meu filho... William... desde bebê tem algo
diferente das outras
crianças... eu sempre soube disso
e agora é que está surgindo
o que estava
encoberto...”
— William, o que você
sente? Ou pode ver? O que é?
— Mãe, você acredita
em mim?
— Claro,
filho! O que tem pra me dizer?
— Não sei se posso... se você vai acreditar no que vou falar...
— Fala,
filho! Eu quero, preciso saber! O que é?
— É sobre esse homem,
que é meu padrasto.
— O que tem ele?
— Ele... — afasta-se da mãe e
se senta na cama — Não, mãe! Não
posso dizer agora! É
só o que penso.
Dana aproxima-se e
senta junto dele:
— William... escuta... você começou isso e vai
ter que terminar. Fala
pra mim o que é.
— É que não tenho
certeza, mãe! Preciso saber primeiro se o
que penso é verdade!
Vou primeiro falar pro meu pai...
— ... o
quê? Falar o quê? Eu quero que deixe seu
pai fora disso!
— levanta-se — William, eu exijo
que me diga o que está
acontecendo exatamente! Fala... agora!
William faz um ar de
choro.
— Você começou ... agora vai terminar seu
pensamento, William!
— ela insiste.
— Você não vai ficar
zangada comigo?
— Por que ficaria?
— Não sei, mãe... ele é seu marido... —
levanta-se por sua vez —
... mas
não é nada meu, nem de minha irmã! — conclui.
— Eu sei, filho...
— E você não gosta nem
um pouco dele...
— É verdade,
William...!
— Viu, viu como eu sei
das coisas? Esse cara fez um negócio com
você!
— Fez o quê? O que
quer dizer? Fala, William!
O ruído de passos os
faz separarem-se.
— Olha, meu filho,
continua aí seu jogo, tá ? — fala ela — Depois
conversamos melhor.
Quero que me fale tudo o que sabe.
— Você vai falar com o
Burton pra parar de fazer essas coisas com
a gente?
Ela faz um esforço e
sorri levemente, mas não responde à pergunta.
— Mãe, nas férias eu
vou ficar com meu pai, tá?
Dana morde os lábios:
— William... filho... não sei...
— Tá,
mas eu sei! Aquela nojenta daquela mulher não gosta de
mim! Ela não gosta nem que eu e minha
irmã nos aproximemos
do nosso pai! E ela
não significa NADA pro meu pai! Eu
sei disso!
— Pára,
William!
— Mas é verdade, mãe!
Ele vive com aquela mulher apenas porque...
Dana exaspera-se:
— De uma vez por todas
pára com esse assunto!! — ordena.
Mas ele não desiste:
— ... apenas
porque... você não quis ficar mais com ele. — Mas
mãe, eu sei que você
não tem culpa...! — conclui, em voz baixa.
Dana encosta a cabeça
do seu filho sobre seu peito.
O sofrimento havia
passado a ser rotina na sua vida e na de seus filhos.
“Custa mais alimentar um vício
do que alimentar dois filhos.”
Benjamin Franklin