AO SOM DA MÚSICA

 

 

 

 

 

"A música é a ciência do amor, entre a

harmonia e o ritmo"

Platão

 

 

 

Capítulo 3

 

 

- Scully, estamos no sábado ainda ... por que não uma esticada num belo lugar?

- Nossa, Mulder! Você está resolvido hoje a extravasar toda a sua energia numa rocambolesca noitada!

- Você não?

Silêncio. Ela consulta o relógio de pulso.

Num segundo ele toma-lhe o pulso, de onde retira o relógio e guarda-o em seu bolso.

- Que é isso, Mulder? - ela ri.

- Pra você não ter que preocupar-se com as horas.

- Ah, Mulder, por favor, não sou criança!

- Mas deixa eu tomar conta de você? - olha profundamente nos olhos - Só um pouquinho?

- Mulder... adorei meu presente de aniversário, estou feliz, divertimo-nos como nunca e jamais tive um dia tão feliz como este, mas...

- ... mas... ?

O olhar dele é tão carente que a faz perder aquele ar circunspecto de sempre amiga e colega de trabalho.

Percebe que há ali naqueles olhos, uma expectativa premente por uma resposta positiva.

- Mulder... ahn... está bem... concordo.

- Com o que? - parece distraído enquanto continua com o olhar fixo, extasiado com o azul dos olhos dela, como que desejando decifrar o mistério que ainda perdura neles .

- O que você quer saber?

- De prolongarmos a noite, Scully.

- Pois é isso! Não entende? Concordo!

Ele, num repente, aperta com um dos braços os seus ombros:

- Você é demais, lindinha! Vamos lá!

Põe o carro em movimento.

As luzes nas ruas passam a seus olhos como raios coloridos e difusos pela velocidade do veículo.

* * * * * * * * * * * * * * * * * * *

O local onde Mulder estaciona o carro é a beira-mar. Um imenso bar dançante, cercado em volta por um pequeno muro de pedras.

Um burburinho ouvem vindo das pessoas sentadas ali e do mar rugindo brandamente, enquanto suas ondas desmancham-se à beira da praia lá em baixo.

Um grande quantidade de mesinhas e cadeiras brancas estão expostas e ocupadas em quase sua totalidade pelos que ali se encontram.

Uma enorme pista de dança de piso brilhante deixa-se mostrar, com seus pares deslizando ao som da música lenta.

Havia no lugar uma iluminação suave, o que transformava o local numa paisagem quase irreal.

Dana desvia o olhar para o que se descortina à sua frente.

O espelho da superfície calma do mar reflete ondulando o prateado da lua que, lá do alto, parece sorrir como a boca do céu, jogando sua luz azulada sobre a terra.

Mulder puxa uma cadeira fazendo Dana sentar-se junto à mesa.

- O que você quer que eu peça?

- Credo, Mulder! Já jantamos há poucas horas!

- Claro! Mas somente uma bebida...

- Sim. Uma água mineral. É só.

- Pra mim, também.

Ela sorrí, segurando o queixo com as duas mãos, cotovelos apoiados à mesa, olhando o parceiro.

O garçom aproxima-se solícito.

Mulder pede a água mineral para ambos.

- Scully, venha! - levanta-se rápido.

- Onde, Mulder? O que é?

- Dançar, Scully.

Toma-a pela mão e não lhe dá tempo nem para ensaiar uma resposta negativa.

A música suave que embala os pares, é um encantamento para os ouvidos e o coração.

Ele toma-a nos braços aconchegando-a a si, terno, doce, porem impetuosamente carinhoso.

São momentos de profundo silêncio entre os dois.

Não sentem desejo de falar; apenas sentir o contato do corpo um do outro.

Contato macio. Contato quente... vibrante.

Que estimula. Que acaricia. Que excita... endoidece.

- Mulder... - ela balbucia.

- Que é, Scully?

- Estou adorando...

Mulder, um pouco encurvado sobre a pequena figura de Dana, murmura num sopro sobre seu ouvido, deixando que os cabelos dela encostem em seus lábios e sente nisso um imensurável prazer:

- Mesmo?

- Mesmo. - sussurra, sentindo-se fraca, frágil, tênue, leve, como a flutuar; o corpo dele apertado contra o seu a deixa num quase desesperado desejo de estar noutro lugar a sós com ele... encostada em seu peito abrasador, excitante, toda entregue...

Dana sente que os lábios de Mulder estão suavemente tocando-lhe o lóbulo da orelha, a testa, as pálpebras, a ponta do nariz.

Nunca haviam estado tão próximos, tão à mercê do prazer que seus sentidos ali clamavam, como neste momento.

Ela entreabre os lábios à espera daquela boca almejada que sempre a tentara... sempre.

A excitação toma conta de seus sentidos e espera...

Já pode sentir o hálito dele junto aos seus lábios...

- Eu não acredito!!!

Pronto. Fôra quebrado o encanto.

O casal, atônito, olha para quem pronunciara aquela frase em alta e entusiasmada voz.

- Eu não acredito! - repete o recém-chegado.

Mulder havia se afastado de Scully; apenas segurava sua mão, agora.

- Tudo bem? - cumprimenta, sem entusiasmo a pessoa que lhe dirigira a palavra.

- Oi, Agentes Mulder e Scully! Estou muito contente em vê-los novamente! - baixa a voz em tom confidencial - E sem estarem em horário de trabalho, claro!

- Claro. - repete Mulder.

Dana, um pouco confusa, desvencilha sua mão da do parceiro que a segurava.

- Arthur Ruckert. - anuncia-se - Lembram-se de mim? Ah, claro que sim! - segura Mulder por um braço, puxando-o - Vamos, vamos sentar na minha mesa. Minha esposa está lá e quero apresentá-los!

- Não... nós já reservamos uma...! - começa Mulder a explicar.

- Nada disso, cara! Vamos lá, vamos lá!

Carrega-os quase arrastados para sua mesa a alguns metros da pista de danças.

- Vocês lembram quando estiveram naquela cidade onde morei? Faz algum tempo...

- É... algum tempo... - é só o que Mulder fala.

- Mas apesar de muita luta, muita dificuldade em tudo...

- Em tudo... - repete Mulder, balançando levemente o corpo, num gesto nervoso.

- ... eu estou aqui, firme e forte e estou bem... estou bem, porque na verdade, devo tudo a vocês... a minha própria vida! - fala num sorriso aberto, olhando para Mulder e Scully, demonstrando gratidão no olhar.

Scully lança a Mulder um olhar de extrema passividade, como se implorasse para que o encontro com aquele homem passasse o mais rápido possível e tudo pudesse voltar à situação de minutos atrás.

Mulder limita-se a repetir o final das frases proferidas por Ruckert, que não lhes dá nem tempo de fazer alguma observação, se necessário fosse.

E calados, desolados, entristecidos pela interrupção, põe-se a ouvir o falatório sem fim daquele "amigo da onça".

CONTINUA...