SEM ESPERANÇA
CAPÍTULO 300
Não neguemos nada,
não
afirmemos nada; esperemos.
Renan
Muitos. Incontáveis quilômetros de distância estão
a separá-la do
homem que ama. Neste momento ela olha
para o céu através da
janela. Há já algum tempo somente com os
filhos sente-se segura.
Para ela havia sido
difícil tomar a decisão de unir-se àquele homem
que somente a atormentara. Desde aquela
equivocada união sua
vida tem sido somente de dor e engano.
Mas conseguira livrar-se
desse peso, agora. E sem nenhuma
angústia. Muito menos
arrependimento. Nem constrangimento pelo passo
tomado.
Esse homem brusco e
incompreensível não mereceu o seu esforço
quase sobre-humano para ser uma boa companheira. Mas lá no
seu íntimo tem consciência de que nada
a faria conseguir chegar
a tanto, tudo porque seu coração
sensível, embora rebelde, pertence
a outro. Há muito tempo. Que fazer
para arrancar de seu íntimo essa
paixão? O Ser Divino, que havia criado
todo o Universo, lhe colocara
esse coração perceptivo, que sofre, até
hoje, por ser fiel a esse
sentimento que corrói sua alma, num efeito
avassalador, que a faz agir
por vezes, erradamente, como acontecera
há pouco mais de três
anos, numa união desajustada e sem
esperanças.
Ah... só pensa neste instante no momento em que irá encontrar
aquele a quem dedica todo o seu amor. De
verdade. E desesperadamente.
E como confessar a Mulder que estivera sob o comando de Burton
todo esse tempo? Como contar a Mulder que somente finalmente
despertou quando seu
próprio filho ainda um adolescente descobriu,
enfim, que ela estava sob hipnose todo
esse tempo?
Mas vai tentar fazer Mulder ver que ela fôra inocente
por essa quase
tragédia que
aconteceu entre suas vidas.
Quer, neste momento,
só relembrar coisas sobre aquele a quem sempre
amou, de verdade.
Lembra de seus olhos
verdes que a devoram, denotando todo o desejo
à flor da pele. As mãos de dedos
longos e que tocam, delicadamente,
seu corpo fremente às carícias dele. A
boca, de lábios bem delineados,
como se algum maravilhoso desenhista
tivesse neles trabalhado com o
pincel da natureza e que sabe muito bem
como agir para levá-la ao
êxtase, num momento de amor. A voz
sussurrante, que faz
vibrar
de emoção todos os mais sensíveis
pontos de seu corpo.
Mal pode esperar que
chegue o momento de revê-lo. É dolorido e pesado
para sua alma faminta de amor.
* *
*
Enquanto isso, no
saguão do aeroporto o burburinho é tão intenso que
abafa o ruído dos veículos que trafegam
do lado de fora.
Ele leva as mãos
geladas à face, que contrasta, com a quentura nesta
existente. Sente-se até um tanto
despreocupado. Parte de seu
sofrimento vai acabar a partir de agora.
Consulta o relógio de
pulso. A ansiedade torna-se numa quase
angústia. A frieza nas mãos o incomoda, mas
não tem como
aquecê-las; o nervosismo não permite.
Chega aos seus ouvidos
o ruído das turbinas da imensa aeronave,
que está aterrissando neste momento.
Confere o prefixo com o que
está sendo exibido no painel do
aeroporto, anunciando a chegada.
Ele aperta os lábios,
passa o dedo indicador sob o nariz, o sangue
agita suas entranhas. Os olhos vidrados
na fila de passageiros que
descem do avião, captam, de súbito, a
imagem da pessoa querida.
E, à medida que se
aproxima da entrada para o saguão, os olhares
se encontram, pois ela não desvia o
olhar um instante sequer
daquele que está à sua espera há apenas
alguns metros mais.
Abraçam-se, com ímpeto
— Ai, que saudade! –
ela exclama.
— Vamos, vamos! – ele a
chama para acompanhá-lo até o carro
estacionado.
Seguem apressados.
Entram no veículo.
Ela dá um suspiro
aliviado.
— Ai, meu
Deus, até que enfim!
Ele gira a chave de
ignição e dá a partida no motor. Retira o
carro dali, rapidamente.
Scully apenas o fita, com ternura no
olhar. Não cansa de passar
os olhos por aquela pessoa querida,
desesperadamente amada.
Acaricia-lhe os cabelos, enquanto
ele dirige.
* *
*
No hotel ela retira a
toalha que lhe cobre os ruivos e longos cabelos
e sacode a cabeça, a fim de espalhá-los.
Mulder aproxima-se e a prende
entre os braços.
— Agora é que podemos
conversar com calma. — diz.
— Sei; são tantas coisas
que quero te falar...!
— Negativo! — aperta-a mais contra
si — Nossa conversa é outra.
Não quero saber nada sobre nosso trabalho
e muito menos sobre
sua vida com aquele sujeito.
Ela se aninha entre os
braços quentes dele.
— É uma conversa muda.
— ela completa —
Só entrosamentos
corporais...?
— Isso.
Ela ri e se aperta
mais contra ele. Entreabre os lábios e
procura-lhe a boca, avidamente.
— Mulder,,,
como te amo! – sussurra.
Ele a toma no colo;
antes de colocá-la na cama retira-lhe o
quimono rendado; deita-a no leito,
suavemente.
Ela se espoja entre os
lençóis e travesseiros.
— Que falta senti de
você... quase que
insuportável! — ele sussurra
nos ouvidos dela.
Ela sente a respiração
ofegante em seus ouvidos, a boca sedenta
a deslizar os lábios sequiosos sobre
sua pele... os
dedos longos e
cautelosos a desbravar-lhe o decote para fazer
saltar dele os
seios túmidos e carentes por essas
carícias do amado.
E sente que todo o seu
corpo vibra de prazer e emoção. Logo quer
mais. Deseja sentir a sensação de ser
tomada por ele, quase sendo
transformados os dois corpos num só ser, unidos
pelo prazer, pelo
amor, nessa paixão avassaladora que
jamais cessará de suas vidas.
* *
*
Sol esmaecido. Leve brisa que sopra,
fazendo dançar as folhas dos
arbustos. Um pássaro quebra o silêncio, volteando no
azul do céu.
Ela olha para cima com um leve
sorriso.
— Deve ser muito bom...
— O quê...?
— Poder voar, sem destino... por aí... sem ninguém a tomar conta de
nossa vida...
— ... sem
destino...?! Está pensando assim, agora?
Ela agarra-se ao pescoço dele; tão
pequena que obriga-se a erguer o
rosto para alcançar o olhar dele sobre si.
— O meu destino é você!
— Aaah...! — ele suspira — Ainda bem! Pensei que já estivesse
mudando de idéia!
— Bobo! – ela o beija no pescoço, como
gosta de fazer.
Agora ele suspira profundamente, com
seriedade no semblante.
Segura-a em seus braços, enquanto
fala:
— A nossa vida é muito complicada.
— Hum, hum. — ela confirma, com o rosto enfiado em
seu peito.
— Eu fico preocupado demais...!
— Eu sei disso.
— Nossos filhos jamais poderão usufruir
de nossa presença juntos,
nunca...!
Ela aperta-se mais contra ele.
— Não fala isso! Não fala assim!
— Você não está vendo a cada dia? Não
percebe?
Ela somente o ouve. Seu coração dá uma
pulsação a mais. Suspira profundamente e sente o peito doer:
— Ai...! — geme um pouco.
— O que foi? — afasta-a de si para fitá-la nos olhos.
— Nada... estou
bem...! — fala,
com cansaço na voz.
Ele solta-a de seus braços :
— Às vezes me dá vontade de
abandonar tudo... todas as obrigações...
deixar que as coisas aconteçam...
— ... elas
acontecem de acordo com nosso destino... — ela o interrompe.
— Nós fazemos nosso destino. Foi assim
que eu fiz o meu, tornando
insípida a minha própria vida.
— Entendo...
— E eu estraguei a sua vida também! Me sinto culpado e envolvido
nessa teia emaranhada que está te arrastando cada vez mais a uma vida
solitária... tudo porque não lutei por você, Scully!
— ... vida solitária com meus filhos!
— Eu sei... mas
não é o que deveria acontecer! Não é! — ele aperta a
própria cabeça.
Rapidamente ela o puxa para um banco
de ferro trabalhado na grande
varanda.
— Não se sente totalmente infeliz...! —
repete ele, abraçando-a com
fervor — Eu sou o culpado de tudo isso,
sim! Porque permitir que
você saísse, fosse embora, me deixasse aqui, entregue a essa vida
de hipocrisia que eu levo, vivendo com a...
Ela o puxa para si cobrindo-lhe os
lábios com e
ele achega a cabeça
ao seu ombro, choroso e aflito.
— Pára com isso! —
ela fala em voz suave,
acariciando-lhe os cabelos
castanhos — Eu te peço que não fale mais sobre
isso! Tenho certeza
de que um dia...
— ... um dia...?—
— ... tudo será
diferente; poderemos assumir nossa vida juntos e
cuidar juntos de nossos filhos!
O silêncio toma conta do local nesse
momento.
Ela continua acariciando-o nos
cabelos, enquanto ele mantém a
cabeça derreada sobre
o ombro dela.
Somente o ruído suave do ar
condicionado é ouvido dentro do aposento.
Ela, enquanto o acaricia, lança o
olhar para distante, em direção das
longínquas montanhas que se delineiam no horizonte. As lágrimas
quentes toldam-lhe rapidamente os olhos azuis.
Sente-se triste, embora tenha
estimulado o homem amado a não
entristecer-se. Sabe que vai continuar nessa falsa vida sem alegrias,
nem prazeres. Prosseguirá sozinha, somente na companhia dos filhos.
Ele levanta o corpo, afastando-se
dos ombros dela e a fita, com ardor.
— Escuta... — ela recomeça — ... e a sua mulher? O
que ela sabe?
— Shiiiiiii!!
— ele lhe cobre
os lábios com os dedos — Não quero que
fale sobre assuntos desagradáveis. Agora estamos só
nós aqui! E chega!
— Desculpe. — ela esboça um sorriso.
Um ruído é ouvido no interior do
ambiente.
— É o meu celular. — ela diz e levanta-se, afastando-se.
Ele permanece onde está. Imóvel.
Olhos fechados. Tentando tirar dos pensamentos as coisas negativas.
Logo ela retorna.
— Era nossa filhinha, pra saber se eu
estava bem.
— Perguntou por mim?
— Mandou um beijo pra você.
— Obrigado. — ele sorri e segura-a pelos braços,
fazendo-a sentar-se
– Me entrega, então.
— O quê?
— O beijo.
Ela desliza os lábios sobre a face
dele, mordiscando-a, levemente,
onde existe o sinal escuro. Passa a língua sobre os lábios dele, como
que lhes provando o
sabor.
Ele a agarra contra seu peito e lhe aperta
a boca contra a sua. Introduz
a língua voraz, vasculhando todos os recantos no interior dessa boca
que adora e que o excita.
Os lábios ansiosos logo deixam
aqueles que aos seus se entreguem
e descem até o pescoço, provando-lhe a pele rosada e perfumada.
Seus dedos leves e ágeis
movimentam-se a desvendar as curvas do
corpo resguardado pelo quimono de seda azul.
E ela, por sua vez, ao sentir a
maciez dos lábios dele sobre os botões
de carne de seus seios, deixa-se levar pela languidez que toma conta
de seus corpos vibrantes de prazer.
Um prazer que se prolongará, por
mais alguns minutos, mais algumas
horas, mas que depois da partida dele de seus braços, novamente a
saudade desses momentos é que tomará conta de sua vida sofrida,
triste, solitária.
* *
*
Ela abre os olhos que
se deparam com o teto branco e rodeando o
quadrado do teto, sancas
de pequenos cachos de uva moldados em
gesso. Fecha os olhos.
¨Oh, Deus, mais um dia amanhece...!¨- pensa.
Um longo e sentido
suspiro sai do recôndito de seu peito. Neste
momento a quentura de um corpo ali, ao seu
lado, a faz despertar
para a realidade.
— Até que enfim acordou, han, lindinha?
Essa voz sussurrante
aos seus ouvidos lhe traz sensação de prazer,
gozo, vitória.
¨Bela é a vida que nos dá condições de,
mesmo por poucos períodos
de tempo, poder sentir o gostinho da
felicidade...!¨- pensa, novamente.
E então, sente a mão
acariciante dele por sobre
todo o seu peito.
— Ai, você está
aqui... do meu lado...! Como me sinto feliz com isso!
— E eu não menos. — sorri e a beija no
pescoço.
— Bom dia. – ela
murmura, virando de lado na cama e agarra-se a ele
— Te amo... te amo... te amo...!
— Huuum... — ele a
aperta contra si — O que vai querer fazer hoje?
— Ahn...
ahn...! Adivinha!
— Pegar um jatinho e
ir pro deserto do Saara.
Ela faz um muxoxo:
— Ih, tá frio! — agarra-se mais ao corpo dele, jogando as pernas por
sobre as dele.
— Comprar roupas e
bugigangas em Paris.
— Nossa! Mais frio
ainda!
— Um safári na
floresta Amazônica!
— Credo! Gelou
totalmente!
— Ah, desisto! —
coloca-se de joelhos na cama e a acaricia com
beijos pelo colo alvo.
— Me faz mais
perguntas. — ela pede.
Ele interrompe as
carícias para fitá-la:
— Não sei o que você
quer!
— Aaaah,
fala..., porque está esquentando!
Agora ele dá uma
risada: E com as duas mãos deslizantes, acaricia-a
plenamente sobre seu corpo coberto apenas pela
leve, transparente
camisola, que o permite sentir os mamilos
dos seus seios
entumescidos pelo prazer.
Ela repara que a
respiração dele acelera. E que o seu corpo
já começa a evidenciar o desejo pelo
dela.
Ele deita-se ao seu
lado e a faz ficar grudada nele.
— É isso que você quer, mulher insaciável?
— É só isso...! Só isso... te quero assim a toda hora, todo momento...
nos vemos tão poucas vezes...!
— Tenho receio de te
prejudicar...
— ... como
assim...?
— Não mais podendo,
pelo menos por enquanto, te dar um futuro
garantido ao meu lado.
— Mas nada disso vai acontecer. A gente tem que esperar! E ser
perseverante! — ela senta-se na cama e segura com
dedos
cuidadosos o pedaço de carne e osso ereto pelo
sangue que circula
dentro de suas artérias e que o satisfaz
com a carícia de sua boca
sedenta por vasculhar esses caminhos
diferentes.
Logo ele, por sua vez,
para também satisfazê-la, com a língua lhe
leva ao êxtase, tocando no diminuto
monte vermelho e viscoso
escondido entre suas coxas.
São momentos de
prazer. Satisfação. Êxtase. Felicidade
total. Embora momentânea. Ambos sabem que
essa alegria lhes
estará negada pelos tempos que se
seguirão.
Ele joga-se no leito,
esfalfado.
Ela deita-se de lado,
repousando a cabeça sobre o peito dele.
— Huuuum... isso é uma delícia...!
— Obrigado. Gostou?
— Não estou falando de você, homem!
— Não...? De quem, então?
— Bobo. Estou falando do perfume que está
em você!
— Obrigado, Carolina Herrera!
– fala em voz alta, levantando os
braços.
— Argh! Estou
com ciúmes dessa mulher!
— Ah, ah, ah! — ri
alto e aperta-a contra si — Escuta, há algum
tempo atrás, você me falou que eu exalo sensualidade...
— E é como eu sinto! E
odeio ver esse mulherio todo a assediar
você quando está junto a outras suas
colegas! Detesto quando
a imprensa nos atormenta com
entrevistas sobre nosso tão árduo
trabalho!
— Ei!
Parece até que ainda está trabalhando no FBI há um longo
tempo!
— Sei que exagero, mas
é a grande verdade. Eu ficava mesmo brava
quando o via junto daquelas pessoas elogiando o seu trabalho,
principalmente as mulheres.
— Você é o meu
público, a minha única platéia! — fala,
apertando-a contra si, falando com os dentes
cerrados — Eu largo
qualquer coisa no mundo pra estar aqui com
você!
— Espera... – ela o
afasta de seu corpo — ... você
só fala, mas não...
— Entendi! Não
continua! — ela a impede de continuar a falar,
tapando-lhe a boca com um beijo voluptuoso.
— Huuum...
adoro essa sua impetuosidade...! — sorri, sentindo-se
um pouco leve e feliz — Agora me
lembrei de uma coisa engraçada.
— Fala, então.
— É uma piadinha light.
— Conta. — ele franze
os lábios, concentrando-se.
— Bem,... escuta só: — e enquanto fala, acaricia os pêlos no
peito dele — dois gêmeos, ainda
sendo gerados na barriga da mãe,
conversam...
— Só podia ser piada
de grávida. — ele interrompe.
Ela dá um tapinha nos lábios dele.
— Deixa
eu continuar!
— Estou ouvindo.
— Então os gêmeos
começaram a conversar: Ei! O que você
quer ser quando nascer? — disse um deles
— Quero ser um
engenheiro, um advogado, uma pessoa
importante; e você?
— aí o outro respondeu
— Eu? Eu quero ser um caçador. — o outro
se surpreende — Caçador? Por que? — o primeiro responde —
Quero ser um caçador
pra matar essa cobra enorme que vem
todo dia aqui chatear a gente!
Ele dá uma pequena
risada.
— Gostou? – ela quer
saber.
— Hum, hum. – é só o
que ele responde.
— Nossa! – ela rola
pesadamente para o lado da cama — Pensei
que ia achar engraçado!
— E até que é mesmo,
mas me faz ficar pensando...
— ... no quê?
— ... que se os
gêmeos fossem nossos não poderiam dizer isso
porque nós nunca estamos juntos para
criá-los como uma família
normal.
— Ai, ai!! Puxa vida! Não lembra isso!
Pára!!
* * *
Quer mais flocos de milho? – ela pergunta.
— Quero. E um iogurte
desses também.
Ela derrama dentro do
prato os cereais.
Ele abre o pote de
iogurte.
Comem, vagarosamente,
as iguarias.
Ele mexe,
ininterruptamente, o iogurte com a colherinha. Olhando
fixo para o conteúdo do potinho à sua
frente e fala:
— Quero te contar um
negócio.
— Conta, então.
— Estou acompanhando
aquele nosso trabalho todo, agora para
analisar o que fizemos por tantos anos.
— Mas qual trabalho
você está falando? – está erguendo para o ar
a faca com a qual estava passando a margarina nas bolachas.
— Todas aquelas
investigações, dificuldades, problemas, perigos...
— Não me diga!
Verdade? Está fazendo isso?
— Sim, e estou
gostando. E outro dia, eu bem atento a analisar
cada pasta, quando a minha mulher veio
até onde eu estava e...
— ... não quero
que fale sobre ela...
— Desculpa, eu mesmo
não gosto de estar lembrando, mas se falo
isso é porque quero comentar uma coisa.
— Pois fala.
— Olhando ali, os
trabalhos que fizemos juntos, a química que existia
entre nós, aquele entrosamento...
— ... e ainda
existe tudo isso, você sabe!
— Claro, mas fiquei
recordando os nossos momentos de descontração
nas horas vagas, lembra?
— E como eu poderia
esquecer disso?
Ele termina seu lanche
e se levanta.
— Já terminou? – ele quer saber.
— Sim. – diz, passando
um guardanapo nos lábios.
— Vem cá. – ele a
chama, estendendo os braços.
* * *
Atende o celular.
Morde os lábios, contrariado. Está sendo
importunado neste momento. Já havia avisado à
mulher e aos filhos
que quando estivesse dirigindo, que não
o procurassem pelo
telefone. Mesmo porque tem direito à seus momentos de isolamento
de tudo e de todos e ali, sozinho em
seu carro, sente-se um tanto
em paz. Abre a tampa do aparelho e
olha rapidamente o número
que aparece, indicando a chamada. O
olhar dele passa pelo
número mostrado num segundo e no segundo
seguinte retorna ao
mesmo lugar.
¨Ela!¨- exclama em seu interior agitado.
Atende rápido, com
dedos nervosos ao segurar o aparelho.
— Sou eu...
Ele a ouve falar em
voz suave.
— Você... eu não esperava você ligar agora...!
— Eu precisava... ou melhor, preciso falar com você.
— Como você está?
— Indo...
— Estou sentindo
tristeza na sua voz...
— . . .
— Alô...? Está me
ouvindo?
— Sim... eu quero te ver... preciso te ver!
— Ai... por favor, dá um jeito...! Tem que ser logo!
— Escuta... me fala... o que houve?
— Não houve, nem está
havendo nada!
— Existe um tom de
ansiedade na sua voz.
Ela deixa sair uma de
suas risadas cristalinas.
— Agora você está usando
com freqüência sua psicologia?!
— Não brinca; me fala o que é.
— Preciso, tenho
necessidade de estar com você!
— Não pense que eu
também não fico desse jeito... mas é só
pra ficarmos juntos?
— Sim, sim! – a voz é
somente num fio fraco, agora.
— Não! Sei que não é
isso... está acontecendo alguma coisa.
— Ah, por favor, ahn... olha, é que eu estou com
necessidade
de ficar com você por alguns dias... estou me sentindo carente...
— Te quero tanto...! –
fala na sua voz sussurrante.
— Vem!
— Eu tenho que
resolver umas ...
— ... promete
que vem! No máximo em dois dias!
— Escuta... agora não é possível que queira me esconder algo;
fala! O que está acontecendo?
— Só vindo aqui você
vai saber. – sussurra ela.
— Eu vou resolver
então.
— Promete?!
— Prometo.
— Tchau, te amo!
— Tchau. Eu também te
amo.
— Mulder...?
— O que é...?
— Não posso viver sem
você.
— Scully... eu digo
o mesmo a você... te amo!
* *
*
Apressado, sai do
elevador e entra no imenso e acarpetado
corredor do andar. Aperta a campainha da
porta. Esta é
aberta e ela aparece diante dele
extravasando beleza.
Ele praticamente joga
no chão a maleta que carrega e a agarra,
fortemente.
— Ai, que alegria! — ela exclama,
apertada entre os braços fortes
do homem que ama.
Ele dá uma risada
divertida.
— O que foi que eu disse de engraçado?
— Nada. É porque estou achando que você
está menor ainda! —
Levanta a do chão — Minha
boneca!
Ela joga a cabeça para
trás, rindo a
valer.
— Gosto de te ver assim, descontraída.
— É pela sua chegada. O meu sonho vai
ser realizado.
— Que sonho ...?
— Te ver! Não é um sonho pra uma mulher
apaixonada?
— Então por que esse vai ser
realizado...? Estou aqui!
— Faltam detalhes... ela fala, deslizando
as mãos pelo tórax dele.
— Ah, detalhes... entendi.
—- ele
sussurra em seus ouvidos.
Ela se afasta. Retira
dele o casaco, jogando-o numa poltrona. Em
seguida
se atira novamente em seus braços, e ele a segura
pelo queixo, procurando lhe, avidamente,
a boca. Após o beijo,
permanecem abraçados, em silêncio.
* *
*
— Huuum... você está realmente gostosa...!
Ela lhe lança um
sorriso ameno.
— E eu estou exausto
com essa história de termos que sair pra
resolver coisas!
— Eu entendo. Eu
também cansei.
Mas com esse banho, revigorei...
e você?
— Bem, o cansaço foi pro brejo agora que
vejo você desse jeito. —
olha a com malícia — Vem cá.
Ela aproxima-se,
jogando-se na cama, com jeito sensual.
Ele deita-se por cima
dela, sem deixar no corpo o seu peso. Beija-a
no pescoço, descendo os lábios pelo
busto quase à mostra que
ele desvenda, abrindo o laço que o está
fechando. Suga com
sofreguidão os botões de carne rosada dos seios
dela.
Ela se abandona aos
carinhos dele, que agora, mansamente, lhe
procura os seios com a boca ávida,
desejando tocar-lhe os
mamilos através da camisola
transparente. Desliza os lábios
por seu ventre, quadris; novamente
volta à procura dos seios,
os quais faz se porem totalmente à mostra E ele, ali está como
a sorver-lhe o conteúdo a um e a
outro, com avidez.
Logo percebe que a parte mais
excitada do seu corpo já anuncia
a extrema necessidade de esconder-se
no mais recôndito lugar
do corpo da amada, que geme de prazer.
E ali, unem seus
desejos. Esquecem o mundo à sua volta. O que
conta, agora é o prazer do amor que estão
vivendo. O êxtase total.
* *
*
Ele está rebuscando
algo na farta pilha de CDs.
— Que você está
procurando?
— Aquele do Santana,
nosso favorito. — responde e começa a
dar trejeitos no corpo e deixando que o
som da música saia
de sua boca sorridente — ta rá aaaaa, tá
rá rá rá
rá rá rá
aaaaaa ...
Ela solta uma gostosa
risada.
— Vem! — ele a chama,
estendendo os braços e a prende ao seu corpo.
— Ahaah...
meu gostoso... te amo!
— E eu... – ele lhe dá
estalantes beijos no pescoço e colo – eu
não quero viver sem você!
— Por isso temos que
nos curtir o máximo que pudermos!
— Com certeza, minha
amada! — sorri, no jeito de menino, que ela
gosta de ver.
A música enche o
espaço com seus acordes envolventes.
Eles dançam,
alegremente, e enquanto ele a mantém presa aos
seus braços, ela joga a cabeça para
trás, divertindo-se, rindo a valer.
— Ai, que coisa boa! –
ela exclama.
— Escuta, — ele fala
junto aos ouvidos dela —– eu não quero passar
o resto dos meus dias longe de você!
— Só tem algo a fazer,
então.
— . . .
— Não vai falar nada? Pois o negócio é
deixarmos pra trás tudo que
nos impede de estar juntos.
— Do que está falando?
— Você sabe muito bem.
— E você sabe tão bem quanto
eu que não posso decidir minha vida
assim, numa rapidez e sem tranqüilidade
dentro de mim.
— Como tem coragem de
me falar isso?!
Ele a solta, surpreso
com a reação dela.
— Você bem sabe o
porquê disso que estou falando. Afinal não
foi iniciativa minha tudo o que
aconteceu embora eu tenha parte da
culpa...
— Vai falar novamente
sobre isso?
— Perdão, Scully, perdão.
— Ainda nos resta uma
esperança pra um aconchego de algum tempo...
— Sei disso. Nosso
trabalho juntos quando o Skinner nos chamar.
— É isso. Tudo bem entre nós.
— Tudo bem entre nós...! — repete, com triste sorriso no
semblante – Não, não está! Daqui a poucas
horas você vai
embora e me deixa aqui novamente... nessa solidão...
— Mas temos que falar!
Será nossa sina ter esse sofrimento? Algo
nos separa, não percebe? E isso está me
matando aos poucos!
— Por favor, não fala
mais nisso! Logo a gente vai conseguir um jeito
de não mais se separar!
— Não tenta me
convencer. — ela sorri levemente.
— Não faz isso...! —
ele a prende entre os braços novamente e ela se
desprende, rapidamente.
Novamente ele a
agarra.
— Eu te quero... por favor, não faz isso! — pede outra vez.
— Nos temos é que
pensar mesmo que vivemos em mundos diferentes...
não dá mais! — fala ofegante tentando
soltar-se.
Ele a segura
fortemente, procurando-lhe a boca e ela tenta desviar-se
enquanto continua a
falar, ofegante:
— Vai embora... —
murmura — ... me deixa... eu só quero me
acostumar a viver sem você...!
Ele não quer mais usar
palavras para convencê-la. Sua boca
agora só é a portadora do desejo pelo
corpo da mulher que está ali,
diante de si, pequena e frágil, cheia de
pensamentos antagônicos.
Arrebata-a, então,
atraindo-a a seus braços fortes. Quer possui-la,
mostrar-lhe assim que, embora vivendo com
outra lá distante, seus
mais íntimos desejos e os mais fortes
sentimentos são para essa,
sua amada, o seu verdadeiro e único
amor.
O coração se lhe
aperta no peito. É duro, cruel, ter que aceitar as
vicissitudes de um destino tão amargo!
O desejo e a felicidade
não podem viver juntos.
Epicteto