SAUDADE... NOSTALGIA
“A saudade é o sumo gostoso
e amargo do fruto da vida.”
Humberto de Campos
Capítulo 301
Burton fita Dana com
olhar enfurecido:
— Está pensando que
pode me enrolar do jeito que deseja, é?
Errou,
minha cara!
Dana permanece calada.
O homem louro caminha
de um lado para outro, irritado:
— Você achou que
deixando a minha casa eu iria me conformar?
— berra e aproxima-se dela — Afinal de contas
a decisão de morar
comigo foi sua!
— Deixa de estupidez,
Burton! Pára com isso!!
— Você é bem idiota,
Dana! — tenta segurar-lhe os pulsos, ao que
ela recua rapidamente.
E sai em passos
rápidos, deixando a casa, largando a porta aberta.
Dentro de si há o
desespero. O medo... nostalgia...
a saudade
Já está anoitecendo.
Dana olha à volta. Seu coração pulsa com
força ao ver as árvores enfeitadas com
inúmeras lâmpadas coloridas
que piscam
incessantemente.
— Meu Deus! Eu não
agüento essa saudade...!
Seus pensamentos vão
para aquela noite de há muito tempo atrás.
Ela havia decidido. Enfim, deixaria de passar o Natal com a família;
queria ir até onde
seu coração lhe chamava.
Bateu à porta e
aguardou. Ali, então, diante dela, estava o verdadeiro
amor que nascera aos
poucos, na convivência diária.
— Mulder!
— ela murmurou emocionada.
Ele abrira a porta,
fazendo-a entrar. Estava sem entender a chegada
dela até ali.
Mas naquele lugar Dana
seria feliz. Seu coração estaria aquecido com
o sorriso do seu
amor.
Conversa vai, conversa
vem, e a troca de presentes aconteceu.
Sorrisos, discreta
alegria, doçura nas palavras. E os olhares que tudo
diziam.
Lá fora os floquinhos alvos da neve caiam ininterruptamente.
Dana se desespera ao
relembrar essa passagem de sua vida.
— Meus filhos...! Mulder...! Temos que estar juntos... para
sempre!
Ela sente vibrar no
bolso seu celular.
— William! — murmura,
vendo que é uma chamada do filho.
Ela ouve gritos de
suas crianças.
Corre para onde eles estão, um tanto alarmada.
— O que pode ser?
Ao aproximar-se vê
William e Vivien de olhos arregalados, braços
erguidos e
sorridentes.
— Pai!! Pai!! —
gritam.
E Dana assiste entre
horrorizada e deslumbrada, Mulder ali, junto
de seus filhos.
— Não é possível o que
estou vendo, Mulder! Você...?!
Ele se volta para
olhá-la e sorri:
— Eu mesmo.
— Não devia ter vindo
aqui...! — ela sussurra.
Ele limita-se a
franzir os lábios.
Seus filhos, agarrados
a ele, fazem-lhe infindas perguntas.
Poucos minutos após
alguém aparece no limiar da porta e
chega até eles. O
homem louro cruza os braços, fitando
irônicamente
Mulder e os filhos.
— Até que enfim, hein?
Seus filhos querem sempre sua visita
a eles, mas veja
bem... — descruza os braços e ergue o
dedo indicador em direção de Mulder — Não quero que seja
aqui em minha casa.
Eu o proíbo.
Mulder levanta as sobrancelhas, fitando-o,
enquanto afasta as
crianças de si.
— Escuta aqui, é pra
mim que você está falando isso? — pergunta.
— O que acha, ó Agente?
Mulder dá meia volta no corpo,
afastando-se um pouco.
Dana aproxima-se dele,
segurando-o pelo braço:
— Por favor, Mulder... vai embora, eu te peço.
William faz um ar de
protesto:
— Não, mãe! É meu pai!
Não quero que vá!!
Burton berra a plenos
pulmões:
— Deixa de idiotice,
garoto! Aqui é a minha casa!
Mulder dá alguns passos decididos à
frente, na direção do homem.
Dana o impede,
amedrontada:
— Não! Por favor não, Mulder!
Neste exato momento
Burton, num gesto rápido, agarra Dana
pelos cabelos,
arrastando-a para si.
— Chega,
sua tonta! Você é minha mulher! Sabe disso! Não preciso
repetir mais!
Ela tenta escapar das
mãos do homem de forma suave:
— Por favor, Burton,
eu entendo tudo. Tudo bem. Me deixa em
paz. E deixa o Mulder
ir sossegado... por favor!
Mulder, com lábios apertados, cerrando os
maxilares, prepara-se
para livrar Dana dos
braços de Burton.
E assim, num súbito
ato, avança contra Burton.
Este solta Dana
largando seus cabelos de modo brutal, o que a
faz ser jogada no
chão.
— Seu estúpido! —
grita Mulder, atacando o homem.
Num segundo Burton
saca do bolso um fino e longo canivete
e com ele fere Mulder
no braço. E ele, mesmo sangrando,
consegue segurar firmemente os braços do
agressor.
Mas o homem louro é
muito forte e num golpe de fúria atira
Mulder contra a
parede, fazendo-o soltar um grito de dor ao
bater a cabeça de
modo brutal.
Burton vai novamente na direção de Mulder
ainda caído, o qual
com esforço e ainda
mostrando dor, apertando a cabeça, consegue
levantar-se.
E o homem louro, num
gesto bem estudado joga-se sobre o Agente
com o punhal erguido apontado para seu
coração.
O esforço de Mulder para evitar que o agudo aço penetre seu
tórax é muito grande. Num supremo esforço
consegue mudar a
direção do punhal que vai penetrando então
na garganta do agressor.
— Não, Mulder!! Não!! Pára!!— grita Dana.
— Pai!! Não, pai!! Não!! — grita William.
E Mulder,
sem querer ouvir os gritos de Dana e seu filho, enterra, com
todo vigor, a lâmina
aguda e brilhante na carne da garganta de
Burton, que, aos
poucos vai perdendo as forças, caindo no chão por fim.
E lentamente Dana e
seus filhos abrem os olhos espantados com
o que vêem ocorrer nesse momento.
Dana consegue abrir os
lábios para murmurar:
— Mulder...
não é possível! Estou vendo coisas...! Não acredito!
Mulder, de pé, pernas separadas, braços
derreados e com os
punhos cerrados,
observa calado a cena diante de seus olhos.
Dana, com olhos fixos
no homem caído, balbucia:
— Mulder...
você... sabia?
— Não tinha certeza,
mas desconfiava.
— Pai, por que está
acontecendo isso? Que estranho! Nunca vi isso!
O Agente puxa o garoto
e o aperta contra si, alisando-lhe os cabelos.
Vivien agarra-se à mãe.
“Não sabe falar quem não sabe calar.”
Pitágoras