OUTRO MUNDO

 

“Quanto mais pertenceres ao mundo

menos reconhecerás a necessidade

de se afastar dele.”

Bourdaloue

 

Capítulo 304

 

O cientista, que tem os olhos tal uma criatura louca, observa com

discreto sorriso o semblante interessado do Agente.

Dana, de braços cruzados, por sua vez, vê com ar apreensivo os

problemas que poderão vir se o seu amado Mulder tiver demasiado

interesse no assunto. Ela aproxima-se dos dois homens:

Professor ... ahn... me diga uma coisa: os dois homens têm

possibilidade de  retornar?

O homem ergue os braços, num gesto nervoso:

— Claro! Claro! Só que não estou conseguindo acionar a máquina!

— Ela pifou? — pergunta Mulder.

— Não, não é bem o que aconteceu. A máquina funciona bem; o

que pode estar acontecendo é que os dois devem estar bem distante

dos raios emitidos pela máquina e assim eles não podem ser puxados

para cá.

— E o que é esse lugar onde foram parar?

O cientista abre um sorriso, mas logo em seguida torna-se sério

e com ar preocupado:

— Tenho certeza que eles estão num mundo... alienígena! — sussurra.

Mulder passa o dedo indicador acima dos lábios e os aperta. Passa

uma rápida vista de olhos em sua parceira ao lado.

— Bem professor... eles terão que ser resgatados... — inicia o Agente.

— ... desde que nos ajudem a fazê-lo.

— E se ainda estiveram com vida.— completa Dana.

— Pessimismo! — resmunga o homem.

Dana chama Mulder a um canto da enorme sala branca.

— O que pretende fazer, Mulder?

— O que você acha?

— Acho que na situação com os sujeitos que desapareceram o melhor

seria...

— ... o quê?

— Desistir, Mulder.

Ele dá uns passos para trás, segura o queixo com força para falar:

— Não estou te reconhecendo, Scully!

— Você se acha capaz ainda de estranhas aventuras?

— Por que estranhas?

— Ah, Mulder, por favor! — ela exclama, afastando-se e sai do ambiente,

batendo a porta.

Mulder rapidamente vai até ela descerrando a porta e consegue

puxá-la pelo braço:

Espera, Scully!

— O que você quer, Mulder?

— Vai me deixar ir sozinho?

— Ir aonde? — ela franze as sobrancelhas.

— Lá.

— Lá...?

Ele mantém um riso sarcástico:

— Você prometeu fazer essa investigação comigo, Scully. E prometeu,

não a mim, mas ao FBI.

Ela faz um gesto de intolerância:

— Sim. Eu disse e concordo fazer a investigação, mas não ficando

aqui neste laboratório! Entenda!

— Entenda você! Temos que começar daqui mesmo!

— Está louco, Mulder?! O que está querendo?

Ele a segura pelos ombros:

Scully... mesmo sem crer nas minhas convicções, você sempre me

seguiu. Por que isso agora?

Por que? Ahn... Mulder... você quer começar penetrando num...?

— ... num mundo diferente.

— Pára com isso! — ela exaspera-se.

O cientista aparece à porta. Seus cabelos brancos e eriçados

completamente desalinhados, emolduram um semblante apavorado:

Ei, Agentes! Por favor! Preciso de vocês!

Mulder vai até ele:

— O que aconteceu agora?

— Ouvi os gritos dos meus amigos! — explica.

— O quê?! — o Agente se surpreende.

Dana franze os lábios, usando seu ar cético.

— Como foi isso? — Mulder pergunta, mostrando interesse.

O Professor Janssen o leva até junto da enorme máquina.

— Está vendo esse alto-falante?

— Sim.

— Por aqui se pode ouvir o som de vozes, gritos, qualquer ruído que

estiver lá no outro mundo.

— Outro mundo...! — resmunga Dana.

— E como foi? — Mulder insiste.

— Eles pediram socorro.

Mulder coloca a mão no queixo fitando a máquina.

— Vejam aqui. — chama o Professor os dois Agentes — Observem

esta telinha.

Os Agentes olham para a referida e minúscula tela embutida numa

das paredes da máquina.

Movimento de pequenos vultos indefinidos pode ser visto.

— O que significa isto? — quer saber Dana.

— São eles!! São eles!! — exclama o Professor agitado.

— Mas isso não mostra que a imagem é de seres humanos! — ela fala.

— Mas são eles! — é assim que a máquina nos mostra!

— Seres se arrastando no chão? — agora é Mulder quem pergunta.

— Sim, sim!! A figura humana fica disforme nessas lentes. Entenda!

São milhões e milhões de quilômetros de distância!

Dana afasta-se:

Mulder, eu já vou. Espero você lá fora.

Ele somente faz um gesto com a mão, dando a entender que ela

tem que o aguardar.

Mulder... — ela chama, novamente.

A ridícula figura do despenteado cientista segura o Agente pelo braço:

— Repare isso. Estas pequenas plataformas foram feitas para que,

se pisando nelas se consegue o transporte das pessoas para o outro

lado; só que elas não funcionam porque ainda não consegui

conectar certas ligações e...

O Professor Janssen põe um dos pés numa plataforma, dizendo:

Experimente, Agente.

Mulder faz o mesmo.

— O que sente?

— Uma vibração. Há algum defeito na máquina, é isso?

— Realmente não sei lhe explicar.

A imensa e brilhante máquina inicia um ruído estranho e contínuo.

Aaaaah! — exclama o cientista com ar vitorioso.

— O que está acontecendo?

— Era o que eu esperava! — responde ele entusiasmado.

Mulder, o que vai fazer? — pergunta Dana.

Ele não responde; concentrado nos botões e tela da máquina, nada

nem ouve à sua volta.

— Ótimo! Ótimo! — exclama o cientista.

— O que o está entusiasmando tanto, Professor?— a Agente

pergunta com voz irritada.

— Por causa disto aqui. Dê só uma espiada. — e o homem a chama

com um gesto de mão.

Dana aproxima-se dele.

Mulder, ao vê-la tão perto, passa o braço sobre seus ombros:

— Fantástico,  Scully! Espetacular!

— Mas do que está falando? Nada vejo de interessante.

— Pode ver, sim, prestando atenção nisso aqui.

Dana fixa o olhar no ponto  que Mulder lhe mostra.

Ambos sentem que algo os faz ficarem tontos. Um vertiginoso

girar os faz fecharem os olhos.

— É isso! É isso! Consegui!! Consegui!! — grita o cientista.

E com enormes pulos dentro do laboratório, comemora com satisfação

sua vitória.

— Consegui!!  E lá se foram os dois!! Ah! Ah! Ah! — levanta os braços,

bradando em alta voz — Consegui!!

 

“Vitória sem perigos

é triunfo sem glória.”

Sêneca