ADMIRAÇÃO

 

“A admiração parece consistir de

uma mistura de surpresa, de prazer

e de aplausos.”

Charles Darwin

 

Capítulo 305

 

A vertigem em sua cabeça faz Dana sentir-se mal. As pálpebras pesadas mantém-se fechadas,

impedindo-a de avistar o lugar onde se encontra. Em sua imaginação deve estar junto com

Mulder no laboratório do estranho cientista.

Finalmente, após forçar as pálpebras, consegue abrir os olhos.

Mulder, o que aconteceu comigo? O que houve? — não obtém resposta; abre mais os olhos

e fixa a vista à sua volta — Mulder...? — insiste em chamá-lo brandamente — Meu Deus!

O que está acontecendo? — olha com mais atenção ao seu redor e vê tudo diferente: cores,

brilho, formas — Que é isso?! Mulder!! Mulder!!

Dana nota que está caída no chão do solo avermelhado e irregular.

Mulder!! — continua chamando, agitada.

Repentinamente, um rumor estranho está ao seu redor. Não entende de pronto o que

acontece no momento.

Mulder!! Onde está você? — ela caminha, olhando para todos os lados.

“Engraçado... estranho... estou vendo a vegetação, o solo, as nuvens, tudo como se

fosse... um... cenário...!” — pensa admirada.

Tenta entender o que está acontecendo, até que observa seu próprio vestuário.

— Oh, meu Deus! Não é possível o que estou vendo! Não é possível! E Mulder? Onde ele está,

meu Deus?

Novamente o rumor leve e veloz ao seu redor se faz ouvir.

Neste instante Dana finalmente vê o que está se passando. Mais concentrada, nota que sua

roupa é uma encantadora saia de tecido leve, em grande volume ao redor de sua delgada

cintura. A blusa de fofas mangas, com decote profundo mostra parte de seu busto.

 Mas o que é isso? O que aconteceu comigo? Que roupa é essa, oh Deus?!

Ela coloca as mãos na boca para gritar:

Mulder!! Mulder!! — descansa um pouco do peito ofegante, para logo continuar a gritar pelo

amado.

Tenta iniciar uma corrida, sem nenhuma direção planejada. Mas ao iniciá-la tropeça nas

ondas de sua vasta saia.

— Oh, meu Deus! Que situação! Por que isso?

Num repente ela resolver ver o que está vestindo sob a imensa e vaporosa roupagem. Logo

nota que sob todos esses panos está vestindo somente calcinha e sutiã. Os  de seu uso habitual.

— Nem posso tirar essa porcaria de mim! Que coisa! Quem me pôs com essa roupa assim? E

pra  que finalidade? — resmunga, enraivecida, fazendo  tentativas de querer arrancar a vasta

saia que a aborrece tanto.

— Não ligue, fique calma!

Dana ouve essa voz aconselhando-a. Uma voz estridente e de som muito fino ou agudo. Procura

de onde vem. Mas não vê ninguém ao seu lado e nem afastado dali.

Ei! Quem está aí? — pergunta.

— Não se preocupe, princesa. Você é linda! — fala novamente a voz.

Dana outra vez tenta ver quem está falando com ela.

— Aparece! Aparece, por favor! Fala comigo, mas aparece! Por favor!

— Mas você está me vendo, princesa! — a voz responde.

Ela tenta observar com mais atenção a figura de alguém ali perto, mas não consegue ver ninguém.

Senta-se no chão. Coloca o rosto sobre as pernas. E chora.

— Ah, não! Não precisa chorar! Está tudo bem, princesa! — a voz fina continua, denotando carinho.

— Eu não agüento mais! O que está acontecendo comigo? — grita, desesperada — Mulder!! Mulder!!

— Não chore, não chore!! Eu fico triste! Quero lhe ajudar!

Dana levanta o rosto. As faces molhadas pelas lágrimas que deslizam sem cessar. Levanta.

Resolve caminhar novamente, sem um rumo certo. Enquanto caminha, chora. Embora sua vista

possa captar lindo cenário à sua volta, o desespero a faz permanecer em estado de angústia.

E quanto mais caminha, mais aumenta a sua desesperança.

“Mas que lugar é este? E se Mulder estava junto comigo, por que me separaram dele? O que vai

acontecer comigo?— pensa, angustiada.

Num certo momento, ao levar a mão ao rosto para enxugar as lágrimas, nota algo diferente.

— Minhas mãos! O que é isso?! O que é isso?!São desenhadas! Não estão como nasci! O que

aconteceu comigo?!

vendo aquele lago? — a voz lhe sugere.

— Lago...?—  ela quer saber; roda em torno de si mesma — Quem é você? Por que não aparece?

— Eu estou aqui, princesa! Por que não me vê?

Dana não consegue detectar a presença de ninguém à sua frente.

— Mas vá até o lago para olhar como você é linda!

Ela segura com mãos nervosas a bainha da vasta e incômoda saia e chega até o lago. Alcança a

margem e se olha nas límpidas e tranqüilas águas.

— Meu Deus! Essa aí sou eu?!

Ela vê refletida exatamente uma bela mulher vestida em vasta saia, blusa justa, sua cintura

bastante definida. Tudo isso favorecendo seu belo rosto emoldurado por longos e ruivos cabelos,

caindo ondulados sobre os ombros.

Embora seja favorecida pela vaidade ao se ver tão bela, o desespero a domina. E sai dali,

angustiada, levando as mãos à cabeça.

— Como pode isso acontecer? Não consigo entender! Eu sou uma figura de desenho. Estou num...

— ... reino encantado, princesa! — a voz esganiçada e miúda explica.

— Pára com isso! Por que não aparece pra falar comigo? O que está querendo?

 

*     *    *

 

Mulder percebe, passada a vertigem, que  seus pés estão enfiados em água. Abre os olhos

e tenta entender.

— Estou dentro de um poço!! Não é possível isso! Socooooorro!! Alguém me ajude!! — grita,

desesperado, ao observar que à sua volta somente tem as paredes escuras e lisas de musgo.

“Pelo menos — pensa ele — me resta a sorte de ter a água só na altura dos pés!”

— Alguém aí? Preciso de ajuda!! — grita novamente — sente-se impotente para sair daquele

lugar, pois o poço é profundo, embora quase seco.

Repentinamente, ele pára seus gritos. Ouvira algo. Uma voz fina e estridente.

— Vou ajudá-lo a sair! Calma!

— Me ajude, por favor! — pede, então — Você pode me ajudar? Ou então chame alguém! —

o Agente grita, porque nota que a voz assemelha-se a de uma criança.

— Pode deixar; vou ajudá-lo!

Logo uma corda é jogada dentro do poço.

Mulder, sem pestanejar, a agarra firmemente. Sente que a corda está sendo puxada.

Passados alguns segundos seu corpo desliza para baixo, até os pés tocarem a água novamente.

— Espera aí! Vou tentar novamente! — avisa a voz do lado de fora.

Outra vez o Agente tem seu corpo levado para cima em direção à borda do poço.

— Não!! — grita Mulder, segundos após — Estou descendo novamente!

— Espera um pouco! Calma, amigo!

Com os pés novamente tocando o fundo do poço, na água, Mulder teme ter que ficar ali e

perder a vida dessa forma.

— Por favor! Tente alguma coisa! Chame alguém pra ajudar!

Ouve um estranho rumor, como se fossem patas batendo no solo ou asas, nem sabe realmente

o que está acontecendo.

E agora, então, e com certo alívio, sente que seu corpo está sendo içado.

— Ah, felizmente! — ele exclama quando suas mãos alcançam a borda do profundo poço; e logo

alcança o solo.

Seus joelhos estão dobrados no chão. Passa as mãos sujas de terra nas roupas, tentando limpá-las.

Sente uma certa confusão na visão, o que o faz piscar várias vezes. Abre, enfim, totalmente os olhos.

Ei! — dá uma volta para olhar — Onde está você? — aguarda um pouco — Por que não

aparece? — aguarda mais;  ninguém responde suas perguntas — ok, amigo. Muito obrigado pela

ajuda!

Começa a caminhar, mas então é que presta atenção em seus calçados.

— Que interessante! Não são sapatos comuns que estão nos meus pés. — nota-os

estranhamente coloridos, como que pintados — Que estranho...! Parece que fui... pintado!

Não estou entendendo mais nada! — sobe a vista para as pernas das calças, o casaco

Nossa! Tudo mudado! Estou todo pintado!

Começa a correr.

Scully!! Scully!! Scuuuuulley!! — continua a correr, gritando o nome da amada — Scuuuuulley!!

“Há mais de meia hora a procuro e não a encontro. O que aconteceu? Que lugar é este? Que

lugar é este?”— pensa, agitado.

— Alô!! Alguém aí?? — resolve tentar novamente.

— Alô, amigo!

Mulder ouve o cumprimento. Procura, voltando-se para trás, para os lados e não vê nenhuma

pessoa por perto.

Ei! Quem está aí?

— Sou eu! Sou seu amigo! — a voz responde.

Mulder concentra seu olhar à frente. Franze o cenho, com o absurdo que está imaginando.

— Não é possível! — murmura surpreso.

— Sou seu amigo! Só quero ajudá-lo!

— É mesmo? — ele quer saber, fitando curioso o pequenino ser à sua frente e abaixando-se para

enxergá-lo mais de perto — Não estou acreditando no que vejo!

— Não? Então por que está falando comigo?

— Realmente! Por quê? Ei! Você me entende! Incrível! O que significa isso? O que está

acontecendo? — ele passa as mãos nervosas nos cabelos.

— Já reparou onde está?

Mulder, ainda agachado junto ao pequenino ser que está falando com ele, só consegue se

concentrar no absurdo do que seus olhos vêem.

— Como é que pode? Você... um esquilo?! Você fala e me entende?

Claro, moço!

— Então, quem me tirou do poço?— dá um sorriso, sem acreditar, mas arrisca a pergunta

V... você...?

— Sim.

— O quê?! Como...?! Como fez isso?

— Com meus amigos.

— Ah... seus amigos... e são como você?

— Sim, são. De todos os tipos possíveis, senão não teríamos força suficiente! Você pesa muito,

amigo!

— Então diga: onde estou? Que lugar é este?

Atlanturia.

— Como é...?

Atlanturia. — o esquilo repete mais alto.

Mulder ri:

— Parece a união de dois continentes desaparecidos. Atlântida e Lemuria.

O Agente se levanta. Olha ao redor. Vê então como realmente é o lugar no qual se encontra.

As montanhas, nuvens, vegetação, horizonte, tudo ali é formado por linhas e manchas, como

pinceladas de tinta sobre uma tela.

— Incrível! Isto aqui é como ... um desenho animado.

— É a minha terra. — explica o animalzinho.

Mulder leva a mão à boca aberta pela admiração.

— Uma terra encantada!! — exclama e logo volta o olhar para suas mãos  com outro formato

— Não é possível! Não é possível!! Minhas mãos...!

— Ora, não se assuste...! Está tudo bem!

— Sou simplesmente uma figura de desenho animado!!

— Sim, mas com cérebro e coração funcionando! – a vozinha do pequeno esquilo o faz se

surpreender cada vez mais.

— E agora? Onde está Scully? Onde ela está?

— A princesa?

— Princesa...?!

— Ela é linda E está procurando você.

Mulder abaixa-se novamente e toca no pequeno animal, que dá um salto e uma risada.

— Qual a graça, bichinho?

— Você não acreditar que posso lhe entender.

bem. Você tem nome?

— Meu nome é Tinn.

— Então me diga, Tinn, onde está Scully?

— Eu quero ajudar. Eu lhe levo lá.

— Sério? Então me leva lá, agora.

— É pra já.

E o ágil animal vai às carreiras à frente de Mulder, que o segue.

Ei! Onde vocês estão indo com tanta pressa? — uma voz pergunta.

— Procurar a princesa! — responde Tinn.

Mulder olha na direção da voz que chegou até seus ouvidos.

Um cervo, todo agitado, fala com o esquilo:

— Ah, eu vou com vocês.

Mulder sorri, achando incrivelmente interessante e inédita em sua vida  a situação.

  Então vamos em busca da princesa! — fala Tinn.

Ei, Tinn, qual é o nome do seu amigo? — que saber Mulder.

Pix! — responde o cervo, dando pulos.

Mulder segue os dois animais, preocupado em logo encontrar Dana.

 

“O sorriso é o arco-iris do rosto.”

Commerson