UMA MÚSICA ALEGRE

 

“A música é a verdadeira

linguagem universal.”

K. J. Webber

 

Capítulo 306

 

Dana se levanta do solo avermelhado e sente desejos de correr; não sabe bem em qual direção seguir. Está atordoada.

Mas logo nota que toda a vasta saia a impede de correr ou andar a passos largos. Ela ouve a fina voz novamente, mas

agora parecendo chamar alguém. Então,  estupefata com a cena que vê  permanece estática, pois uma revoada de pássaros

de vários tipos, cores e tamanhos aproxima-se. O bater das asas de todas essas aves faz um som fantástico aos ouvidos

de Dana. E ela fica muito mais surpresa ao ver que aquele bando de pequenos e alados seres, com seus bicos segura a

bainha da grande saia que está usando. Assim ela pode caminhar sem muita dificuldade.

— Mas... meu Deus! O que está... acontecendo...?

— O que está vendo, princesa! — eles só querem lhe ajudar.

Neste exato momento é que Dana consegue constatar que o ser falante à sua frente e que já há vários minutos está

tentando dialogar com ela é apenas... um esquilo.

— Não é possível! Não é possível!! Estou sonhando...!!

— Não, princesa. Você veio parar no nosso mundo.

— Um desenho animado...— murmura e logo resolve soltar a voz — Mulder!! Mulder!!

— Não adianta chamá-lo, princesa.

— Por que não? Por quê?

— Porque seu companheiro está no outro lado da nossa cidade.

— Quero ir até lá. — ela pede — Por favor, quero ir onde está Mulder.

— Sim, princesa! Sim! – o esquilo exclama com entusiasmo.

E o esperto animalzinho vai à frente de Dana, que tem a ajuda do bando de pássaros. E o pipilar das aves faz uma

música alegre.

Neste momento Dana não resiste. Um sorriso aparece em seus lábios e o semblante de preocupação se ameniza pelo

alegre momento. As lágrimas de angústia que lhe desciam pelo rosto há pouco, agora são lágrimas de emoção.

— Qual é o seu nome, princesa?

— Scully; Dana Katherine Scully. E você?

Veevo.

Dana sorri e o chama:

— Vem aqui, Veevo.

O animalzinho se aproxima.

Dana dobra os joelhos no chão; com os lábios faz uma carícia no focinho do animal.

Este, num gesto de puro agradecimento faz graciosos trejeitos:

— Ah, princesa, você é demais!

Dana se levanta sorrindo:

— Bem, vamos continuar pessoal?

O bando de pássaros pipilando, ergue a barra da vasta e alva saia de Dana.

Mal conseguem caminhar meio quilômetro, quando algo os detém. Um homem em trajes que Dana só tinha visto em

livros de história e contos de fada.

— Ah, é o príncipe! — exclama Veevo.

— Um príncipe...?! Incrível! — exclama a Agente, admirada.

O príncipe, demonstrando no semblante um ar de extrema felicidade, fala com admiração:

— Mas que linda você é!

Dana olha para um lado e outro, volta-se para trás, procurando ver  a quem o príncipe se dirige.

— Estou falando com você mesma, princesa — ele continua.

— E... eu?!

— Sim, você! Não a imaginei tão bela como é! — e o olhar de admiração vasculha Dana.

— Belos cabelos ruivos, olhos azuis transparentes como as límpidas águas de um lago... o corpo...

— Oh... senhor... por favor... — interrompe Dana, sem jeito.

— É o príncipe! Ele lhe achando linda, princesa! — diz Veevo.

— Por favor, eu não sou uma princesa! Eu sou uma Agente Federal.

— Uma... o quê? — pergunta o príncipe.

— Ela quer disfarçar, príncipe! — explica o esquilo.

Dana se exaspera; volta-se para Veevo:

— É assim que diz ser meu amigo? Querendo me destruir?

— Destruir...?! — exclamam o príncipe e o animal, espantados.

Ela pisca várias vezes, mordendo os lábios; levanta as mãos em gesto apaziguador:

— Me desculpem, não é bem isso que quero dizer! Só quero explicar que não sou deste mundo! É isso.

O príncipe dá uma risada: 

— Não duvide de mim, princesa. Entendo que em algum  lugar desta imensa galaxia poderia existir uma princesa t

ão linda como você!

— Obrigada, mas por favor, me ajudem!

— Eu lhe ajudo, princesa, no que você quiser! No que você quiser! Eu a amo! É uma paixão que chegou

repentinamente! Sou inteiramente seu, minha princesa!

— Ai, por favor, chega disso! — ela suspira, cansada da situação — Oh, meu Deus, por que foi acontecer isso?  

olha o rapaz com carinho — Por favor  príncipe, se gosta de mim, me ajude!

Claro, claro! O que quer que eu faça por você?

— Quero que encontre o Mulder! Por favor!

— Quem?

Mulder. — ela repete.

— É o homem que ela ama. — explica Veevo.

— Ama...?! Mas princesa, você tem que me amar! Eu a farei dona de todo esse reino!

Dana se dirige ao esquilo:

— Como você sabe que eu amo Mulder?

— Porque você o chama a toda hora e derrama lágrimas por ele.

— É lógico. Ele é o pai dos meus filhos.

— Filhos?! Você tem filhos? — o príncipe se admira.

— Sim.

O moço faz um gesto de pouco caso:

— Ah, . Não tem problema. Eu amo você do jeito que for.

Novamente Dana se aborrece:

Ei! Será que não entende? Eu não sou deste mundo!

O esquilo tapa o focinho com as patas, tentando esconder o riso.

O príncipe chega mais perto da Agente:

— Nós seremos felizes, princesa! Eu a  levarei até o castelo — aponta para um lugar, no alto de uma montanha

verdejante — Vê lá adiante? As mais belas coisas e o maior conforto a espera no nosso castelo.

— Mas eu...

— Por que hesita, princesa? Você nasceu pra ser a minha amada!

— Não é verdade! Não é verdade! Alguma coisa está acontecendo! Você não está entendendo! Não sou uma

princesa!!

— Você será a minha princesa!! — ele grita, com os olhos brilhantes de entusiasmo.

Dana, estática, nada mais pode argumentar.

Mulder, onde está você? Por que está acontecendo esse terrível pesadelo?” — pensa, desanimada.

— Não fique triste, princesa. Está tudo bem. — fala o esquilo, num murmúrio, só para ela.

O príncipe a segura pela mão:

— Venha até aqui. — leva-a até umas rochas, as quais estão protegendo um mural esplendorosamente chamativo

por sua extensão e fartura de cores, contendo desenhos das mais variadas espécies — Está vendo este mural?

— Sim, estou. O que ele significa? Na verdade é fascinante! —  esquadrinha o lugar, com certo interesse.

— Veja aqui estas figuras. — ele aponta — Bem aqui. Veja.

— Sim, estou vendo; o que é?

— Isso aqui foi esculpido há milhões de anos e... repare aqui... — encosta a ponta do dedo em figuras —

... essas aqui significam um casal de príncipes... esses caracteres?

— Estou vendo. — olha bem de perto — Você consegue decifrá-los?

— Claro! — ele se volta para a Agente e a fita intensamente — Mostra a história de uma princesa de outro

mundo que apareceria para o príncipe do Reino de Atlanturia.

Atlanturia...! — ela murmura, mas logo desperta — Mas o que você quer dizer com essa história?

— Não é apenas uma história, princesa. É a mais pura realidade. Essa princesa mostrada aqui é você!

Dana se impacienta:

— Ah, não! Vai recomeçar esse assunto! Não agüento!

Repentinamente o bando de pássaros que continuava a ajudar Dana a caminhar erguendo-lhe a bainha da

longa e vasta saia, começa seu pipilar agitado.

— O que foi, amigos? — pergunta Veevo.

Os pássaros, em  sua linguagem agitada, respondem à pergunta do colega.

— Pronto. Acabou o sossego...!! — resmunga aborrecido o pequeno animal, ao ouvir a explicação dos seus amigos

pássaros.

 

A realidade não passa

de uma ilusão vivida.”

Vargas Villa