COMO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

 

Capítulo 307

 

“História: êmulo do tempo,

depósito das ações, testemunha

do passado, exemplo do presente,

advertência do futuro.”

Miguel de Cervantes

 

Dana e o Príncipe, sem entender o que realmente está se passando entre os animais, continuam

seu diálogo:

— Veja bem... ahn... alteza... — pigarreia ao tratá-lo dessa forma — ... é que... bem, quero

lhe explicar o seguinte: o que diz sentir por mim é essencialmente um sentimento chamado paixão...

— ... sim, é isso! — ele confirma, interrompendo-a.

— Mas deixe-me concluir: a paixão é uma tendência exclusivista que acarreta quebra do equilíbrio

psíquico, afetando a personalidade; enquanto que o amor é um sentimento diferente; ele

nasce da convivência, da amizade, da compreensão entre duas pessoas, o contrário do que está

acontecendo entre nós dois, porque você nem me conhece, não sabe de onde vim, nunca havia

me visto, et cetera, et cetera...

Desculpe, Princesa; não aceito seu modo de pensar porque sigo o que diz nossa tradição,

esse destino traçado, esse...

Neste momento Dana assusta-se com a rápida aparição de uma mulher à sua frente. Pareceu-lhe

ter visto algo como fumaça no ar antes de poder ver a figura que se mostra.

E Veevo começa a saltitar ali, abrindo seus olhos desmedidamente, parecendo muito assustado:

— Então é você, hein? Ah querida, não ligue para o que faz ou diz esse doidinho do Veevo.

Ele não sabe o que faz! É apenas um animal.

— O que está querendo dizer, senhora? — Dana pergunta.

— Que eu somente é que posso ajudá-la.

O esquilo começa redobra os pulinhos nervosos diante das duas mulheres:

— Não confie nela, Princesa!

— Cala a boca, reles animal Você não sabe o que diz! Cale-se!

Porém o bichinho continua dando pinotes.

A mulher parece ser de alta categoria no tal reino, já que seu vestuário de luxo demonstra isso.

E usa uma coroa cintilante.

Veevo chega perto de Dana; puxa-lhe pela bainha da saia para lhe chamar a atenção.

Dana olha para baixo e vê o animalzinho junto a seus pés.

— Ouça...! —  ele pede baixinho.

A Agente abaixa-se um pouco para ouvi-lo.

— Essa é a Rainha má.

— Rainha... o quê?

— Má.

— É apelido de... Márcia... Marina...Manuela? É isso?

— Não! É má, de malvada mesmo!

— Ah! Como nas histórias em quadrinhos...

— Nas... o quê?

— Não tem importância. Entendi o que está me explicando.

— E aí, animal imbecil? — grita a mulher lá adiante— Vai saindo logo, que eu preciso

conversar com a moça, vai!!

O animalzinho rapidamente afasta-se de Dana.

A Rainha aproxima-se dela:

— Então querida, venha aqui. Gostaria de conhecer nosso Reino Encantado? — num gesto

com a mão a Rainha volta-se para o Príncipe, que estivera por vários minutos mudo e parado.

— Ó querido Príncipe, venha com a gente! Vamos mostrar nosso Reino a essa linda visitante.

— S... sim, Majestade!— ele concorda.

Os três caminham entre a longa, verdejante e florida alameda de belos arbustos.

— Já observei, senhora. Aqui é uma terra muito bonita, que só se pode ver em... — começa Dana.

O Príncipe e a Rainha param para escutá-la.

— ... histórias de contos de fadas.

— Contos de fadas... o que é isso? — pergunta a Rainha — Tem a ver com as nossas fadas?

— Quem sabe...! — responde Dana, com um suspiro.

Um ruído como pesados passos em alto som, faz Dana voltar-se para onde vem o barulho.

Uma porção de arbustos e pequenas árvores é levada ao chão e esmagada sob enormes pés,

que sobre eles pisam neste instante.

Ela se assusta e acompanha com o olhar o tamanho dos enormes e feios pés, seguindo-lhe

o caminho das pernas, que levam a um enorme e grotesco corpo.

Aaahn!! — a Agente solta um grito.

O Príncipe e a Rainha reparam seu susto.

— Ora,  não é nada assustador, Princesa! Aquele é o meu criado Xukro.

Dana, ofegante pelo susto, leva a mão ao peito:

— Oh, meu Deus, que susto! — e neste momento nota que algo a incomoda nesse lugar de seu

corpo, como se um objeto estivesse ali escondido.

“Depois vou tentar ver o que tenho aqui sob minha roupa” — ela pensa — Num momento

mais propício. Agora não dá”

E Dana prossegue, então:

— Desculpem-me. Mas quero lhes pedir um favor.

— E qual é? — quer saber a Rainha.

— Levem-me até onde está o Mulder. Por favor!

— Onde está... quem? — volta a perguntar a Rainha.

— Não se preocupe, Majestade. Eu e a Princesa já combinamos algo sobre isso. — diz  o

Príncipe.

— Não, não combinamos... — Dana quer explicar.

— Pode deixar, Princesa. Logo voltaremos a falar sobre o assunto. — ele replica.

O Ogro, criado do Príncipe que havia aparecido,  se aproxima.

— Posso falar com vossa Alteza?

— Já está falando, ó grandalhão bobo! —  comenta em alta voz a grosseira Rainha.

O rapaz a olha com censura, enquanto Dana observa a falta de tolerância da mulher.

O Príncipe afasta-se das mulheres, acompanhado pelo Ogro.

— Alteza, só pra lhe contar que a Rainha já está sabendo de sua paixão pela Princesa.

— É...? E como ela...?

— Não sei, Alteza; peço-lhe mil perdões, mas sempre lhe falei que ela é ...

— ... ela é o que, Xukro?

— ... bruxa!

O Príncipe dá uma risada:

ok, ok! Quando não se vai com a cara de uma pessoa,  esse é o jeito de falar.

— Não, por favor, meu senhor! É verdade o que estou lhe dizendo!

Ei!! Vocês dois aí!!  — grita a Rainha — O papo está bom, mas vão ficar muito tempo

com isso?

O Príncipe volta para junto de Dana e a Rainha:

— Perdão, Majestade; meu criado tinha um assunto urgente pra falar comigo. É isso.

— E você, Alteza, uma pessoa importante, fica à disposição de um ser tão inferior como

esse Ogro?! Faça-me o favor! — põe as mãos na cintura, dirigindo-se ao OgroAgora

vai, ó aberração da natureza! Some da nossa frente!!

O Príncipe olha para a Rainha; chega a abrir a boca para protestar, mas resolve calar-se.

Dana levanta as sobrancelhas, admirada com a grosseria da luxuosa criatura.

 

* * *

A vegetação extraordinariamente bela naquele cenário desenhado, põe Mulder

entusiasmado, mesmo sofrendo com a ansiedade de rever a mulher amada.

Logo, um rumor musical se aproxima de seus ouvidos atentos.

Ele pára. Mesmo porque tem que fixar os olhos no que está diante de si. Numa clareira

estão dois cervos, várias lagartinhas e coelhos, pulando ao redor de um casal, que, batendo

palmas canta para eles.

— Mas o que é isso?! — admira-se o Agente.

— Os nossos amigos gostam muito da gente e se divertem dessa maneira — explica o esquilo .

Mulder observa atentamente o casal, antes de se aproximar deles.

— Venha! Venha comigo!— Tinn chama o Agente.

O casal está sentado sobre uma pedra redonda e alta, divertindo-se com a manifestação da

bicharada ao seu redor.

Mulder se aproxima.

Ao ouvir o ruído de folhas pisadas no chão o casal se vira para olhar:

— O Tinn está trazendo um homem até aqui e é... — a mulher começa.

— ... humano! — o homem conclui.

— Impossível o que estou vendo! — exclama Mulder — Vocês são iguais a mim?!

— Sim, companheiro! — responde o homem, esticando a mão para cumprimentá-lo.

Ao olhar para a mulher, Mulder não quer acreditar no que vê:

— Estou tendo um sonho ... ou na verdade você é...

— Ângela White, Agente Fox Mulder! — ela salta da pedra para abraçá-lo — E ainda

bem que não acha estar tendo um pesadelo! — sorri para ele.

— Mas como veio parar aqui?

— A mesma pergunta nós lhe fazemos. — responde o homem.

— Este é Carl Scott — ela apresenta o rapaz ao Agente.

— O amigo do Professor Janssen?

— Isso mesmo.

Mulder leva a mão ao queixo; faz um bico com os lábios, no seu gesto peculiar:

— E ele o chutou para cá. — conclui.

— Isso. — responde Carl.

— Quanto a você, senhorita White...

Angela,  Fox. Por que toda essa cerimônia? Somos amigos de longa data!

— Verdade? — pergunta o rapaz.

— Nos vimos durante uma investigação rapidamente — explica Mulder.

De súbito ele recorda que sua amada Scully tivera um sonho.

Foi com Ângela White que ela sonhou! Será que era uma previsão de que iríamos

sofrer esse tipo de separação? No sonho dela foi devastador para o nosso relacionamento.

Não podemos é deixar que isso se torne uma realidade! Eu não suportaria perdê-la”

Os olhos dele se umedecem com esse pensamento.

E neste instante ele ouve Ângela continuando a dar explicações sobre seu encontro  há anos

atrás.

— Mas que foi um encontro marcante, lá isso foi! — ela sorri, tentadoramente.

— Ângela  também foi jogada para este lugar. Você veio aqui para investigar?  — pergunta

Carl,  cortando o assunto.

Supostamente fui chamado para averiguar o desaparecimento de vocês, mas estou vendo

que foi tudo uma farsa.

— Sem dúvida, Fox. — confirma Ângela.

— E eu tenho que procurar minha mulher. — explica Mulder.

Ooooooooh, você se casou??!! — ela se admira.

— Agente Especial Dana Scully, se quer saber.

— O quê?! Ela?! A mesma que...

— ... fez aquele flagrante de muito mal gosto.

Aaah!! — ela dá uma rodada — Fala sério! Você bem que curtiu! Confessa, Fox!

— Do que vocês estão falando, gente? Será que não percebem que temos que nos virar para

achar logo um meio de sair deste lugar? Não podemos perder tempo com palestras! — reclama

Carl ansioso.

O bando de vários animais lança seus gritos, ruídos, concordando com as palavras de Carl.

 

“As mulheres nada sabem;

adivinham tudo.”

A. Houssaye