EM LÁGRIMAS

 

“As lágrimas são a palavra

da alma, a voz do sentimento.”

Pananti

 

Capítulo 317

 

Dana, em lágrimas, desespera-se por estar ali no último lugar que gostaria de estar: o castelo

da Rainha má.

— Oh, meu Deus, como foi me acontecer uma desgraça dessas? Essa mulher que é dona desse

lugar me odeia! E eu nem sei o porquê!!

Ela deixa o corpo cair na cama. E chora mais. E em sua mente em todas as cenas do que se

havia passado horas antes.

Lembra que  estava no alto da árvore, rodeada pelos esquilos, preguiças, macacos e já

começara a se preocupar:

“— Eu sei que vocês me ajudaram bastante e aqueles dois que são quase meus inimigos se

afastaram daqui... mas e agora? Como vou poder sair?

— Não se incomode que tudo vai dar certo.

— E poderei encontrar Mulder novamente?

— Naturalmente, Princesa. O meu irmão Tinn está com ele.

— Verdade?! — ela levou as mãos ao rosto, sentindo intensa satisfação.

— Sim! Sim! Sim! — respondeu alegre o esquilo.

Súbito, todos sentiram os galhos da gigantesca árvore balançarem.

— O que é isso ?! — exclamou Oy agitado.

Ei, turma! — olhem lá em baixo!!— gritou um dos macacos.

— O que está vendo, amigo?

— O criado do Príncipe! Vejam!!

— O que vocês estão falando?  — ela quis saber.

— É que o Ogro, o criado do Príncipe está ali no tronco da árvore e a está balançando,

não sabemos o porquê nem pra quê.

Logo todos perceberam que os galhos altíssimos nos quais todos se encontravam estavam 

sendo curvados.

— O que é isso?! — Dana se assustou.

— O Ogro está dobrando o tronco desta árvore!! — explicou Oy aos gritos.

— Está querendo me derrubar no chão!! — gritou Dana.

Os galhos do topo da árvore mergulharam em direção ao solo.

Nãaaao!! — gritou a Agente.

Todos os animais que estavam na árvore caíram junto ao bando dos outros bichinhos que

se encontravam no solo. Um grande ruído provocado por todos eles chegou aos ouvidos do

Ogro.

— Que que é?! Estão incomodados, é? — ele falou com seu vozeirão que ecoou na floresta.

E Dana, horrorizada, gritou à espera de um socorro. Mas logo se sentiu amparada pelos

fortes e grandes dedos do Ogro.

— Por favor! Não!! — ela gritou.

Os grandes olhos do Ogro brilharam ao vê-la presa em seus braços.

— É que vou levá-la para o meu Senhor, Princesa. — explicou.

— Por favor, me deixa!

— Não posso. Gosto muito e obedeço o meu Senhor e sinto que ele está

abalado com seu desaparecimento.Tenho que levá-la de volta.

— Ah, não! Por favor!!

E ante os pedidos desesperados da Agente o Ogro continuou segurando-a no colo e

colocou-a numa caixa feita de fibras vegetais e carregando-a no ombro, afastou-se do local.

Todos os animais em completo desespero pulavam e faziam ruídos pela frustração de

terem seus planos desfeitos pelo terrível Ogro.

— E pra onde vai me levar? — Dana perguntou.

— Para o castelo da Rainha.

— Oh, não! — gemeu a Agente.

*   *   *

 

A paisagem diante de seus olhos, assim no alto da torre do castelo, numa pequena janela,

Dana pode, mesmo diante de sua tristeza, se deslumbrar com a beleza desenhada.

Mesmo ali, num local totalmente fora da realidade, ela sente prazer em sonhar; sonhar

com o homem que ama, que admira e que lhe deu a felicidade de gerar seus lindos filhos.

Os olhos lacrimosos deixam derramar gota a gota o líquido salgado, que demonstra

toda sua tristeza e amargura.

 

“— Agente Mulder, sou Dana Scully.

 

E ele, com seu ar sarcástico, parecia querer me desanimar de estar ali, sendo

enviada por meus superiores. Após alguns segundos, me recuperando do recebimento

tão frustrante por aquele meu colega, recomecei:

 

— Eu queria mesmo vir trabalhar com você.

— Verdade? Tive a impressão de que foi mandada aqui pra me espionar!

 

Dana deixa seus lábios se moverem num leve sorriso.

—Tolinho...!— murmura, com doçura.

Continua em suas relembranças:

“E ele, sempre com seu olhar terno e respeitoso comigo, me fez aquele convite... ah...!

Me lembro muito bem porque vi o desapontamento em seus olhos.”

 

“— Scully e se a  gente se hospedar num hotel, assistir um show, jogar uns trocados

num caça-niqueis e... investigar o caso um pouco?

— Preciso voltar para Washington.

— Algum encontro?

— Não. Festa do aniversário do meu afilhado.”

 

“O gesto dele, frustrado, jogando,  displicentemente as chaves do carro que caíram no chão,

aos meus pés, me deixaram um tanto chateada. Ai... e como me senti desconsolada quando

o vi beijar aquela mulher naquela mansão onde houve o incêndio...! Frustração total naquela

hora! Tantas coisas o destino me preparou a fim de que, mesmo apaixonada por ele, eu

pudesse ver que ele não me amava. Mas... e aqueles olhares...?! Deus! Eu já morria de paixão

em saber que outra mulher poderia sentir aquela sensação!

Lembro bem no carro, naquela noite:

 

“— Fox... — comecei a chamar.

 

Ele riu:

— Até meus pais me chamam de Mulder...

 

Parei por uns segundos:

 

Mulder... eu não arriscaria a minha vida por ninguém, a não ser por você.

 

Nossos olhos se encontraram da forma mais apaixonante que poderia acontecer entre um

casal que se ama, mesmo que esse amor não tivesse sido anunciado. Mesmo que existisse

somente dentro do meu emocionado coração.

E numa ocasião em que ambos tentávamos disfarçar o que sentíamos um pelo outro, ele citou

uma frase que tocou fundo em minha alma desde quando a ouvi daquela voz sussurrante :

 

“Amo-te como amiga e como

amante,  numa mesmo cruel realidade.”