ELE SE ACHA PODEROSO

 

“O poder sem moral

converte-se em tirania.”

Balmes

 

Capítulo 318

 

Princeeeesa!! — grita Oy dando pulinhos.

— Que susto você me deu! Eu estava distraída.

— Sabe, eu e meus amigos vamos tirá-la daqui.

— Verdade? — ela se senta no chão para se aproximar mais do bichinho — Eu estou com

 medo daquele ogro! Por causa dele vim parar neste lugar!

— Eu sei, eu sei Princesa. Aquele criado do Príncipe faz tudo o que o patrão manda! Ainda

mais com ordens da Rainha, então aí ele se acha poderoso.

Dana chora. Suas lágrimas rolam pela face:

— Eu estava até me sentindo segura nos galhos daquela árvore...!

— E eu e meus amigos também achávamos que ninguém poderia tirá-la dali. Mas aquele

monstro enorme a viu lá e...

Dana cobre o rosto com as mãos:

— Eu preciso sair daqui, Veevo! — pede, olhando para o outro esquilo.

— E é isso que nós vamos fazer, Princesa.

Num repente o esperto esquilo começa a puxar os lençóis que recobrem a grande cama que

tem no quarto.

— O que está fazendo com isso?— Dana pergunta.

Ele puxa mais ainda todos os panos, agora ajudado pelo outro.

Veevo! Oy!  Pra que é isso?! — logo ela pára e se concentra: — Não me digam que é pra

fazer uma corda!

— Sim, Princesa. Você pode amarrar cada pano um no outro até chegar lá embaixo.

Ela arregala os olhos azuis e brilhantes:

— Mas é mesmo! Por que não pensei nisso?

E ela começa a dar os nós, prendendo os panos um ao outro. Fica até mais animada.

Ufa!! Está pronta a corda! — ela diz, por fim e corre para a janela —  Nossa! É

muito alto isso aqui! Como vou descer?

— Ah, a gente dá um jeito. — explica Oy.

— Eu não estou conseguindo me imaginar descendo isso! Não posso!

— Jogue a corda para fora, Princesa! Pare com isso! Que desânimo é esse?

Dana permanece estática por alguns momentos. Logo recobra a coragem:

— É verdade! Não posso desanimar assim! Sou uma Agente Federal!

Os esquilos arregalam bem os olhos redondos:

— Você é o quê...?

Dana faz um carinho nos pequenos animais que estão bem junto dela:

— Uma Agente Federal só faz o bem às pessoas, viu? É isso. A gente luta em nome da Lei!

— Da... Lei...?! Quem é ela?

Dana não consegue prender o riso e se anima:

— Vamos, Veevo. Venha Oy. — e joga a corda que vai girando para baixo em grande

velocidade.

Dana começa a descer, segurando-se na corda de pano.

Veevo se apóia em seu ombro, firmando-se o máximo que pode, enquanto Oy os segue com o

olhar, andando de um lado para o outro no beiral da janela. Em seguida também se apóia

no ombro de Dana.

— Oh, meu Deus, me ajuda! — ela pede.

— Esse aí vai lhe ouvir? — o esquilo pergunta — Quem é ele?

— O criador de todos os seres vivos da terra... — ela pára.

— Criador do quê...

Ela dá um suspiro:

— Ai, que estou eu dizendo? Esqueça o que eu falei. Aqui tudo foi criado por alguém ou não

sei... desculpe.

O esquilo nada mais pergunta.

E Dana vai prosseguindo no seu imenso esforço, descendo pela corda.

— Ainda falta muito pra chegar lá em baixo! — se queixa, cansada pelo esforço.

Repentinamente algo acontece:

— Não!! A corda está se partindo! Os lençóis... não!! — grita.

— Onde?

— Olha lá em cima, Veevo! Ela não vai agüentar nosso peso! E agora? E agora?

No mesmo momento Dana, aos gritos, sente seu corpo projetado para baixo.

Nããããããããoo!!

Só sente que seu corpo bate fortemente na água esverdeada e suja. Apavorada, nota que dois

grandes jacarés se aproximam. Um deles lhe dirige a palavra:

— Ora, ora, que comidinha mais saborosa essa!

Dana, desesperada, nada de um lado para o outro.

— Pois eu não gostei! achando muito magrinha! — diz o outro.

— Sei! Eu te conheço, cara! Tu não dispensa nada! Nem galho seco!

Ei! Olha lá aqueles bicharocos nadando rápido! — avisa o animal ao ver Veevo

e Oy  nadando, procurando sair do fosso.

— Ah, aquilo não dá nem pro buraco do dente! — responde o outro.

Dana, em seu completo desespero, tateia suas vestes mesmo dentro da água suja.

“Tenho que pedir socorro! Meu celular!” — ela sente o volume do aparelho sob suas vestes.

Mas seus dedos trazem à tona uma lanterna.

“Minha lanterna. Estava aqui comigo o tempo todo! — e ela então  tem uma idéia.

Acende a lanterna e a coloca em pé na boca aberta do enorme animal. Os olhos do jacaré

se acendem como holofotes. Em seguida a luz se expande e o jacaré se torna como um

abajur; fica todo iluminado por dentro, mostrando seu interior, principalmente a barriga.

Imediatamente o outro animal se aproxima de seu colega todo iluminado:

— Cara! Mas que traidor que é!!

— O quê?!

— Seu safado! Logo vi que ia fazê  isso comigo!

— Mas o que falando?

O bicho dá uma virada no forte rabo na direção da barriga do outro:

Taí na tua barriga, seu safado! vendo! comeu a torta de camarão que a cozinheira

do castelo deu pra gente!

— Certo! Comi sim! E daí?

— Daí é que tu comeu as DUAS!! Uma torta era pra mim!!

— Ah, qualé cara? Na hora que ela me deu tava lá do outro lado!

— Que o quê, seu sem vergonha! Tu me paga!

E diante dos olhos estupefatos e extremamente assustados de Dana a briga entre os dois é

iniciada de forma violenta.

— Meu Deus! — grita a Agente — Preciso sair daqui! Me ajuda, Senhor!

Lá distante dela, Veevo e Oy dão seus gritinhos desesperados pedindo ajuda, querendo

se livrar da água imunda, esverdeada e engrossada de detritos.

— Esperem aí, amigos! — grita um dos bichinhos que está acima do paredão do fosso,

procurando ajudá-los.

Um grande bando de macacos, esquilos, gambás e outros bichos com cauda longa organizam

uma espécie de corda; um animal segurando a ponta do rabo do outro. Assim conseguem

alcançar o nível da água onde se encontra os seus amigos Veevo e Oy.

Estes conseguem alcançar o lugar onde seus amigos estão e os animais se encontram. Seguram

fortemente na cauda do último animal.

E, aos poucos, um vai puxando o outro para cima, até fazê-los alcançar a saída pelo paredão

do fosso.

Neste instante Veevo suspira. Felizmente havia escapado daquele problema. Sente-se um

vencedor.

“E a Princesa?” — pensa preocupado.

 

“Para os vencidos não resta

 mais que o desespero.”

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