MORRENDO
“A morte é um sono sem sonhos.”
Napoleão
Capítulo 319
Dana, ainda em seu desespero, continua
tentando pedir socorro de alguma forma. Sente
um tremor junto
a seu corpo. Percebe que é seu celular sob as roupas molhadas e o pega,
ligando a seguir o
aparelho.
— Por favor! Faça alguma coisa! — fala
com o aparelho.
A carinha que surge na telinha abre com
grande dificuldade os olhos. E tosse. Tosse muito.
Dana nota que ele está quase desmaiando.
— Ah, meu amiguinho! Agüenta firme! —
ela diz.
A carinha do celular abre e fecha os
olhos mortiços. Tosse muito, novamente.
— O que está acontecendo com você? —
Dana pergunta.
A telinha, com olhos mortiços, responde:
— Meu... conector
flex... não posso...
— O quê...? Que quer me dizer?
— É que também... — tosse mais — ... meu sensor... de toque...
— O que está havendo com ele...?
— Não... está...
bem!
— E... eu não
entendo nada disso!
— Por que não ... me ajuda? Estou... morrendo!
— Não! Agüenta mais um pouco!
— Não posso...! O meu... regulador... — tosse muitas vezes — ... de
tensão... tá fora de... ai!!
— O que foi agora?
— Me socorre! A placa...
— Placa...?
— S... sim... a placa do teclado...
— Ai, meu Deus, mas não posso te ajudar!
Não conheço tecnologia em informática! Sou
médica!
— Agora... eu
vou...
— Não!! Agüenta firme! Nós estamos — ela
respira com força — conseguindo chegar
até ali. Os
bichinhos vão nos ajudar! Calma!
E tenta reanimá-lo.
A carinha abre os olhos:
— Ai... preciso
respirar... muita água... estou
afogando... o meu... motor vibracall...
— Eu lhe ajudo, eu lhe ajudo! — Dana
fala.
— Respiração... boca
... a boca! — o celular murmura com voz cansada.
E a Agente faz o que ele pede.
O aparelho cospe água e respira um
pouco, mas mesmo isso não o ajuda a reanimá-lo.
Pouco a pouco ele cerra os pequenos
olhos e a boca.
— Não!! Acorde!! Ei!!
— grita Dana.
Lentamente os olhos e a boca desaparecem
da telinha.
— Oh, não! Ele morreu! Pobrezinho!
Dana percebe, amedrontada, que algo
forte se enrola em seu pescoço. E fazendo
movimento com as
pernas para manter-se na água, segura desesperada com as duas
mãos aquela
coisa a enlaçando grosseiramente.
— Aaaaaaaaaaaah...!
— tenta gritar e não consegue.
Num relance seus pés se equilibram numa
espécie de pedra, ato esse que a faz perceber
que, dessa
forma ela pode se manter com a cabeça fora da água. Mas continua a sentir
o pescoço
preso por algo... talvez uma serpente...!
— Oooooh...!!
— o som que produz de nada adianta para servir de um pedido de socorro.
Apavorada, percebe agora que sua cintura
está completamente tomada também por algo
que a prende
sob a água.
— Ooooh...!! —
ela ainda tenta gritar, mas nada consegue.
Percebe, então que está sendo içada na
direção do grande muro do fosso. Seus pés, firmes
sobre a pedra,
lhe parecem estar subindo à tona daquela agitada água do grande fosso.
— Aí, Princesa Agüente mais um pouco! —
ela ouve.
“Ah... são os bichinhos meus amigos...!
Felizmente vão me tirar daqui!” — pensa mais animada.
Repentinamente sente mais apertado
aquilo que circunda sua cintura. E é, então levantada no ar.
— Princesaaaa!!
— os pequenos animais gritam em uníssono, à beira do profundo fosso.
— Nãaaoo!! —
ela grita e aterrorizada percebe que duas grandes serpentes desenrolam-se
neste momento de
sua cintura e que elas é que a fizeram submergir.
E sente logo em seguida que duas grandes mãos
agarram seu corpo. Então é que nota que
é Xucro, o
criado do Príncipe.
— Você de novo!? Me solta!! — pede,
gritando.
— Calma, Princesa.
— Me solta, por favor!
— Não posso. O meu senhor mandou que a
leve para ele.
— Mas por quê? Pra quê?
— Ah, Princesa, você sabe como é que
acontece quando chega o amor. — fala ele, enquanto
a sustenta no ar somente com uma das
mãos.
Dana está em lágrimas e pede novamente:
— Por favor, me deixa! Não me leva pra
lá! Eu lhe peço...!
—Eu obedeço as
ordens do meu senhor.
A Agente fecha os olhos; sente a
desesperança tomar conta de seu ser.
O ogro a
observa neste instante.
— Ah, Princesa! É preciso trocar essa
vestimenta.
— O quê...?! Trocar?! Não tenho outr... — ela nem conclui a frase.
— Ei, vocês
aí!! — grita ele para os bichinhos, que até tremem de susto.
— Não estão ouvindo, seus moloides?
Os esquilos e coelhos e cervos se
aproximam.
— Providenciem um novo e belo vestido
para a Princesa. Agora!
Já!!
Os animaizinhos partem dali em
desabalada carreira.
“A beleza sem
graça é
um anzol sem isca.”
Talleyrand