SONOLENTO

 

“O sono e a morte são gêmeos.”

Schiller

 

Capítulo 321

 

Mulder e Tinn se aproximam agora do fosso que protege o castelo.

— Puxa vida! Sabe que eu nem lembrei que os castelos possuem essas coisas que os guardam

de invasores? — fala Mulder olhando as águas sujas e esverdeados do profundo  fosso.

— Sem problema, chefe!! — diz o esquilo, com entusiasmo.

— O que quer dizer?

— Que pra tudo há uma solução.

— Mesmo...?

— Sim, chefe! Meu coleguinha já está lá dentro do castelo e vai arranjar um meio de arriar

a porta movediça que dá acesso à entrada do castelo.

— Ora, ora Mas que amigos espertos! Muito bem. Então, vamos lá!

Logo adiante seus passos são detidos.

— O que há? —  o Agente pergunta.

vendo aquele cara lá adiante?

— Cara... adiante...? Onde?

— Repare só; o bobão disfarçado e pensa que a gente não está vendo.

Ei, mas onde?

— Vê aquele tronco de  árvore grosso ali na frente?

— Sim, mas ele está onde?

— A árvore é o próprio;

— O quê...?!  — ele coloca a mão no queixo — Como pode...?!

Passado algum tempo o Agente, em andar rápido, acompanhado do esquilo Tinn, vai se

esgueirando para não ser visto pelos possíveis guardas. Seguem rápidos. Súbito, um susto.

— Pare aí, amigo! — alerta Tinn, dando pulos diante do Agente.

Mulder detém os passos.

— O que houve agora?

— Veja ali à frente, depois daquela coluna.

O Agente nota que um grande animal está ali encostado.

— É um rinoceronte, Tinn!!

O animal avistado por ele traz todas as características desses tipos de animais, porém está

apoiado nas pernas traseiras, de pé e as patas dianteiras são mãos.

Hi, hi, hi! — o esquilo dá risadinhas — E cochilando, vendo?

— Sim.

— Então dá pra passar por ali.

— Temos que estar alertas. Calma, Tinn!

ante pé seguem até a passagem pelo lugar.

Ei!! Vocês aí!! — o grande animal desperta de seu cochilo e brandindo um pesado machadão,

avança contra Mulder e seu pequenino acompanhante.

— Onde tão pensando que vão, seus malandros? — o vozeirão irritadiço esbraveja por entre as

altas colunas do castelo.

— Ai, amigo! — grita Tinn em voz chorosa — O que vamos fazer?

— Tenho uma idéia. — propõe Mulder — Corra, Tinn!!

Então o cérebro do Agente tem uma lembrança útil.

“Se o animal estava cochilando, por que não fazê-lo ficar novamente sonolento?” — ele pensa.

E correndo sem parar, junto ao seu amiguinho esquilo, Mulder começa a procurar no aparelho

celular o que deseja:

— Música de ninar... música de ninar!! — murmura ofegante com o aparelho na mão,

enquanto continua a correr — Ei!! Não está me escutando? Quero a música de ninar!! Anda logo!!

— Você a deletou na semana passada, esqueceu? — responde o celular.

— Ora, droga! É verdade! Então vai, capricha aí e você mesmo canta! Anda!!

— Eu...?!

— Sim, cara! Vai! Agora!! — exige, prosseguindo na louca correria, seguido por Tinn.

Nesse momento o rinoceronte vigilante, num gesto brusco, ao tentar atingir os dois fugitivos

com o machadão que maneja, este fica preso na parede; o bicho tenta arrancá-lo dali e se

demora um pouco a conseguir seu intento. Isso atrasa a perseguição aos dois invasores do

castelo. Quando finalmente consegue, tropeça no monte de pedaços de pedras quebradas que

estão por toda a volta de onde ele estava.

O celular continua seu canto de ninar.

— Mais alto! — fala Mulder, correndo menos agora.

O aparelho então usa toda sua energia e canta em toda a altura que consegue, fazendo a música

ecoar entre as colunas de pedra.

O grande animal perseguidor, após conseguir resgatar sua arma, prossegue na corrida. Porém,

aos poucos a música vai fazendo efeito. E ele começa a sentir as pálpebras pesadas e

suas pernas já se movimentam com lentidão.

Mulder pára, a fim de observar um pouco.

— Olha lá, amigo! O cara vai dormir de novo! — avisa o esquilo.

— Já notei, Tinn. Isso é bom! — responde ofegante e falando bem de perto no celular, diz: —

E você continua a cantar, ok? Não pára não!!

— O que você achando da minha voz?

— Parece a de um barítono.

— Parece... de um... o quê?

— Deixa pra lá! Continua, vai!!

E mais alguns metros adiante, após caminhar apressadamente, o rinoceronte num longo bocejo,

leva a mão à boca aberta e acomoda-se junto a uma parede.

— Funcionou legal! — exclama o Agente satisfeito.

Os dois param, ofegantes.

— Puxa vida! Esse guarda lá é terrível, mas ainda bem que tem o defeito de ser sonolento demais!

— comenta Mulder.

Súbito, um rugido ensurdecedor ecoa entre as paredes altas do castelo.

— Não é possível! Mais guardas?!

— É; isso aqui é bem guardado amigo! E agora você vai descansar um pouco?

— Não; não temos tempo pra isso!

— Então vambora, vambora!!

E prosseguem no seu objetivo.

Nesse instante Mulder vê um ratinho saindo de um buraco no piso de pedra. E o bichinho vai em

sua direção.

Ei! Esse aí também é um guarda? — quer saber.

— Se é!! — responde Tinn.

Mulder sorri:

— Depois de tantos outros mais complicados, esse é fácil. Vamos continuar Tinn.

— Mas... ele armado! — previne o esquilo assustado.

— Ah! Ah! Ah! — o Agente dá risadas.

O ratinho parecendo indefeso dá ininterruptas cutucadas nos pés do Agente com sua espadinha.

sem sorte, amiguinho! Sua espadinha é como alfinete pra mim, ok? — ele critica o

pequeno animal.

— Cala a boca e pára aí!! — grita o ratinho.

— Você acha que pode me deter?

— Ah, é? Duvida? Vou chamar meus irmãos!! Se cuida, invasor!!

E após gritar isso, coloca a patinha na pequena boca e dá um longo assobio. Em fração de

segundos uma enorme quantidade dos roedores aparece vindo de todas as direções entre as

pedras que formam as paredes.

— Mas o que é isso?! — assusta-se Mulder.

Um verdadeiro mar de ratos vem como uma onda e passa por sob as pernas do Agente,

levando-o e ao esquilo como se fosse uma corrente muito forte de água como uma enorme

onda, quebrando na areia da praia.

Mulder e Tinn rolam por sobre essa onda e são jogados, ultrapassando por todas as

rampas pelas quais já haviam atravessado. São levados até a ponte movediça e jogados como

bonecos sobre a areia que circunda o castelo, do lado de fora.

Alguns segundos se passam até Mulder tomar consciência do que havia ocorrido. Tenta respirar

com calma.

— Você bem, amigo? — Tinn pergunta, demonstrando preocupação.

Mulder solta um profundo suspiro:

— Se eu contar isso, ninguém vai acreditar. E até eu... quero acreditar!!

— O que vamos fazer agora?

— Vou pensar, Tinn, vou pensar.

Mulder se levanta; tem a roupa suja com mau cheiro, ensangüentada pelo braço ferido. E

sente um enorme cansaço.

— Vamos lá pra caverna do urso.

— Lá onde estão os seus amigos?

— Isso mesmo.

— Vai desistir de tirar a Katherine da torre?

Mulder aperta os lábios; sorri para seu amiguinho:

— De jeito nenhum, Tinn. Vou tirar a... Katherine de onde ela estiver! Esteja certo disso! A

perseverança faz parte de mim, sempre!

Recomeçam a caminhar.

— Você sabe o caminho pra lá, naturalmente.

— Naturalmente. — responde rápido o esquilo

A passarada na mata oferece aos ouvidos do Agente o prazer de seu melodioso trinar.

— Parece que chegamos no paraíso, Tinn.

— Não. Ainda estamos no Reino Encantado.

Ele sorri:

— Encantado mesmo; sem dúvida.

 

“A vitória é do

mais perseverante.”

Napoleão