FORMADO PELA
NATUREZA
“O homem é demasiado fraco
para dominar a
natureza.”
Voltaire
Capítulo 323
Mulder pára,
apreensivo. Um bando de pássaros vem em sua direção.
— Ei!! Agora vamos ser atacados por pássaros?!
Um deles somente pousa num ramo de arbusto bem próximo do rosto do Agente. Carrega uma
folha no bico.
— Ele tá
querendo lhe entregar a folha, amigo. — alerta o esquilo.
— A, é? —pega a folha, retirando-a do biquinho do pássaro — É remédio pro meu ferimento?
— pergunta.
O pássaro vira e revira a cabecinha
esperta, num gesto negativo.
— Como é que faço,
Tinn? É só colocá-la no ferimento do meu braço?
— Negativo!! Não tá vendo que o meu amiguinho tá fazendo sinal que não é para um curativo?
Ô amigo, dá uma olhada nela!
Mulder segue o conselho de Tinn. Examina mais atentamente a folha, que está totalmente
marcada por pequenas machucaduras, as quais
deixam transparecer caracteres ou...
“Será o que estou pensando?” — fala no
seu íntimo.
Coloca a folha voltada contra a luz.
— Letras! — balbucia — E essa escrita...
essas letras... não é
possível!
— Isso é um recado da Katherine, não é? — pergunta o esquilo ao pássaro.
Imediatamente a ave começa a saltitar no
ramo da árvore.
— Sim! Ela lhe mandou um bilhete! —
então avisa Tinn.
Mulder sente que seu olhar está embaciado pela emoção.
— Recado de Scully...! — murmura e
começa a ler:
— Mulder, estou aqui na torre! Vem me buscar, senão vou morrer de saudade! Sempre tua.
Dana.
Mulder leva a folha aos lábios. Aquele pequeno pedaço formado pela natureza havia passado pelas
mãos de sua amada.
Beija a folha com doçura.
* * *
— Fox, já está de volta! — exclama Ângela
correndo para abraçá-lo.
— E por sorte não é só o meu cadáver.
— O que aconteceu?
— Animais, Ângela! Só animais me impediram de
resgatar Scully!
Ela esboça um sorriso discreto.
— Ei, Agente Mulder! Estava lhe esperando! — exclama Carl, chegando até onde estão Mulder
e Ângela.
— Ele tem algo a lhe contar. — ela
sussurra.
— É mesmo? Importante?
— Nós achamos que sim.
— Certo. — diz o Agente com
tranqüilidade.
* * *
O Diretor Walter Skinner em seu gabinete, avisa à secretária que pode mandar entrar os recém
-chegados. Ele se levanta da cadeira, aguardando
o aparecimento do avó e seu neto.
— Senhor Skinner, boa tarde. —
cumprimenta Maggie.
— Boa tarde. — fala William por sua vez.
— É um prazer vê-los, senhora Scully. E você, William, já está um rapaz! — diz, estendendo a
mão para os visitantes.
— Desculpe vir interromper o senhor aqui, no seu trabalho, senhor Skinner, mas é que temos
vivido dias de muita preocupação com a
ausência de Fox e Dana.
— Entendo, senhora Scully. Não pense que estamos sem investigar. Só nos resta ter uma
referência de onde estão para resgatá-los.
— Eu sei onde eles estão! — fala
William.
— Sabe...?!
— Desculpe,
senhor Skinner, não é bem assim... ele não sabe qual é
o lugar; apenas...
— Eles estão num lugar estranho, senhor
Skinner! — insiste o menino em explicar.
— Estranho... como?
— É diferente!
Skinner dá a volta, saindo de trás da
mesa e se aproxima de William.
— Eu não sei lhe dizer... mas... — ele espalma as mãos no ar — é um lugar que tem muitas
cores...
— ... muitas cores...? O que quer dizer?
— Não sei... não sei... mas estão correndo perigo! Senhor Skinner, só sinto que minha mãe está
sofrendo muito!
— Mas por que você fala isso?
— Porque sei,
senhor Skinner... eles estão em outra dimensão!
O Diretor Assistente levanta as sobrancelhas, retira os óculos e esboça um sorriso. Sai de junto
do garoto, dá a volta na mesa e se senta.
— Oh, meu Deus, senhor Diretor Skinner,
estou apavorada com essa história!
— Olhe, senhora Scully, fique calma porque estamos investigando sem trégua o paradeiro de
Mulder e Scully. Meus Agentes estão fazendo
o impossível para encontrá-los. Acredite em mim.
* * *
Mulder praticamente se joga sobre um
pequeno monte de terra:
— Amigos, o que vi,
vocês não acreditariam!
— O que houve, Fox? — pergunta Ângela lhe trazendo um côco verde, no qual ela havia feito
um orifício para tirar a água.
— Beleza! Estou mesmo morto de sede! — exclama o Agente, bebendo a água adocicada com
sofreguidão. — começa a contar toda a sua
aventura vivida, enfrentando os animais no castelo.
Carl, com um sorriso:
— Com certeza Agente Mulder, neste Reino Encantado todos os animais são como os seres
humanos. É incrível!
— E você nem viu o que nós estamos vendo
aqui. Imagine quando souber!
— O que é tão surpreendente, Ângela?
— É o nosso amigo... urso!
— explica Carl.
— O que tem ele?
— Você precisa ver para descobrir como
funciona.
— Funciona...? O quê?
Ângela explica:
— Fox, o urso fica olhando para uma
bola...
— Uma... bola...?
— Sim... como
se fosse uma bola de cristal.
— Ora, ora!
— Então o urso fica olhando para ela, ri, torce para o que vê acontecer nela, como se fosse
uma TV!
— O quê?!
— Sério, Fox! — confirma Ângela — Ele grita, como quando se assiste um programa de
TV, algum jogo...
incrível!
Mulder coloca um dedo sobre o queixo,
pensativo:
— Como eu posso ver isso?
— Vamos fazer o seguinte: — propõe Carl — quando o bicho adormecer, a gente tenta ver
o que é aquilo.
— E ele dorme onde?
— Lá bem no fundo da gruta. — Ângela aponta.
Mulder se espreguiça o máximo que pode.
— Está cansado, não é? — pergunta a
moça.
— Na verdade estou é frustrado porque
não consegui resolver o que desejo.
— Saudades...?
— Demais, Ângela! Eu não quero nem imaginar
que posso perder a mulher que amo.
Ângela o fita carinhosa:
— Tão lindo ouvir isso, Fox...! Eu
gostaria que alguém me amasse assim...!
Mulder coloca os braços sob a cabeça:
— Tenho que fazer alguma coisa e
enfrentarei qualquer coisa para tê-la de volta.
— E a terá, amigo! Tenho certeza! Tudo
dará certo; verá!
— Não desanime,
Agente Mulder. Nós o ajudaremos no que for possível. — conclui Carl.
§ ***
Mulder abre os olhos, assustado:
— Fox! Fox! — Ângela o chama baixinho.
Ele se senta, esfregando os olhos:
— Nossa! Consegui dormir um pouco!
Carl se aproxima:
— Agente Mulder, o urso foi dormir! —
avisa.
— OK, vamos lá.
— Mulder se levanta rapidamente.
Os três vão até onde
está a bola.
— Veja! Ele a cobre com um tecido feito de
palhas escuras. — mostra o rapaz.
O Agente retira aquela cobertura,
vagarosamente.
Para surpresa dos três, no exato momento
notam que a
bola é de vidro mesmo.
— Interessante! — murmura o Agente — Bom, mas ela está desligada. Mas como se
liga isso? Vocês têm certeza de que ela
acende?
— Sem dúvida, Agente Mulder! — confirma
Carl.
O Agente toca com as pontas dos dedos
sobre a superfície da bola.
— Desculpe insistir, mas vocês têm
certeza de que o urso vê alguma coisa aqui?
— Sem dúvida! — assegura Ângela.
— Temos certeza, Agente Mulder.
— Bem, tentemos descobrir.
— Posso tentar? — pede a moça.
— Claro!
Ela coloca as mãos sobre a brilhante e
lisa superfície e as desliza sobre ela.
— Eu não lhe pedi pra ver minha sorte,
moça! — ironiza Mulder.
Ângela dá uma risada, vendo que o ato não modificara em nada a bola de cristal,
que continua somente brilhante.
— Ora, mas que coisa! — queixa-se
Ângela. —
— Shiii! —
Mulder os adverte — Estão ouvindo isso?
Carl e Ângela chegam os ouvidos perto da
bola.
— Algum som está saindo dela! — nota a
moça.
— Exato! Só falta ligar! — fala Carl.
— Vejamos... — Mulder retira a bola do
lugar, examina-a com atenção.
— Nada! — reclama Carl, desanimado.
Num certo momento a mão de Ângela derruba uma pequena caixa de pedra, que se encontrava
ao lado da bola, sobre uma pedra lisa,
que serve como uma prateleira.
A moça apanha a caixinha.
— O que será isso? — ela pergunta,
examinando a pedra.
— Deixe-me ver. — pede Mulder.
Ele examina o objeto que tem inúmeros e
diminutos orifícios.
— Vejam só! —
murmura o Agente surpreso — Há luz aqui!
— Luz...?! — pergunta Ângela olhando bem
de perto a caixinha na mão do Agente.
— Como é que é isso? — quer saber Carl,
tocando na caixinha na mão de Mulder.
— Interessante... estão
vendo? A luz pisca sem parar.
— É verdade. — confirma o rapaz.
Mulder vira e revira a dita caixa. Pouco
a pouco descobre algo:
— E tem como abri-la.
— OK. Tente,
Fox. — concorda Ângela.
Em segundos ele consegue remover a tampa da pequena caixa de pedra. Porém no segundo
seguinte algo sai de dentro dela. É um
inseto; que pousa na pedra que serve de mesa.
— Um vagalume,
Agente Mulder!!
— Era isso que estava acendendo e
apagando!
Mulder, com muito cuidado, tenta pegar o
inseto, mas este voa e pousa na bola de vidro.
— Acendeu!! —
gritam os três em uníssono.
— É esse o segredo! — exclama Mulder.
— Veja, Fox! — grita Ângela, apontando a bola de cristal, que acesa, mostra aos poucos, algo
como imagens.
— Como uma TV!! Incrível!! — exclama Mulder — Amigos, não dá pra acreditar nisso! Aqui
acontece de tudo!
— O que você acha que aparece nessa
bola? — Carl quer saber.
— Podemos observar. — responde Mulder.
— Acho que até que aquele bicho acorde
vai dar muito tempo. — comenta Ângela.
Os três acomodam-se sentados numa espécie de sofá feito de folhas, que é justamente
o que serve de confortável assento para
o urso. Ficam a observar as imagens na bola iluminada.
— Um show, gente! Olhem!
— E os personagens não são desenhados!!
— São como nós!
— E são os canais de TV normais!
Ângela coloca as mãos nas faces:
— Dificil de
acreditar...! — murmura, fascinada.
Mulder aperta os lábios, passa um dedo
sobre eles:
— Ela é um simples aparelho de TV e mostra o nosso mundo real. Talvez nos sirva de ajuda
para solucionar nosso retorno ao nosso
mundo.
* *
*
—
Ei, Princesa! Ei,
Princesa, olha aqui!
Dana, ao escutar o chamado aproxima-se
da janela:
— Como você conseguiu voltar aqui, Veevo?
— Meus amigos sagüis me ajudaram! Vamos
lhe tirar daqui!
— Mas como?! Já tentamos sem conseguir!
— Sim, eu sei, mas olha,
agora você vai ser levada pela porta, Princesa!
— Mas está trancada! A Rainha má mandou
me trancarem aqui!
— A gente sabe,
Princesa, mas vamos conseguir.
Repentinamente pequeno ruído é ouvido do
lado de fora da porta:
— São os meus amigos chegando, Princesa.
Prepare-se!
Dana fica atenta.
A porta é aberta e um bando de animais
pequenos e espertos aparece com rumor.
— Como vão me levar? — ela pergunta.
— Deixa com a gente, Princesa. —
exclamam dois coelhos e três macaquinhos.
Os animais encaminham Dana com o maior
cuidado entre os corredores do castelo.
— Ali está quem vai nos ajudar! — avisa
um dos macacos.
— Mas é o Xucro! — ela se surpreende.
— Por que se espanta? Sabe que sou seu
amigo! — diz ele.
— Sei, sim! Sentia isso! Mas você é que
me trouxe para o castelo!
— Sim, é verdade, mas me arrependi. A Rainha má prometeu ao meu senhor que a hospedaria
aqui com todas as honras para livrá-la de qualquer mal da floresta e você não poder ser levada
para o castelo do meu senhor sem que primeiro
fosse realizada a cerimônia do casamento, mas...
— ... mas...?
— ... ela não cumpriu a palavra e o Príncipe soube que ela lhe mantém encarcerada aqui;
então eu vim
resgatá-la.
— Obrigada.
Vão saindo do local rapidamente.
* * *
Vendo o Direto Skinner sentado à mesa
William se aproxima.
— Não, William, por favor, não incomode
mais o senhor Skinner! — fala Maggie.
— Deixe-o senhora Scully. Não tem problema. — volta-se para o menino — Por que você
diz que seus pais estão noutra dimensão?
O que quer dizer?
— Eu sinto isso, senhor Skinner!
— Você acha que estão... — Skinner pigarreia, confuso — noutro planeta?
— Não, senhor, não é isso!
— Não...?! O que é,
então?
— Não sei... não
sei...! — coloca as mãos na cabeça — me
parece ser um lugar criado por...
— Como...? Criado...?! Por quem?
Maggie pousa a mão sobre o ombro de seu
neto:
— William, meu querido, o Diretor Skinner já está investigando o paradeiro de seus pais!
— fala com olhos marejados.
— É verdade, senhora Scully. Olhe meu
rapaz, tudo vai ser resolvido...
— ... quando o senhor me levar até o tal laboratório onde meus
pais estiveram.
— Mas eles saíram de lá e não
retornaram.
— Não acredito nisso, senhor.
— William pára, por favor! — pede a avó,
aflita.
Skinner se levanta:
— Foi o que aconteceu. — fala num
suspiro.
William coloca as mãos sobre a mesa,
fitando o Diretor:
— Eu quero ir até lá.
— O que é isso, Will? Ir lá aonde? —
pergunta a avó, visivelmente perturbada.
— Nesse tal laboratório.
Skinner coça a cabeça. Repõe os óculos
no lugar. Franze os lábios:
— Senhora Scully, esse rapazinho não pode
negar que é filho do Agente Fox Mulder.
Maggie dá um sorriso, mesmo contrafeita.
Skinner contorna a sua mesa de trabalho
novamente e se chega até o garoto:
— Eu o levarei até lá.
— Verdade? — os olhos do menino brilham
de felicidade.
— Sim, é verdade. Os meus Agentes já foram até lá e souberam da notícia e agora eu levarei
você lá.
— Senhor Skinner, por favor, não se preocupe com as idéias do meu neto. — diz Maggie,
fazendo menção de sair com o menino.
— Não, senhora Scully; já resolvi que
vou levar William até aquele lugar.
— Mas senhor...
O menino não cabe em si de contente com
a resolução
“As
idéias são mais poderosas
que
os exércitos.”
W.
M. Paxton