E CONTINUAM
SUA CAMINHADA
"Por
mais longa que seja a caminhada
o
mais importante é dar o primeiro passo."
Vinicius
de Moraes
Capítulo 331
Mulder, William e Ângela seguem à
frente.
— Filho, procure ficar sempre junto de
mim, para que os caras não nos vejam.
— Ok, pai.
Continuam se esgueirando e seguindo em
frente.
— Olha o que tá vindo dali! — aponta o
menino.
— Sei; tudo bem. Continuemos. — fala o
pai.
Repentinamente uma grande ave atinge os
pés do Agente.
— Pai, olha! Ela carrega algo como se
tivesse mãos!
— Sim! Pra variar é outro guarda!
— Meu Deus, o que resta nos acontecer
agora? — diz Ângela, quase chorando.
— Incrível! Nunca vi isso! Só nas... —
começa William.
— ... histórias em quadrinhos. — conclui o pai.
— Isso, isso! Como é que pode?!
E continuam sua caminhada. Não podem
desistir de seu propósito.
— Ei! Onde pensam que vão? Parem os três!
O menino, estupefato como o que vê e
ouve, nem consegue falar.
Ângela está estática.
— Estou falando com vocês aí! Parem! — a
ave lança um vôo e atinge o Agente com o pontudo bico; fala mais uma vez — É
uma ordem! Vocês não podem prosseguir!
Mulder, dando uma risadinha, critica o
modo autoritário da ave com seu ataque.
— Ah, que pena, amiguinho...! Eu esqueci
de trazer alpiste e girassol pra vocês!
— Piada sem graça! Fiquem onde estão!
— Mas o que você pensa que é? Um
guardinha da Rainha também? — e seguindo adiante Mulder prossegue seu caminhar,
mantendo William junto de si, seguidos pela moça.
— Não querem parar, né?
— falando assim o pássaro voa para distante dos dois.
— Ah, ainda bem, pai! Ele foi embora...
Nem havia terminado a frase logo o
pássaro faz um vôo de retorno e no segundo seguinte vários pássaros iguais
estão diante de Mulder, seu filho e Ângela. E atacam o Agente
com fortes bicadas.
— Droga! — reclama Mulder, caindo no
chão; então nota que sua arma que havia
no coldre está diferente. Ela possui uma espécie de botão giratório, onde pode
escolher
opções como bolinhas d`água,
ganchos, etc.
Mulder observa que existe um dos botões
que é uma espécie de pinça. Com isso cada ave que se aproxima faz com que ele
apertando o botão, dele sai uma pinça aguda,
que ao ser utilizada vai arrancando
penas de cada ave que ali os estão atacando. Isso os vai assustando e acabam se
afastando dali.
— Boa pai! Legal!
Mulder segura seu filho, levanta-o em
seus braços e recomeça sua caminhada pela rampa que leva ao castelo. Seguem os
três. Após centenas de metros adiante William chama
a
atenção do pai:
— Olha lá, pai! Um monte de pássaros!
— Novamente?! — o Agente reclama.
— Mas esses são bem pequenos; diferentes
daqueles outros! — diz Ângela.
— Mas estão vindo em nossa direção!
— Mas esses não vão nos atacar, pai!
— Como você sabe? Pássaros pequeninos
também têm biquinhos e podem usá-los como alfinetes sobre nós! — dá uma
risadinha.
— Certo, mas olha só.
Mulder então os observa, cessando os
passos.
O bando de pássaros pousa em algumas
colunas de pedras laterais. Somente um deles voa na direção de Mulder, William
e Ângela.
— Mas o que será agora? Outro bilhete?
— Que quer dizer, pai? Bilhete...?
O pai não responde; está atendo ao que
vai acontecer.
O pássaro já está bem próximo.
— Oi! — a vozinha
do pássaro diante deles.
William arregala os olhos, admirado.
Mulder fica a observar o recém-chegado:
— Está trazendo outro bilhete?
O
pássaro bate as pequenas asas a fim de pairar no ar.
— Posso pousar no seu ombro?
Diante da pergunta William sai de sua
estupefação, dizendo rapidamente:
— Ah, deixa pai! Ele parece amiguinho!
— Parece, não! — retruca o pássaro em
sua vozinha piando alto — Sou amigo de seu pai e da
Princesa!
Ângela, com um sorriso, aconchega o
garoto junto de si, que continua nos ombros do pai.
— Tem notícia de Dana? — o Agente
pergunta ansioso.
— O nome da Princesa não é Katherine?
— S... sim, é isso! Tem recado dela?
— Não, amigo. Só vim lhe contar que a
Princesa está dormindo.
— Numa hora dessas? — quer saber o
menino.
O pai o coloca no chão agora.
— A... Princesa Katherine
é a sua mãe, meu filho.
— Minha mãe...?! — fala assustado o
menino.
— Sim, filho; chamam assim sua mãe.
— É porque é linda, não é, pai?
O pai desliza a mão nos cabelos do
filho, carinhosamente:
— Com certeza, meu filho. — volta-se para o passarinho em seu ombro:
— Por que você veio nos dizer que ela
está dormindo?
— É sim, amigo. Eu a vi na cama lá na torre. Pousei na janela para falar com
ela e...
— Sim...? E qual é o problema?
— Ela não está propriamente dormindo,
amigo.
— O que quer dizer com isso?
— Quero dizer que a Princesa está
dormindo à força.
— À força...?! Como assim? — ele dá uns
passos apressados e sente o coração opresso. — Ela foi... envenenada?
Ângela leva as mãos ao rosto, assustada.
— O quê?! — grita o menino — Mataram
minha mãe?! — e começa a chorar.
— Calma, calma, não é bem isso, filhote!
— explica o pássaro — É um sono diferente.
— Como diferente? — quer saber Mulder,
apertando o filho contra seu corpo.
— A Rainha a fez dormir com sua poção
maldita! — explica o passarinho.
— Poção...? Maldita...?! — o Agente
sente a fúria dentro de si.
Neste momento o menino chama a atenção
do pai:
— Pai, olha só! Mais inimigos estão
vindo contra nós!
— Essa não! — resmunga o pai.
— De novo?! — exclama Ângela.
O enorme ogro à frente de um grupo de
animais vem se aproximando rápido.
— Não temam, amigos. Aquele é o Xucro.
Ele é amigo e já tentou resgatar a Princesa lá da torre... mas não conseguiu.
— Ufa! — suspira Mulder — Então vamos ver
se ainda quer ajudar a salvar Dana e...
— Tenho certeza que sim! — assegura o
pequeno pássaro, agitando as asinhas.
Já a poucos metros de Mulder, seu filho
e Ângela o ogro grita:
— Alto lá! O que querem aqui?
O pássaro saindo do ombro de Mulder,
rapidamente pousa no braço de Xucro.
— O que esse invasor quer aqui? —
pergunta Xucro.
— Ele veio para salvar a Princesa,
Xucro! É o amado dela!
— O... amado?
— Isso mesmo. E o filhote é filho deles!
— Verdade isso?
— Falo sério, Xucro!
— Beleza! Vou ajudá-lo, então. — e
caminha até o Agente.
Este o observa com seus olhos apertados;
o maxilar se movendo mostra sua face apreensiva.
— Sou amigo da Princesa — avisa o ogro.
— Ótimo, então. E me diga: qual é o
método mais fácil para salvá-la?
— Olha, a linda Princesa está num sono
maligno.
— Sim, sei disso; o nosso amiguinho já
me contou. — fala olhando o pássaro pousado no enorme e forte braço do ogro.
— A Rainha é uma bruxa malvada! —
exclama Ângela.
— Como adivinhou? — diz Mulder em tom
sarcástico — Tenho que tirá-la dessa situação. — volta-se para o ogro — Você
sabe de alguma coisa que possa fazer a Princesa
despertar? Talvez uma espécie de
semente... uma erva...
— Sim, isso! — Ângela aprova as palavras
do amigo.
— Somente a bruxa má é que pode tirá-la
desse sono estranho. — responde, mas logo faz um gesto de desconforto, olhando
para o Agente de revés, preferindo não encará-lo.
Resolve falar algo:
— Amigo... quero lhe dizer... — coça o
queixo, sem jeito — ... uma coisa...
— Pode falar! — exclama o Agente.
— É que... sabe... bem... o Príncipe
beijou a Princesa enquanto ela tá dormindo.
— O quê?! O que esse cara quer com minha
amada? — exclama Mulder cujos olhos verdes tornam-se cinzentos de repente pela
raiva que está sentindo.
— E o pior é que a Rainha má é
apaixonada por ele e não gostou nada do que ele fez!
Ângela o ouviu falar, apreensiva.
Segurou o braço de Mulder, tentando acalmá-lo.
— Pai! — chama William atraindo sua
atenção.
— Sim, filho, fala! — diz, erguendo a
cabeça para um longo suspiro de angústia.
— Veio ao meu pensamento uma coisa.
— Sobre o quê, William?
— Lembra que você levou a mim e Vivien ao cinema para ver um filme de desenho?
— Sim, vários, mas o que tem isso? —
pergunta, com o olhar distante e preocupado.
— Lembra daquele chamado Encantada?
— Encantada...?
— Sim! Lembra?
— Encantada... encantada... ah, sim!
Lembro! Mas filho — toca no ombro do garoto — agora não é o momento certo para
falarmos sobre isso, ok?
— Não! Este é o momento certo, sim! No
desenho, que, na verdade era uma mistura com um filme, o príncipe não conseguiu
despertar a princesa com um beijo...
— ... e o que tem isso com a realidade?
— interrompe — William, presta atenção, temos que livrar sua mãe dessa
situação! Vamos falar do presente, filho!
O menino chega para mais perto dele:
— Pai, a princesa do filme só despertou
do sono maléfico dado pela rainha quando foi beijada por seu amor verdadeiro!
Mulder fita seu filho com olhar
penetrante. Franze a testa, pensativo, ouvindo William falar sobre a cena
importante do filme Encantada.
"A
verdade é, as vezes, mais
inverossímel que a ficção."
Camilo
Castelo Branco