LEVADOS PARA OUTRO MUNDO!

 

"Se no mundo não houvesse suspiro o

mundo morreria afogado."

Alphonse Daudet

 

 

Capítulo 332

 

 

Skinner avança cheio de ódio para Neil, segurando-o e lhe apertando a garganta:

— Quero saber tudo! Como funciona essa tal máquina que vocês inventaram?

— Vocês não...  — gagueja o rapaz — ... o Professor é que a inventou!

— Não me interessa saber quem! Quero definições de como acioná-la! É uma ordem!

— Por... favor... ai, senhor... — geme Neil.

— Senhor, vamos levar este aqui. — avisa um dos Agentes segurando o Professor.

Skinner confirma num gesto. E continua a segurar fortemente o ajudante do Professor.

— Vai falar agora!! — diz em tom baixo e firme.

— Ok, ok! — responde o outro.

— Me fala; quem mais esse miserável fez passar por essa máquina diabólica?

— Neil e Ângela.

— Quem são eles?

— Auxiliares nas pesquisas científicas aqui no nosso laboratório, senhor.

— Para que lugar foram levados todos?

— Não sei...

O Diretor do FBI lhe aperta mais a garganta:

— Fala, verme!

— Não sei, senhor! Não sabemos! Por favor entenda! São levados para outro mundo!

— Outro mundo? Que história é essa! Vamos cara, movimenta logo essa máquina tão estúpida quanto vocês! Agora! Eu ordeno!

— Ok... ok... certo, senhor. — murmura, quase sem poder falar.

 

*   *   *

 

Ângela ouve o que o garoto explica ao pai.

— Coisa maravilhosa o que seu filho quer dizer, Fox.

— O que é que você pensa?

—Eu assisti o filme, sabe? Lindo, romântico!

— Certo; e daí?

— Explique melhor ao seu pai, William, senão ele pensa que é somente imaginação feminina e...

— Tá.  — diz o menino, agora fitando Mulder — Olha pai, a princesa do filme estava num sono causado por um veneno dado pela Rainha, que era uma

bruxa disfarçada.

— O que será que essa miserável deu à Dana?

— Ah, algum sonífero,  mas não envenenado, Fox! — explica a moça.

— Sim, é verdade, pai. E ela só pode ser acordada desse sono maléfico quando receber o beijo do seu amor verdadeiro! — fala o garoto com convicção.

Mulder se agacha para fitar os olhos do filho, como que desejando penetrar no âmago de seus pensamentos.

— Filho... — inicia ele.

— Estou falando sério, pai!

— E por isso é que ela não foi despertada do sono maligno com o beijo do cara lá no castelo, Fox! — confirma Ângela.

— Ele não é  o seu amor verdadeiro, entendeu pai?

— E esse pilantra tentou... — cheio de ira segura a mão do filho e se põe de pé — Não temos que perder tempo mais. Vamos!

Xucro dá um sorriso e os convida a sair dali às pressas.

O bando de pequenos pássaros segue Xucro e os demais.

— Pai, a gente tá chegando à porta do castelo!

— Sim e fico pensando porque está sendo tão fácil agora nos aproximarmos desse lugar!

— Eu entro aqui a qualquer hora porque sirvo a Rainha e... — começa a falar Xucro.

— ... e de repente pensam que somos seus amigos. — interrompe a moça.

— É... pode ser. — confirma o ogro.

Neste momento chegam diante da porta.

— Venham! — chama o ogro.

— Pai, que barato, ? Um castelo igual aos das histórias em quadrinhos!

— E nós todos somos como os tais personagens!

— É... já notei, pai; já notei.

Neste momento um grupo aparece à frente dos recém-chegados.

— Estão vendo, amigos? — pergunta Xucro.

— São os guardas do castelo... — inicia Mulder.

— ... e a Rainha!! — conclui Ângela.

O Agente segura com força a mão do filho.

Um dos soldados da Rainha avisa aos outros:

— Inimigos se aproximam! Atacar!

— Parem! — imediatamente ordena a Rainha.

— Mas... majestade...

— Estão surdos? Já dei a ordem! Obedeçam! Recolham-se à sua insignificância!

Ângela e Mulder se entreolham, admirados com a estupidez da dona do castelo ao comandar seus subordinados.

Tudo o que está acontecendo neste momento é que a Rainha está deslumbrada com a presença dos invasores ou mais precisamente de um deles: o

Agente Fox Mulder.

William murmura, puxando o pai para que este se abaixe a fim de ouvi-lo:

— Pai, estou com medo!

— Calma, filho.

Xucro surpreende-se com a atitude um tanto estranha da Rainha. Toca no braço de Mulder:

— Essa bruxa está aprontando alguma surpresa má, amigo.

— Vejamos, Xucro; o importante é não se deixar intimidar.

— Fox, não sei não, mas parece que ela está... — começa Ângela, murmurando para o amigo.

— ... o quê?

— ... completamente deslumbrada com sua presença!

O Agente sorri. Está gostando da ideia e tem que aproveitá-la ao máximo.

A Rainha não tem olhos para mais ninguém neste instante. Vasculha apenas o que, realmente, a está fascinando.

O porte vistoso de Mulder, seus olhos acinzentados pequenos mas penetrantes, a boca de lábios bem desenhados e que dá a impressão de que,

além da voz que sai deles o sabor da boca que os mesmos emolduram a pode fazer desmaiar de prazer. As mãos podem fazê-la chegar aos píncaros do desejo.

— Majestade!

A Rainha sai, neste instante de seus devaneios.

Após os visitantes se curvarem respeitosamente, ela dá um passo à frente:

— Quem são esses invasores, Xucro? — fala a Rainha.

— Ah, majestade, são amigos! São amigos! — repete o servo —

 que vieram até aqui pedir permissão à Vossa Majestade para conhecer o castelo e... Vossa Majestade...!

— Ora, ora, surpreendente isso! Normalmente nenhum dos meus súditos se arriscam até hoje a vir até aqui. O que está acontecendo com esses aí?

— Majestade, talvez ninguém teve até hoje a coragem de vir até seu castelo pra ver de perto sua formosura! — explica o Agente.

A Rainha esboça um sorriso, ajeita o cabelo:

— Eu posso recebê-los sim, no meu castelo. Venham!

Com um gesto ordena aos soldados que se afastem para que os recém-chegados recomecem a caminhar.

— Majestade, é uma honra conseguir sua confiança, nos deixando vir até aqui. — diz Mulder.

— Essa criança quem é?

— É meu filho, Majestade.

— É verdade. Meu nome é William e viemos aqui pra...

— ... ele quer conhecer seu castelo, majestade — interrompe o pai — porque vê falar que tudo aqui é diferente do nosso povoado. Sabe como criança é

curiosa... — ele fita com olhos perscrutantes a mulher.

Esta se deixa levar pelo enlevo da fascinação:

— Como é seu nome?

— Fox.

— E essa moça aí do lado...  — faz um gesto de descaso — ... é a mãe do garoto?

— Não! Minha mãe está...

— ... ela está sabendo que viemos até aqui vê-la, Majestade! E essa aqui é minha irmã, Ângela.  — apressa-se a explicar o Agente.

— Ah, bem! Tudo certo.

Todos se encaminham até a grande porta de entrada.

William, extasiado, observa toda a grandiosidade do lugar.

— Igualzinho como se vê nas revistas, pai?

— Exatamente.

— Criados!! — berra a Rainha, cerrando o cenho, demonstrando ira — O que estão fazendo que não se mexem e arrumam logo a mesa para servir as

iguarias aos nossos visitantes?! Mexam-se!!

— Nossa, pai! Como ela é grossa com seus criados! — comenta William.

— O importante para cada pessoa é cuidar de tratar bem qualquer ser humano e muito mais aqueles que lhes servem. — diz, por sua vez,  Ângela.

— Só que ninguém aí é um ser humano. — Mulder fala, junto ao ouvido da moça.

Ela leva a mão à boca:

— É mesmo, Fox! Esqueci!

Todos sentam-se nos vários bancos de pedra dispostos ao redor da mesa.

Vasilhames com diversas iguarias são postas na superfície da grande mesa também de pedra.

Um grunhido chama a atenção do menino que, olhando abaixo vê algo que o deixa estarrecido.

— Não acredito! Olhem isso!

Mulder e Ângela voltam seu olhar para baixo da mesa.

— Meu Deus! Isso é fantástico! — ela exclama.

— Em desenho animado tudo pode acontecer. — diz Mulder.

— Lá isso é verdade, mas usar os pobrezinhos pra isso faz até mal a gente ver! — diz a moça.

— Também acho, também acho! — reforça o garoto.

O que lhes havia chamado a atenção é que oito porcos seguram a mesa, equilibrando-a, sem poderem mover-se, a fim de que a mesma possa ter sobre

sua superfície os utensílios e iguarias.

— Inacreditável! — o garoto mais uma vez se extasia.

Após a refeição pouco aproveitada pelos visitantes, a Rainha os leva até um grande salão.

Mulder, observando-a tão fascinada por ele aproveita para perguntar:

— Vossa Majestade sempre recebe visitantes aqui?

— Bem, nem sempre... só de vez em quando.

— Qual foi a última vez que alguém veio aqui? — ele faz a pergunta dirigindo à Rainha seu olhar penetrante.

— Nem me lembro, sabe? Acho que há algumas semanas atrás ou mais tempo, sei lá!

— Vossa Majestade lembra da linda Princesa que chegou até aqui para vê-la? Aquela que tem longos cabelos avermelhados!

— quem fala é Xucro, que se encontra afastado, junto a uma parede, em sua posição de criado.

— A Princesa...? Ele está falando sobre a minha... — começa William.

— ... sua amiga, aliás nossa amiga, não é verdade, Ângela? — rapidamente Mulder interrompe a frase de seu filho.

— Claro, claro! — confirma a moça.

A Rainha os fita firmemente:

— Bem, essa até ficou uns dias aqui no meu castelo como hóspede.

— E depois... o que aconteceu? Ela foi embora? — pergunta Mulder.

— S... sim... foi embora — confirma a mulher.

— Majestade, eu acho que a Princesa não pôde sair daqui! — continua Xucro.

— Não...? — ela finge não saber.

— É, Majestade; não lembra que ela ficou doente?

— Doente...?! Não! Não sabia disso! — rebate e grita em seguida — Criados!! Podem sair daqui!! Não preciso mais de vocês! — volta-se para Xucro —

E você  também acompanhe os outros. — ordena.

Mulder lança um olhar para Xucro e este entende que o Agente está observando o que pode fazer para chegar até onde está Dana adormecida.

— Com licença, Majestade. — diz o criado se afastando do aposento junto aos outros.

— Vão saindo logo! — a mulher comanda mais uma vez.

Mulder fixando a autoritária criatura, aperta os lábios, planejando no íntimo como deve agir.

  Majestade, nós aqui como seus visitantes pedimos permissão para conhecer todas as áreas do seu belo castelo.

Ela o observa com olhos vibrantes:

— Mas não posso dar permissão pra todos vocês conhecerem meu castelo.

— Ora, Majestade, reconhecemos que, como seus humildes súditos, tivemos a audácia de procurá-la aqui em seu castelo, saindo de nosso pobre povoado

para... para... — se aproxima mais, fitando-a de modo sedutor — ... para nos encantar com sua beleza e...

A mulher o ouve completamente deslumbrada:

— Sendo assim,  — ergue o corpo fazendo-se atraente — podemos conversar e depois você poderá conhecer todo meu castelo...! — conclui em voz macia.

— Claro! Adoraremos, Majestade.

— Apenas você. — ela murmura.

— Assim não pode ser, Majestade; meu filho e minha irmã não podem se afastar de mim.

— Ah! Ah! Ah! — ri, porém sentindo-se interiormente cheia de ira — Vou agradar a todos, pode crer.

— Claro que acredito, Majestade. — ele lança seu olhar fascinante.

 

”Falsa humildade corresponde

a orgulho."

Pascal