TRANQUILO, EM PAZ CONSIGO MESMO

 

"Um temperamento tranquilo

ilumina os cantos da nuvem

mais escura de uma vida."

Guthrie

 

Capítulo 337

 

 

Mulder  deitado, braços dobrados sob a cabeça, olhando para o teto, fecha os olhos, tranquilo, em paz consigo mesmo.

Dana se aproxima com um jornal nas mãos.

Taí, Mulder, pra você ver as notícias do dia.

— Só as importantes.

— Claro! O que não interessa nem passe perto! — dá uma risadinha.

— Lindinha, o que é importante pra você?

— Ah, Mulder... que pergunta! Sei lá! Talvez a previsão do tempo, notícias sobre money, isso é importante.

— Só isso?

— Também sobre a ciência; o que os cientistas estão descobrindo de novo, etc.

Ele abre o jornal, vasculhando notícias:

— Sabe que em  2016 vai haver jogos olímpicos no Brasil?

— Eu nem sabia, Mulder.

— Que tal darmos uma ida lá pra assistir?

— Quem sabe...?

Mulder continua lendo as manchetes.

Dana,  está agora  arrumando uma gaveta.

Logo Mulder larga o jornal e ajeita a camisa que está vestindo.

— Scully, vou lá na loja de informática apanhar o Modem.

— O quê...? Apanhar... você?

— Engraçadinha... !

— Caramba, Mulder! Você não pode ficar sem esse troço de computador nem um dia?

— Sinto falta de saber das novas,  só isso.

Aaanh...!

Ele sai.

 

*   *   *

Mulder, com o aparelho nas mãos, aproxima-se do computador.  Instala o modem.

— Já voltou, Mulder? E aí? Trouxe o troço?

— Claro. Já o trouxe da assistência técnica e o  instalei; tá na garantia.

— Ok.

Ele entra no Windows e vasculha as novidades ali expostas.

— Scully, chega aqui! — chama-a.

— O que você quer?

— Vem aqui, ora!

Ela se aproxima.

— Scully, veja isso! — fala alto, entusiasmado.

— O quê, Mulder? Que espanto é esse?

Ela se aproxima para ver o que ele havia lido.

— Sabe aquele casal de atores que certa vez confundiram com a gente? Lembra disso?

— Sim, o que tem eles?

— Estão fazendo aniversário este mês.

— Os dois?!

— Sim! Interessante, não?

— Com certeza!

— E escuta só: como são nascidos no mesmo signo suas personalidades não combinam.

— Ora, que bobagem, Mulder! O que tem a astrologia com essas coisas? O que manda mesmo é o temperamento, a personalidade de cada um!

— E olha, está saindo uma notícia interessante; os dois atores estão vivendo juntos.

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  — Você acha que esses dois se amam ou são só "amiguinhos"?

— Você tem dúvida do quê? Pelas pessoas que os conhecem dizem que durante os anos em que trabalharam juntos o relacionamento deles a cada dia mais crescia.

  Ah, tá. É tão gostoso quando se ama...! —  suspira.

  Dana...? —  volta-se para a olhar — Dá até a parecer que você sofre um mal de amor não correspondido.

— Ai, que adorável! Por que — suspira novamente — não me chama assim sempre?

— Porque você é uma Agente Especial do FBI! — fala com firmeza — Aliás, uma cética Agente.

— Mulder! Que chato que você é! Eu quero carinho por alguns instantes e você...

Ela não pode terminar a frase.

Mulder já a havia agarrado com ardor. Aperta-a em seus braços, chegando a suspendê-la do chão,  por motivo de ela ser tão pequena, muito menor do que ele.

— Será que os dois fazem como nós nesses momentos apaixonados?

— Que dois você está falando?

— Ora, o casal de atores que estávamos comentando há pouco.

Aaah...!

— Scully... os olhos dela são tão lindos quanto os seus.

— Azuis?

— Sim. Ela parece até ser sua irmã gêmea.

— E ele? Também parece um irmão clone seu. Lindo! —       

ela o afaga na face — E ele tem essa boca bem desenhada...

— ... hum...

— Esses olhinhos pequenos que parecem querer vasculhar  

o nosso íntimo...

— ... ei!! — ele a interrompe — Chega dessa descrição 

boba, Scully! Que que é isso? Você está é apaixonada por

esse cara, é?

— Ai... ai... se eu pudesse...!Num gesto rápido Mulder a

segura,. prendendo-lhe os braços:

— Pra que você faz isso comigo, Mulder? Ciume? — sorri

divertida.

Ele responde com voz sussurrante:

— Sim, Lindinha, não quero que fale sobre isso novamente.

— Imagine! Se esse casal do qual falamos não existe!

— O que você está dizendo? Não existe?! Eles têm vida tanto quanto nós! Só há uma diferença: eles vivem noutra dimensão.

Aaaah! Até que enfim você tem ideias que combinam com as minhas.

Ela se afasta e se levanta para encará-lo. Põe-se na frente dele de braços cruzados, como é de seu habito fazê-lo.

Mulder se joga sobre o sofá, olhando para o teto:

 — Scully, olha só: esse seu gesto só demonstra que você está numa posição defensiva.

— Porque não gosto dessas suas afirmações, Mulder, pensando que acredito em qualquer bobagem que você fala!

Ele morde os lábios ao ouvir isso.

— E você nem percebe, Mulder, mas está com uma raiva reprimida.

— Observadora...! — sorri e se levanta

— O que vai fazer, Mulder?

— Continuar no meu PC.

— Tá. Vou fazer um café pra nós.

— Scully...!

— O quê?

— Tá gostando desse descanso aqui?

— Sim, porém sofrendo saudade.

— As crianças...?

— Sim, embora tenho certeza de que estão se divertindo com os primos lá na fazenda do tio.

Ela se afasta do lugar.

Ele continua sua busca por novidades na Internet.

Súbito não acredita no que está vendo.

— Scully!!

Ela ouve o chamado; permanece no lugar.

— Scully, corre aqui!!

Ela suspira:

— Puxa Mulder, estou preparando o lanche! O que você quer?

— Scully, vem!!

Ela franze os lábios; larga na pia os utensílios para atendê-lo.

Ao vê-la ele grita:

— Você não vai acreditar!

Novamente Dana suspira, esperando o que vem agora e coloca as mãos na cintura:

Aah... eu quero acreditar...!

— Não é possível o que está acontecendo!

— O quê — chega mais perto.

— Olha aqui, olha aqui!

Ela fixa o olhar na tela do computador.

— O que tem isso demais? Estávamos há pouco falando sobre eles! Estão fazendo um filme fantasiados de agentes do FBI?

— Scully, Dana, acorda! Olha bem o que você pode ver! Esses não são aqueles atores!

Ela volta a fixar o olhar na tela.

— O que é isso, meu Deus!

— Não sei, Scully, o que está acontecendo! Como é que pode? Quem fez isso?

— Mulder, não é possível...! — cobre os lábios, sem acreditar no que vê — Mas de onde saiu isso, Mulder? Quem fez isso com a gente e como?

  Eu não sei! —  levanta-se agitado —  Não aceito uma coisa dessas nem quero acreditar que estou vendo isso!

Dana já se sentara diante da tela e com os olhos abertos de espanto continua fixando as cenas diante de seus olhos.

  Está tudo aí, Mulder! Todos os dias, horas, minutos...!

  Scully, deve ser alguém filmando, registrando cada passo! Mas QUEM  é capaz disso? E por que nunca havia sido divulgado isso antes? Só agora a gente está a

par dessa aberração, desse crime?

  O que vamos fazer, Mulder? O quê? Como? Quando?

Ele está dando passos nervosos, passando as mãos na cabeça.

   Oh, meu Deus! Mulder, será que até os momentos...

— ... mais íntimos...?

— Sim! Será que estão sendo filmados?

Ele se aproxima novamente da mesa, para mexer no pc.

— Deixa eu ver, Scully,  deixa eu ver — e começa a vasculhar mais na tela.

 — Olha só, Scully... tudo o que fazemos no nosso dia a dia está aqui! Nosso trabalho, nossa vida íntima...

— ... sim! Estou vendo esse horror! — afasta-se da tele; coloca as mãos na boca e fecha os olhos, mostrando preocupação — Mulder...

— Sim, Scully...?

— Vamos sair desta cidade.

Ele se levanta para se aproximar dela:

— Sair desta cidade, Scully...? Pra onde? De que adiantaria? Conseguiram captar tudo que fazemos! A nossa vida completa!

Logo retorna à tela do pc.

— Nos colocaram como se fôssemos atores trabalhando como personagens numa série de tv!

— Temos que contar aos  nossos Diretores sobre isso!

— Repara aí, repara aí! Fazem bonecos com nossas características, olha! Com nossos uniformes, celular, crachá...!

Scully, eles também gravam nossa voz em CD's, nossas imagens em DVD's...

— ... que horror, meu Deus! Não aguento enfrentar isso!

— Nossas roupas; camisas, calças, paletós...!

— Deus, só falta mostrarem minhas calcinhas e soutiens!

— Pra você ver até onde vai a impunidade! Tem mais, olha só: somos capas de revistas...

— ... Mulder... — interrompe — ... não será que aqueles atores estão nos copiando, fazendo-se passar por personagens de Agentes do FBi, nos imitando?

— Lindinha, repara bem; somos nós mesmos! Veja: narração de toda nossa vida em cada minuto que estamos em nossas investigações...

— Mulder, não quero acreditar que essas figuras somos nós...!

— Sim! É tudo sobre nós! E veja aqui nesse site imbecil: nossos momentos em trabalho ou nossos carinhos e a pessoa coloca o nome de Relembranças... pode? Pra

lembrar o quê? Que nos viu em algum tempo? Mas como nos viram? Está vendo essa cena aí?

— Sim, Mulder, quando fui trabalhar com você em setembro de 1993! Absurdo!

— E essa cena aqui? Veja!

— Mulder, pelo amor de Deus! Estão mostrando o momento em que eu contei ao Skinner que estava grávida!

— Está acreditando agora que é a nossa vida mesmo que está sendo mostrada nesses imundos sites na Internet?

— Outro louco, Mulder! Esse aí mostra diálogos nossos no trabalho! Incrível! E isso aconteceu em maio de 2000!

— Pois é, Scully, mais outro: esse aqui está com todas nossas cenas na vida de trabalho e íntimas filmadas totalmente!

— E desde que apareci pela primeira vez lá no seu escritório até o dia em que tivemos aquele pequeno atrito...

— ... e que felizmente nossos carinhos acabaram com a má situação, pegamos aquele barquinho...

 

"A vida é uma árvore cujo fruto,

muitas vezes, é amargo."

Pend-Attar