LOUCA E FANTÁSTICA AVENTURA

 

Há flores em todas as estações, assim

como há loucuras em todas as idades.

Jouy

 

Capítulo 338

 

Dana, com os olhos cheios d'água demonstra terror e ao mesmo tempo ódio do que está vendo na telinha.

— Espera aí, Scully, deixa eu procurar uma coisa.

Ele vasculha em sites a fim de procurar algo que precisa para tirar suas dúvidas:

— É isso que eu desconfiava!

— O quê, Mulder?

— Está vendo aí o Jack?

— Quem...?

— O Jack Shepard... aquele que fazia parte do grupo que perdeu-se naquela floresta...!

— Ah, sei.

— Também ele está aí, Scully. Todas as passagens do dia-a-dia deles naquela  louca e fantástica aventura!

— Assim como nós estamos sendo filmados, fotografados, sei lá...

— ... exato. Pegam a vida das pessoas para fazerem série de tv! Aproveitam-se de nós...

— ... de nossa vida, Mulder! — fecha os olhos por segundos — Mulder... o que pode isso trazer pra nós? Só perigo,

só desgraça...!

Ele parece nem ouvi-la. Tenta, por vários meios, acessar pessoas conhecidas.

— Encontrei mais conhecidos nossos!

— O quê? — ela resolvera se afastar e com ar preocupado está pensativa.

— Vem aqui, Scully.

Ela se aproxima.

— Está vendo aí o Castle?

— Aquele rapaz escritor que é doido pela garota que é policial?

— Exato; chega-se à conclusão de que todos nós estamos sendo monitorados.

— Mas por quem?

— E pra qual finalidade?

— Mulder...

— ... fala, Scully.

— Pra que serve esse aparelho que está causando tudo isso?

— Chama-se modem; serve para conectar o computador  à Internet. Ele converte os sinais digitais do computador

em sinais analógicos para transmiti-los pela linha telefônica. E ele faz também o contrário; recebe sinal analógico e o

transforma em digital.

 — Isso esse troço fazia antes! Agora só cuida de mostrar a  vida dos outros.

 — Esse mundo está terrível, Scully. Agora nossa vida e a desses nossos amigos está sendo transformada em seriados.

— Como pode...?

Mulder faz com o mouse irem se passando as cenas.

— É aquele negócio: ainda não aconteceu com eles o que nós passamos.

— Sobre o que você está falando?

— Estou falando... espera aí, deixa eu consertar; — olha para ela sorrindo — Scully, já estivemos em muitas situações

melindrosas, você sabe.  O meu amigo Castle vive cheio de paixão pela garota, mas um dia tudo se resolverá bem.

— Será...?

— Scully, dá uma olhada aqui. Nessa ocasião em que você fica só de calcinha e sutiã me deixou numa situação que

tive que me controlar. Deu pra sentir isso?

— Que coisa mais triste me ver assim, Mulder! E mostrando o meu corpo todo aí; que situação...!

— É, concordo, mas que você estava com um corpinho lindo, isso estava mesmo!

Pára! Eu não queria que me mostrassem assim a público! Nunca!

— Vou pesquisar mais.

E continua a vasculhar um dos sites que mostra tudo que se passou com eles.

— Que ódio! Olha isso aqui! Quando aquele cara te sequestrou, Scully! Só não acabei com ele porque não queria ficar

atrás das grades.

— Entendo. Eu também sofri muito com esse procedimento dele. Não imaginei que seria capaz disso. — ela se

surpreende —  Mulder, olha aí meu paizinho!

— Sim, Scully; sua mãe também.

— Isso foi próximo da morte dele. — ela sente a emoção tomar conta de seu coração e não pode conter as lágrimas.

Mulder a abraça:

— Estou lhe fazendo sofrer, Scully.

— Pode deixar; — suspira — preciso ver mais isso. Sabe aquele assassino que vimos na cadeia? A imagem dele

transformou -se na do meu pai.

— Sei disso; você me contou. — procura outras imagens —  Tá vendo aqui? Lembra de quando entramos no ano

2000 o que aconteceu?

— Estou vendo, Mulder. O seu olhar pra mim...

— ... e foi o nosso primeiro beijo.

— Sendo que eu já te amava desde...

— ... sempre!

— Convencido! — ela sorri — Mas eu não consigo me conformar com uma coisa dessas, Mulder!

— Nosso amor...?

— Para com isso! Estou falando dessa situação de termos nossas vidas na Internet!

Mulder se levanta:

— Vou desligar o pc; e vou até a loja pra saber sobre o tipo de modem que é esse.

— Como assim?

— Vou falar com eles que esse não está conectado à Internet.

— Mas é claro que está!

— Pode ser que o aparelho capte imagens em outra dimensão.

Agora Dana cruza os braços, franzindo os lábios:

— Lá vem você com suas fantasias.

— E você já viu coisas fantásticas diante de si e mesmo assim não quer acreditar!

— Mas Mulder...

— Tchau.

Ele sai.

Na loja de serviços técnicos de computador o funcionário o atende.

— Olha amigo, este modem eu o levei e está na garantia; só que ele não está funcionando perfeitamente.

— Não? — o rapaz coloca o aparelho numa tv ali à disposição — Olha só, senhor Mulder, está funcionando perfeitamente;

o senhor pode ver aqui todas as notícias mundiais. Futebol, política, fofocas. — ele dá uma risada.

— Certo, amigo. Mas e sobre os sites que estão sendo visitados na Internet?

— Vejamos; — acessa um deles — Educação, agências de passagens para outros países, aparelhos eletro-domésticos,

receitas.

— Tá, tá. Tudo bem. Está funcionando. Ok. Vou levá-lo de volta.

— Espero tê-lo ajudado, senhor Mulder. — o rapaz entrega o modem.

— Com certeza. Obrigado.

E despede-se.

 

*   *   *

 

— Scully, é como eu previa. — diz, apresentando-lhe  o aparelho.

— E o que você previa?

— Você sabe.

— Não me diga que ele...

— ... exatamente. Mostra o que está numa outra dimensão.

— E na loja eles viram tudo isso?

— Não; lá o rapaz só acessou fatos normais.

— Não acredito nisso.

— Pois pode acreditar no que lhe digo. Comprovei o fato.

— Você acha que somente nós podemos acessar essas coisas, Mulder?

— Não tenho certeza, mas espero que sim.

Ele instala o aparelho no computador.

— Ai, meu Deus! Vai começar tudo de novo! — reclama Dana.

— Vamos ver, Scully. De repente estará tudo normal como aconteceu lá na loja.

Ele começa a acessar os sites.

— Eu não falei, Mulder? Tá tudo aí de novo! Não aguento saber de uma coisa tão odiosa quanto esta!

— Esse site aqui mostra realmente tudo, Scully! Não são apenas cenas esparsas.  Olha esse aqui, então.

— Meu Deus, quanto sofrimento aí! Eu estava no seu enterro, Mulder!

— Que carinha triste, minha amada! — beija-a levemente nos lábios.

— Não quero que nossos filhos vejam essas coisas! Nunca! Olha nesse aí a sua abdução pela nave espacial, Mulder!

Oh, meu Deus!

— Scully, vou parar de acessar esses negócios. Só servem pra nos causar sofrimento.

Agora Dana chora, com as mãos tapando o rosto aflito.

 

A maneira de sofrer é o testemunho

que dá uma alma sobre si mesma.

Amiel