NÃO DIZ RESPEITO ÀS NOSSAS VIDAS
"A
vida consiste na
compreensão
da verdade."
Leon
Tolstoi
Capítulo 340
Dana, de olhos fixos na tela do
computador, está cada vez mais nervosa.
— Eu não consigo aguentar essa situação,
Mulder! Não consigo.
— Escuta Scully, calma... tudo isso que
está aqui não aparece no nosso tempo.
— Como não, Mulder?!
— Já te falei, Scully; está em outra
dimensão.
Ela se afasta, incomodada.
O Agente, porém, não consegue deixar de observar
o que contém na tela do computador. Embora um tanto preocupado pelo mal-estar
de Dana, ele
quer continuar o que está fazendo.
— Esse modem está nos mostrando o que é
real para nós, porém noutra dimensão, acredite. Todas as pessoas ao nosso redor
não podem ver isso que
se apresenta aqui.
— Você, como sempre...
— ... acreditando, Scully, eu sei, eu
sei! Mas repare bem, tudo que aparece aqui não diz respeito às nossas vidas e
sim às daqueles que viveram por nós!
— Numa situação fictícia.
— É isso aí.
O Agente continua acessando links, onde
a cada vez vai encontrando mais matéria que fala a respeito dos Agentes do FBI.
— Mas repare essa notícia aqui neste
site:
O
segundo longa-metragem da série Arquivo X não foi muito
bem nas bilheterias, o que torna mais difícil a chance da franquia ganhar mais
filmes, mas,
como
diz o slogan, ainda há gente querendo acreditar.
Sobre o caso diz o produtor Frank Spotnitz. "Estamos
segurando o fôlego para ver se teremos mais um filme. Apesar da bilheteria
decepcionante nos cinemas
dos EUA, ainda
acho que a questão está aberta. No mundo inteiro devemos fazer uns 70 milhões,
o que é lucro. E eu acho que os fãs gostaram do filme, apesar
da mídia não
ter se empolgado muito", disse em
entrevista ao Comic Book Resources.
Spotnitz comenta também a recepção do filme: "O que é
interessante é a forma como as pessoas aderiram às decisões que fizemos sobre a
relação de Mulder e
Scully.
Achamos que era uma coisa arriscada. Os dois tiveram um envolvimento romântico
fora da tela quando a série terminou, mas nunca havíamos mostrado.
Eu sentia que
estávamos mexendo com o DNA da série, mas os fãs aceitaram isso, e aceitaram
rápido, o que foi recompensador".
Há
algumas semanas circularam rumores do que um terceiro filme poderia ser
produzido direto para DVD, informação que os realizadores rapidamente negaram.
Por
enquanto, portanto, o futuro ainda é incerto.
Ele acessa uns links, saindo das
imagens:
— Era só o que faltava! — dá passos na sala, passando a mão sobre os
lábios.
—
O que viu agora?
Ele retorna à frente do computador:
— Você viu isso? Aqui tem uma notícia de que vão fazer
mais um filme sobre nossas vidas, sobre o nosso trabalho e...
— e...? — aproxima-se novamente para
olhar com mais atenção.
— Veja; o enredo do tal filme será sobre
nosso filho, Scully!
— Nosso filho...? O que tem Will com
isso?
— Estão comentando aqui que o enredo
será sobre a volta do nosso filho ao lar.
— Oh, meu Deus! Não deixa nosso filho
ver isso, Mulder!
— É claro que não.
— Isso aí é um Blog?
— Sim; diz aqui:
Nós, fãs de Arquivo-X, estamos muitos felizes.
Acabamos de saber que Chris Carter deu uma entrevista dizendo
que já teve entendimentos com os atores David Duchovny
e Gillian Anderson, os quais confirmaram
sua participação no novo filme.
É nossa maior felicidade poder assistir novamente os Agentes
Mulder e Scully. Nossa! Não posso nem imaginar vê-los novamente naquelas
cenas... e aqueles olhares
entre os dois...
— Mulder!! Que coisa horrível!! Como
podem tomar conta de nossa vida assim?!
Dana prende a mão de Mulder que está
sobre o mouse, impedindo-o de continuar vendo o texto na tela.
— E esses atores desempenham a nossa
personalidade...
— ... como se fôssemos simples bonecos
que podem adquirir, para brincar, fazê-los praticar o que quiserem!
— Mulder, alguém tem que ser punido por
esse crime, essa invasão de privacidade!
— Mas como, Scully?!
Ele continua lendo a notícia em outros Blogs:
— Veja aqui: ArquivoX
Ontem e Hoje ... olha o nome desse, Scully!
— A frase do seu painel, Mulder! I Want To Believe!!
Ele sorri, parecendo satisfeito;
continuando a acessar:
— Mais blogs: e olha esse que faz
perguntas como um teste para os fãs responderem.
— Incrível uma aberração como essa!
E Mulder continua:
— E tome mais e mais Blogs! Leia isso:
Olha aí, que não são só os eXcers que acham Arquivo X bom, mas os críticos também.
Não vou ficar falando da importancia que a série foi para o desenvolvimento das
séries subsequentes, pois quem odeia a série pode difamar quanto quiser
que não vai mudar o fato de que a
série foi sim importante e ainda é uma fonte de inspiração para várias que estão
no ar.
— Este aqui, Scully, tem fan fictions, que são história
criadas sobre nossas vidas, nossas personalidades.
— Até quando você vai ficar vendo esse
monte de asneiras, Mulder? — pergunta,
irritada.
— Agora estou mais do que nunca
interessado, Scully. E repara esse, veja só! Tem o nome de Divagações,
Devaneios!
— Aquele que você já acessou antes.
— Certo. Vou ver mais: olha, esse aqui
narra grande parte de nossas investigações. Não há dúvida. Sabem de TUDO
a nosso respeito. Mostra todas as cenas do que
fizemos, o que deixamos de fazer, das
nossas emoções...
— E como você viu, querem fazer agora um
terceiro filme sobre nossas vidas...! — Mas fico pensando... como é que
conseguem descobrir tudo o que fazemos...? Enfim,
como estão noutra área deste nosso
planeta, então... e olha mais isso aqui.
Dana resolve novamente fixar os olhos na
tela, embora cada vez mais nervosa:
— Eu não consigo aguentar essa situação,
Mulder! Não consigo!
— Escuta, Scully, calma... tudo isso que
está aqui não aparece no nosso tempo.
— Como não, Mulder?!
— Já te falei, Scully; está em outra
dimensão então quem está aqui nesta junto com a gente não tem como descobrir o
que estamos vendo aqui; nossa vida tim tim por tim.
Ele acessa mais imagens:
— Espera, espera aí, Mulder! Olha aí
aquela mulher que... — aperta os lábios.
— Scully, a Diana já se foi; não tenha
mais ódio dela.
— E quem disse que eu tive esse
sentimento por ela?
Ele dá uma risada:
— Nem precisa falar.
— Vê aí, Mulder! Ela está bem junto do
seu leito! O que ela está falando pra você?
— E eu sei, Scully? Eu estava
completamente dopado!
— Sei... han han... — ela murmura com ar céptico.
— Ora, não se deixe levar por ciúmes de
alguém que já nem existe mais...!
— Só que pelo olhar dela sobre você,
deve estar dizendo palavras doces porque ela o amava, Mulder!
— Ah, Scully, era um amor diferente...!
— Sei. — demonstra ceticismo — Espera,
volta aí nessas imagens!
— O que você quer ver?
— Isso que você acessou aí antes; quero
ver direito!
— Ah, é aquela Dra. Bambi,
que estudava o comportamento de insetos.
—
Han..., tem certeza de que ela estudava somente o
comportamento de baratas...?
Mulder ri com a pergunta de Dana:
— Por que fala isso?
— Pelo modo tão íntimo que vocês
conversavam... — ela o fita com intensidade — Mulder, sempre tive raiva quando
alguém desfrutava desse seu olhar um tanto...
— ... um tanto o quê?
— ... penetrante...!
Ele sorrindo a agarra pela cintura,
fazendo-a sentar em seu colo.
— Larga aí esse maldito mouse, Mulder!
Não quero ver essa fulana sem vergonha se jogando em cima de você!
— Ah... a Detetive White...
— Lá quero saber quem é! Para com isso!
— Por outro lado, Scully, o que você
pensa que achei quando a vi quase sendo beijada por aquele pilantra... — começa
a acessar mais imagens — ... que se fazia passar
por mim?!
— Mas Mulder, eu estava sendo enganada!
O tal do Eddie Van Blundth!
— Sei... mas bem que você estava mesmo
querendo ser beijada e se tivesse acontecido...! Olha aí a sua carinha carente
com essa boquinha só esperando...
— ... para!! — ela sorri — Também com
aquele olhar... igualzinho ao seu...!
Ele a aperta pelos ombros, balançando-os
a sorrir.
— Também tem outro caso, Scully....
espera aí . Ah, era mais ou menos em 1999, hein?
— O que você está perguntando?
— Aquele cara safado.
— Quem Mulder?
— Espera aí, que vou te mostrar. —
acessa as imagens — Ah, está aqui aquele safado! Olha só como o cara olha pra
você no elevador, Scully! Fica só paquerando teus
olhos, os lábios...
— ... para com isso! — ela fica sem
graça, vendo as cenas.
— E o pior é que depois você estava numa
boa com ele lá no quarto, né?
— O que você está pensando? O cara não
tinha moveis na sala, queria conversar comigo e só tinha a cama pra sentar...!
— Ah, sei.
— Mulder, olha, essa investigação foi
uma das mais sofredoras pra mim. Por favor, esquece esses detalhes sem
importância.
— Sim, amor da minha vida; — achega-a
mais para si — aqui dá pra ver seu semblante de sofrimento.
— Não! Não quero mais ver isso! Por
favor!
— Certo, Scully. Chega mesmo.
Ele desliga o computador rapidamente.
Levanta-se dali agarrando a amada para
fazê-la ficar longe das imagens de um sofrimento terrível daquele tempo.
"Os
olhos das mulheres
não
envelhecem nunca."
Julio
Dantas